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2.2 Setor da construção civil e o contexto da habitação

2.2.5 O processo de elaboração do projeto

Melhado (1994) propõe uma metodologia para elaboração de projetos de edifícios na qual considera imprescindíveis a participação de uma equipe multidisciplinar e o estabelecimento de procedimentos de coordenação de projeto. Para tanto, relaciona o seguinte conjunto de intervenientes: equipe de projetos, empreendedor, usuário, exigências legais e de normas e as diretrizes de projeto da empresa. Ressalta ainda que a equipe de projeto deve ser constituída pelos profissionais discriminados a seguir: arquiteto, grupo de projeto para produção, consultores de tecnologia e custos, outros projetistas, engenheiro de sistemas prediais, engenheiro de estruturas e representante do empreendedor. As relações entre as partes desse conjunto podem ser observadas na Figura 2.2.

Figura 2.2: Os intervenientes no desenvolvimento de projetos de edificações.

O projeto, na construção civil, é definido por Melhado (1994) como “a atividade ou serviço integrante do processo de construção, responsável pelo desenvolvimento, organização, registro e transmissão das características físicas e tecnológicas especificadas para uma obra, a serem consideradas na fase de execução”. O autor destaca, ainda, a importância do planejamento que antecede ao processo.

Harper (1981, p.22) salienta que “em todo projeto de edificação existem quatro principais interessados: o proprietário, o projetista, o construtor e o usuário”. Também devem ser incluídos o observador e a vizinhança. O observador é qualquer pessoa que possa ser afetada pelo edifício, que emitirá um julgamento em função de seu

desenvolvimento intelectual e de quanto sua vida poderá ser afetada pelo projeto enquanto transitar pelo local. Com relação à vizinhança, a questão está em como ela verá sua vida, sua propriedade e seus negócios afetados pela construção.

Rheingantz (1998) entende que existem três enfoques para definir o processo de projeto: modelo intuitivo, modelo racional e modelo participativo.

1 .Modelo intuitivo: o projeto é visto como um mistério que ocorre na mente do projetista. Assim, a ação de projetar desenvolver-se-ia fora de seu controle e sem qualquer razão ou sentido lógico, prevalecendo categorias psicológicas de conceituação imprecisa, tais como talento, inspiração e imaginação;

2.Modelo racional, entende o projeto como um processo de definição progressiva de objetos, variáveis e critérios anteriores à busca de soluções, fazendo com o que processo de desenvolvimento do projeto fiquem claramente delineado;

3.Modelo participativo: parte do envolvimento direto dos usuários no processo de decisão, garantindo que suas necessidades e valores sejam levados em consideração.

O envolvimento dos usuários, portanto, apresenta-se como a forma de superar as limitações verificadas na abordagem convencional definida pelos modelos intuitivo e racional.

De acordo com Silva (1998), o processo de elaboração de projetos é composto por etapas, representando uma progressão que parte de um ponto inicial - o contexto do problema - e evolui na direção de uma proposta de solução. As diferentes fases desse processo caracterizam-se por um gradativo decréscimo da incerteza e conseqüente incremento do grau de definição da proposta, delineado na Figura 2.3.

s o L U ç A O

B i D i i o i e c u u m v e r s i T u n a

UFSC

Processo de elaboração do projeto como uma progressão no tempo. Segundo a nomenclatura utilizada em projetos arquitetônicos, o programa de necessidades é constituído pela tradução das necessidades e dos desejos dos usuários, definindo os requisitos que devem ser satisfeitos pela habitação. Constituindo parte dessa fase inicial, encontra-se a pesquisa referente a outros projetos existentes, tendo como objetivo a estruturação da idéia para a concepção do projeto.

Os estudos preliminares pré-dimensionam a edificação, realizando o estudo de áreas mínimas onde as funções da edificação possam ser exercidas. Levam-se em consideração também as implicações da edificação com relação às características do terreno e às limitações contextuais identificadas.

O anteprojeto representa a resolução geral do problema, com a definição do partido • 3

arquitetônico adotado, possibilitando a clara compreensão da habitação a ser construída. Ao passo que o projeto tem por objetivo possibilitar a execução da obra concebida, o anteprojeto visa fornecer uma idéia inicial da concepção da edificação, tendo como finalidade a compreensão e aprovação da idéia proposta.

De acordo com Gregotti (1972), do ponto de vista da arquitetura, projeto é o modo através do qual são organizados e fixados, arquitetonicamente, os elementos de um determinado problema, os quais são selecionados e elaborados com o objetivo de compor o que será construído por meio do projeto.

Ao se referir à questão do projeto, Harper (1982, p.24) observa que “a parte mais complexa na identificação do problema, é emitir um juízo de valor ajustado às características do contexto, dos atributos estéticos e do uso da relação volumétrica”.

