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A malhadora é o oposto da não-malhadora, daquela pessoa que não malha, que tem um corpo sedentário, e que não se envolve em uma experiência de consumo singular que é a malhação, esta que, produz em seu agente uma postura que exibe, por um lado: altivez, conforto, expansividade e exibicionismo e por outro, uma postura dependente e autocentrada.

Postura que nos sugere algumas questões a serem exploradas: Em que situações, ela tende exibir com mais regularidade as supracitadas posturas ou deixa de exibir outras? Porque ela se expressa assim? De que forma a malhadora é construída? Quando esse sujeito nasce? O que lhe é característico? Que relação ela cultua com o seu corpo e com a experiência de consumo, que por ora intitulamos de malhação?

Compreenderemos, então, a postura do nosso sujeito epistêmico103, que intitulamos de “malhadora”, sabendo, entretanto, que compreender envolve um processo interpretativo, no mínimo de um modo implícito, e que é em busca da compreensão e conseqüentemente da interpretação das situações e das relações observadas em campo que agiremos na tentativa de relatar o objeto de estudo o mais próximo possível da realidade observada.

A condição de existência da malhadora é o seu objeto, o corpo “próprio104”. Existência esta que se embasa na crença de que ela não só pode como também deve interferir e transformar a sua forma de existir no mundo, o seu corpo próprio, que é o meio pelo qual ela conhece a si e aos outros, com os quais se relaciona, o que conseqüentemente, nos leva a crer que, ao cultuar a crença de que pode e deve mudar o corpo, ela transforma, também as interações sociais que constrói em torno de si, por meio dele que a representa no espetáculo da vida cotidiana.

A tecnologia, mencionada por Virilio (1984, p.29) como sendo a “nossa natureza produzida a partir do saber revelado sobre o enigma da natureza”, o resultado do

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Nomeamos a malhadora como o nosso “Sujeito-epistêmico” porque partimos do princípio de que o sujeito é o fundador do conhecimento, o sujeito da sua epistemologia. Depois porque ele foi compreendido por nós através do processo de análises que elaboramos por meio da percepção, registro, sistematização e conseqüentemente interpretação, do que constatamos em campo ao presenciarmos situações nas quais emergiram relações simbólicas e hierárquicas em que os diversos sujeitos se apresentaram. Desta forma, apresenta-se como um sujeito ideal, universal, que não corresponde a ninguém em particular, embora sintetize as possibilidades de cada uma das pessoas e de todas as pessoas ao mesmo tempo (PIAGET, 1979). Para um maior detalhamento sobre a

análise dos dados ler o apêndice intitulado: “Questão de Método” deste trabalho.

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Compreendemos aqui a noção de corpo “próprio” a de um corpo adicionado “a próteses que fazem de uma pessoa válida, superequipada, o equivalente de um inválido equipado” (VIRILIO, 1995, p.33). Afinal ao fazer uso das tecnologias do templo de consumo, a malhadora se equipa e transforma seu corpo para fazer parte da sociedade das imagens.

conhecimento que produzimos depois que compreendemos a obscuridade e as restrições presentes naquela, nos foi apontada como sendo um componente fundamental que estrutura a experiência investigada e a existência do sujeito “malhadora”. Ela seria então o que Virilio (1999a) chama de Homem-planeta, um ser vivo industrializado, que se é preciso a todo custo invadir ou reduzir, fruto da colonização da tecnologia que conquistou o corpo humano e o mundo por meio da cibercultura representada pelas tecnologias digitais e comunicacionais.

Desta forma, ela é produto do mundo colonizado pela tecnologia e fruto da hibridização daquela com o corpo, que oferece oportunidades de múltiplas intervenções com os progressos que a modernidade disponibiliza. Para o supracitado autor essa era é a era do tecno-culto, era do culto a uma ciência desnaturada que exibe um integrismo-técnico- científico, presente no habitat natural da malhadora, o fitness center, produto-síntese da cultura, que se transformou em “tráfico internacional inserido na ‘categoria serviços’ com numerosos produtos oferecidos aos consumidores pelas multinacionais” (VIRILIO, 1999a, p.50).

