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3.3 Gestão da cadeia de suprimentos

3.3.1 O que é cadeia de suprimentos

Muitos autores apontam Forrester12 como precursor do termo cadeia de suprimentos. Por volta dos anos 60, no contexto da dinâmica industrial, Forrester chamou a atenção para o crescimento da variação do nível de estoque ao longo da cadeia produtiva13 e os custos que esses estoques geravam para as empresas que os mantinham. Essa afirmação ficou conhecida como o efeito Forrester e está representada pela Figura 3.3.

FIGURA 3.3 - Efeito Forrester: amplificação da demanda na cadeia de suprimentos. Fonte: MARTINS (1999, p.10).

12

FORRESTER, J.W. Industrial dynamics. Cambridge, MA, Productivity Press, 1961.

13

“Cadeia produtiva é o conjunto de atividades econômicas que se articulam progressivamente desde o início da elaboração de um produto. Isso inclui desde as matérias primas, máquinas e equipamentos, produtos intermediários até o produto final, a distribuição e a comercialização” (MDIC, 2002).

Fornecedor de

matéria prima Distribuidor

Fornecedor de componentes Fabricante Cliente Final + - Ní vel d e es to que Fornecedor de matéria prima Fornecedor de

matéria prima Distribuidor

Fornecedor de componentes Fornecedor de componentes Fabricante Cliente Final + - Ní vel d e es to que

O efeito Forrester é um exemplo das conseqüências geradas pela ineficiente troca de informações e a falta de integração entre os membros da cadeia de suprimentos. As informações originadas por uma demanda do cliente final estabelecem as necessidades de matéria-prima em cada elo da cadeia de suprimentos. No entanto, essas informações vão sendo distorcidas à medida que elas fluem por entre os elos. O resultado final pode ser verificado nos altos níveis de estoques dos fornecedores localizados mais a montante na cadeia.

Tradicionalmente, as organizações de uma cadeia de suprimentos adotam uma visão segundo a qual elas independem umas das outras, devendo até mesmo competir para garantirem sua sobrevivência, conforme se observa na seguinte afirmação:

Existe uma única ética quase Darwiniana da sobrevivência do mais forte dirigindo a estratégia corporativa. Entretanto, tal filosofia pode ser autodestrutiva se ela conduzir a uma falta de boa vontade de cooperar para competir. Por trás desse conceito paradoxal, está a idéia de integração da cadeia de suprimentos (CHRISTOPHER, 1997, p.13).

Para SLACK (2002), uma cadeia de suprimentos pode ser vista em três níveis, sendo eles: a rede total, a rede imediata e a rede interna, com o fluxo de informações, produtos e da demanda do mercado, conforme mostra a Figura 3.4.

FIGURA 3.4 - Cadeia de Suprimentos em três níveis: total, imediata e interna. Fonte: SLACK (2002, p.171)

As vantagens de se colocar uma operação individual no contexto da rede total de fornecedores e clientes são:

Cliente Final Distribuição Fornecimento REDE TOTAL REDE IMEDIATA REDE INTERNA

Fluxo das Informações Produção Fluxo da Demanda Fluxo dos Produtos

Cliente Final Distribuição Fornecimento REDE TOTAL REDE IMEDIATA REDE INTERNA

Fluxo das Informações

Produção Fluxo da Demanda Fluxo dos Produtos

Fluxo da Demanda Fluxo dos Produtos

Cliente Final Distribuição Fornecimento REDE TOTAL REDE IMEDIATA REDE INTERNA

Fluxo das Informações Produção Fluxo da Demanda Fluxo dos Produtos

Cliente Final Distribuição Fornecimento REDE TOTAL REDE IMEDIATA REDE INTERNA

Fluxo das Informações

Produção Fluxo da Demanda Fluxo dos Produtos

Fluxo da Demanda Fluxo dos Produtos

• posicionar a operação em seu contexto competitivo;

• ajudar a identificar os participantes-chave: é fundamental para o entendimento das cadeias de suprimentos, identificar as operações que mais agregam valor para o cliente final;

• mudar a ênfase do oportunismo de curto prazo para a lucratividade de longo prazo: pesar as vantagens que podem ser obtidas pela cadeia como um todo desenvolvendo ou substituindo os elos fracos da cadeia;

• evitar remédios locais: evitar melhoramentos em um elo sem considerar os reflexos em outras partes da rede;

• induzir os comportamentos para macromudanças.

