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Capítulo 2 – Instituições Financeiras Internacionais e a

2.1 AS INSTITUIÇÕES FINACEIRAS INTERNACIONAIS

2.1.2 O Papel das IFI

As mudanças mais radicais no tipo de atuação das IFI ocorreram na década de 80, quando a ideologia neoliberal toma a cena na Inglaterra de Margarett Thatcher e nos Estados

Unidos de Ronald Reagan. O Banco Mundial e o FMI tornaram-se estratégicos na missão de disseminar, principalmente nos países pobres, a ideologia do mercado de cunho neoliberal. Essas instituições têm sido fundamentais no processo da globalização econômica ao proporem e aplicarem a disciplina econômica para o hemisfério Sul, para as antigas repúblicas da União Soviética, e, mais recentemente, para a Tailândia, Coréia e Indonésia. Os países endividados não têm tido outra alternativa senão implementar o receituário de ajuste estrutural do BIRD e do FMI. Foi sob a influência das IFI que dezenas de países realizaram a liberação de suas economias, privatizaram as companhias estatais, passaram a não controlar o câmbio e ampliaram a participação em mercados mundiais (STIGLITZ, 2002; GEORGE, 2002).

Inicialmente, o FMI e o Banco Mundial desempenhavam tarefas diferenciadas. Cabia ao FMI tratar das questões de ordem macroeconômica (déficit comercial, déficit do orçamento, política monetária, inflação, empréstimos no exterior), fixando políticas e normas para o desenvolvimento. Ao Banco Mundial cabia as questões estruturais como gastos e desempenho das instituições financeiras do país, políticas comerciais, mercados de trabalho. Esse Banco caracterizava-se por uma agência de financiamento e assistência técnica. Porém, o FMI passou a interferir em questões estruturais sob a justificativa de que as mesmas influenciavam na macroeconomia (FONSECA, 1998; STIGLITZ, 2002).

Concluída a tarefa de reconstrução dos países europeus destruídos na segunda Guerra Mundial, as atenções das IFI voltam-se para fomentar o desenvolvimento econômico12 do Terceiro Mundo. Nas duas últimas décadas o Banco Mundial passou a assumir cada vez mais a função de órgão político no processo da globalização da economia, produzindo políticas econômicas e sociais. Segundo Fonseca (1998), no bojo dessas políticas surgem conceitos que vão forjar o discurso do Banco, a exemplo de “progresso”, “desenvolvimento sustentável”, “realismo”, “autonomia”, “equidade” e “pobreza”. Para a autora, “a interpretação destes conceitos é condição indispensável para a compreensão do verdadeiro papel que o Banco desempenha junto aos países membros” (ibid., p. 5).

No campo social, o Banco Mundial financia os setores de saúde, nutrição, educação, problemática populacional, desenvolvimento urbano-rural e saneamento.

O Banco Mundial tem desempenhado cada vez mais o papel de “inteligência auxiliar” por meio da assistência técnica aos governos na elaboração de políticas, programas e projetos. A partir da década de 80, o Banco Mundial assumiu o papel de “reformador de políticas” com

12 Fonseca (1998), citando Pollard (1971), esclarece que a noção de progresso nos países mais avançados refere-se ao

crescimento econômico, ou seja; crescimento linear da riqueza sem modificações nas estruturas sociais. Nos países em desenvolvimento, essa noção refere-se ao desenvolvimento econômico com vistas ao modelo dos países ocidentais de capitalismo avançado, o que significaria mudanças na economia e na estrutura social e ideológica.

vistas ao enfrentamento da dívida externa e, ainda, passou a desenvolver “programas de ajuste estrutural” em complementação às ações do FMI (BARROS, 2001).

Nos anos 60 ficou evidenciado que o crescimento econômico de alguns países em desenvolvimento não tinha reduzido a pobreza. Assim, no final da década de 60, o esforço do Banco Mundial para o crescimento econômico passou a ser acompanhado por concessões de benefícios sociais por meio da criação de linhas específicas de financiamento. Para Fonseca (1998), essa estratégia política, assistencial-compensatória, visa conter a pobreza para que a mesma não represente um risco para os projetos de internacionalização do capital. Essa abordagem pode ser vista no discurso do presidente do Banco, em 1997.