A descrição do seu espaço já foi elaborada em outro momento, mas cabe aqui deixar explícita a relação do mesmo com os universos virtuais dos ciberespaços, esses que são os espaços típicos da cibercultura105 que compõe o que chamamos de tecnocultura, que de acordo com Virilio (1999a) pode ser compreendida como a cultura dos instrumentos de investigação tecnológica e de industrialização que combinam percepção e informação por meio dos dispositivos maquínicos de estetização ou culturalização da realidade que impregnam e interferem na organização social e conseqüentemente na produção de bens simbólicos e culturais.

A imersão naqueles espaços, que cotidianamente nos permitimos adentrar, seja em momentos de trabalho ou de lazer, quando acessamos computadores, internet, jogos, televisores e telas de cinemas nos remetem a uma realidade virtual que dissemina uma grande quantidade de imagens idealizadas por alguém que a produz nos fazendo viver naquele mundo imaginal que prolifera um mundo mítico e perfeito. Realidade imaginada, lúdica, plastificada, construída, de um mundo sem doenças, sem odores, sem contato físico, sem dor, ou seja, sem as mazelas do Homem106. Conhecemos aquele mundo, o que torna difícil ignorá-lo, assim

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O capítulo três dessa dissertação tratará de refletir de forma mais acurada os conceitos de cibercultura e tecnocultura.

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Inspiramo-nos nesse momento na crítica à modernidade, que Sfez (1996) realizou em seu livro a Saúde

tentamos, a todo custo, e a custo da tecnologia disponível, fazer dos ambientes de “carne e osso”, imagem-semelhança daqueles proliferados pelas mídias digitais.

O templo da nossa malhadora parecia ser um daqueles ambientes. Entretanto, por mais que nós queiramos, a percepção do real não consegue desaparecer, somos seres vivos e mais cedo ou mais tarde nossos corpos “se sentem” na vida real e assim nos convencemos de que o mundo não é apenas aparência é também essência, pois “o Homem está enraizado em seu corpo para o melhor e para o pior” (LÊ BRETON, 2003, p.11). Visto que mesmo quando se liberta de suas pertinências reais para assumir as múltiplas identidades do espaço virtual, brincando com seu sexo, sua idade, seus gostos, sua nacionalidade etc., o Homem não escapa do cansaço, da fome, do sono, das doenças ou da deficiência.

O que acontece é que a percepção do imaginal oculta a percepção real e quando confundimos a imagem mítica do virtual com a imagem real de nossas vidas, estamos de novo diante do ópio dos povos, que não é mais o rito religioso de outrora, e sim a overdose imaginal que pode conduzir para extinção da humanidade como espécie inteligente no planeta Terra (VIRILIO, 1998).

A malhadora é um exemplar de acuidade moral da quimera que existe entre esses dois mundos que cotidianamente a visita e nos visita. Vive em meio a uma compulsão e confusão interativa onde os limites da sua percepção são impactados quando há uma extensão do ser físico, que vai além da sua pele tanto nos espaços virtuais quanto no uso das máquinas de musculação. É um sujeito global que representa a pluralização de estilos de vida e de gostos híbridos do nosso mundo.107 “Um mundo sem intimidade, tornado estranho e obsceno, inteiramente entregue às técnicas de informação e à superexposição dos detalhes” (VIRILIO, 1999a, p.59)

retomados nas utopias atuais, as do século XXI: um homem perfeito, imortal, construído por técnicas de simulação, e que pensa, sente e imagina um mundo infinitamente melhor do que o nosso.

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Para maiores informações sobre a identidade globalizada interferindo no marketing e no consumo, ver Tavares (2001), que em seu artigo: “O marketing pós-moderno nas sociedades midiáticas e temporais”, utiliza o termo “siliconização da cultura” para falar criticamente do efeito “plastificado” que a cultura incorporou com a globalização e a importância de se compreender o sujeito consumidor com o olhar de descentramento de Derrida que junto a outros desconstrucionistas defendem a tese que o eu se subverte e se pluraliza em cada ponto de encontro que ingressa. Em épocas modernas, a identidade nasce da escolha; ela não é atribuída, a verdade é contextual e há uma pluralização de modos de vida (SLATER, 2002). Desta forma, o consumidor é alguém engajado em um “projeto cultural” cujo propósito é completar seu eu (MCCRACKEN, 2003). Somos a construção de vários “eus”, produtos para diversas situações não existindo um eu interior autêntico um projeto (SLATER,

A tecnologia fomenta a sua crença de que ela é um agente transformador que está em busca da perfeição do corpo, que ela cultua de forma apaixonada, enérgica, dependente108 e autocentrada. Aspectos presentes na sua maneira, que de forma regular, intensificava o treino, mostrava ritmo acelerado e disciplina.

