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O surgimento do Parque da Juventude: o espaço é (re)conquistado pelos

4 DISCUTINDO A RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO E PRÁTICA SKATISTA

4.2 Uma análise da apropriação do Parque da Juventude pelos skatistas

4.2.1 A pista antes e depois do Parque da Juventude

4.2.1.6 O surgimento do Parque da Juventude: o espaço é (re)conquistado pelos

revitalização que culminaria no surgimento do Parque da Juventude e seria concluída apenas em 2007. O que se conta é que antes da aprovação da construção do Parque surgiram outras propostas que partiram da gestão da prefeitura da época: “Tinha vereadores querendo piscinão, outros a rodoviária, e outra parte o parque” (F/Sk. 2: M OS V). Na fala de outro skatista: “E aí a ideia inicial da prefeitura era quebrar a Pista e fazer um piscinão, depois veio a ideia de um novo terminal rodoviário” (F/Sk. 1: M NG V).

Diante disso, essa fase marca um outro momento em que os skatistas se mobilizaram para reivindicar em prol da Pista. Dessa vez, o motivo da mobilização não era apenas pedir melhorias e ampliação, mas resistir à ameaça de destruição do seu espaço de prática. As medidas tomadas na época para iniciar as negociações são lembradas por alguns skatistas: “Isso, nós fizemos lá na prefeitura, fomos com faixa e tudo, porque o negócio se deixasse...” (F/Sk. 2: M OS V).

Esse tipo de ação, bem como a negociação política entre skatistas e dirigentes da prefeitura, influenciaram a decisão final de realizar uma revitalização do local, ao invés de um terminal rodoviário ou um piscinão:

e aí os skatistas lutaram, é, fizeram abaixo-assinados, conseguiram representação política, até porque era do interesse de algum político de, né, de outra, se envolver. E... mas teve muita luta, teve dia que veio trator e os skatistas deitaram na frente dos tratores e tal. E aí através do abaixo assinado, de representação de skatistas, de, eh..., de muuuita gente envolvida, eh..., eles criaram a ideia de fazer o parque. (F/Sk. 1: M NG V)

À medida que analisamos a fala dos skatistas percebemos que eles compreendem o surgimento do Parque como sendo fruto dessa resistência. Ou seja, não fossem eles, a Pista nem existiria mais, no seu lugar haveria uma rodoviária ou qualquer outro tipo de equipamento urbano não específico para a prática de skate. O Parque da Juventude é, portanto, considerado por muitos como uma conquista dos skatistas. Por meio do depoimento de um old school, que deixa transparecer um certo ar de empolgação em sua fala, percebemos como essa e outras conquistas são reconhecidas por eles como importantes para a história do skate da região.

Nós consideramos uma conquista. Isso daqui é nosso, certo! Até dá raiva quando político fala. Você conseguiu o caramba, você não fez mais que sua obrigação. Né meu, porque ehhh ehhh eu ando de skate há 30 anos, mas tem um pessoal junto que [pequena pausa], né, que não parou, e através de todo esse grupo junto, conseguiu isso daqui, tem gente que anda há quarenta anos de skate, eu era garotinho ainda e tinha gente que já andava, que aí por causa deles também tudo isso aconteceu. Então é muito importante. E, e é o que a gente fala pra essa molecada hoje. A gente fala: - oh cara, num é porque tá aqui que tá legal. Vocês têm que, meu, correr atrás, porque se deixar cara...num, meu! A gente fez, só que vocês tem que dar a continuidade agora, agora é a vez de vocês. (F/Sk. 2: M OS V)

Percebemos, diante do exposto, que esse período de transição consiste em mais um momento de vitória na luta pela manutenção daquele espaço. Sendo assim, o surgimento do Parque da Juventude permanece, pois, na memória dos skatistas que fizeram parte ativamente desse processo – bem como no entendimento de muitos outros, que não participaram, mas viram as manifestações, ou que apenas escutam as histórias dessa época – não como uma imposição

externa, alheia a eles, mas como fruto das negociações, nas quais os skatistas tiveram voz. O Parque da Juventude, nesse sentido, surgiu como uma conquista política, permeada por disputas espaciais urbanas.

Ainda bem que veio, porque se eu e mais um monte, certo, de gente não tivesse continuado a andar, não tivesse ido atrás, certo, hoje a gente não teria isso daqui. Se naquela época a gente: - ah, eu vou parar de skate, tá bom, faço outra coisa, nós não teríamos isso: um parque de esportes radicais. Talvez aqui seria um piscinão, uma rodoviária. Não teríamos isso. (F/Sk. 2: M OS V)

Depois da decisão final da construção de um parque de atividades radicais, os skatistas continuaram buscando negociação com a gestão da prefeitura, dessa vez para participar das decisões relativas ao projeto das áreas que seriam destinadas ao skate nesse parque:

Bom, quando nós ficamos sabendo que aqui ia ser demolido, toda essa área pra construção de um parque onde ia ter pista de skate, então, e ai, nós, certo, como skatistas já, pow, fomos atrás da prefeitura – Não, quem que vai fazer, como que é? [...] Então a gente se envolveu, aí a prefeitura deu abertura pra isso - não, vamos chamar o Marcelo Sousa46 – que é o que constrói a pista, ele fez o projeto, deram a

área e aí a gente juntos, várias pessoas discutiram esse projeto – putz isso é legal, isso é legal. Ai foi assim que teve esse movimento das pessoas [...] (F/Sk. 2: M OS V)

Essas informações trouxeram um ponto de vista não percebido no início do processo de investigação. A impressão inicial que tivemos foi a de que o Parque havia surgido como uma decisão que teria cabido apenas à iniciativa pública, como uma medida de assepsia urbana naquele espaço deteriorado (CARLOS, 2007) do centro de SBC. Numa tentativa também de ordenar o uso daquele espaço e inibir práticas consideradas inapropriadas. Contudo, compreendemos que os skatistas não foram alienados desse processo, eles se impuseram, por meio de negociações políticas, enquanto agentes também produtores do seu espaço de prática. Mas é preciso entender que essa última mudança espacial difere daquela primeira, na década de 1980, agora os serviços oferecidos pelo equipamento seriam ampliados, bem como seu público, além do surgimento de regras antes não existentes. Esses fatores modificaram completamente os modos como os skatistas usavam aquele equipamento e, consequentemente, novos modos de apropriação teriam que ser produzidos.