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O que são os referenciais de formação e certificação em TDIC

Este tópico trata brevemente de cinco referenciais nacionais e internacionais de formação em TDIC já citados, que provocam questionamento e impulsionam a escolha e avaliação dos materiais didáticos digitais por professores.

No cenário nacional, temos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) - Ensino Fundamental 1 e 2 – que, apesar de não tratarem especificamente sobre formação em TDIC, trazem uma abordagem mais ampla, relacionada às discussões e ao desenvolvimento dos projetos educativos das escolas, às reflexões sobre as práticas pedagógicas, aos planejamentos das aulas, numa abordagem mais específica relacionada às análises de materiais didáticos e à forma digital desses materiais. (BRASIL, 1998).

No cenário internacional, de acordo com Costa (2008) e Pasinato (2011), algumas organizações têm produzido referenciais para o processo de formação e de certificação no que diz respeito à integração das TDIC na atividade pedagógica do professor.

A partir da proposta de formação e certificação de professores apresentada por Costa (2008), foram identificados quatro referenciais internacionais que aportam recomendações aos professores, tanto de uso, quanto de avaliação de materiais didáticos digitais. Dentre os cinco

referenciais identificados: Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998); National Technology Standards and Performance Indicators (ISTE, 2000); Smart Classrooms Professional

Development Framework (DEPARTMENT OF EDUCATION, TRAINING AND THE ARTS,

2000); Competências TIC (COSTA, 2008) e Padrões de Competências em TIC para professores (UNESCO, 2009), o último é recomendado no Brasil pela própria UNESCO.

De modo a compreender de que forma as recomendações (aos professores quanto à avaliação de materiais didáticos digitais) aparecem nos referenciais, analiso resumidamente os PCN e os referenciais internacionais. De acordo com Costa (2008), os referenciais internacionais devem ser considerados devido à credibilidade das organizações que os conceberam.

Os cinco referenciais que apresento a seguir foram desenvolvidos em diferentes contextos, e retratam o modo como as instituições responsáveis conceberam os referenciais em TDIC para professores.

Referencial 1 | Parâmetros Curriculares Nacionais

Desde sua publicação e distribuição às escolas, os PCN para o Ensino Fundamental 1 e 2 (BRASIL, 1998) vêm se constituindo como um referencial para esses níveis de ensino no Brasil, projetando discussões e orientações relacionadas ao desenvolvimento dos projetos educativos das escolas, às reflexões sobre as práticas pedagógicas, aos planejamentos das aulas, às análises e seleções de materiais didáticos e às formas digitais desses materiais. (BRASIL, 1998).

Tanto os PCN do Ensino Fundamental 1 (BRASIL, 1997), quanto do Fundamental 2 (BRASIL, 1998), fazem recomendações sobre a utilização das TDIC. No entanto, somente os PCN do Fundamental 2 apresentam um capítulo referente à utilização das TDIC pelos professores no contexto escolar, enfatizando o uso do computador e trazendo diretrizes para que professores possam propor situações de aprendizagem na utilização desses equipamentos. Como por exemplo: prever um tempo para exploração do software, site ou CD-ROM, para os que não estão familiarizados com a utilização de computadores; oferecer roteiros de trabalho, garantindo a todos o recebimento de instruções para utilizar a máquina e saber o que será realizado durante a aula; formar grupos de trabalho mediados pelo computador, para promover a troca de informações entre pares; gravar os trabalhos realizados, para ajudar o professor a avaliar e acompanhar o processo de cada aluno; conhecer o software que pretende utilizar para problematizar conteúdos curriculares; refletir sobre suas possibilidades, em relação aos diferentes momentos de aprendizagem. (BRASIL, 1998).

De modo geral, é possível inferir que as diretrizes sugeridas pelos PCN servem como orientações gerais sobre como os professores podem fazer uso dos computadores e materiais didáticos digitais, mas não apresentam recomendações específicas para que os professores possam selecionar esses materiais.

Referencial 2 | National Technology Standards and Performance Indicators for Teachers

A International Society for Technology in Education (ISTE), no âmbito do projeto Preparing Tomorrow’s Teachers to Use Technology, produziu um referencial geral e um conjunto de referenciais específicos, programas de formação e de certificação de competências dos professores no uso das TDIC. Este projeto partiu do questionamento nacional nos Estados Unidos da América (EUA) sobre o que os professores deveriam saber e ser capazes de fazer com o uso das TDIC para melhorar a aprendizagem dos alunos.

O último referencial intitulado National Educational Technology Standards and Performance Indicators for Teachers (NETS-T) foi concebido sob a forma de padrões de desempenho. (ISTE, 2000).

