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O Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras)

A criação dos primeiros Mestrados Profissionais em ensino ocorre no ano de 2000, nas áreas de Ciências e Matemática. Até então a concepção dominante era de que a área de Letras não tinha relação com o mestrado profissional. Segundo o coordenador da área de Letras/Linguística da Capes13, essa concepção mudou com o reconhecimento da necessidade de capacitar os professores de Língua Portuguesa da Educação Básica. A história de implementação do Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras), curso oferecido em rede nacional, iniciou em abril de 2012, com o encaminhamento da proposta do curso à Capes, que foi aprovada com nota 4 pelo Conselho Técnico-Científico da Coordenadoria.

As estatísticas capturadas no Portal Capes confirmam que, apesar da expansão dos cursos de MP, a área de Linguística, Letras e Artes está entre os cursos de menor oferta, com 1,89% do total14. O primeiro processo seletivo do Profletras aconteceu em 2013 e já na primeira edição do programa o número de 13 mil candidatos de todo o Brasil inscritos comprova a carência na formação de professores(as) de letras no país e a importância dessa iniciativa.

Quanto à modalidade de ensino, a página oficial do projeto o apresenta como um curso semipresencial, com parte das atividades a serem realizadas de modo presencial, com oferta simultânea em todas as unidades do País, e parte a ser desenvolvida por meio do uso da metodologia da educação a distância, porém na unidade observada, a modalidade de ensino

13 O coordenador Demerval de Oliveira fala sobre os desafios da implementação do Profletras em uma entrevista

postada em 24 de outubro de 2013, no portal Capes. Disponível em: http://www.capes.gov.br/36-noticias/6604- coordenador-fala-sobre-os-desafios-da-implementacao-do-profletras. Acesso em: 4 out. 2016.

tem sido exclusivamente a presencial. O projeto conta com a participação de Instituições de Ensino Superior, no contexto da Universidade Aberta do Brasil (UAB), um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos de nível superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por meio do uso da metodologia da educação a distância.

A Rede Nacional do Profletras conta com um expressivo número de Instituições de Ensino Superior (IES) associadas, responsáveis pela execução do curso, tendo como sede a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). No ano de 2016, ocorrerá a quarta edição do Exame Nacional de Acesso, baseado em prova escrita, com questões objetivas e discursivas, com a finalidade de avaliar as habilidades de leitura e de escrita dos candidatos. O Programa ofereceu, em edital lançado dia 01 de agosto de 2016, 831 (oitocentas e trinta e uma) vagas, distribuídas entre as 48 unidades, em 42 Instituições Associadas. Para candidatar-se a uma das vagas, os(as) candidatos(as) precisam atender a alguns requisitos, a saber: ser licenciado(a) em Letras e ser professor(a) em exercício de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental (1º ao 9º anos), em escola da rede pública.

Como o curso é destinado a professores(as) em exercício, uma das características é a flexibilidade de horário, pois os(as) mestrandos(as) devem conciliar as aulas com o exercício docente. O colegiado local de cada unidade que integra a Rede determina o dia em que as aulas serão ministradas, podendo ocorrer de segunda a sábado. Na unidade observada, as aulas ocorrem somente às sextas-feiras. O objetivo do Programa de Mestrado Profissional em Letras é capacitar professores(as) de Língua Portuguesa para o exercício da docência no Ensino Fundamental, com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no País. Isto impõe maiores exigências sobre os(as) mestrandos(as) que, para a obtenção do título de mestre, devem desenvolver uma proposta de atividade voltada para o referido nível de ensino e apresentar, em seu trabalho de conclusão, o resultado do desenvolvimento dessa atividade. Defendo que as exigências sobre eles/elas são maiores, porque há a exigência de uma pesquisa com retorno social em um contexto geralmente desfavorável, a julgar pelos diversos problemas relatados, tais como a impossibilidade de afastamento, a falta de tempo para as leituras, os cortes orçamentários nas bolsas de estudo.

