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CAPÍTULO 3 TAXIANDO EM RECIFE: ROTINA, RISCOS E

3.4 RISCOS E PROBLEMAS

3.4.2 O trânsito como problema

Segundo dados do Detran-PE, a frota da cidade do Recife, em outubro de 2010, era de 520.756 veículos (56,6% da frota da Região Metropolitana do Recife), sendo 344.808 automóveis e 90.792 motos. Isso representa a presença de um carro para cada 5 habitantes e uma moto para cada 20 habitantes. Esses números são o resultado de um intenso ritmo de crescimento ocorrido na última década na frota de veículos recifenses. Entre 2001 e 2010, a quantidade de carros (excluindo caminhões e caminhonetas) passou de 265.828 para 344.808, o que representa um crescimento de quase 30% no numero de carros circulando pela cidade. Outro ponto de destaque é o aumento do número de motos, que se coloca como uma alternativa de transporte com baixo custo e que promete agilidade no trânsito engarrafado dos grandes centros urbanos. Nos últimos 10 anos, o número de motos praticamente triplicou, indo de 33.161 em 2001 para 90.792 até outubro de 2010. Esse ritmo intenso de crescimento de veículos na cidade do Recife traz problemas para a mobilidade urbana na capital, de modo que hoje os recifenses lidam com importantes focos de engarrafamento, principalmente em alguns horários de ―pico‖.

Com a realização das entrevistas, foi possivel perceber de maneira mais clara o quanto os engarrafamentos prejudicam o rendimento dos taxistas. Segundo eles contam, nos últimos três anos os congestionamentos aumentaram em número e duração, reduzindo pela metade o número de corridas nos horários de maior demanda por esse serviço.

Ciro: Ah, bicho, aqui, hoje não tem... o melhor horário é o que? de cinco e meia até oito horas , mas não tem como você andar, porque congestiona todo canto e você tira duas, três corrida e acaba o horário de movimento, o horário de movimento é esse.

Pedro - Porque você pega uma corrida pra cidade, antes eu tirava duas, três corrida de manhã aqui. Pronto, eu levo Gilson de manhã às vezes lá pra faculdade, em trinta minutos eu levava ele e trazia, agora eu passo uma hora pra ir e vim, quer dizer meia hora eu já perdi e a hora de manhã é a hora que tá sempre mais corridinha, porque o pessoal vai pra faculdade, vai pra algum lugar, depois das nove, dez hora já morga, porque quem tinha que ir já foi né, tá entendendo... Aí isso aí afeta também, um tempo que você fazia duas viagens, faz uma só...

Roberto: O horário forte é pela manhã, mas não dá pra você coisar por causa do trânsito (...) Roberto: É, às vezes eu pego uma corrida eu vou, pro Aeroporto. Aí chego lá no ponto de apoio, um exemplo, assim, de oito horas, consegui chegar oito horas em ponto. Aí pego a corrida, vou para o Aeroporto, tem engarrafamento, aí quando eu venho chegar já é nove e pouco, aí o movimento já foi embora.

Assim, quando perguntado acerca dos principais problemas que atingem a categoria, o presidente do Sindicato dos Taxistas de Pernambuco apresentou como central o problema do trânsito engarrafado. Para ele, este é principal vilão que os taxistas enfrentam todos os dias:

Pres. SINDITAXI - Olha, o taxista, ele enfrenta muita dificuldade no trabalho e o que ta atrapalhando muito o trabalho do taxista é o trânsito, o trânsito tá horrível. Porque aquilo ali atrapalha, você pega um passageiro, hoje, que você poderia fazer aquela corrida com cinco minutos, com dez minutos, você hoje tá fazendo com meia hora, uma hora, por causa do trânsito. Porque o trânsito, quanto mais rápido você fizer a corrida, mais você fica vivo pra pegar outro.

Além dos engarrafamentos, os taxistas também se sentem prejudicados por não poderem utilizar algumas das importantes vias da cidade, por conta da exclusividade de circulação do transporte coletivo, como é o caso da Avenida Conde da Boa Vista. A maior queixa dos taxistas é que muitos passageiros querem pegar ou descer do táxi na avenida, o que hoje é proibido. O sindicato também vê essa questão como um problema:

Pres. SINDITAXI - A Conde da Boa Vista é uma das coisas que prejudicou muito taxista. É justamente isso, como eu disse a você, a gente consegue muitas coisas com os orgãos públicos, e tem coisas que a gente não consegue, certo? Então, é uma coisa que eu tô tentando ver se quando for criar alguma mudança, que o sindicato faça parte, que o taxista sabe dizer as dificuldades que o usuário tem, certo? Porque não é só a gente tá com passageiro, que ganhamos o dinheiro dele, a gente tem que pensar nas condições do usuário, porque o usuário, quando ele pega o táxi, é porque tem necessidade de chegar rápido no canto (...) Entendeu? Então, quando ele tem a dificuldade, então, infelizmente, quando é, quando é construído uma obra nova, o pessoal se preocupa muito com ônibus, e se esquece do táxi. Táxi é um coletivo igual um ônibus.

Porém, para o sindicato, o trânsito vai muito além da questão do engarrafamento e dificuldades de acesso. Como é nele que o taxista passa grande parte do dia, é nele também que aparecem outros tantos problemas. Desta forma, o sindicato coloca-se à disposição do taxista para resolver problemas referentes a multas e colisões (disponibiliza assessoria juridica) e serviços de reboque 24 horas.

Uma questão que apareceu apenas nos minutos finais da entrevista com o presidente do sindicato, depois de muitas tentativas de minha parte, foi a violência. Pela maneira como a quastão foi colocada por ele, essa não parece, hoje, ser vista como um dos assuntos prioritários do sindicato. Para ele, houve uma significativa diminuição nos homicídios a taxistas:

Pres. SINDITAXI: Dez anos atrás era, era todo dia a gente tinha uma morte de taxista. (...) Porque o taxista é muito fácil você levar ele pra qualquer canto. Um marginal (...) não tá escrito na testa que ele é marginal, chega, pega o táxi, aí leva pra onde ele quiser, pra os lugares esquisitos, pra Aldeia, pra onde ele quiser o taxista ele leva.

Pres. SINDITAXI: Já tivemos um arquivo (assassinato de taxista) aí já.(...) a gente arquivou até porque, a gente não tá mais fazendo esse trabalho, porque graças a Deus não tá tendo mais nada (...) Aí já, melhorou muito graças a Deus, ainda mais.