Discorrendo sobre as necessidades fiincionais de um projeto, Back (1983), adota uma posição compatível com a filosofia da Análise do Valor, observando que as necessidades percebidas para um produto ou processo devem ser reduzidas a um conjunto de necessidades funcionais específicas, as quais caracterizam completamente o objetivo do projeto do produto. Com esse entendimento, o autor salienta que o processo de projeto acontece em vários passos, iniciando pela definição das necessidades funcionais que satisfaçam às necessidades observadas no cliente com relação a um determinado produto;

3 Conforme o Dicionário da arquitetura brasileira (Corona e Lemos, 1998), partido arquitetônico “é o nome que se dá à conseqüência formal de uma série de determinantes, tais como o programa do edifício, a conformação topológica do terreno, a orientação, o sistema estrutural adotado, as condições locais, a verba disponível, as condições das posturas que regulamentam as construções e, principalmente, a intenção plástica do arquiteto”.

após a etapa conceituai, é iniciada a criação do ente físico que satisfaça a essas necessidades.

Defendendo um ponto de vista semelhante, Souza et al. (1995) salientam que é na etapa de projeto que acontecem a concepção e o desenvolvimento do produto. Assim, o projeto deve se basear na identificação das necessidades dos clientes em termos de desempenho e custos e das condições de exposição às quais a edificação deverá se submeter. Os pesquisadores ainda reforçam que a solução adotada no projeto tem forte impacto no processo de execução da obra, pois define partidos arquitetônicos, detalhes construtivos e especificações com reflexos na facilidade de construir e, conseqüentemente, afetando os custos. Nesse contexto, definem ainda as etapas do projeto de edificação como sendo as partes sucessivas que compõem o processo de desenvolvimento das atividades, conforme apresentadas no Quadro 2.4.

Quadro 2.4: Etapas e atividades de projeto.

Etapas do projeto Atividades desenvolvidas

Levantamento de dados Caracterização do produto, condições preexistentes e restrições para sua elaboração tais como condicionantes físicos e legais

Programa de necessidades Determinação das necessidades e expectativas a serem satisfeitas

Estudo preliminar Representação da configuração inicial da edificação, objetivando a aprovação do partido arquitetônico

Anteprojeto Representação das informações relativas a: concepção e dimensionamento dos pavimentos e tratamento da volumetria; definição do esquema estrutural Proieto legal Informações para análise e aprovação dos órgãos públicos

Projeto basico Projeto de pré-execução, com objetivo de licitação e contratação de serviços de execução Projeto executivo Desenhos técnicos, contendo as soluções, detalhes definitivos e informações de todos os

projetos Detalhes de execução e

construtivos

Desenhos complementares para melhor compreensão dos elementos no momento da execução

Caderno de especificações Informações complementares das especificações técnicas dos materiais, as condições de execução, locais de aplicação e padrão de acabamento

Coordenação e gerenciamento de projetos

Organização, programação, estabelecimento de critérios, prioridades, métodos e cronograma de trabalho

Assistência a execução Verificação da compatibilidade do projeto com a execução

Projeto' as b u ilf' Desenhos do projeto executivo, revisados e elaborados de acordo com o que foi executado

Fonte: Adaptado de Souza et al. (1995, p. 134).

As modificações nas características da edificação podem ocorrer em três momentos: no projeto, na construção e na etapa de uso e operação. O nível de influência das modificações nas características finais da edificação é fortemente sensível na etapa de concepção do projeto. Decisões tomadas em nível de anteprojeto estabelecem uma situação cuja modificação, pode ter custos elevados se realizada após o início da construção; agravando- se ainda mais se as alterações ocorrerem após a conclusão da obra, conforme a Figura 2.4.

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Nível de influência (%)

Fonte: American Society of Civil Engineers - ASCE (1990, p.3).

Figura 2.4: Oportunidade de influenciar as características da edificação.

Para construir uma edificação sao necessárias diversas atividades, representadas por conjuntos de serviços e manufaturas que o Guia da American Society of Civil Engineers - ASCE (1990) classifica em seis fases:

1. Estudo e fase de definição; 2. Fase de projeto preliminar; 3. Fase de projeto final;

4. Fase de licitação ou negociação; 5. Fase de construção;

6. Fase de operação.

O mesmo guia estipula que existe uma expectativa de que o projetista elabore certos documentos durante o desenvolvimento do projeto, entre os quais figuram: relatórios sobre a viabilidade do projeto; estimativa de custos; relatório de impacto ambiental; projetos preliminares e especificações resumidas; projeto final; documentos do contrato de construção, consistindo de plantas e especificações; relação das atividades de construção e relação de desenhos.