Ao falar das condições gerais para os Mestrados Profissionais em ensino, o documento “Mestrado (profissional) em ensino” (2004, p. 135) postula:

Os professores mestrandos deverão ter alguma forma de apoio (redução de carga horária e/ ou bolsa, por exemplo) que viabilize sua participação; sabe-se que os professores em exercício no ensino básico ou em instituições não estatais têm

elevada carga horária, e é para eles que o mestrado em ensino se destina primordialmente, de modo que é indispensável viabilizar sua participação não só por meio de horários especiais ou ensino a distância.

Percebemos, porém, na prática, que essas condições não se concretizam atualmente, faltando incentivos à participação desses(as) professores(as), desafios que são frequentemente relatados nas entrevistas. Primeiramente, o edital do certame prevê que o candidato aprovado não pode afastar-se, integralmente, do exercício da docência, enquanto permanecer cursando o Profletras. Na unidade observada, os(as) mestrandos(as) são solicitados a comprovar o vínculo com escola de Ensino Fundamental da rede pública, por meio de documentação, a cada período de matrícula. Tendo em vista a impossibilidade de redução integral, os(as) cursistas da unidade observada reivindicam uma redução parcial de carga horária profissional para melhor aproveitamento da formação em MP, o que não está previsto nos sistemas municipal e estadual de ensino em que eles/elas atuam. Esse fato origina muitas queixas pela falta de tempo para dedicação aos estudos.

Quanto à concessão de bolsas, houve pagamento regular para as duas primeiras turmas, mas os(as) alunos(as) da 3ª turma, que ingressaram em março de 2016, não receberam o benefício que garante a sua permanência no curso. De acordo com a Coordenação Nacional do Profletras15, a situação na qual se encontram os mestrandos do Programa de Mestrado Profissional em Letras não é um caso isolado, na verdade, todos os mestrados profissionais têm sofrido cortes orçamentários no que diz respeito a bolsas. A prospecção é que as bolsas vigentes devem permanecer, mas não serão criadas novas bolsas, assim, far-se-á a reposição de bolsas de uma turma que concluiu para outra que iniciou. Portanto, as bolsas para a terceira turma serão implementadas apenas em novembro com a conclusão da segunda turma.

Finalmente, quero abordar a questão dos estigmas relacionados ao mestrado profissional em Letras. O coordenador da Área de Letras/Linguística da Capes, Demerval de Oliveira, defende que uma das medidas para evitar a resistência ao Profletras tem sido a garantia de níveis de qualidade compatíveis com os de um mestrado acadêmico e, para tanto, os responsáveis pela execução do curso são programas de excelência, com modalidade acadêmica 6 e 7. Quanto ao corpo docente, também há exigências de modo a garantir esses níveis: o regimento do programa determina, em seu artigo 5º, que o corpo docente do Profletras em cada instituição associada seja constituído de, pelo menos, seis professores doutores, com comprovada experiência docente em cursos de formação continuada voltados

15 Declaração feita em nota de esclarecimento publicada na página oficial do programa. Disponível em:

para a Educação Básica e em orientação acadêmica, além de produção científica e/ou técnica coerente com a proposta do Programa. Na unidade observada, constatei que o corpo docente é constituído, em sua totalidade, de professores(as) doutores(as). Uma das cursistas entrevistadas problematiza essa questão, ressentindo-se da falta de praticantes entre os docentes, pessoas que possam, segundo ela, falar da teoria com base nas próprias vivências, vivências essas específicas do ensino no nível básico, as quais são diferentes daquelas em nível superior.

Ao fazer uma avaliação do primeiro ano do curso, o referido coordenador pontua: "O que observamos é que essa nova modalidade de formação está sendo menos estigmatizada do que era. Havia uma resistência ao mestrado profissional, mas a gente tem quebrado muito isso”16. No capítulo analítico, contudo, ficará evidente que os(as) mestrandos(as), ainda hoje, somam esforços na tentativa de diminuir preconceitos, diferenças, rejeições, e a falta de credibilidade em relação à modalidade profissional de pós-graduação.