Quando os privilegiados são poucos, e os desesperadamente pobres são muitos, e quando a diferença entre ambos os grupos se aprofunda, em vez de diminuir, só é questão de tempo até que seja preciso escolher entre os custos políticos de uma reforma e os riscos políticos de uma rebelião. Por este motivo, a aplicação de políticas especificamente encaminhadas para reduzir a miséria dos 40% mais pobres da população dos países em desenvolvimento é aconselhável não somente como questão de princípio, mas também de prudência. A justiça social não é simplesmente uma obrigação, é também um imperativo político (McNAMARA apud FONSECA, 1998).

Foi na década de 80, no âmbito da reestruturação da economia e do papel do Estado na nova ordem global, que o Banco Mundial estabelece uma política de combate à pobreza que dependeria menos do crescimento econômico dos países e do Estado e mais da capacidade do pobre, do indivíduo, de aumentar a sua produtividade13. Assim, a assistência do Banco Mundial, antes direcionada para projetos de infra-estrutura econômica, se direciona agora para a educação, saúde e desenvolvimento rural, com o objetivo de fornecer os requisitos mínimos para os pobres aumentarem a sua produtividade. Essa ênfase na produtividade dos pobres se fundamenta na nova divisão internacional do trabalho, onde resta aos pobres o trabalho informal (FONSECA, 1998). Ou seja, o projeto liberal é radicalizado nesse momento − o individuo deve, por ele mesmo, conquistar “livremente” os benefícios para sua qualidade de vida.

No âmbito da reestruturação administrativa do Banco, onde se definiu a política de ajuste econômico com vistas ao projeto global de desenvolvimento, os projetos sociais focalizados adquirem maior importância como medida compensatória para proteger os pobres dos efeitos do ajuste (BIRD apud FONSECA, 1998). Tal estratégia, busca amenizar o processo de exclusão social trazido pela globalização da economia que tem determinado a redução do papel do Estado no campo das políticas sociais, com o controle dos investimentos

13 Parece que essa lógica se estende para todos os campos. A cidade, o Estado também têm que ser produtivos para se inserir na

do setor público; o reforço da iniciativa privada; as reformas administrativas; a estabilização fiscal e monetária; e redução do crédito e das barreiras do mercado internacional.

De forma a compensar a perda da autonomia econômica e seus corolários de desigualdade internacional é compreensível que os países centrais e suas organizações ofereçam uma contrapartida para o alívio da pobreza, na forma de “ajuda” técnica e financeira (FONSECA, 1998).

Recentemente, a competência dessas instituições no seu intento de impedir e controlar crises financeiras no mundo tem sido questionada. As IFI falharam ao não preverem a grande crise do México, em 1994, assim como não foram capazes de prever a violenta crise que abateu os mercados financeiros asiáticos. As estratégias de ajuste adotadas para os países da América Latina têm sido catastróficas, tanto no plano econômico como no social. Apesar desse fracasso, essas instituições continuam sendo o instrumento privilegiado para a disseminação da ideologia e das políticas neoliberais de ajustes estruturais, como as privatizações, os cortes nos gastos sociais, etc (ANDERSON, 1995; STIGLITZ, 2002).

Segundo Barros (2001), desde a década de 50 o pagamento dos serviços das dívidas dos empréstimos de alguns países era maior que os valores dos novos empréstimos. Essa “rede de transferência negativa” tornou-se uma ameaça generalizada na década de 70, tanto para os países mutuários como para as IFI. A solução apresentada foi a implementação de programas de ajuste estrutural, de forma a evitar uma crise financeira nos moldes da Grande Depressão. Assim, na década de 80, os programas de ajuste estrutural e de ajuste setorial, de desembolsos rápidos para contornar a crise financeira, eram condicionados a reformas políticas de longo prazo. As principais diretrizes dos programas de ajuste relacionavam-se à: 1) redução do tamanho do Estado e de sua intervenção na economia; 2) reestruturação das finanças públicas; 3) liberalização de preços e dos controles; 4) ampliação da exportação; e 5) maior financiamento ao setor privado. Cerca de 60% das operações do Banco Mundial estão atualmente voltadas para programas de ajuste, em detrimento dos projetos de desenvolvimento.