A altivez e a expansividade da malhadora parece advir da supracitada crença, frente a isso, o conforto aparece quando ela se engaja no ato de malhar que promete essa transformação, e o desconforto quando há situações em que ela tenta ultrapassar os limites que o corpo impõe.

A característica sacrificial embebida na experiência nos foi revelada quando percebemos que ao mesmo tempo em que ela fornece prazer e liberdade por um lado, por outro ela incorpora características de dor e asujeitamento, nos fazendo crer também que há um componente de autoviolação quando tenta fugir da sua natureza primeira, a que retrata o seu “corpo animal” (VIRILIO, 1995, p.33), corpo da natureza que em princípio a caracteriza como um indivíduo e que parece estar sendo extinto devido à colonização da tecnologia (VIRILIO, 1999a).

O corpo da malhadora é construído em um pilar que intitulamos aparência, porque foi uma categoria que emergiu de forma predominante nas situações na qual ela se envolveu em campo. Também, por aquela qualificar a tecnocultura, a cultura criadora de imagens e dos meios de comunicação que prolifera informações em bits e segundos. A malhadora busca o oposto, a substância, quando se envolve em ações de reabilitação e de educação, que não se caracterizaram como sendo estruturas que sedimentam seu comportamento.

A harmonia é um critério idealizado por ela na construção do corpo, pois prima pela perfeição das formas que estão sendo apresentadas adquiridas por meio da tecnocultura. A introspecção e o autocentramento foram posturas exibidas nas situações em que a concentração para o desenvolvimento da atividade de malhar era mais requerida, ou seja, quando estavam em situação de superação de limites da sua força, a exemplo da reabilitação, do esforço corporal extra e também nos momentos “educativos”.

A fala acelerada e articulada, nos assuntos alusivos ao cotidiano do templo, foi característica marcante em seu perfil, assim como a disciplina. Ela se apresenta convicta no espetáculo, por meio de uma encenação que achamos conveniente chamar de exibicionista,

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Vale ressaltar que a dependência foi uma categoria que emergiu de forma regular nas situações per se, e também nas cinco categorias em que fizemos a sua descrição (i.e., nas [i]materialidades das suas formas de expressão, dos saberes, das celebrações e temporalidades, dos artefatos e lugares e das suas crenças e valores).

porque ela parece não apenas ter um corpo, mas faz questão de ostentá-lo, deixando de fazer apenas quando está se reabilitando ou se educando.

A malhadora convicta encena o espetáculo do consumo investigado de forma apaixonada, só deixando de assim o fazer, e assim encenando de forma cínica, quando está imersa nele com o objetivo de estreitar seus vínculos sociais. Em nosso olhar, somente em nosso olhar, a cena fica desarmoniosa quando a malhadora tenta ultrapassar os limites do corpo, porque para ela, essa ação parece não somente ser plausível, mas condição da sua natureza. A harmonia é atingida quando ela equilibra as cargas e os exercícios e quando não emitem gemidos no momento do treino, essas que são formas de expressões que fazem parte do seu modus vivendi.

A finalidade do seu ato é chegar ao encontro da experiência estética prazerosa que ter o corpo belo suscita, e não da beleza pura e simplesmente, mas do significado que aquela gera e dos seus dividendos simbólicos. Desta forma, o corpo poderia ser representado por ela como o “mais belo objeto de consumo” (BAUDRILLARD, 1997) para ser experimentado nas mais diversas dimensões e situações gerando um eu narcíseo, que vive do culto da sua imagem.

