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Preços Médios Observados CEAGESP

2.4. O Pequeno Produtor de Maçãs – Suas Dificuldades

Diversas são as dificuldades apontadas pelos pequenos produtores, mas a constatação principal é a de que, no Brasil, existe um déficit elevado na capacidade frigorífica do produto.

Segundo Frey (1990 – p.90), nos Estados Unidos, costuma-se afirmar que, para cada dólar despendido na formação de um pomar, o pomicultor precisa dispor de outro dólar para adquirir máquina classificadora, instalar câmaras frigoríficas e realizar a embalagem da maçã.

O pomicultor brasileiro, no entanto, normalmente já emprega grande esforço para efetuar a constituição do pomar de macieiras e para mantê-lo até a idade adulta e produtiva. Fazemos, assim, o primeiro investimento e nos encontramos descapitalizados para efetuar investimentos adicionais, o que se reflete no grau de dependência do pequeno produtor em relação ao grande produtor que possui estrutura de armazenagem e comercialização.

2.4.1. A Tendência para a Integração Vertical

Observamos outro fator que merece destaque: o tamanho e o peso dos produtores integrados, ou seja, aqueles produtores que possuem câmaras frigoríficas, equipamentos de distribuição e que participam dos canais de comercialização e distribuição. Tendo nascido dos primeiros projetos de incentivos fiscais e com tendência para uma maior concentração haja visto seu volume de produção considerável e seu monopólio na armazenagem e comercialização.

Aos demais produtores existem várias modalidades de negócios para seus volumes produzidos e muitas queixas. Para estes pequenos produtores ou mesmo produtores de maior porte, porém sem estruturas de armazenagem e comercialização podemos descrever três alternativas de negócios: i) colher a maçã e levá-la diretamente ao mercado por si, ou através de comerciantes que fazem uma classificação precária nos próprios pomares, em caixas abertas ou de

retorno14; ii) integrar-se a uma empresa embaladora de maçã, ajustando prévia e

claramente as condições da prestação do serviço e acompanhando o negócio passo a passo quanto à evolução do mercado e qualidade da fruta – é como casamento, pode dar certo; iii) reunir um grupo de produtores organizados sob a forma de cooperativa ou outro tipo de sociedade comercial, através do processamento de um volume mínimo no objetivo de viabilizar a verticalização do negócio e apresentar-se no mercado com um certo poder de barganha.

Atualmente se observa que os pequenos produtores que não possuem esta estrutura procuram associar-se às grandes empresas embaladoras desta forma colocando sua produção, vendendo-a toda no momento da colheita aos preços praticados neste momento; ou alugando a estrutura de armazenagem e comercialização destas empresas, incorrendo em lucros ou prejuízos ao longo do período em que a fruta for comercializada.

Entretanto, as oscilações de comportamento de muitos pequenos produtores que dançam ao sabor dos preços de mercado e interesses imediatos, resultam em altos índices de infidelidade na entrega da fruta ao sistema, o que enfatiza a necessidade do grande embalador proceder sua integração vertical, ou seja, produzir e processar sua própria fruta, o que, com o passar do tempo, não deve possibilitar espaço, para o casamento com pequenos produtores.

Exemplos de cooperativas surgem em diversas regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas fica cada vez mais claro que para alcançar o sucesso não bastam a estas cooperativas câmaras frigoríficas e belos prédios. O sucesso só é atingido com a prática da mentalidade cooperativista.

2.4.2. Comercialização e Preço – Perspectivas

Conforme destacamos anteriormente, até 1974, no mercado consumidor brasileiro só se encontrava maçã importada – a maioria da Argentina – por absoluta falta do produto nacional. Com o passar do tempo a indústria da maçã nacional, tomou forma e consistência, passamos a conhecer e procurar o produto

14 A prática da comercialização de frutas em caixas abertas ou de retorno, está em extinção de

nacional, apreciando suas qualidades e seu preço sensivelmente inferior ao da maçã importada.

