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4.4 Dissertação de mestrado: a descrição do corpus

4.4.1 O objeto de que falamos

A escrita, objeto desta pesquisa, articula conceitos da teoria bakhtiniana. A materialização dos discursos na escrita de dissertação aponta para o modo como o pesquisador em formação engendra as diferentes vozes na tessitura do texto. Quanto ao período em que as dissertações foram produzidas, podemos dizer que foi um período de debates e investigações fomentados pela publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1996. O conceito de gênero se tornou então muito utilizado nas propostas de atividades que envolvem a escrita, em todos os níveis de ensino. Tal fato justifica a escolha dos critérios de seleção dos trabalhos: ser da área de Linguística e tratar do conceito de gênero do discurso de M. Bakhtin.

Historicamente, os conceitos bakhtinianos surgiram nos estudos da linguagem com a obra Marxismo e Filosofia da Linguagem, publicada em 1929. No entanto só chegaram à França nos anos 70 e ao Brasil nos anos 80, quando o primeiro livro de Bakhtin foi publicado em português. Houve uma lacuna de trinta anos em sua produção intelectual, marcada por um silêncio forçado, pelo fato de ele ter sido preso em 1929, condenado ao exílio no Cazaquistão, fato que impediu a circulação e os debates de suas ideias até os anos 70. Em seus estudos, Bakhtin se preocupou com as questões do materialismo histórico.

As reflexões que seguem têm como foco a obra Marxismo e Filosofia da Linguagem. Para Bakhtin (2009), a linguagem é uma prática tanto cognitiva como social e é atravessada, mediada, pela práxis, de modo que os discursos são transmitidos no outro e pelo outro discurso. É somente pelo fato de o outro discurso – ou as vozes que atravessam discursos

outrem – ser inerente ao discurso acadêmico, ser a base teórica das dissertações objeto de

análise que consideramos estudar aqui “gênero do discurso”.

A linguagem é dialógica, porque, no interior das relações sociais, o discurso está carregado de discurso de outrem, como também de suas transmissões e representações. Para Bakhtin (2009), fala-se sobre o cotidiano a partir das palavras alheias e das réplicas ao discurso que citamos. Ele afirma, ainda, que as palavras de outrem são transmitidas de diferentes formas e graus de precisão e imparcialidade dialógica entre os pares discursivos. Como o conceito de gênero do discurso é tema de inúmeras produções acadêmicas, isso faz circular o conhecimento e dissemina os mais diversos conceitos abordados no Círculo Bakhtiniano no meio acadêmico. É bem provável que esse diálogo entre os discursos sofra

interpelação de perspectivas enunciativas diversas, coordenadas pelo cotejamento da leitura feita com outras leituras já realizadas sobre os mesmos enunciados.

O quadro que segue mostra, de forma bem sucinta, como estão organizadas as dissertações.

Quadro (10) – Dissertações selecionadas

Discussão mobilizada Base teórica Ano de publicação

Dissertação (1)

Trata da relação de escreventes-alunos com a tarefa de produzir textos na escola em um evento de escrita: “Recontando histórias”. Conceito de gênero discursivo da teoria bakhtiniana 1999 Dissertação (2)

Trata de um estudo sobre o discurso de alunos que, no momento de realização da pesquisa, estavam no último ano do curso de Letras.

Concepções de M. Bakhtin sobre sujeito, linguagem e história

2004

Fonte: Dissertações de mestrado que compõem o corpus desta pesquisa

Para preservar a identidade dos pesquisadores, não foram identificados os trabalhos pelos respectivos títulos, nem pelo nome dos autores, nem, muito menos, pelo da universidade à qual estavam ligados, pois não é de nosso interesse fazer nenhuma relação com tais aspectos; interessam-nos os processos de produção escrita do texto acadêmico e a universidade como lugar institucional de divulgação desses discursos.

A forma de apresentação das dissertações possibilita a observação da estrutura geral dos trabalhos. A minúcia do corpus, na verdade, exige mais um recorte, para uma leitura mais atenta, a fim de mostrar alguns detalhes sobre as formas linguísticas que engendram vozes na tessitura do texto (formas de citar os autores lidos), seja por meio de paráfrase, seja em menção a uma exterioridade do discurso, na forma de alusão – o simulacro desse discurso materializado na escrita das dissertações.

