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4. Enquadramento Operacional O baralhar do Cubo Mágico

4.1. Orientação e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.1 Conceção concetual

4.1.1.4 O plano curricular da disciplina

Toda a gente sabe uma disciplina é regida por uma panóplia de documentos já existentes (planos curriculares) que ditam aquilo que se deve ensinar aos alunos, e outros elaborados pelos professores após uma reflexão dentro do grupo disciplinar a que pertencem. O objetivo destes documentos é aproximar a teoria da realidade encontrada no contexto escolar. Mas vocês já pararam para realmente lerem esses tão “simples” documentos? Admito que antes de entrar no estágio, não tinha consciência da importância deles no meio educativo, tendo apenas algumas noções do que se tratava. Procurarei agora discorrer da minha análise de cada um deles e qual o seu papel na vida de um professor de EF e qual a sua importância (ou não…) na disciplina de EF.

Segundo Rosado (2018), devemos de dar importância ao sistema educativo e desportivo, visto que ambos possuem um papel crucial no desenvolvimento moral, pessoal e social do sujeito, bem como no desenvolvimento das competências de vida e do carácter. Relativamente à EF sabe-se que se encontra inserida no currículo dos mais variados sistemas educativos, com um carácter obrigatório (Graça, 2014). Porém, a realidade observada baseia-se no pouco reconhecimento da disciplina face às matérias nucleares como matemática, português, etc., face à exigência procurada pela mesma. Parece uma disciplina que tanto se encontra na ribalta e é valorizada o seu papel na vida do aluno porque “faz falta” como cai no esquecimento e fica escondida na sombra das outras disciplinas por “não ser das mais fundamentais”, acabando por ser submetida a uma carência de recursos materiais e à insuficiência no tempo atribuído para as suas aulas.

Encontramo-nos numa sociedade marcada por transformações culturais, sociais, políticas e tecnológicas, pelo que a grande luta dos professores de EF situa-se entre redefinir os objetivos da disciplina na escola e refletir sobre se as suas práticas cumprem tais objetivos, baseados na formação integral do sujeito e a sua ligação à vida. Como já abordado, a principal matéria de ensino desta

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disciplina é o desporto, provindo dele os conteúdos, as habilidades e capacidades a desenvolver (Batista, 2019a).

De acordo com Batista (2019b), os programas nacionais de EF sofreram alterações significativas. Inicialmente centravam-se única e exclusivamente nos objetivos com a elaboração de um plano estruturado de aprendizagens dos alunos em termos comportamentais (teoria técnica). Posteriormente, baseou-se numa teoria mais prática, focada na resolução de questões práticas, colocando o professor como um sujeito ativo na organização curricular da sua prática. Por último, centra-se numa teoria crítica, onde é privilegiada a emancipação do aluno através de uma estratégia problemática elaborada tendo em conta os problemas e sucessivas atitudes dos alunos. Tendo em conta a minha experiência este ano, considero que os programas nacionais, apesar de a intenção estar lá, situam-se dentro da teoria técnica, não tendo evoluído com a evolução da sociedade, uma vez que os mesmos não potenciam nem valorizam a individualidade do sujeito, nem as suas atitudes e valores, não procurando um desenvolvimento global e contínuo. Considero que os programas nacionais deveriam ser atualizados, uma vez que se encontram descontextualizados com a realidade encontrada no contexto escolar. A escola atua como uma instituição privilegiada de intervenção, responsáveis por operacionalizar estes currículos e, posto isto, é requerido dos professores um esforço bastante grande relativamente à adaptação do programa à realidade da escola, tendo em conta os objetivos decretados a nível nacional, quer a nível das competências e aquisição de conhecimentos quer nas aprendizagens essenciais do aluno para o ano de escolaridade em questão.

Estamos a falar de uma gestão flexível do currículo, uma desconstrução resultante de um processo interativo entre o qual conflui a experiência do docente e as suas diversas interpretações, valorizando as abordagens hermenêuticas e a criação de um projeto de reprodução social desejável, pela distribuição compartilhada de competências dos diversos atores neste processo (professores e alunos) e na sua prática reflexiva enquanto fonte de conhecimento e orientação de ações mais eficazes, constituindo assim uma unidade coerente (Batista, 2019b). Na minha opinião, considero que esta construção local, ou seja, nas escolas, não acontece da forma que deveria. Dever-se-ia pensar mais “no

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quê?” e no “como?” para reformular o ato de educar e as práticas de ensino, visto que os professores devem ser considerados atores intervenientes e não meros reprodutores. Todavia, por muito que os professores de EF procurem implementar mudanças nos programas e, consequentemente, no ensino e nas aprendizagens, apresentam obstáculos devido à ecologia da escola onde se encontram (Graça, 2014). Porém, é de louvar, pelo menos na minha EC, ouvir- se falar em flexibilizar um pouco os programas para os diferentes anos letivos, tendo em conta as condições existentes na escola a nível material, financeiro e os objetivos estabelecidos para os alunos.