Ela crê que, para construir um corpo belo precisa de técnica e disciplina e nos pareceu extrapolar o auto-respeito que em princípio poderia ter, já que é um agente transformador, porque age dessa forma para poder existir em uma sociedade que privilegia a aparência e o “ser aparente”, assim como o “parecer ser” no lugar do ser (DEBORD, 1997). Fato que repercute na relação que estabelece com as mercadorias e com o mundo social, que cria vínculos que se estabelecem na forma-mercadoria, valor que não tem qualquer relação com as propriedades inerentes a elas (FONTENELLE, 2002).

A rigidez com que cultua a crença que norteia as suas ações a torna aprisionada, porque quer se fazer existir na sociedade de consumo que tem a tecnocultura como a disseminadora oficial dos códigos de conduta que dissemina imagens de corpos “próprios”, que são somente representações das representações onde as aparências se voltam contra todos, porque não permite o contato com a natureza sensível e primeira do objeto (VIRILIO, 1993), só com as suas imagens (DEBORD, 1997).

Imagens embebidas em suas formas de expressão e pelos inúmeros artefatos que a tornam malhadora, utilizados não só para aprimorar a sua performance na academia e criar próteses e extensões do próprio corpo (i.e., caráter utilitário, seu valor de uso), mas também para criar identificação, harmonia e estabelecer relações de hierarquização (i.e., caráter simbólico, seu valor de troca), pois, o artefato que ela incorpora, nos diz se é uma malhadora

iniciante ou não, e também se compartilha dos códigos de conduta do grupo que ela está inserida, ou se exclui, já que o consumo pode exibir, também um aspecto contestador109.

A aceleração embebida na experiência da malhadora que envolve os ritos que a transforma para poder caracterizá-la e também a sua relação com o corpo, é algo prazeroso que gera comprometimento e dependência. Levando-nos a interpretá-la como sendo um sujeito consumidor alienado, esse que é desprovido da dialética necessária para a formação da sua consciência advinda da sua relação com seu objeto [corpo], com o seu mundo material, ela mantém uma relação de contemplação que a distancia dessa dialética, do movimento que tenta compreender as duas partes, que em princípio parecem ser opostas, que devem gerar uma integração no final (SLATER, 2002).

É tanto assim, que, quando a malhadora está em processo de reabilitação a aceleração é menor, afinal ela sente no corpo seus efeitos, por isso emitem a sensação de estarem deslocadas no templo, e de serem menos alienadas do que aquelas que tentam ultrapassar os limites do corpo. A aceleração é uma categoria que priva o sujeito de ter o contato com o real110. A comunhão com a máquina sabota, interfere na percepção do tempo de duração com a substância do real que é seu corpo e com o espaço também.

Ela se sente confortável no ambiente da academia, que lhe é familiar, como a extensão da casa, onde estabelece uma relação de dependência, harmonia e conhecimento com seus cômodos e com os outros que compartilham com ela de momentos de interação.

Para ela existir, o fitness center é uma prerrogativa, entretanto, momentos de independência em relação a esse espaço acontecem quando ela está em situação de treino esporádico, descontínuo, e se reabilitando, pois, naquelas situações, pode ser que ela freqüente outros lugares. O fitness center permite a sua exibição e a troca de informações com outros que compartilham do seu modo de vida.

Chegamos a ponto de dizer que ela busca a transformação do corpo, porque não está satisfeita com a realidade, ela nega o corpo como carne, como elemento que a situa no mundo, e a tem como uma coisa corruptível e vergonhosa que termina encontrando a mesma

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O valor de troca dos objetos em nossa sociedade das imagens está atrelado não só ao que foi apropriado de trabalho para se confeccionar um bem como era em Karl Marx; está condicionado ao significado da mercadoria que vai gerar um “valor social” que será encarnado ao consumidor ao usá-la. Assim como o valor de uso que naquele momento estava vinculado ao caráter utilitário da mercadoria hoje também sofre influências do signo que a representa (FONTENELLE, 2002; FEATHERSTONE, 1997).

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Ver Paul Virilio e as obras consultadas para elaboração desse trabalho sobre as instâncias da vida que sofrem influência da aceleração, a saber: subjetividade, o social, o político e o cultural.

elaboração de corporeidade como objeto passivo de investimento e desinvestimento (FERREIRA, 2006).

