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3 O ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E SUA REPERCUSSÃO NA

3.6 O NOVO INSTITUTO DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA

O CC de 2002 introduziu uma nova modalidade de curatela destinada ao enfermo ou portador de deficiência física, a fim de que o curador cuidasse de todos ou de alguns de seus negócios (art. 1.780). Nesse caso, o próprio enfermo ou deficiente podia requerer essa curatela. (OLIVEIRA, 2016).

Por meio do art. 114 do EPD, foram previstas alterações no CC/2002, inclusive para inserir o art. 1.783-A, que prevê a Tomada de Decisão Apoiada (TDA):

Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e as informações necessários para que possa exercer sua capacidade (BRASIL, 2002).

Sobre o novo instituto, Menezes (2016, p. 42-43) leciona que: “Apresenta-se como um instrumento que oferece apenas um apoio àquele que preserva sua capacidade civil incólume, reunindo condições de, por si, realizar suas escolhas e celebrar quaisquer negócios jurídicos sem a necessidade de assistência ou representação”.

Conforme esclarecimento de Madaleno (2018, p. 1611-1612) está compreendido sob o título de TDA:

O processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos duas pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhe os elementos e as informações necessários para que possa exercer sua capacidade.

Para Farias e Rosenvald (2016, p. 928) a TDA concretiza o art. 12 da Convenção, nos seguintes termos: “Art. 12 - Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para prover o acesso de pessoas com deficiência ao apoio que necessitarem no exercício de sua capacidade legal”. Trata-se de um instituto novo que, não guarda identidade com nenhum outro existente na ordem jurídica brasileira. (MENEZES, 2016, p. 43).

Sobre o tema, Rosenvald (2015, p. 1) esclarece que:

A tomada de decisão apoiada não surge em substituição à curatela, mas lateralmente a ela, em caráter concorrente, jamais cumulativo. Na Itália os 11 anos de experiência, pode-se afirmar que a introdução da administração apoiada se tornou uma verdadeira revolução institucional – reconhecida inclusive pela Corte Constitucional (9/12/2005, n. 440), culminando por confinar a interdição em um espaço residual.

Na Alemanha, bem antes do surgimento da CDPD, em 1992, foi reformulada a Lei da Tutela e, em 2013, uma nova regulamentação estabeleceu uma abordagem mais flexível baseada nas necessidades e habilidades particulares da pessoa com deficiência, sendo mais voltada para a autodeterminação, na qual a pessoa apoiada deve participar ao máximo das decisões sobre sua vida sob todos os aspectos, com auxílio do apoiador. (MARKOWSKI, 2014, p. 7-10).

Por outro lado, de acordo com Menezes (2016, p. 43):

Embora tenha alguma semelhança com a amministrazione di sostegno italiana e com o contrato de representação instituído pela British Columbiam canadense, não constitui cópia de qualquer deles, razão pela qual ainda apresenta arestas e lacunas que serão aparadas e preenchidas pela doutrina e pela jurisprudência brasileiras, com o fim de favorecer a sua aplicação e utilidade.

Pelo art. 1.783-A, § 1º, do CC/2002, para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar. (BRASIL, 2002).

Quanto ao pedido de tomada de decisão apoiada, este deverá ser requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no

caput do art. 1.783-A, § 2º, e no § 3º do mesmo artigo. Antes de se pronunciar sobre o pedido

de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após a oitiva do Ministério Púbico, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. (BRASIL, 2002).

Sobre a validade e os efeitos da decisão tomada por pessoa apoiada disciplinada no § 4º do artigo supramencionado, não haverá restrições, desde que estejam inseridos nos limites do apoio acordado; Terceiro com que a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado, é o que determina o § 5º do mesmo diploma legal. (BRASIL, 2002).

No § 6º, em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão. O § 7º acrescenta que, quando o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz. (BRASIL, 2002).

Além disso, prevê o § 8º que, se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação do apoio. Ademais, o § 9º dispõe que: “A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada”. (BRASIL, 2002).

Logo, o § 10 disciplina que o apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre o material e, por fim, aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que souber, as disposições referentes à prestação de contas na curatela, de acordo com § 11. (BRASIL, 2002).

Venosa (2017, p. 495) apregoa que: “Esse instituto de apoio poderá surtir bons efeitos no desiderato de amparo à pessoa com certa deficiência. Caberá às autoridades indicadas fazer com que esses dispositivos sejam ágeis e eficientes às pessoas que dele necessitem”.

Na TDA, a capacidade de fato continua preservada, e no momento em que assim decidir, poderá solicitar o fim do auxílio de seu apoiador. Na verdade, esse é o objetivo do instituto, refutar que a declaração de incapacidade seja deferida, diferentemente nos casos em que a pessoa não é capaz de exprimir sua vontade, quando, então, esta será submetida ao regime

da curatela que será abordada no próximo capítulo frente às alterações trazidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência.

4 A CURATELA FRENTE ÀS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELO ESTATUTO DA