Este padrão está estruturado em seis dimensões: (1) Operações e Conceitos da Tecnologia; (2) Planificação e Desenho de Ambientes e Experiências de Aprendizagem; (3) Ensino, Aprendizagem e Currículo; (4) Avaliação; (5) Produtividade e Prática Profissional; (6) Aspectos Sociais, Éticos, Legais e Humanos. Essas dimensões incluem vinte e três indicadores, integrando competências técnicas e pedagógicas. A dimensão 2, ‘Planificação e Desenho de Ambientes e Experiências de Aprendizagem’ inclui um indicador de identificação, localização e avaliação de materiais didáticos digitais.

Além desses padrões para o uso das TDIC por professores, estruturado em seis dimensões e 23 indicadores técnicos e pedagógicos, a ISTE disponibiliza um instrumento de avaliação de material didático digital direcionado para professores. (ISTE, 2002).

Referencial 3 | Smart Classrooms Professional Development Framework

O referencial Smart Classrooms Professional Development Framework (DEPARTMENT OF EDUCATION, TRAINING AND THE ARTS, 2000) integra-se a um plano estratégico do Estado de Queensland, na Austrália, intitulado Education and Training Reforms for the Future. Este

plano estratégico visa melhorias sociais nas escolas, dos professores e das aprendizagens dos alunos por meio das TDIC.

O referencial articula três níveis de formação e certificação, numa perspectiva de integração das TDIC e da educação: (1) ICT Certificate; (2) ICT Pedagogical Licence; ICT Pedagogical Licence Advanced.

Por sua vez, esses níveis de formação desdobram-se em quatro dimensões, em um eixo vertical: valores profissionais; relações profissionais; conhecimento profissional; prática profissional. Cada eixo horizontal desdobra-se em indicadores sobre os quais o professor precisará avançar. Um dos indicadores (na certificação ICT Pedagogical Licence) refere-se ao desenvolvimento, nos estudantes, de habilidades para autenticar, avaliar criticamente e selecionar informações e materiais didáticos digitais.

Referencial 4 | Referencial de Competências TIC

O Referencial de Competências TIC (COSTA, 2008) é parte integrante do Modelo de Formação e Certificação em TIC, que está inserido em um contexto macro do Plano Tecnológico de Educação de Portugal. Segundo Costa (2008), este plano visa promover mudanças na formação e avaliação de professores, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico das escolas portuguesas. O referencial destina-se aos professores e funcionários das escolas e/ou instituições de ensino superior.

O modelo global do referencial divide-se em três certificações (Certificado de Competências Digitais; Certificado de Competências Pedagógicas em TIC; Certificado de competências pedagógicas em TIC de nível avançado), as quais pressupõem um percurso flexível e modular. O Certificado de Competências Pedagógicas em TIC possui um módulo (obrigatório) referente à avaliação de material didático digital.

Referencial 5 | Padrões de competências em TIC para professores

Os Padrões de Competência em TIC para Professores (UNESCO, 2009) foram concebidos em colaboração com a Cisco, Intel, Microsoft, ISTE e Virginia Tech. Estes padrões têm o objetivo de auxiliar os formuladores de políticas educacionais e desenvolvedores de currículo na identificação de competências necessárias para o professor fazer uso da tecnologia a serviço da educação.

Tais padrões dividem-se em três documentos: (1) Marco Político; (2) Módulos de padrão de competência; (3) Diretrizes de implementação. De modo geral, o Projeto Padrões de Competência em TIC para Professores tem por objetivo fornecer diretrizes sobre como melhorar as capacidades dos professores nas práticas de ensino por meio das TDIC. Este relatório tem como base: o entrelaçamento de três abordagens, as quais podem ser consideradas ‘módulos’ (alfabetização em tecnologia, aprofundamento do conhecimento e criação de conhecimentos), com os seis componentes do sistema educacional (política e visão; currículo e avaliação; pedagogia; TIC; organização e administração; desenvolvimento profissional do docente). (Figura 16).

Figura 16 - Padrões de Competência em TIC para Professores – Diretrizes de Implementação

Fonte - UNESCO (2009, p. 7)

Cada conjunto de células formado por esse entrelaçamento constitui um módulo (Módulo: Alfabetização em Tecnologia; Módulo: Aprofundamento do Conhecimento; Módulo: Criação de Conhecimentos), sendo que, em cada módulo, há metas curriculares, habilidades esperadas, objetivos e métodos que orientam o professor.

Nesses módulos, busquei identificar e resumir alguns exemplos daquilo que é solicitado aos professores nos documentos ‘Padrões de Competências em TIC para Professores’ (UNESCO, 2009), em relação à avaliação de materiais didáticos digitais: (1) selecionar, analisar e descrever os materiais didáticos digitais de acordo com suas áreas específicas, identificando padrões curriculares e discutindo como o material pode auxiliar na prática pedagógica do professor e apoiar o entendimento do aluno em solucionar problemas complexos; (2) discutir e desenvolver critérios de avaliação para justificar as escolhas dos materiais didáticos digitais pelos professores.

