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O trabalho de campo

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 2007 (páginas 98-105)

2 SOBRE A METODOLOGIA DA PESQUISA

2.5 O trabalho de campo

Os dados com os quais trabalhamos para desenvolver a análise a qual nos propomos foram coletados e produzidos a partir de levantamento bibliográfico para revisão de literatura na área e de nossa posterior inserção no campo. Portanto, num primeiro momento, antes mesmo da seleção da escola e dos sujeitos participantes da pesquisa realizamos o levantamento bibliográfico e a revisão de literatura relacionada com o tema de nossa pesquisa, principalmente com aquela pertinente à presença da música em contextos escolares. Em seguida, estabelecemos o contato com a escola e os sujeitos conforme descrevemos anteriormente.

Assim, após o primeiro contato com as professoras colaboradoras passamos a freqüentar a escola. No começo as nossas idas à escola aconteciam em dias alternados, pois sentíamos que as professoras ainda não tinham entendido o real objetivo de nossa presença na escola e isso foi sendo aos poucos esclarecido e construído com elas. Outro motivo para irmos à escola em dias alternados deveu-se às negociações com a escola e com o motorista que nos levaria33. Assim, após estes acertos continuamos a freqüentar a escola.

A fim de conhecer a realidade da escola passamos a observar o espaço, os sujeitos e os acontecimentos com o cuidado de um observador atento e interessado. Assim, nossa permanência na escola e os procedimentos metodológicos que utilizamos se pautaram na observação participante e na orientação etnográfica. Para tanto, as observações aconteceram na escola com as três professoras colaboradoras escolhidas por nós que atuam em salas de aula de Educação Infantil. Nossa permanência na escola foi registrada em notas de campo que foram produzidas por nós por meio de registros que fazíamos em sala de aula, pequenos comentários, anotações de fatos e acontecimentos julgados por nós importantes e, às vezes, contamos com registros em gravador de fita cassete e filmagens. Nas ocasiões dos registros estávamos na sala de aula, no refeitório tomando lanche com as crianças, na sala de professores, na van à caminho da escola ou no retorno para casa. Porém, por várias vezes não foi possível fazer anotações ou outro registro, pois a situação não permitia, como é o caso de

33 Como a escola situa-se em zona rural íamos para lá com a van que faz o transporte dos funcionários e

conversas informais a caminho do refeitório, dentro da van ou na sala de professores, momentos em que não estávamos com o caderno de notas ou com o gravador em mãos. Nessas situações valíamos apenas de nossa memória; isso acontecia também quando julgávamos que nosso comportamento de fazer anotações pudesse constranger algum participante da pesquisa. Assim, logo que chegávamos em casa recorríamos à memória e as anotações, quando era o caso, para escrever as notas de campo.

Apesar dos registros áudio-visuais (filmagens em vídeo e fotos) terem sido importantes para a confecção das notas de campo e para posterior análise e interpretação dos dados, nos valemos com mais intensidade das anotações no caderno de notas e da memória, por julgarmos que estes últimos se delineiam como uma observação atenta e cuidadosa no sentido de apreender a situação vivida no “aqui e agora”. Também julgamos que essa foi uma maneira particular que encontramos de registrar melhor o observado, considerando que somos pesquisadores em processo de aprendizado.

A própria vivência durante o trabalho de campo, marcada pela nossa inserção na escola e por um gradativo processo de interação com os professores e suas práticas, com as crianças e com a escola como um todo contribuiu para que pudéssemos reconfigurar nosso olhar e focalizar nossas observações em nosso objeto de pesquisa. Nesse sentido, o uso de outros recursos de registro como gravações em cassete e vídeo foram utilizadas nos momentos em que julgamos necessário, visto que se tratavam de registros sonoros e visuais importantes e, portanto, muito difíceis de serem descritos somente pela observação, valendo- nos, assim, também do registro de imagens.

No primeiro semestre do ano de 2006 estivemos na escola nos meses de maio, junho e nas duas primeiras semanas do mês de julho. No segundo semestre retornamos à escola nos final do mês de outubro e permanecemos até o final do ano letivo, que se estendeu até a segunda semana de dezembro do mesmo ano.

A observação participante aconteceu na escola, escolhida por nós, com as três (3) professoras que atuam na Educação Infantil. Observarmos situações em que os saberes e as práticas musicais são mobilizados. Para tanto, optamos por observar a sala de aula, o recreio, as atividades de comemorações de datas cívicas, como festas juninas, entre outras, os momentos de recreação34 das crianças e também outros momentos em que as professoras não

liberado o transporte. Desse modo, o motorista da van sempre que solicitado nos apanhava em casa por volta de 11:40 e nos deixava de volta às 17:50 hs.

