• Nenhum resultado encontrado

2.2 Setor da construção civil e o contexto da habitação

2.2.4 O projeto de edificação

Parte das concepções a respeito da atividade de projetar edificações enfatiza seu aspecto artístico, partindo de concepções subjetivas, como se o projeto fosse, essencialmente, expressão da individualidade do artista-projetista. Entretanto, para uma abordagem consistente e conseqüente do processo de projeto, devem-se enquadrar estas concepções subjetivas, identificando aspectos da realidade que atuem como condicionantes da ação criativa do projetista.

Na definição de Fischer e Tatum (1997, p.254), “a construtibilidade de um projeto é a magnitude de sua contribuição no sentido de facilitar a construção, respeitando os requisitos das metodologias de construção”. Para tanto, os autores constróem um sistema especialista capaz de checar a construtibilidade de qualquer estrutura. Como pré-requisitos para a existência de tal sistema sugerem: conhecimento formalizado a respeito da construtibilidade; um modelo de projeto que possa ser interpretado pelo computador e algoritmos, ou mecanismos de raciocínio que realizem a revisão do projeto em busca de problemas de construtibilidade.

As abordagens mais recentes de gerenciamento de produto, como por exemplo a engenharia simultânea (construção concorrente), baseia-se na integração de todas as etapas do projeto numa única fase, enfatizando a importância do desempenho do produto final junto ao usuário-alvo, em oposição à construção consecutiva ou seqüencial. Todas as ações do gerenciamento visam “planejar e administrar continuamente todas as atividades para maximizar o valor das chamadas funções objetivas” (Jaafari, 1997, p.429).

29

A otimização do projeto do produto e do processo de manufatura, objetiva reduzir tempo de desenvolvimento e melhorar a qualidade e os custos, através da integração das atividades de projeto e da maximização do paralelismo nas práticas de trabalho.

Segundo Hartley (1998, p.98), com a engenharia simultânea, a equipe pesquisa cada faceta do produto na fase conceituai, ao mesmo tempo realiza simulações de várias estratégias de fabricação alternativas, enquanto os fornecedores podem submeter diversos componentes através de programas similares. Estas operações simultâneas não somente economizam tempo como também permitem que se façam mudanças no programa com uma antecipação maior do que o normal. O autor afirma também que o emprego da engenharia simultânea é vital, não somente para ter sucesso no futuro, mas também para garantir a sobrevivência das empresas.

O processo de desenvolvimento e elaboração de um produto envolve uma equipe de profissionais para discutir è decidir antecipadamente o que se pretende fabricar, de modo a responder questões do tipo: Para quê? Para quem? Como? Tais questões devem ser explicitadas e sistematizadas por meio de um projeto que contenha todas as informações necessárias para conduzir a fabricação do produto.

Eder, citado por Oliveira (1997, p.22), descreve o projeto como “um processo desempenhado por pessoas, ajudadas por meios técnicos através dos quais a informação sob a forma de requerimentos é convertida em outra informação sob a forma de descrição de sistemas técnicos, tal que estes sistemas satisfaçam às necessidades da humanidade”.

Schaposnik (1993) observa que a tomada de decisões em projetos de habitação abrange um conjunto de fatores, buscando caracterizar um espaço de uso e apropriação por parte do homem. Portanto, devem ser atendidos fatores sociais, culturais, biológicos e econômicos. Complementando a visão de Schaposnik, além desses fatores, acrescenta-se a paisagem, o clima, a forma do abrigo e o entorno humano2.

Oliveira (1997, p.34) frisa que “as soluções propostas por um projeto precisam sempre ser legitimadas pela cultura na qual ele se inscreve”. Essa legitimação cultural constitui a base da satisfação do usuário. Do mesmo modo, Gehl, citada por Mikellides (1980), afirma que o peso relativo das necessidades humanas que devem ser satisfeitas pelo projeto da habitação varia conforme a cultura estudada.

2 Entorno humano, conforme entendido na arquitetura, é o conjunto de elementos naturais e artificiais conformadores do ambiente onde se insere o ser humano; tais elementos produzem efeitos materiais e psicológicos sobre o homem e podem ser por ele modificados.

Juran e Gryna (1988) salientam que os esforços de desenvolvimento de produtos para a atender às necessidades funcionais estão relacionados com a adequação ao uso. Nesse sentido, o planejamento para as necessidades funcionais básicas é o ponto central da tarefa de desenvolvimento do produto.

Silva (1998, p.33), ao discutir o projeto arquitetônico, aponta como sua característica fundamental "... uma proposta de solução para um problema específico de organização do entorno humano...". O autor justifica essa definição dizendo que o projeto é apenas uma proposta ou hipótese de solução para o problema, o qual será resolvido com a construção da edificação. No entanto, o projeto pode ser considerado uma representação possível de um ente imaginário; quando materializado, ele poderá ou não ser uma forma apropriada para correção do problema constatado.

Gray et al. (1994) advertem que o escopo do projeto, enquanto processo de resolução de problemas, não pode sér claramente determinado de antemão em razão dos diferentes interesses que patrocinam o empreendimento, da ampla gama de necessidades e exigências a serem satisfeitas e do grau de incerteza quanto às contingências.

Segundo Jones (1982), o projeto é resultado da utilização dos princípios científicos, da informação técnica e da imaginação na definição de um produto que realize funções específicas com o máximo de economia e eficiência. Assim, o projeto representa apenas uma das alternativas possíveis da habitação pronta, pois existem sempre outras configurações possíveis de implementação.

Com base nas idéias de Nadler e Gerstein, citados por Oliveira (1997), estrutura-se ainda uma outra concepção que vê o projeto como um processo de ajuste progressivo entre os sistemas técnico e social. Tal ajuste promove a integração dos fatores trabalho, informação, tecnologia e pessoas, permitindo a otimização dos resultados através da distribuição do poder. A chamada “abordagem das relações humanas” estabelece que todos os agentes envolvidos (inclusive o usuário final) devem possuir a capacidade de agir de forma efetiva e eficaz sobre o processo e, conseqüentemente, sobre o produto final.

Em face da diversidade conceituai apresentada sobre projetos de habitação, adotam-se no presente estudo as definições elaboradas por Eder (1987) e Oliveira (1997), por serem abrangentes e complementares entre si.

31