A partir dessa descrição geral dos referenciais que suscitam a questão da escolha e avaliação de materiais didáticos digitais, no próximo tópico busco traçar as convergências entre algumas características apresentadas nesses referenciais.

Convergências entre características dos referenciais

Apesar de cada referencial ter sido desenvolvido a partir da síntese de propostas de aplicação em diferentes contextos (p. ex.: Brasil, EUA, Austrália e Portugal) é possível apresentar suas convergências de acordo as seguintes características: (1) os objetivos, (2) a formação/certificação, (3) os indicadores, (4) a viabilização para utilização em contexto escolar; visando verificar de que forma aparecem as recomendações aos professores para a escolha e a avaliação de materiais didáticos digitais. A Tabela 2 apresenta essas características convergentes.

58 Contexto escolar Orientações para utilização dos indicadores no contexto escolar Orientações para utilização dos indicadores no contexto escolar Orientações para utilização dos indicadores no contexto escolar Indicadores

Aspectos que devem ser considerados pelos professores

* Prever um tempo para a exploração do material didático digital, antes de iniciar o trabalho propriamente dito.

* Conhecer o material didático digital que pretende utilizar para problematizar conteúdos curriculares; por isso, cada material didático digital deve ser explorado pelos professores, com o objetivo de identificar as possibilidades de trabalho pedagógico.

* Refletir sobre as possibilidades de cada material didático digital em relação aos diferentes momentos de aprendizagem.

Indicador de desempenho de professores para o uso das TIC

* Identificar e localizar os recursos tecnológicos e avaliá-los quanto à precisão e adequação.

Aspectos que devem ser considerados na prática profissional

* O professor desenvolve alfabetização digital, incluindo a capacidade de autenticar, avaliar criticamente e selecionar as

informações relevantes e recursos. Formação/ Certificação Nível básico Planificação e Desenho de Ambientes e Experiências de Aprendizagem Nível intermediário Pedagogy Licence Digital Objetivo

Os PCN constituem um referencial aberto e flexível, que objetiva orientar e fomentar a reflexão sobre os currículos estaduais e municipais, na busca da melhoria da qualidade do ensino nas escolas brasileiras e no processo de construção da cidadania.

Os NETS-T constituem um referencial concebido sob a forma de padrões de desempenho de professores para o uso das TIC.

O Smart Classrooms Professional Development

Framework objetiva formar e certificar

professores no uso das TIC, tendo em vista as melhorias sociais, das escolas, dos professores e das aprendizagens dos alunos. Referencial PCN (BRASIL, 1998) NETS-T (ISTE, 2000) Smart Classrooms Professional Development Framework (DEPARTMENT OF EDUCATION,

TRAINING AND THE ARTS, 2000)

59 Orientações para utilização dos indicadores no contexto escolar Utilização no contexto escolar Orientações para utilização dos indicadores no contexto escolar Orientação geral

* O professor deve integrar as TDIC como recurso pedagógico, mobilizando-as para o desenvolvimento de estratégias de ensino e de aprendizagem, numa perspectiva de melhoria das aprendizagens dos alunos.

Alfabetização em Tecnologia

* Selecionar e analisar os materiais didáticos digitais de acordo com suas áreas

específicas, identificando padrões curriculares e discutindo como o material pode auxiliar na prática pedagógica do professor e na aquisição de conhecimentos dos alunos.

* Discutir os critérios utilizados para analisar o material didático digital.

Aprofundamento do Conhecimento

* Descrever e analisar como os materiais didáticos digitais (na área específica do professor) apoiam o entendimento do aluno sobre os conceitos e suas aplicações para solucionar problemas complexos. * Desenvolver critérios de avaliação para justificar as escolhas dos materiais didáticos digitais pelos professores.

Criação do Conhecimento

* Apresentar, descrever, analisar, discutir, como a utilização dos materiais didáticos digitais, ajudam e desenvolvem as práticas dos alunos na inovação do conhecimento.

Nível intermediário

Certificado de competências pedagógicas com TIC

Módulo comum: Avaliação de recursos educativos digitais

O Referencial de Competências TIC objetiva mudanças na formação e avaliação de professores, por meio da formação e certificação, auxiliando o professor na integração do uso pedagógico das TIC.

Os Padrões de Competências em TIC para professores objetivam auxiliar os formuladores de políticas educacionais e desenvolvedores de currículo

identificarem competências docentes necessárias para aproveitar a tecnologia a serviço da educação.

