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4. Enquadramento Operacional O baralhar do Cubo Mágico

4.1. Orientação e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.5 Observação e reflexões

4.1.5.2 Sair fora da caixa

Osho

Terminei o ponto anterior a dizer que a observação nos permite sair fora da caixa. Mas essa conquista é bastante árdua, principalmente quando somos o nosso próprio inimigo. É verdade, é assim que me considero, eu fui a minha própria inimiga durante este ano de estágio! Lutei comigo própria todos os dias, a todo o momento. E acreditem que esta é a luta mais difícil de todas. Chegava a provocar uma dor constante no peito que dificilmente saía. A evolução do ser humano é fantástica, pois ele é capaz de tudo, capaz de criar novas tecnologias, capaz de encontrar curas para as doenças que parecem incuráveis, capazes de se transcender a cada minuto que passa apenas por saírem da sua zona de conforto e pensarem ainda mais além, para lá do imaginável. Eu acho que fui confrontada com uma fase que é bastante complicada para mim: sair da minha zona de conforto. Uma das minhas capacidades é conseguir-me adaptar a qualquer situação que me surja, pensando em 1001 maneiras de reagir face ao problema encontrado mas aqui, no estágio profissional, custou-me verdadeiramente a conseguir fazê-lo.

Sempre disseram que o ano de estágio nos ia colocar à prova em todos os aspetos possíveis, repleto de mudanças/adaptações e pouco tempo para assimilar todas as novas informações e responsabilidades. Achava que eu vinha mentalmente preparada para isto pois tinha noção que não saía da faculdade preparada para enfrentar o verdadeiro contexto escolar. Mas custou saber que para isso acontecer eu iria “bater com a cabeça na parede várias vezes até aprender” (frase muito recorrente do PC para mim!). E é verdade! O processo de aprendizagem caracteriza-se por uma sucessão de erros que são melhorados e aprimorados.

Com todas as observações realizadas por mim, pelo meu colega e até pelo PC, passei por duas fases: a primeira fase foi angustiante pelo facto de ter errado no início da UD de Andebol e cada vez que o PC intervia, o meu coração encolhia e só me apetecia chorar e gritar comigo mesma por pensar várias vezes: “Será

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que nunca vou atinar com isto?”; “Será que não consigo tomar conta da aula sozinha da melhor forma?!” “Que mais preciso de fazer para me preparar para conseguir dar a aula?”.

Sair fora da caixa é sinónimo de sair fora da zona de conforto. Como já referi na minha caracterização, um dos meus pontos fortes é ser perfecionista, gostar de fazer e ter as coisas direitinhas, mas muitas vezes “o feitiço vira-se contra o feiticeiro” e esta característica torna-se num problema, num ponto fraco que influencia o meu dia-a-dia, principalmente este ano. Tudo porque o facto de ser assim não me permite sair da minha zona de conforto, aquela zona onde me sinto segura porque não há margem para erros porque sei o que estou a fazer. Considero que este ano passei por quatro zonas: 1 - Zona de conforto (inicio do ano onde me sinto a salvo e confortável com os meus conhecimentos); 2 - Zona de Medo (onde estava receosa por lecionar verdadeiramente uma turma e comecei a sentir falta de confiança e a ser afetada pela opinião dos outros - observações do núcleo de estágio às aulas); 3 - Zona de Aprendizagem (onde comecei a aprender a lidar com os desafios e problemas que encontrava, adquirindo novas habilidades que se transformaram numa zona de conforto estendida); e 4 - Zona de crescimento (onde encontrei novas metas e procurei conquistar novos objetivos).

Comecei na 1ª zona, zona de conforto, pois as situações de aprendizagem propostas iam de encontro à minha formação e áquilo que tinha lido em vários livros da modalidade. Porém, após as intervenções do professor, passei logo para a 2ª zona, zona de medo. Eu sei que as intervenções dele foram para me ajudar, e agradeço imenso por isso, mas acho que não estava à espera que isso acontecesse e reagi um bocadinho mal.

O professor cooperante lançou-me o repto de sair da minha zona de conforto e transcender, sem medo de arriscar e de me expor. Ouvi todos os conselhos que me deu, e procurei segui-los. A medo porque não sabia como fazer mas sabia onde queria chegar. Queria subir mais um patamar na busca pela excelência (ou pelo menos sentir que tentava lá chegar!). Refleti sobre as palavras que me disse e percebi que fazendo como ele aconselhava (passar a ensinar o todo em vez do específico – partir do jogo em vez de situações de aprendizagem específicas),

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era o melhor para a aprendizagem dos alunos. Desta forma, rapidamente passei para a 3ª zona, zona de aprendizagem. Aprendi muito com a prática em si mesma, o corrigir os alunos durante o jogo e ensinei muito também, uma vez que o resultado apareceu quando os meus alunos na avaliação sumativa demonstraram o quanto tinham evoluído na modalidade. Foi aqui que me “caiu a ficha” e percebi que afinal tinha conseguido!

Andei numa montanha russa entre a 1ª e a 3ª zona durante todo o ano e agora no final de tudo, percebi que sem me aperceber atingi a 4ª zona, a zona de crescimento. Foi um longo caminho, caí várias vezes mas também me levantei sempre. O meu PC disse um dia: “Nunca ninguém disse que ia ser fácil!”. E foi nesse momento que percebi que teria sempre alguém que me ia ajudar sempre que precisasse, mesmo que por vezes custe ouvir certas verdades nas reflexões em NE sobre os problemas encontrados ao observar as aulas e em busca de soluções futuras.

Ser professor exige muito de nós, é cansativo mas recompensador. Há muita coisa para fazer e pouco tempo para tal, mas observar os resultados no fim vale a pena! Mesmo com as dificuldades todas que nos possam aparecer, devemos encarar esses problemas de frente, com as “mangas arregaçadas” para arranjar forma de as resolver. Aqui surge outro aspeto fundamental no processo de formação de professores: a reflexão na ação. Façamos o certo ou o errado, temos de fazer. Só assim conseguimos perceber se resulta ou não. É aqui que vamos aprender e vamos potenciar toda a aprendizagem dos alunos, aumentando a sua motivação de irem às aulas e, consequentemente, o tempo de empenhamento motor deles, principalmente o tempo potencial de aprendizagem. Os alunos são o mais importante para mim, e se tiver que “bater com a cabeça na parede” várias vezes, assim será. Já não tenho medo de ser a minha própria inimiga!