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O Padre Antônio Joaquim: progresso em Mossoró

No documento Religião e cangaço na cidade de Mossoró (páginas 50-53)

1.3 RELIGIÃO E PODER: A PRESENÇA CATÓLICA NO DESENVOLVIMENTO DE

1.3.5 O Padre Antônio Joaquim: progresso em Mossoró

Outro personagem importante na história de Mossoró é o Padre Antonio Joaquim Rodrigues, que por um exemplar modo de vida, contribuiu para que a cidade tornasse-se próspera. Nascido na cidade de Aracati, no estado do Ceará, e filho do português Antonio Joaquim Rodrigues e de Vicência Ferreira da Motta, sentiu-se vocacionado para o sacerdócio católico e, em 1840, foi estudar no Seminário de Olinda.

Em 1844, como vigário, tornou-se pároco da freguesia de Mossoró, encontrando um pequeno povoado pobre morando em casas de taipas construídas em frente à Capela de Santa Luzia, que estava em péssimo estado de conservação. Aquele povoado guardava péssimas recordações e traumas devido à atuação violenta do Sacerdote Longino, porém o novo padre foi iria se tornar famoso na região por outro tipo de atuação: a de um político respeitado.

Quando o Padre Antonio Joaquim chegou a Mossoró, no ano de 1844, havia nesse povoado apenas o Partido Sulista, que passou a ser o Partido Liberal e que recebia apoio de políticos liberais da cidade de Assu. O historiador Souza (1979, p. 118) relata que fazia parte desse partido a família Cambôa, cujos membros “eram pacatos criadores, residentes nos arredores da povoação; homens de pouco cultivo intelectual, porém bem intencionados, moralizados e honestos”, mas também constavam entre os liberais pessoas que estavam praticando crimes e abuso na região: escravizando pessoas e vendendo, e praticando crimes de homicídios.

Por indignação a esses abusos, o Padre Antonio Joaquim entrou para a carreira política, fundando, em Mossoró, o Partido Conservador, em 1848, integrado ao Partido Conservador do Império, contando com o apoio dos proprietários de fazendas da região. A sua boa atuação política fez-se sentir logo em 1852, quando o povoado de Santa Luzia foi elevado à categoria de vila, sendo criado o município de Mossoró.

A primeira eleição do novo município foi tumultuada, conforme já citamos, sendo realizada em dois lugares distintos: pelos liberais, na residência próxima à Igreja, conduzida pelo juiz de paz, que era do Partido Liberal; e, pelo Partido Conservador, na Igreja, sob a direção do segundo juiz de paz. A eleição do Partido Conservador foi considerada legítima pelo presidente da província, ficando eleito como presidente da primeira Câmara Municipal de Mossoró o Padre Antonio Freire de Carvalho.

O Padre Antonio Joaquim tornou-se um grande político no estado do Rio Grande do Norte, vindo a ser deputado da Assembleia Legislativa da província, e usou a sua influência para o crescimento e desenvolvimento de Mossoró nos seguintes processos: de povoado para vila e município, em 1852; para comarca, em 1861; e para cidade, em 1870. Destaca-se, também, a sua contribuição para o desenvolvimento da educação, do transporte marítimo no Porto de Mossoró (Areia Branca), na criação de outros distritos na região, bem como sua atuação nos momentos de secas e enchentes, buscando recursos para o socorro de vítimas. Em suma, ao contrário do seu antecessor, o Padre Longino, que semeou violência na região, o Padre Antonio Joaquim contribuiu para a transformação da região em um lugar de paz e prosperidade. Também atuou contra as pessoas que escravizavam e vendiam outros seres humanos na região de Mossoró, segundo relato de Souza (1979, p. 126), que tomou como fonte, inclusive, o Jornal do Povo, de Fortaleza, datado de 27 de fevereiro de 1928, no qual consta o seguinte:

Quando esse nobre varão chegou a então povoação de Mossoró, a situação local era das mais asfixiantes [...]. Predominava então a política de ‘clã’.

