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O percurso temporal de artistas no Brasil

Inicialmente as práticas e teorias elaboradas por Rudolf Laban vieram para o Brasil junto com os artistas europeus que imigraram e se instalaram no estado de São Paulo na década de 1940 e 1950. Maria Duschenes (1922 -) foi a principal fonte de transmissão das teorias de Laban no país nesta época. Duschenes se inseriu no cenário paulistano dando aulas e cursos de formação em Laban. Durante aproximadamente cinqüenta anos ela formou algumas pessoas e habilitou inúmeros artistas a utilizarem das teorias e práticas de Laban. Em seu trabalho, ela sempre fez questão de deixar claro que além da Arte do Movimento ela       

35 Parte do “Conto da Figueira Mata Pau”. Acesso em: http://diantedouniverso.blogspot.com/2008/10/figueira- mata-pau.html 23/03/2009

também trabalhava outras práticas que foi adquirindo ao longo do tempo através de experiências diversas.

Renée Gumiel (francesa, 1913-2006), Yanka Rudzka (polonesa, 1916 -) e Rolf Gelewsky (alemão, 1930-1988) estudaram na Europa onde tiveram as teorias de Laban incorporadas em suas formações artísticas. Gumiel estudou em Dartington Hall com Kurt Jooss e Sigurd Leeder na primeira turma da escola (1933 a 1936) e depois fez especialização em coreografia com o próprio Rudolf Laban36 na Alemanha. Já Gelewsky estudou e dançou com Mary Wigman e Rudzka especializou-se com Harald Kreutzberg e Maria Duschenes, além de também ter sido discípulo de Wigman. Os três artistas desenvolveram o legado labaniano em suas próprias práticas artísticas e docentes no Brasil a partir de suas imigrações na década de 1950. Desta forma espalharam suas sementes artísticas e transmitiram aos seus numerosos alunos, tanto em São Paulo (com Gumiel e Rudzka) como em Salvador (com Rudzka e Gelewsky) os fundamentos da dança expressiva e do legado de Laban. É possível encontrar nos acervos deixados por estes artistas e seus aprendizes, como também em alguns trabalhos acadêmicos, registros que possam detalhar com maior precisão o percurso e trabalho desenvolvido por estes europeus.

Brasileira e aluna de Mary Wigman durante dois anos em Dresden na Alemanha, Chinita Ullmann (1904-1977) retornou a sua pátria em 1932 e se estabeleceu na cidade de São Paulo, iniciando o movimento da dança moderna no país. Foi a primeira professora de expressão corporal na Escola de Artes Dramáticas (EAD) em São Paulo (SUCENA, 1988). Apesar de Chinita não fazer parte da reprodução do legado de Laban, no Brasil, é preciso ter consciência de sua participação efetiva na cena da dança moderna e expressiva no país.

Juana de Laban (1910-1978)37, dançarina, professora, coreógrafa, diretora, pesquisadora de dança e filha mais velha de Rudolf Laban e Maya Lenares imigrou para os Estado Unidos em 1939. Se doutorou em Artes pela University of Yale em 1947. Em 1954 se tornou chefe do departamento de Teatro na Baylor University. Em 1962, com uma bolsa Fullbright, Juana passou pela América do Sul dando aulas e palestras. Segundo Ciane Fernandes (2006, p.30) Juana esteve também no Brasil, na Universidade Federal da Bahia neste mesmo ano.

      

36 Informações retiradas de entrevista de Renée Gumiel cedida à Cássia Navas em NAVAS E DIAS, 1992.

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Informações biográficas de Juana de Laban vieram do sítio “Juana de Laban Dance Collection” [http://dallaslibrary.org/ctx/archives/MA91-9.html] acesso em 20 de abril de 2009.