A seguir, apresentamos mais detalhes sobre os trabalhos, os quais serão identificados como: D1 1999 e D2 2004. Os autores serão designados como “pesquisadores em formação,” por se tratar de trabalhos de escrita de conclusão de curso de pós-graduação em nível de mestrado e os respectivos produtores estarem em formação.

A dissertação [D1 1999] estuda os modos de relação dialógica que escreventes- alunos estabelecem com a linguagem em um evento particular de produção escolar da escrita – o evento "Recontando histórias". O pressuposto teórico é o conceito de gênero discursivo, como abordado na reflexão bakhtiniana. Considera, na esteira de Bakhtin, que os enunciados,

inseridos em gêneros discursivos que adquirem certa estabilidade em diferentes esferas da atividade humana, têm como tarefa possibilitar compreender os modos de circulação dialógica dos escreventes pelos gêneros, que adquirem um funcionamento particular na ocasião em que tais escreventes recontam histórias. As produções escritas tomadas como objeto de estudo são textos produzidos em contexto escolar, por alunos da 2ª série do ensino fundamental.

Dentre os gestos enunciativos constitutivos desse evento, centra-se o interesse em dois deles: o atribuído ao professor, quando conta a história e quando tenta estabelecer o direcionamento que a atividade de recontar deve tomar – gesto organizado no que se considera como “gênero instruções”, para a atividade de produção escrita; e o gesto de recontar dos alunos, ocasião em que circulam tanto pelo gênero "instruções" quanto – no caso particular deste estudo – pelos gêneros “contos de fadas” e “lendas”.

A dissertação D2 2004 estuda as representações que o graduando em Letras constrói sobre a linguagem e o ensino dela. Teoricamente, ele está inserida na área de Análise do Discurso, especificamente nas concepções de M. Bakhtin, e tem como proposta elaborar um percurso teórico-metodológico sobre a relação dialógica do sujeito da linguagem e de sua história, o que lhe permite explicar como as representações sobre a linguagem e o ensino desta, e sobre os saberes considerados necessários ao professor de língua materna – construída em discursos que circulam tanto em contextos escolar e universitário quanto fora deles, no meio social mais amplo – são importantes na elaboração do discurso do graduando. Para isso, o estudo gira em torno de discursos de alunos que, no momento de realização da pesquisa, estavam no último ano do curso de Letras, em quatro instituições de ensino superior, localizadas nas regiões Sudeste e Norte.

Os trechos dessas dissertações, a seguir, ilustram o que dissemos acima.

D1 1999: “A partir da percepção de Bakhtin [1929] (1979) sobre o modo dialógico de

constituição da linguagem, proporemos analisar a escrita escolar como da ordem da "circulação imaginária", como sugeriu Corrêa (1997), de escreventes-alunos pelos diversos gêneros que circulam na escola. Assim, embora seja verdade que os gêneros constituem-se como modo de organização do acontecimento discursivo, chegando a cristalizar mais ou menos os enunciados de eventos diversos de enunciação, parece ser, também, adequado pensar que a circulação dos sujeitos por eles (os gêneros), em eventos de produção escolar da escrita, não é sempre linear, sistemática, absolutamente previsível: trata-se de uma circulação de que é constitutivo o imaginário dos sujeitos-escreventes pelo que supõem ser a tarefa escolar de escrever, a posição-professor de que decorrem as regras do ritual pedagógico de produção de textos, a língua escrita em que preferencialmente estão materializados os vários gêneros que circulam na escola etc.” (D1, p 2)

D2 2004: “Por tomar a linguagem como central na constituição dos sujeitos, busquei demonstrar os vários processos, os diferentes momentos, a historicidade dos discursos constitutivos do dizer sustentado pelo aluno. Nas concepções bakhtinianas de sujeito, linguagem e história, foram construídas as leituras e análises. Para Bakhtin (1995), o sujeito é dialógico porque nasce de interações múltiplas.” (D2 p. 22)

As duas dissertações relatam, logo na introdução, sua filiação teórica à concepção bakhtiniana de linguagem e à de gênero do discurso, com motivação similar – estudar as representações dialógicas materializadas na escrita –, sendo que, na dissertação D1 1999, em escrita de alunos do 2ª ano do ensino fundamental e, na D2 2004, na de alunos do último ano de graduação do curso de Letras.

