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3. O ATIVISMO JUDICIAL NA APLICAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

3.4 O protagosnismo da Defensoria Pública da União no Estado do Ceará: o

807044-20.2014.4.05.8100 (acerca da problemática de vagas em leitos de UTI)

A Contituição Federal de 1988, no art. 134, reconhece à Defensoria Pública desempenho de função essencial à justiça:

A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.(BRASIL, 1988)

A Lei Complementar Nº 80, de 12 de janeiro 1994, organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, com posterior alteração dada pela Lei Completar Nº 132, de 7 de outubro de 2009. São objetivos da instituição a primazia da dignidade da pessoa humana e redução das desigualdades socias; a afirmação e a prevalência do Estado Democrático de Direito; a efetividade dos direitos humanos e a garantia da ampla defesa e do contraditório.13

Quanto às funções desempenhadas pelo órgão, tem-se, dentre outras, a prestação de orientação jurídica e defesa dos necessitados, em todos os graus; a promoção de solução extrajudicial dos litígios, visando à composição entre as pessoas em conflito de interesses, por meio de mediação, conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de conflitos; promoção, difusão e conscientização dos direito humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico; promoção de ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes; a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos direitos do consumidor; promoção da mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva

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Disponível em< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp80.htm> Acesso em 12 de maio de

tutela e convocação de audiências públicas para discutir matérias relacionadas às suas funções institucionais. 14

Ao prestar atendimento jurídico à população hipossuficiente, a Defensoria Pública desempenha destacado papel no que diz respeito à efetivação dos Direitos Fundamentais, principalmente à margem da população que é desfavorecida socialmente. Destaque-se que a Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5ª, LXXIV , prevê que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.

Ademais, também a Lei Nº 13.105(Código de Processo Civil), de 16 de março de 2015, reserva seção própria para tratar da Gratuidade da Justiça, que compreende isenção de custas processuais a pessoa natural ou jurídica com insuficiência de recursos. sendo tais previsão legais importantes escopos para o desempenho da Defensoria Pública.

O presente trabalho há de deter-se à análise específica da ação da Defensoria Pública da União no Estado do Ceará, no que diz respeito à relevância da atuação desta em demandas relacionadas ao direito à saúde, bem como exposição de alguns dados que melhor ilustram a explanação ora feita.

Ao buscarem auxílio junto à Defensoria Pública da União, os assistidos poderão contar com a abertura de Procedimento de Assistência Jurídica (PAJ), a fim de ter sua demanda analisada por defensor público federal. Dentre os casos atendidos pela instituição, destacam-se os relacionados ao direito à saúde, sendo comum a busca por medicamentos (principalmente não contemplados pelo SUS e de alto custo), internação em leitos de UTI, realização de cirurgias que apresentam longas filas de espera, realização de exames específicos não cobertos pela rede pública e fonecimento insumos e alimentação para dieta enteral. 15

A sede da Defensoria Pública da União no Ceará conta com setor próprio para tratar dos casos relacionados à saúde, a fim de que o atendimento dê-se da forma mais célere possível, uma vez que a maioria dos assistidos encontra-se já em estágios bem avançados de enfermidade, com grandes dificuldades locomotoras e risco iminente de vida. A atuação do setor saúde conta, além da atuação dos Defensores Públicos dos

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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp80.htm> Acesso em 22 de abril de

2017.

ofícios cíveis, com a assitência de servidores aptos a darem suporte a nível médico- pericial, psicológico, antropológico, sociológico e contábil.