34 Esses momentos são proporcionados às crianças ao final de um dia escolhido pela professora. Na ocasião as

crianças são levadas para o parque destinado à educação infantil ou em alguma área da escola em que a professora realiza alguma atividade lúdica com elas.

se encontravam na sala de aula como: reuniões de módulo, momentos na sala de professores, conversas a caminho da escola dentro da van, encontros no Curso de Formação Continuada Educação Infantil 200635, entre outros.

Concomitantemente às observações e com o intuito de contextualizar os fenômenos, esclarecer os fatos e problemas observados no cotidiano escolar, também realizamos uma análise documental. Por meio desta foram analisados documentos oficiais produzidos pela Secretaria Municipal de Educação, como Censo Escolar / Educação Infantil / MEC 2005; As

Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil do Município produzido pelo Centro de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (CEMEPE) referente à Educação Infantil no município; O Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Leilão de Jardim; o

Planejamento Anual da Educação Infantil da escola; os Diários de Classe das professoras colaboradoras da pesquisa, entre outros documentos que julgamos poder colaborar com nossa pesquisa. Estes últimos documentos foram produzidos pela escola e recolhidos por nós na secretaria. Outro documento que analisamos foi o: Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil (RCNEI). Com a análise dos documentos buscamos verificar como a música neles aparece contemplada legalmente. Segundo Lüdke e André (1986:38), “a análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse”. Para André (1995), “Os documentos são usados no intuito de contextualizar o fenômeno, explicitar suas vinculações mais profundas e completar as informações coletadas através de outras fontes (ANDRÉ, 1995, p. 28).

As entrevistas (Apêndice 3) que têm a finalidade de aprofundar questões e esclarecer os problemas observados junto aos sujeitos da pesquisa foram realizadas com as professoras colaboradoras e possibilitaram que certos dados, coletados por meio da observação participante, fossem aprofundados e discutidos. Para tanto, realizamos uma entrevista com cada uma das professoras colaboradoras.

A escolha da ordem das entrevistadas foi aleatória e de acordo com a disponibilidade das professoras. O que percebemos é que o tempo na escola onde desenvolvemos a pesquisa parece ser mais corrido e, por ser uma escola localizada na zona rural as professoras chegam entre 12 horas e 40 minutos e 13 horas. O sinal para o começo das aulas acontece às 13 horas e 20 minutos e às 17 horas para o final. O recreio na escola acontece às 15 horas para a turma de Educação Infantil e termina às 15 horas e 30 minutos. Assim, não tínhamos tempo livre

35 Curso oferecido pela Rede Municipal de Educação de Uberlândia em convênio com FNDE. Está sendo

oferecido para professores e técnicos atuantes na educação infantil da rede pública municipal do município de Uberlândia em regime de 150 h/aula ou em 50 hs/aula.

para entrevistas nem no período que antecedia as aulas e nem mesmo no final, pois as professoras precisavam se apressar para entrar no transporte que as conduzia de volta à cidade. Então, para realizarmos as entrevistas combinamos previamente um dia em que as professoras cumpriam módulo36 na escola. Desse modo, realizamos duas entrevistas na escola com as Profa. T e R. e com a Profa. C. em sua residência.

A primeira e a segunda entrevistas com as professoras T. e R. realizamos no mês de outubro na escola, logo que lá retornamos no segundo semestre de 2006. Optamos por realizá- las nesse período por entender que as professoras precisavam ter uma certa confiança em nós e por julgarmos que elas já estavam compreendendo melhor nossa presença na escola e também pelo fato de precisarmos amadurecer nosso roteiro da entrevista a partir de nossas observações sobre o cotidiano escolar. Para realizar tais entrevistas escolhemos um local com menos barulho na escola onde pudéssemos conversar com tranqüilidade. O local escolhido foi a sala de leitura, espaço anexo à biblioteca. O espaço é destinado a estudos em grupo e leitura. O tempo de duração de cada uma das entrevistas foi de, aproximadamente, uma hora e meia, com a Profa. T e quarenta minutos com a Profa. R. Já com a Profa. C. realizamos a entrevista em sua residência no início do mês de dezembro, com duração de aproximadamente uma hora e meia. O motivo pelo qual realizamos a entrevista com a Profa. C em sua residência foi pelo fato de ela não estar cumprindo módulo na escola, como antes. A profa. C. a partir do mês de novembro iniciou o curso preparatório para o período introdutório (Ensino Fundamental com 9 anos) no CEMEPE37 onde passou a cumprir os módulos.

No capítulo a seguir apresentaremos a análise, a discussão e a interpretação dos dados a respeito dos saberes e das práticas com música no cotidiano da Educação Infantil.

36 Este corresponde a uma dia da semana em que freqüentam cursos no CEMEPE, ou realizam trabalhos,

preparação das aulas e estudos em casa.

3 SABERES E FAZERES MUSICAIS DE PROFESSORAS UNIDOCENTES

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 2007 (páginas 98-105)