Quanto ao objeto de estudo, na dissertação D2 2004, logo na parte introdutória, o pesquisador revela que desenvolveu a análise com base nas respostas dos alunos, que foram coletadas por meio de questionário e entrevistas semiestruturadas. As entrevistas foram feitas com 14 alunos. O questionário utilizado foi respondido por 81 alunos, sendo 41 de universidades privadas e 40 de universidades públicas, uma experiência concreta de reconhecimento dos discursos dos sujeitos envolvidos na pesquisa.

O pesquisador relata que o questionário visava traçar um roteiro sobre por que aqueles alunos tinham escolhido fazer o curso de Letras, a importância desse curso, as prioridades quanto ao que deveria ser estudado, ao que ensinar como professores, aos conhecimentos importantes para o professor, entre outras questões. Sua expectativa era que os graduandos falassem das dificuldades para transformar as teorias linguísticas em conteúdo para o ensino da língua materna. Motivado pelas respostas apresentadas pelos alunos, ele buscou traçar os caminhos que a pesquisa indicava, para estudar a imagem do aluno no interior da universidade. Entretanto, na aplicação do questionário-piloto, uma fala sobressaía às demais: escolhi o curso para estudar melhor a gramática. Para o pesquisador, essa era uma

expressão genérica, que poderia até ser indicativo de que o aluno esperava compreender a

estrutura e o funcionamento da língua portuguesa durante sua formação na graduação.

Considerando-se o que foi exposto até aqui no que se refere às duas dissertações, o desafio ainda é a caracterização desses trabalhos de forma objetiva, de modo a possibilitar ao leitor uma dimensão enunciativa. Isso contribui para a construção de outra abordagem de apresentação dos dados, certamente mais específica, que facilite a leitura e o enfrentamento da realidade observada.

As dissertações – D1 1999 e D2 2004 – foram produzidas em diferentes contextos de formação acadêmica do Brasil. Ao construirmos o quadro a seguir, consideramos: (i) dissertação/ano de publicação; (ii) objeto de estudo; (iii) objetivo geral; (iv) metodologia (v) base teórica selecionada para fundamentação; (vi) corpus da pesquisa.; (vii) hipótese; (palavras-chave; (viii) total de páginas escritas.

Vejam-se, a seguir, os quadros construídos a partir da análise da estrutura das dissertações.

Quadro (11) – Estrutura da dissertação D1 1999 Dissertação/ano de

publicação D1 – 1999 Objeto de estudo

Modos de relação dialógica que escreventes-alunos estabelecem com a linguagem em um evento particular de produção escolar da escrita – o evento "Recontando história”, em textos produzidos por alunos da 2ª série da educação básica.

Objetivo geral Compreender os modos de constituição da relação dialógica de escreventes-alunos com a tarefa de produzir textos na escola [...]. Metodologia

Tem por base o método indiciário que determina não somente um modo particular de encarar as pistas linguísticas, como também um modo de compreender a constituição do sujeito que reconta história [...].

Corpus da pesquisa

Trinta textos escritos por alunos de segunda série do ensino fundamental do Núcleo Pedagógico Integrado (NPI) – Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA) – em dois períodos letivos – 1995 e 1996. [...]

Hipótese

Não há como se crer na possibilidade de linearização absoluta, por meio de uma análise, que se pretenda "objetiva", da heterogeneidade constitutiva dos enunciados da escrita infantil.

Concepções teóricas

Concepção teórica do conceito de gênero discursivo, tal como abordado na reflexão bakhtiniana.

Palavras-chave 1. Aquisição de linguagem - Escrita. 2. Escrita – Estudo e ensino. 3. Análise do discurso. 4. Análise do discurso narrativo

Total de páginas 198

Quadro (12) – Estrutura da dissertação D2 2004 Dissertação/ano de

publicação D2 2004

Objeto de estudo

O discurso de alunos que, no momento da realização da pesquisa, estavam no último ano do curso de Letras, em quatro instituições de ensino superior, localizadas nas regiões Sudeste e Norte.