Em geral, a entrada em ações judiciais dá-se apenas após o esgotamento das vias administrativas, por meio do oficiamento às Secretarias de Saúde do Estado e do Município, com a exposição do caso do assistido e requerimento de satisfação de sua necessidade. Na falta de resolução administrativa, para que o Poder Judiciário seja provocado, é necessário que seja feita a comprovação documental de que o assistido- paciente não obteve resultados satisfatórios por meio do tratamento ofertado pelo SUS, da gravidade do seu estado de saúde e dos resultados comprovadamente eficazes da solicitação, com a comprovação de que as respostas a determinado princípio ativo, insumo ou procedimento cirúrgico são satisfatórios, com o devido reconhecimento por parte da comunidade médico-científica e da ANVISA. As ações coletivas são propostas pelos ofícios de Direitos Humanos e Tutela Coletiva, e as individuais pelo ofício Cível.

Em análise de relatório anual referente a demandas do Setor Saúde na sede da Defensoria Pública da União no Ceará, no período de maio de 2015 a abril de 2016, verifica-se um total de 675 petições iniciais minutadas, nas quais as maiores demandas são relacionadas a medicamento, com destaque para os fármacos RITUXIMABE (50 demandas), seguidas do AVASTIN (24), HERCEPTIN (22) e ZYTIGA (20). Houve ainda um total de 42 pleitos por cirurgias e 48 relacionados à internação em leitos de UTI. No ano de 2017, de janeiro a maio, foram abertos 180 PAJs relacionados à saúde, sendo que destes, a maioria (41) eram relativos a pedido de internação em leitos de UTI.

Do período de maio de 2015 a abril de 2016, tem-se que, dos 90,44% pedidos realizados no Ceará foram concedidos, sendo, destes 29 de remédio RITUXIMABE, 18 do fármaco ZYTIGA, 26 referentes a interção a internação em leitos de UTI e 9 relacionados a demandas de cirurgia. Ainda neste período, do total de assistidos que entrou com solicitação na Defensoria Pública, tem-se que 184 pessoas vieram a óbito. Dentre estes, 33 necessitavam de leito em UTI, 11 dependiam do tratamento com VELCADE e 10 que requereram a medicação RITUXIMABE.

Quanto à parte contrária, a demanda prefencialmente deu-se contra a União/SUS, cabendo à admistração pública a escolha da unidade de saúde a atender à pretensão do assistido. Apenas em casos particulares e justificáveis são relacionados estabelecimentos hospitalares ou profissionais específicos. Em atenção à responsabilidade solidária existente entre os entes federativos, também é comum que participem no pólo passivo o estado e município envolvido.

A Defensoria Pública da União vem posicionando-se ativamente, também, no que diz respeito à problematica de falta de número satisfatório de leitos em Unidade de Terapia Intensiva(UTI), situação crítica e alarmante a nível nacional. A partir da constatação de que, sendo a procura por leitos de UTI a demanda equivalente a 10% dos atendimentos na área da saúde, seria mais eficaz buscar uma solução em larga escala, ao invés da solicitação feita individualmente Assim, foi proposta Ação Civil Pública no Ceará (ACP 807044-20.2014.4.05.8100), em dezembro de 2014, com a requisição criação de 150 novos leitos de UTI no estado. Aos autos foram juntadas fotografias cujas imagens demonstram a situação alarmante enfrentada pelos pacientes necessitados de leitos de UTI no Hospital Público de Messejana, posicionados em macas pelos corredores do estabelecimento e pátios do hospital, em situação de degradação alarmanete da dginidade destes.

Em acompanhamento à situação, a Defensoria Pública obteve da Secretaria de Saúde do município de Fortaleza que, à época, existiam 360 leitos de UTI, sendo 225 destes usufruidos pelo Sistema Único de Saúde, com 118 deles localizados em hospitais estaduais, 41 em hospitais municipais, 19 em hospitais federais e 47 em hospitais conveniados. Fora informado, ainda, que, em 2014, existiam em torno de 150 pessoas esperando por vaga em unidade de terapia intensiva da fila da Central de Regulação de Internação em Fortaleza (CIRF)