Alguns artistas e profissionais brasileiros tiveram a oportunidade de entrar em contato com as teorias de Laban em viagens feitas para o exterior onde fizeram cursos e formações e trouxeram junto consigo a base dos pensamentos do mestre. Este é o caso de Ana Maria Vieira38, Guiomar Meirelles Becker39 e Eva Schul40. Ana Maria e Guiomar se estabeleceram nas Universidades Federais da Bahia (Faculdade de Dança) e de Minas Gerais (Faculdade de Educação Física), respectivamente, onde foram responsáveis por disciplinas em que utilizavam das teorias labanianas como ferramentas artísticas e pedagógicas. Já Eva estudou com Hanya Holm nos EUA41 e voltou para o Brasil onde contribuiu para criar o Curso superior de Dança da FAP (Faculdade de Artes do Paraná) no Paraná e lecionou no IACEN (Instituto Estadual de Artes Cênicas) no Rio Grande do Sul. Estas docentes foram responsáveis por iniciarem a disseminação do legado labaniano em outros estados do Brasil, plantando as sementes do pensamento da Arte do Movimento e da dança de expressão.

Já no final dos anos 1970 Regina Miranda retornou ao Brasil vindo de Nova Iorque com formação em Laban do Dance Notation Bureau (atual Laban/Bartenieff Institute of Movement Studies – LIMS), onde foi aluna da própria Irmgard Bartenieff. Ficou em Brasília por alguns meses, mas voltou para sua cidade natal (Rio de Janeiro) onde então passou a divulgar o Sistema Laban/Bartenieff na Escola Angel Vianna, em workshops variados e em seguida em sua própria companhia de dança (onde também disseminou as bases do Sistema Laban/Bartenieff com seus bailarinos). No Início dos anos de 1980, Maristela Lima voltou de seu doutorado na Temple University (EUA) onde se especializou nas teorias de Laban voltadas à educação e se estabeleceu em Viçosa, MG no curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Na mesma década, Lenora Lobo voltou do Laban Centre de Londres (onde especializou-se no legado labaniano) passando alguns anos em São Paulo e em seguida no Distrito Federal em Brasília onde passou a desenvolver seu trabalho artístico e integrou o corpo docente da Universidade Nacional de Brasília (UnB) por alguns anos.

No final dos anos de 1980 e inicio dos anos de 1990 alguns estudantes de dança e teatro que buscavam aprofundar seus estudos em dança, artes cênicas e nas teorias de Laban       

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Vide narrativa de Suzana Martins mais adiante neste capítulo.

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Vide narrativa de Maristela Lima mais adiante neste capítulo.

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Vide narrativa de Cibele Sastre mais adiante neste capítulo.

41 Eva que foi naturalizada brasileira em 1956 imigrou junto com sua família para o sul do Brasil. Estudou sete anos com Hanya Holm e quando voltou para o Brasil passou a integrar cursos de formação profissional em artes cênicas no Paraná e Rio Grande do Sul. (Informações retiradas de entrevista cedida ao Satedrs (Sindicato dos artistas e técnicos de espetáculos de diversões do Rio Grande do Sul) e publicada no jornal eletrônico da instituição em 24 de novembro de 2008)

foram para o exterior buscando cursos de pós-graduação no Laban Centre (Reino Unido), Temple University (EUA), New York University (EUA), City University of New York (EUA) e LIMS (EUA). Retornaram ao Brasil como Especialistas, Mestres e Doutores carregando consigo suas especializações em Laban para disseminar junto a população e às universidades brasileiras. No final dos anos de 1990, mais artistas retornaram do LIMS com certificados de Analista do Movimento (Certified Movement Analyst - CMA) e Mestres/especialistas pelo Laban Centre de Londres. Alguns optaram por ingressar em universidades brasileiras enquanto outros seguiram carreiras artísticas.

É possível visualizar que com o passar das décadas o número de pessoas multiplicadoras do legado labaniano no Brasil foi aumentando consideravelmente. Partindo dos imigrantes estrangeiros e em seguida através dos próprios brasileiros, foram disseminando conhecimento da Arte do Movimento e da dança expressionista pelos corpos e estudos daqueles que no país começavam a buscar a linguagem e expressão que no exterior já vinha sendo desenvolvida, pensada e dançada décadas antes.