Objetivo Investigar as representações que o graduando em Letras apresenta sobre a linguagem e o seu ensino.

Metodologia

Toma como percurso possível a concepção de paradigma indiciário, desenvolvida pelo historiador italiano Carlo Ginzburg (1999), por entender que, considerando o objetivo do presente trabalho, ela permitirá trilhar um caminho metodológico não centrado na necessidade e importância da quantidade de dados, mas na qualidade singular que eles podem assumir dentro do corpus analisado.

Corpus

O corpus foi constituído por respostas a questionário e entrevistas semiestruturadas. As entrevistas foram feitas com 14 alunos. O questionário foi respondido por 81 alunos, sendo 41 de universidades privadas e 40 de públicas.

Hipótese

Parte da ideia de que a universidade, mesmo se propondo preparar o graduando em Letras, futuro ou já professor de língua materna, para ser um sujeito construtor de seu próprio conhecimento e preparado para compreender a complexidade e a heterogeneidade das questões ligadas ao ensino da linguagem, não consegue transformar o referencial de língua e as razões para o seu estudo.

Concepções teóricas

Teoricamente, está inserida na área de análise do discurso, especificamente nas concepções de M. Bakhtin sobre sujeito, linguagem e história, as quais, aliadas às teorias sobre representações sociais desenvolvidas por Serge Moscovici e Denise Jodelet, compõem a base de sustentação das análises.

Palavras-chave Discurso; Representações sociais; Graduando em Letras; Ensino de língua materna.

Total de páginas 191

Fonte: Dissertações de mestrado que compõem o corpus desta pesquisa

Os quadros sintetizam a estrutura das duas dissertações. É importante deixar claro que as ocorrências teóricas que utilizamos em nossas análises são de abordagem bakhtiniana – de modo geral, abordam conceitos de gênero do discurso a partir da concepção teórica do Círculo de Bakhtin. Partimos do pressuposto de que a inserção dessa fonte teórica se dá, predominantemente, para fundamentar a discussão sobre a escrita. Assim, as questões aqui abordadas, a partir das formas de retomada de palavras de terceiros, que, além de serem caracterizadas como processos de produção escrita acadêmica, também se caracterizam pela capacidade de incorporação do saber já produzido, são específicas das duas dissertações de se mostrar algo de singular que permite apontar os respectivos autores. Quanto ao objeto de

pesquisa, das duas dissertações, apresentamos um trecho representativo do modo como os pesquisadores articulam os discursos na construção do objeto.

O recorte discursivo dos dois pesquisadores traz conteúdos para uma série de reflexões que envolvem estratégias linguísticas de escrita, na tarefa de construção do próprio objeto de pesquisa como atividade imanente daquele que escreve uma pesquisa acadêmica cuja discussão não se esgota nesse espaço de escrita. Destacamos os trechos que seguem, tendo como pano de fundo a concepção de “gênero do discurso” para mostrar a estrutura dos discursos dos pesquisadores ao narrarem os conflitos fronteiriços que os alunos, em diferentes níveis de formação (ensino fundamental e graduação) revelam, demonstram, em relação ao ensino da leitura e da escrita e às representações sobre o ensino da gramática.

D1 1999 - O tratamento do dado

Conceituados como modos de organização que plasmam, na cadeia de formas relativamente estáveis de enunciados, o acontecimento enunciativo, e tomados na perspectiva da relação sujeito/linguagem em eventos de produção escolar da escrita, os gêneros discursivos são conceito necessário, neste nosso estudo, para investigarmos modos de circulação dialógica que escreventes-alunos de segunda série do ensino fundamental estabelecem com os vários aspectos que constituem o evento particular "Recontando histórias”, tais como as instruções que tentam orientar a atividade e as histórias lidas/contadas que servem de referência à atividade. Estaremos, portanto, apreendendo esses modos de dialogia pela

análise de textos que esses escreventes produziram atendendo à proposta do professor de recontar histórias por ele lidas/contadas aos alunos.