Referencial de Competências TIC

(COSTA, 2008)

Padrões de competências em TIC para professores

A Tabela 2 relaciona os cinco referenciais, com as quatro características convergentes: (1) objetivos dos referenciais; (2) formação/certificação para escolha e avaliação de material didático digital; (3) indicadores para a escolha de materiais didáticos digitais; (4) recomendações para que o professor utilize os indicadores no contexto escolar.

Em relação aos objetivos, o quadro de convergências dos PCN (BRASIL, 1998) e Padrões de competências em TIC para professores (UNESCO, 2009), apresentam um cenário macro: o primeiro refere-se ao fomento de reflexão sobre os currículos estaduais e municipais das escolas brasileiras, abarcando a utilização das TDIC pelos professores; no segundo foram concebidos padrões e/ou recomendações de competências para os professores no uso das TDIC, tendo em vista as melhorias sociais, das escolas, dos professores e das aprendizagens dos alunos.

Os outros referenciais, NETS-T (ISTE, 2000), Smart Classrooms Professional Development

Framework (DEPARTMENT OF EDUCATION, TRAINING AND THE ARTS, 2000);

Referencial de Competências TIC (COSTA, 2008), embora também concebidos sob a forma de padrões e/ou recomendações de competências para os professores no uso das TDIC, suas recomendações são direcionadas para o âmbito da formação de professores.

No que se refere à formação/certificação para a escolha de material didático digital foram encontrados três referenciais: (1) NETS-T (ISTE, 2000); (2) Smart Classrooms Professional

Development Framework (DEPARTMENT OF EDUCATION, TRAINING AND THE ARTS,

2000); (3) Referencial de Competências TIC (COSTA, 2008). O primeiro referencial trata da escolha e da avaliação de materiais didáticos digitais num estágio básico da formação intitulado ‘Planificação e Desenho de Ambientes e Experiências de Aprendizagem’; o segundo e o terceiro tratam dessa questão em um nível intermediário da formação, intitulado ‘Pedagogy Licence Digital’ e ‘Certificado de competências pedagógicas com TIC’ - Módulo comum: Avaliação de recursos educativos digitais.

Em relação aos indicadores para a escolha de materiais didáticos digitais, os cinco referenciais trazem orientações sobre alguns aspectos que podem ser relacionados. Assim, a partir dos dados da Tabela 2, resumi e agrupei os textos em dois tópicos que devem ser considerados pelos professores na escolha de materiais didáticos digitais, a saber: (1) o professor deve conhecer, apresentar, descrever, discutir, selecionar e analisar os materiais didáticos digitais para problematizar conteúdos curriculares e verificar como o material pode auxiliar a sua prática pedagógica e favorecer uma aprendizagem significativa; (2) o professor deve ter autonomia para estabelecer e discutir critérios de avaliação que lhe permitam analisar criticamente, selecionar e justificar as escolhas dos materiais didáticos digitais.

Por fim, em relação ao contexto escolar, observo que os cinco referenciais trazem recomendações para que o professor utilize os indicadores. No entanto, o Referencial de Competências TIC (COSTA, 2008) propõe a formação e, consequentemente, a utilização desses indicares dentro do contexto da escola.

Vale ressaltar, que, os contextos dos diferentes países em que foram propostos esses referenciais encontram-se em diferentes estágios de desenvolvimento social, cultural, político, econômico e educacional. Desta forma, os contextos escolares, levando em consideração a infraestrutura, a formação de professores, as características dos gestores e dos alunos, não são os mesmos, variando de local para local.

Portanto, percebe-se que não basta ter referenciais orientadores para a escolha e avaliação de materiais didáticos digitais pelo professor. É necessário também considerar tanto os ‘aspectos micro’ quanto os ‘aspectos macro’ do contexto escolar. Os estudos desenvolvidos por Trinidad, Newhouse e Clarkson (2002) apontam a importância do ‘olhar macro’ para o contexto escolar, atribuindo seis dimensões que devem ser observadas para o processo de utilização das TDIC:

§ os atributos dos alunos (pode ser desenvolvido de diversas maneiras);

§ o impacto das TDIC no ambiente de aprendizagem (o impacto das TDIC na aprendizagem é mediado por ambientes de aprendizagem);

§ os atributos das TDIC incorporadas pelo professor (visão e contribuição; integração e uso; capacidade e percepção);

§ a capacidade das TDIC na escola (software, hardware, conectividade, recursos digitais, suporte técnico);

§ a escola e ambiente do sistema (liderança e planejamento; organização do currículo; apoio ao currículo; conexões com a comunidade; responsabilidade).

Essas dimensões elencam estratégias em relação ao sistema escolar como um todo: seus alunos, seus profissionais, sua comunidade e sua estrutura física.

A partir dessas constatações, a seguir faço uma síntese deste capítulo e traço perspectivas para o próximo.