O juiz da 2ª Vara da Justiça Federal no Ceará determinou, em sede de antecipação dos efeitos de tutela, a incumbência à União, Estado do Ceará e municípios de Fortaelza e Caucaia a ampliarem, dentro do período de quatro anos, o número dos leitos de UTI no estado cearense, com a implantação de no mínimo 35 novas unidades por ano. Fora determinado, ainda, a cobrança por parte da União junto ao governo e municípios envolvidos de apresenção de procedimentos licitatórios para a contrução de novos leitos, além de editais de concursos e processos seletivos que visem a contratação de profissionais de saúde para suprirem as demandas destes novos leitos. Além disso, determinou-se que os réus elaborem relatório individuais comprovando a efetivação das medidas determinada, devendo estes ser apresentado à Justiça a cada três meses. Filippe Augusto, o defensor público federal responsável pela autoria da ação posicionou-se:16

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Disponível em:

http://www.dpu.def.br/noticias-ceara/26014-acao-da-dpu-sobre-leitos-de-uti-tem- decisao-favoravel Acesso em 15 de maio de 2017

A Defensoria ficou muito feliz com a decisão, que contempla integralmente o que foi pedido pela ACP, reconhecendo a carência dos leitos de UTI e a omissão do Estado em combater o

sofrimento da população.

A DPU vai monitorar mensalmente a adoção de medidas para a implementação da decisão, pedindo aplicação de multas e até mesmo de medidas diretamente contra os agentes públicos que não trabalharem para efetivar o que foi determinado. Até esse momento, os entes apenas demonstraram descaso com essa ação, o que faz nosso cuidado ter que ser redobrado.

Em interposição de Agravo de instrumento contra a decisão, A União alegou ofensa aos princípios da separação dos poderes e da eficiência, com desrespeito de decisões administrativas dos gestores de saúde, cabendo a estes a competência para avaliação acerca da implantação de leitos de UTI; insuficiência orçamentária e desestabilização no planejamento e programação do Sistema Único de Saúde. Todavia, não houve provimento de tais alegações, não tendo sido concedido o efeito suspensivo formulado pela ré. Sobre as alegações feitas, posicionou-se o relator Desembagador Rogério de Meneses Fialho Moreira, da 4ª turma do Tribunal Federal da 5ª Região:

A reserva do possível não pode ser invocada, pelo Poder Público, com o intuito de fraudar, frustrar ou mesmo inviabilizar a implementação de políticas públicas constitucionalmente previstas, por encontrar insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial.(TRF 5, 2015)

Em fevereiro de 2016, a Defensoria Pública deu entrada a pedido de adoção de medicas coercitivas para que a decisão fosse cumprida, pois as inspeções realizadas constataram que a criação dos leitos não fora atendida.

Além de pedido de multa diária pelo descumprimento da decisão e multa pessoal contra o secretário de saúde, foi solicitada realocação de verbas estaduais de publicidade governamental para garantir reabertura de leitos desativados no Hospital Geral Dr. César Cals, que em janeirode 2016 bloquearam seis leitos em razão da diminuição de profissionais para atuarem nos mesmos.

Em 2017, fora realizada Reunião do Comitê Executivo da Saúde do Estado do Ceará, com a presença de representantes dos Poderes Judiciário e Executivo, contand o com a presença de Defensores Públicos Federais, para formulação de relatório acerca

da situção de saúde no Estado do Ceará. Foi consenso a complexidade da questão, e as defensoras públicas federais presentes expuseram a problemática de insuficiência de leitos de UTI, com o compromentimento dos demais membros a esclarecerem acerca do tema, com a apresentação futura de dados e informações sobre a situação dos leitos de UTI no estado.

É notório, portanto, que o desempenho da Defensoria Pública é essencial no que diz respeito ao acesso da população economicamente desfavorecida a seus direitos, com destaque ao da saúde. No entanto, existem diversas dificuldades a serem superadas, e por certo, tal instituição tem ainda muito a colaborar no processo de concretização deste direito fundamental, em favor da sociedade em geral.

4. INTERFERÊNCIAS ORÇAMENTÁRIAS DO ATIVISMO JUDICIAL EM