Os textos serão tomados, então, em sua natureza de réplica, de contrapalavra – tal como concebidas por Bakhtin (1952-3) e tal como tratadas por Corrêa (op. cit.) em sua leitura desses conceitos bakhtinianos - à proposta de produção escrita feita pelo professor.

Fica delimitado, assim, que, dos gestos enunciativos que constituem o evento "Recontando histórias", já mencionados anteriormente, centraremos nossa análise

em dois aspectos particulares: a) o gesto enunciativo inicial do professor, organizado no que denominamos de gênero "instruções da atividade de produção escrita" e b) os gestos enunciativos dos alunos quando recontam a história, dos quais emergem modos de dialogia inscritos nos textos por eles produzidos. Cabe lembrar ainda que o gênero "instruções" será abordado segundo

o modo particular como se configura, por escrito (tal qual o que poderíamos definir de “comando de questão”), na folha de papel onde os alunos deveriam escrever seus textos.

Fonte: (D1 1999, p. 78-79)

D2 2004 - p. 40- 42

Quando afirmo que o graduando escolhe o curso com a expectativa de estudar a variedade padrão, não o faço somente a partir de afirmações explícitas

como a seguinte: Durante o 1º e 2º grau me relacionava “bem” com as regras da gramática, isto é, tirava boas notas. Assim fiquei simpatizando com a disciplina, resolvi ampliar os conhecimentos (A1X). Existem enunciados que são mais sutis, isto é, o aluno diz que escolheu o curso para conhecer melhor a língua que fala, a

nossa língua, para estudar a literatura ou então porque é apaixonado pela língua portuguesa. Tais expressões não remetem diretamente ao universo da gramática. A especificação do que se compreende por língua portuguesa aparece quando critica o curso, por exemplo, por não dar relevância à necessidade de o professor de língua materna ter domínio da variedade padrão.

Assim, no confronto do conjunto de respostas, a representação sobre a língua vai se sustentando. Para explicitar melhor a leitura feita do corpus que compõe

este trabalho, apresento as respostas de dois alunos – um da universidade X e

outro da Y, respectivamente a e b – para algumas perguntas do questionário, em que a questão de gramática aparece de uma forma bastante discreta. Não há um

posicionamento contundente dos alunos com relação ao que buscaram estudar no curso. São pequenas definições que permitem construir a representação sobre o estudo da linguagem, ou seja, olhando mais de perto, torna-se possível

perceber as concepções e imagens que permeiam os seus discursos.

1) Quais os motivos (pessoais e/ou profissionais) que levaram você a escolher o curso de Letras?

a - Escolhi o curso porque gosto de trabalhar com educação. É muito importante o trabalho dos professores, mas muitos lecionam sem ter recebido uma formação adequada e sem conhecer a língua portuguesa e a literatura. Decidi fazer Letras porque quero desempenhar bem meu trabalho. Para isso preciso ter um bom domínio da língua.

b - Na época, eu já era professora de magistério e sempre gostei de português, de gramática e também de literatura, por isso resolvi fazer Letras.

2) Na sua opinião, qual a importância de ser formado em Letras?

a - Saber lidar com a Língua portuguesa e Literatura, ter conhecimento da língua padrão. Isso se o curso realmente trabalhasse a gramática.

b - Conhecer melhor a história da nossa língua.

3) Você leciona? Se a resposta for não, quais são as suas expectativas com relação ao seu futuro profissional?

a -Eu não leciono. b – Sim

Fonte: (D2 2004, p. 40- 42)18

A partir desses exemplos, torna-se possível mostrarmos como, nas duas dissertações – D1 e D2 –, os pesquisadores explicitam a constituição do corpus e qual o foco das observações no tratamento do dado por eles investigado.

Em D1, a análise se dará sobre os textos produzidos por alunos atendendo à proposta de recontar histórias lidas/contadas pelo professor, sob dois aspectos: as instruções do professor para os alunos e os gestos enunciativos produzidos pelos alunos a partir dos comandos do professor. Já no que diz respeito à D2, a leitura do corpus se dará não apenas em

dados explícitos, mas também com base em algumas perguntas do questionário em que a questão de gramática aparece de uma forma bastante discreta. Por não haver um posicionamento contundente dos alunos em relação ao que buscaram estudar no curso, as