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O número total de eleitores na eleição dos conselheiros

representantes das entidades populares para a 4a gestão do CMH

foi de 47.624, o que representa o maior número de eleitores desde a criação do Conselho. Os votos foram assim distribuídos:

Tabela 2 – Distribuição dos votos na eleição dos conselheiros das organizações populares para a 4a gestão no CMH (eleição 2009)

Respostas N % Governo 28.968 60,8 Movimento 18.052 37,9 Independente 251 0,5 Brancos 121 0,3 Nulos 232 0,5 Total 47.624 100,0

Como vimos na Tabela 2, a “Chapa do Governo” conquistou 60% dos votos, enquanto as três chapas do MOM, juntas, conquistaram 37,9% dos votos. Das três chapas do MOM, a mais votada foi a chapa encabeçada pela UMM, que elegeu quatro conselheiros, seguida da chapa encabeçada pela FLM, com dois conselheiros eleitos.

O resultado da eleição nos ajuda a compreender como se organizam as disputas internas ao MOM, como explica uma liderança da FLM:

Pergunta: O fato de a União [UMM] ter conseguido quatro [conselheiros] e vocês dois, vocês consideram como seis pessoas, ou como quatro e dois?

Resposta: Em alguns momentos quatro e dois.

Pergunta: [...] Qual é o momento que você sente que dá para ser seis, e qual é o momento que é quatro e dois?

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Resposta: Quando é uma discussão que seja bom para as duas partes. Como, por exemplo, a desapropriação dos imóveis que garantam o atendimento às famílias credenciadas, famílias do movimento. [Mas] Aí, se vai lá pra aprovar, por exemplo, o terreno da obra Bernardo, pra uns sete movimentos, se tem outro dentro do campo que também defende aquele terreno, não vai passar. (FLM, 2010, entrevista).

Tabela 3 – Distribuição dos votos e dos assentos para conselheiros populares da 4a gestão do CMH, por chapa (eleição 2009)

Nome das chapas Organizações que participam Total de

votos No can- didatos eleitos Chapa do governo Habitação no Rumo Certo (Chapa 2)

Os nomes das entidades que com- põem a chapa não foram informa-

dos 28.968 10

Chapas do movimento

Unidade pelo Direito à Moradia

(Chapa 1)

Unificadora de Loteamentos, Fa- velas e Assentamentos

Frente de Luta por Moradia (FLM) Fórum de Mutirões

5.117 2

União (Chapa 4)

União dos Movimentos de Mora- dia (UMM);

Central de Associações e Socieda- des Populares (CASP)

10.057 4

Em Defesa do Direito à Moradia

(Chapa 5)

Federação das Assoc. Comunitá- rias do Estado de S. Paulo (Facesp) Confederação Nacional das Asso- ciações de Moradores (Conam)

2.878 0

Chapa independente

Comunitária e cida- dania consciente

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Como podemos perceber, o MOM deve lidar internamente com algumas questões que são vinculadas à agenda mais ampla do MOM e que possibilitam sua articulação; outras são mais ligadas às agendas locais de suas organizações e estimulam as disputas internas. Em termos gerais, como dissemos, vemos que o resultado desta última eleição representa uma vitória para o governo e os partidos governistas, já que os candidatos por eles apoiados passarão a ocupar 10 do total de 16 cadeiras reservadas às organizações populares dentro do CMH. O fato de que agora o MOM é minoria dentro do Conselho, no entanto, não parece afetar a sua disposição de investir fortemente no espaço, o qual, segundo nossos entrevistados, continua tendo alto valor estratégico para fazer avançar as lutas do movimento. Esse resultado nos indica também uma diferença em relação às composições do CMH nas gestões anteriores. Não se trata mais de uma gestão “tudo ou nada”, ou seja, em que a representatividade dos segmentos populares seja homogênea porque formada por um conjunto de conselheiros populares vinculado a um mesmo alinhamento político, como vimos que acontecia nas gestões anteriores, quando o voto era atrelado aos candidatos das organizações populares e não era proporcional. Agora, temos uma composição mais plural do segmento popular, embora com uma

maioria alinhada ao governo.89

Considerações finais

Este artigo representa um primeiro esforço de sistematização e análise da participação do movimento de moradia nos processos eleitorais das organizações populares para o Conselho Municipal de Habitação (CMH) de São Paulo. Descrevemos a mobilização dos atores populares para a eleição de seus conselheiros na quarta gestão do CMH. Consideramos ainda as interfaces que sustentam o processo: a relação entre movimentos, partidos, governo, além de recuperarmos

89 Será interessante observar como essa heterogeneidade irá afetar a dinâmica de

funcionamento interno ao conselho, inclusive no que se refere às possibilidades de um diálogo efetivo.

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elementos que caracterizem a atuação dos representantes populares neste espaço. Este processo eleitoral nos remete, portanto, às imbricações entre os movimentos e o campo político institucional, e, com isso, traz à tona os limites, potencialidades e tensões inerentes a essas relações.

A análise desse processo eleitoral permite visualizar a configuração complexa dessa rede que constitui o MOM e que torna tão difícil a coordenação de sua ação. Não só a relação com agentes externos (aliados e antagonistas), mas também as mudanças nas regras da disputa eleitoral exigiram do movimento uma mudança mais rápida do que a sua capacidade de coordenar a ação. O tempo das eleições, ou o tempo da política, explicitou conflitos e divergências já anunciadas nas teias de relações que as organizações do movimento iam tecendo com o poder público, tornando muito difícil a pactuação necessária para os acordos eleitorais, aprofundando ainda mais a fragmentação do movimento.

Interessante notar como as vitórias conquistadas pelo MOM – em termos do acesso às políticas públicas – estimularam o diálogo com o poder público, ao mesmo tempo em que parecem ter enfraquecido os laços entre as organizações do movimento, enfraquecendo-o como ator social coletivo nas disputas com o poder público. Afinal, as relações não se estabelecem entre blocos homogêneos – o movimento, o governo e o partido – mas entre os diferentes agrupamentos no interior de cada um desses campos, explicitando a heterogeneidade que lhes é constitutiva e as tensões que daí decorrem. Da mesma forma, os resultados obtidos sob a forma de conquistas também não são divididos de forma equânime entre as diferentes organizações que compõem o movimento, mas, pelo contrário, são distribuídos de forma desigual, acionam conflitos e exigem forte trabalho de negociação. Nesse processo, explicita-se a particularidade de cada organização que compõe o movimento, e sua diferenciação em relação ao todo. Neste cenário, recompor o sentido de uma identidade comum, que justifique e sustente uma ação coordenada no tempo, exige investimentos com custos cada vez mais altos.

Pudemos ver de perto os desafios implicados nesse exercício constante de recomposição. Ao longo deste processo eleitoral, que

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culmina na eleição dos representantes populares da 4a gestão do

CMH, o MOM passou de um momento de articulação em torno das questões de sua agenda mais ampla para uma subsequente fase de desarticulação, com repercussões na sua capacidade de organizar- se internamente e também na qualidade de sua atuação dentro do Conselho.

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PARTICIPAÇÃO E REPRESENTAÇÕES