Ela tenta transformar a realidade que lhe é apresentada, faz de forma ativa, o que nos remeteu à questão da importância da compreensão da qualidade “enérgica” que está imbuída à experiência da malhação que advirá da capacidade que ela tem de exercer a atividade física, característica oposta ao sedentarismo, com vias a adquirir o corpo belo e a saúde, que alimenta a fonte da juventude e que dá prazer emergindo daí a característica hedônica embebida nesta experiência estética de consumo que acessa seus sentidos.

Addis e Holbrook (2001) apresentam a diferença entre consumo utilitário e consumo hedônico e a relevância da visão experiencial no que tange o segundo tipo. O primeiro se processa na compra de produtos utilitários onde a ênfase se dá na funcionalidade do produto que enfatiza o processo de tomada de decisão por meio de respostas objetivas (i.e. constância, racionalidade e análise, segundo Bettman et al, (1991) eVenkatraman e Macinnis, (1985) e o segundo quando os produtos evocam altos níveis de fantasias, sentimentos e diversão (i.e. privilegia a interação, variação, racionalidade e emoções e a incerteza; uso da visão experiencial de consumo). A perspectiva hedônica pode ser aplicada sob vários enfoques, a saber: construtos mentais, classes de produtos/serviços e diferenças individuais (HIRSCHMAN E HOLBROOK, 1982).

Assim, a experiência da malhação para ela é um momento de prazer quando a malhadora está engajada nele com a intenção de ultrapassar os limites do corpo, e de dor quando está querendo se socializar em campo ou quando está se reabilitando. É, também, um momento de exibição, na maioria das vezes, mas de reserva e de vergonha quando estão se educando ou se reabilitando111.

O oposto, ou seja, gestos que passavam a sensação de “orgulho” emergem em situações de superação de limites. A presteza, no momento do treino, é uma característica, que compõe o perfil da malhadora de um modo regular, assim como a atitude enérgica e o

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Observamos em campo várias ações organizacionais de marketing experiencial, já mencionadas em momento anterior desse texto, que intencionam trabalhar essas duas situações de consumo, conseqüência da estratégia de segmentação dos mercados consumidores, que os diretores do templo pareceram utilizar, que resulta em propostas de produtos e serviços baseadas no estudo do perfil do público que a organização atende ou almeja atender. Um espaço com dimensões amplas e com a diversificação de ofertas, como o templo que freqüentamos, parece ainda corroborar com o estigma de que só é bem-vindo aquele que “carrega” o status do corpo que decora o ambiente, pois observamos como ainda é desconfortável para as pessoas que refletem uma situação estigmatizada compartilhar dos códigos de conduta dele, mesmo havendo uma suposta tendência de “integração de tribos”, que é o que pretende o conceito de fitness.

comprometimento também compõem nosso sujeito que está construindo o corpo “próprio”, este que é, ao mesmo tempo, malhado [ativo] e tecnologizado [sedentário].

A criatividade, característica atribuída a alguém ou coisa que é inovador(a) e criativo(a), foi observada de forma mais regular nos treinos quando ela tentava ultrapassar os limites do corpo. A malhadora, entretanto, não pareceu poder se qualificar por esse adjetivo, pois a rotina emergiu nos momentos de treino com vias a atingir educação e sociabilidade. A não-assiduidade ao templo, e a freqüência à este somente para estreitar relações sociais, foram ocorrências que repercutiram em treinos com características atreladas à indisciplina.

A malhadora é um sujeito dependente de outros para realizar seu treino porque não consegue travar o duelo com as máquinas sem o auxílio de um terceiro para dá “o toque” e também porque precisa do olhar do outro para a realização da sua fachada e a construção da sua identidade social (GOFFMAN, 1984). É através daquele olhar que a competição dentro do campo se estabelece quando os outros comparam suas cargas e seus corpos com o olhar “lateralizado” veiculado pelo espelho.

Familiaridade, conforto, concentração, comprometimento e a questão do desafio em relação aos saberes construídos em torno do treino, se mostraram como características