Seguindo essa linha, de todos os elos consumidor-fornecedor, em uma rede de suprimentos, os mais importantes para a maioria das empresas são aqueles com seus próprios fornecedores e clientes, ou seja, a rede imediata. Não faz sentido desenvolver a rede total se os elos imediatos são descurados. Para SLACK (2002), a vantagem do entendimento das operações da rede total é poder gerenciar a cadeia de suprimentos imediata mais efetivamente.

STEWART (1995) argumenta que as empresas não têm, verdadeiramente, uma visão sistêmica de toda a cadeia. Por esse motivo, este autor destaca que seus resultados são:

• introdução de erros e distorções; • adição de custos desnecessários;

• reações atrasadas às mudanças do mercado;

• empurrar decisões estratégicas de cima para baixo; • prejudicar o posicionamento competitivo.

A idéia de integração dá um novo rumo para as abordagens de cadeia de suprimentos. Atualmente, muitos trabalhos, envolvendo esse tema, podem ser encontrados na literatura. Consequentemente, muitas definições são propostas, sendo que algumas delas até se confundem com termo gestão da cadeia de suprimentos. O Quadro 3.3 procura reunir algumas das definições mais relevantes sobre cadeia de suprimentos, na visão de diferentes autores.

QUADRO 3.3 - Definições de cadeia de suprimentos.

Definição de Cadeia de Suprimentos Autores

"Representa uma rede de organizações, através de ligações nos dois sentidos, dos diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e serviços que são colocados nas mãos do consumidor final."

CHRISTOPHER (1997, p.13)

"Um processo integrado em que várias entidades de negócios trabalham juntas, no esforço de: (1) adquirir matéria-prima, (2) convertê-las em produtos finais específicos e (3) entregar aos distribuidores. Esta cadeia é, tradicionalmente, caracterizada por um fluxo de materiais para frente e um fluxo de informações para trás."

BEAMON (1998, p.281)

"Abrange todas as atividades associadas com o fluxo e transformação de bens, desde o estágio de material bruto (extração) até o usuário final, bem como o fluxo de informações associado."

HANDFIELD, NICHOLS (1999, p.2).

"Todas as atividades envolvidas na entrega de um produto, desde a matéria- prima até os consumidores, incluindo componentes, manufatura e montagem, armazenagem e acompanhamento de inventário, entrada de pedidos e gestão de pedidos, distribuição por todos os canais, entrega ao consumidor e o sistema de informações necessário para monitorar todas essas atividades."

LUMMUS, VOKURKA (1999, p.11)

"Consiste de elementos informacionais e logísticos, limitados pela demanda agregada do mercado, de um lado, e pela entrega do produto/serviço específico ao cliente, do outro lado."

STEWART (1995, p.38)

"É a rede de relacionamentos entre companhias que compreende, por um lado, uma empresa, seus fornecedores e os fornecedores destes últimos e – de outro lado – clientes e seus clientes."

LAMBERT (2002, p.30)

A definição adotada neste trabalho é a de LAMBERT (2002), por expressar, de maneira simples e objetiva, o significado do termo cadeia de suprimentos. A Figura 3.5 representa uma cadeia de suprimentos integrada. Ela abrange desde os fornecedores dos fornecedores até os consumidores. Um fluxo de informações ocorre nos dois sentidos, atendendo às necessidades de todas as unidades de negócios envolvidas. Ainda, os relacionamentos são administrados em todo o escopo da cadeia de suprimentos.

FIGURA 3.5 - Cadeia de suprimentos integrada. Fonte: HANDFIELD, NICHOLS (1999, p.5). Consumidores Consumidores Varejistas Varejistas Centros de distribuição Centros de distribuição Produção Produção Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fluxo de materiais e de produtos Fluxo de informações e de finanças Unidade de negócios estratégica Gestão de relacionamentos Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível Consumidores Consumidores Varejistas Varejistas Centros de distribuição Centros de distribuição Produção Produção Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível Fornecedores 1onível Fornecedores 1onível Fluxo de materiais e de produtos Fluxo de informações e de finanças Unidade de negócios estratégica Gestão de relacionamentos Fornecedores 2onível Fornecedores 2onível

Cada uma das organizações da cadeia de suprimentos é, teoricamente, independente. Geralmente, o relacionamento entre elas é adversarial por tradição e, portanto, não é comum haver cooperação mútua.

A gestão da cadeia de suprimentos, por sua vez, como será visto a seguir, procura integrar e coordenar as atividades na cadeia de suprimento, por meio da melhoria dos relacionamentos, visando a garantir o sucesso competitivo em longo prazo das empresas que fazem parte desta cadeia. Entretanto, integrar a cadeia de suprimentos requer mudanças operacionais, culturais, tecnológicas e estruturais nas empresas.