Com o aumento gradativo da produção nacional e dispondo de maior opção de escolha, o consumidor brasileiro tornar-se-á mais exigente, teremos neste momento uma seleção natural do produto comercializado.

Segundo Kurmann (2001.a), a maçã remunera o produtor levando-se em conta os seguintes fatores: sanidade, coloração, calibre médio e prova dos tratamentos fitossanitários permitidos pela cultura. Estes fatores associados ao volume ofertado no mercado é que determinam o preço da maçã.

O Brasil, pela atual área plantada, que já soma 33.323 hectares, tem potencial para tranqüilamente, produzir 1.200.000 toneladas de maçãs. E, produzir 1.200.000 toneladas de maçãs no Brasil, hoje, é algo suicida e, com certeza, inviabilizará os pomicultores. Além disto, com a atual área e com a viabilidade de produção superior a 1,2 milhões de toneladas/ano, devemos prestar atenção nos seguintes pontos:

1º. Decididamente, o setor deverá fazer um trabalho para regular o tamanho da safra nos próximos anos;

2º. Os produtores deverão qualificar a sua produção e, a melhor maneira e mais barata é não produzir a Categoria 3. O local de eliminação da Cat.3 é no pomar e nunca no packing house;

3º. Precisamos ser competentes para produzir maças de qualidade e que sejam economicamente viáveis, vendendo as mesmas a um nível de preço situado entre R$ 0,23 e R$ 0,26 por Kg;

4º. Precisamos urgentemente cambiar nosso sistema de produção tradicional para o Sistema de Produção Integrada – PI . Sem a Produção Integrada, em curto prazo, não participaremos mais do Mercado Internacional e, em médio prazo, do Mercado Interno; 5º. Precisamos estar atentos ao que acontece na pomicultura mundial e no crescimento anual de outros tipos de frutas, que concorrem com a maçã. (Kurmann, 2001.a)

Segundo Kurmann15, o ciclo de comercialização também ocorre ao longo

dos 365 dias do ano, porém no período de 20 de janeiro a meados de maio existe uma oferta maior que a procura em virtude da descapitalização dos produtores e a falta de recursos para armazenagem.

Além da necessidade de formação de capital de giro através de uma oferta maior, temos também a entrada de maçãs e pêras dos nossos vizinhos Argentina e Chile, o que auxilia no aviltamento dos preços de comercialização.

Estudos promovidos por empresas situadas na região de atuação do polo produtor de Vacaria, sinalizam custos de produção nos pomares situados em R$ 0,1911 / Kg de fruta produzida. Estes custos fazem referência a estruturas completas, cujo quadro funcional possuem corpo técnico responsável pela condução dos pomares, abrangência de estruturas administrativas capazes de desenvolver canais distribuição e comercialização, entre outros.

É interessante destacar, que o pequeno produtor geralmente deve situar-se em níveis gerais de custos inferiores, mas não possui a mesma capacidade de gerenciamento e condução dos pomares.

Segundo um pequeno pomicultor entrevistado16, “o pequeno produtor consegue reduzir os níveis gerais de custos, por não possuir a mesma estrutura administrativa e técnica das grandes empresas e desenvolver um padrão de qualidade e acompanhamento na condução da safra o tornam igualmente competitivo. No entanto ao se distanciar de métodos de condução mais eficazes, racionalizando os custos em relação aos volumes produzidos por hectare, podem torná-lo ao longo do tempo inviável na sua produção pelos níveis de preços praticados”.

De modo geral os valores de comercialização recebidos pelos pequenos produtores, considerando vários produtores entrevistados que participaram ou não do processo de armazenagem e classificação desenvolvidos junto às unidades de Packing House instaladas, estabelecemos um nível médio de venda praticado ao redor de R$ 0,3300 / Kg. O estabelecimento deste valor levou em consideração as três últimas safras ocorridas.

16 Sr. Claur Dian, Técnico Contabilidade e Agropecuarista, possuidor de um pomar de maçãs, com