Olhando agora para os programas nacionais de EF do Ensino Secundário (do 10º ao 12º ano), e passo a citar, “O programa constitui, portanto, um guia para a ação do professor que, sendo motivado pelo desenvolvimento dos seus alunos, encontra aqui os indicadores para orientar a sua prática, em coordenação com os professores de Educação Física da Escola (e das «escolas em curso») e também com os seus colegas das outras disciplinas.” (Jacinto et al., 2001), onde podemos perceber que é dada liberdade às escolas e aos professores de adaptar o programa nacional em busca da garantia da atividade física, promoção da autonomia, valorização da criatividade e orientação à sociabilidade. Os programas apresentam quatro áreas: 1- atividades físicas desportivas, que englobam os jogos desportivos coletivos, ginástica, atletismo, raquetes, combatem, patinagem e natação; 2- atividades rítmicas expressivas (dança); 3- jogos tradicionais e populares; e 4- atividades de exploração da natureza, que englobam orientação, montanhismo/escalada, canoagem, etc., que apresentam como objetivos gerais a participação ativa dos alunos em todas as atividades, aceitando, cooperando, interessando-se e assumindo várias situações em parceria com os colegas e elevar o nível funcional das capacidades condicionais e coordenativas gerais. Cada conteúdo das matérias podem ser divididos em três níveis: introdutório, elementar e avançado e em matérias nucleares ou alternativas (Jacinto et al., 2001).

Após esta contextualização do programa nacional em vigor, para a turma do 10º ano, estavam destinadas as modalidades coletivas de andebol (nível elementar) e basquetebol (parte do nível avançado), ginástica de solo (parte do

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nível avançado), badminton (nível elementar), atletismo (parte do nível avançado) e dança - regadinho - (nível introdutório). Se pensarmos bem, o 10º ano equivale a uma transição de um ciclo de ensino diferente. Desta forma, e apesar de estar no programa, dificilmente uma turma apresenta capacidades físicas e psicológicas para um nível (ou parte) avançado, tal como Jacinto et al. (2001) afirmam, “no 10° ano interessa consolidar e, eventualmente, completar a formação diversificada do ensino básico. (…) este é um ano em que se mantêm os objetivos do 9° ano.”, pelo facto de ocorrer uma mudança e adaptação à nova escola e à nova realidade. Para o 12º ano estavam destinadas as modalidades coletivas de futebol, voleibol e andebol (todos em nível avançado), corfebol e rugby (nível introdutório), atletismo (nível avançado), judo (nível elementar) e dança - chá-chá-chá - (nível elementar). Para a aptidão física, o objetivo primordial era “alargar os limites dos rendimentos energético-funcional e sensório-motor, em trabalho muscular diversificado, nas correspondentes variações de duração, intensidade e complexidade.” (Jacinto et al., 2001). Assim, construí e realizei, em simultâneo com a matéria da aula, um circuito de treino funcional que procurava algum incremento destas capacidades condicionais e coordenativas, uma vez que, apenas duas aulas por semana não permite grandes progressos e porque não é uma área de grande interesse por parte dos alunos, que tendem a desmotivar e a desistir por não conseguirem resultados bastante notórios.

Relativamente ao plano de turma, este organiza, de forma geral, o ano letivo após o período de férias escolares (3 meses) em períodos de tempo mais reduzidos e tendo em conta o calendário escolar, para que o processo E/A seja facilitado, uma vez que tal como os autores do programa dizem, “ofereça oportunidade de revisão das matérias tratadas no período anterior, bem como de recuperação do nível de aptidão física, eventualmente diminuído pela interrupção da atividade física educativa.”, auxiliando e guiando o professor a aproveitar o tempo de aula disponível em virtude das modalidades a abordar e dos objetivos estabelecidos para cada uma.

Em suma, não é possível mantermo-nos indiferentes aos programas nacionais. É necessário um esforço de toda a comunidade educativa para

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restituir o lugar da EF na educação e, consequentemente, nos currículos escolares, dando-lhe a devida importância e tendo em conta a individualidade dos sujeitos participantes.

4.1.1.5 A fusão completa - conhecimento teórico aliado à prática