Dominava um só partido, a guisa de liberal, sob a influência de políticos de Assu, manejado por um bloco limitado, quase exclusivo de pessoas de outras localidades. E porque, a esse tempo, havia o habito nefando de se vender gente livre como escrava! O padre Antonio Joaquim, que presenciou esse estado de coisas, fez-se político conservador, e tomando as rédeas do poder local, mudou inteiramente a situação. Despido de ambição, sem prepotências absurdas, pois termo a esse tráfico triste e deu foros de civilização á sua Freguesia.

De fato, a atuação contra a escravização de pessoas, nessa ocasião, não era um pensamento abolicionista, mas a defesa de pessoas que não eram escravas de nascimento. Por exemplo, interveio, junto às autoridades do estado, no caso de uma mulher chamada Isabel e de suas quatro filhas, que foram tomadas como escravas e vendidas em 1845, bem como no caso de outras pessoas que foram vítimas dos mesmos abusos, conseguindo seus resgates. Em 1883, já idoso, apoia o movimento abolicionista de Mossoró, “aplaudindo a libertação total dos escravos do Município e tomando parte ativa nas festas que então se fizera.” (SOUZA, 1979, p. 128).

Em 1878, o Padre Antonio Joaquim, em virtude da idade avançada, anunciou que iria abandonar a política, indicando, assim, para substituí-lo como líder do Partido Conservador o comerciante de Mossoró, coronel Francisco Gurgel de Oliveira, que foi aceito com vasta aprovação. No entanto, ele continuou engajado na política, apoiando seus candidatos nas eleições.

Sua história tem como relevância a sua atuação na política, mas ele foi também um sacerdote que trabalhou bastante por sua paróquia, mesmo porque acreditava que, pela política, podia fazer muito por ela. Assim, organizou a construção da nova Igreja Matriz, fundando, para tanto, a Irmandade Religiosa da Senhora Santa Luzia, padroeira daquela freguesia. Através dessa irmandade, demoliu a antiga capela, aproveitando parte do fundamento, e sobre aquele mesmo lugar edificou uma grande catedral, cuja construção foi morosa por motivo de limitações financeiras da região.

Além disso, cumpria seu ofício praticando os atos sacerdotais em toda a sua freguesia. Podemos ver seu esforço no fato que segue: “Velho mas ainda empenhado em seus ofícios de ministro católico, em 1884, andando o Padre Antonio Joaquim em desobrigação pelos sítios e fazendas de sua freguesia.” (SOUZA, 1979, p. 138). Nessa viagem, quando o padre adiantou-se um pouco do seu companheiro de viagem, perdeu-se e entrou na mata que ficava entre os rios Mossoró e Upanema. Avisado o povo, muitos se empenharam em procurá-lo mata adentro, encontrando-o em situação precária, pois, após ter ficado toda a noite e até a tarde do dia seguinte perdido, estava sem suas roupas, sem o cavalo e muito ferido por espinhos.

Quando surgiu, no Brasil, o conflito entre a Igreja Católica Romana e a Maçonaria, houve rebelião de muitos bispos contra as leis do Império e, por essa atitude, muitos foram arrastados às prisões. Em Mossoró, existia a Sociedade Maçônica “24 de Junho”, que foi fundada no ano de 1873, contra a qual houve hostilidade, sendo que o Padre Antonio Joaquim empenhou-se em atacá-la, inclusive, por meio da imprensa local, o jornal O Mossoroense. Devido à situação, havia por parte de muitas dioceses a proibição de casar maçons ou de eles serem padrinhos, ordem que o Padre Antonio Joaquim esforçava-se em cumprir; entretanto, por força das circunstâncias, ele realizou alguns casamentos de maçons.

A partir do ano 1855, o Padre Antonio Joaquim adoeceu, sofrendo de paralisia e cegueira. Não podendo mais exercer sua função, passou o Padre João Urbano de Oliveira a cumprir as atividades sacerdotais na freguesia. Ele ainda viveu com precária saúde por mais algum tempo, até que, em 9 de setembro de 1894, faleceu, recebendo da cidade uma grande despedida e sendo sepultado dentro da Matriz da cidade, novo templo que havia construído.

No documento Religião e cangaço na cidade de Mossoró (páginas 50-53)