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OS PRIMEIROS MORADORES NÃO INDÍGENAS

No documento Religião e cangaço na cidade de Mossoró (páginas 34-37)

1.2.1 A presença holandesa na região

Os primeiros homens de civilizações não indígenas a buscarem recursos nessas regiões faziam parte do comando do holandês Gedeon Morris de Jorge, que era um aventureiro em busca de riquezas.

Em 14 de fevereiro de 1641, partindo do Ceará com a sua nau tocada por bons ventos e costeando o litoral do Rio Grande, ele encontrou aquele que é, hoje, o rio Mossoró e, adentrando seu leito, deparou-se com as ricas salinas. O holandês desbravador não só ficou impressionado com a grande salina, mas também com a riqueza de animais e peixes do local.

Em janeiro de 1642, Morris recebeu autorização para voltar ao Ceará, mas, por pouco tempo, ele deve ter ido à região para explorar as salinas, visto que, em abril do mesmo ano, estava em São Luiz do Maranhão. Em janeiro de 1644, morreu no massacre do Ceará (CASCUDO, 2001).

Hoje, há várias salinas instaladas em municípios como Areia Branca, Grossos e Mossoró, constituindo grande fonte de riqueza econômica dessa região, que é conhecida como a terra do sal.

1.2.2 A presença dos carmelitas na região de Mossoró e Upanema

As fazendas de criação de gado avançaram pelo Rio Grande do Norte, de maneira que, no arraial de Nossa Senhora dos Prazeres do Açu, em 1697, um ano depois de sua fundação, havia mais de oito mil cabeças de gado.

De acordo com alvará em forma de lei, de 23 de setembro de 1700, proclamada pelo rei de Portugal, as missões indígenas possuíam uma légua de terra em quadro. Além do quadro, os missionários tinham poderes para fazer doações de terras para conventos, nos quais eram instalados capelas, sítios e plantios, usando mão de obra dos índios.

Os carmelitas instalaram-se, tomando posse dessas sesmarias e construindo moradias e uma capela para o serviço religioso. O local da instalação dessa missão seria a Serra do Carmo, que faz parte do prolongamento da chapada de Apodi, trinta quilômetros a leste da atual cidade de Mossoró. Além das antigas construções, Cascudo (2001, p. 14) cita a presença de “Frei Antonio da Conceição, um carmelita, que residiu muitos anos na fazenda do ‘Carmo’, faleceu velhinho e foi sepultado na Capela de Santa Luzia em Mossoró.”

Assim, logo a 26 de setembro de 1701, o governador e capitão general de Pernambuco, Dom Fernando Martins Mascarenhas de Lancastro (escrevia-se também Alencastro) doava ao Convento de Nossa Senhora do Carmo do Recife terras que nunca tinham sido povoadas no rio Paneminha (Upaneminha), ‘começando nas primeiras águas doces, por cima de salgada até o Olho d’água que poderia distar três léguas para cada banda do rio’. Logo a seguir o Rei faz escrever, a 18 de abril de 1702, carta a Lopes de Albuquerque, morador da ribeira do Upanema, significando-lhe o agrado em que recebera a noticia dos auxílios e favores que prestara aos missionários, no intuito de aumentar as missões pelas partes circunvizinhas da mesma Ribeira. (CASCUDO, 2001, p. 13).

Outros carmelitas também prestaram serviços religiosos na região, ficando, assim, registros de casamentos, serviço religioso de confissões, batismos e encomendas feitos na ribeira de Upanema e Mossoró. Cascudo (2001) acredita que, além das construções da Serra do Carmo, os carmelitas também construíram a Casa de Oração no sítio de Santa Luzia.

Estudantes e pesquisadores com interesse na história de Mossoró têm debatido sobre a presença dos carmelitas e suas consequências em relação à história oficial do município. Esse debate está exposto no livro Os carmelitas em Mossoró (LEITE; BEZERRA; DIAS JUNIOR, 2002), que procura seguir evidências da pesquisa de Câmara Cascudo sobre o início de Mossoró, verificando que o início do povoamento não se deu em 1772, com a construção da antiga Capela de Santa Luzia, como aponta alguns historiadores, mas com um grupo de carmelitas que estiveram às margens dos rios Upanema/Carmo e Apodi/Mossoró, em 1701. Além disso, esse material tem como fonte de pesquisa os relatos bibliográficos do caminho dos carmelitas no Brasil e, em especial, na região do município de Mossoró, além de apresentar outros materiais escritos sobre o assunto e usar uma modesta constatação de vestígios de construções, possivelmente dos carmelitas, na região do Carmo.

Para os autores, esse fato não poderia ficar apenas em termos de relato histórico, mas deveria ter outras consequências, ou seja, a presença dos carmelitas na região de Mossoró deveria ser um marco, uma tentativa de conserto de um equívoco histórico sobre os primórdios da região e, até mesmo, um “reparo” do ponto de vista religioso: “Até do ponto de vista religioso faz-se necessário um pequeno reparo a veneração religiosa em nosso meio começa por Nossa Senhora do Carmo e só depois de 70 anos chega a Virgem de Siracuasa.” (LEITE; BEZERRA; DIAS JUNIOR, 2002, p. 10).

1.2.3 Os primeiros moradores que deram origem à cidade de Mossoró

O historiador Francisco Fausto de Souza (1979) relata sobre os primeiros moradores do município de Mossoró, no fim do século XVII, no governo de Bernardo Vieira, época em que o Rio Grande do Norte já era uma capitania2 considerada livre dos perigos indígenas, uma vez que o “gentio bravo” (SOUZA, 1979, p. 9) já não estava mais na região.

2 “Como se sabe, o território brasileiro, principalmente o segundo ciclo econômico – a cana de açúcar – foi ocupado

por várias raças: branco, negro e índio. A terra foi dividida em lotes, recebendo o nome de Capitanias Hereditárias. Esse sistema não teve êxito total, embora algumas tenham prosperado, mas a maioria fracassou. Os donatários não

No início daquele século, muitas fazendas foram se formando às margens do rio

No documento Religião e cangaço na cidade de Mossoró (páginas 34-37)