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Sobre (a ausência) de recursos materiais

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 2007 (páginas 132-135)

3 SABERES E FAZERES MUSICAIS DE PROFESSORAS UNIDOCENTES DA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1 Saberes de professoras unidocentes sobre o ensino de música na Educação Infantil

3.1.2 Sobre os papéis ocupados pela música na Educação Infantil

3.1.2.2 Sobre (a ausência) de recursos materiais

Com relação à infra-estrutura da escola para a realização de atividades musicais pudemos perceber por meio das entrevistas e de nossa inserção na escola que os recursos materiais são precários e quando existentes são adquiridos pelas próprias professoras. A escola possui56 um aparelho de som portátil com rádio, gravador e tocador de CD, um tocador de vídeo cassete, uma televisão, um mimeógrafo, um aparelho reprodutor de DVD e um disco

DVD do projeto “EmCantar” doado à mesma. Já as professoras da Educação Infantil possuem um aparelho de som portátil com CD, de uso comunitário, adquirido com recursos próprios e que funciona precariamente. O leitor de CD está com problemas e às vezes não toca.

Conforme as professoras nos informaram, cada qual tinha seu aparelho de som portátil. Mas, como o aparelho de som da Profa. C. estava estragado, ela fazia uso comunitário do aparelho de som da Profa T. que também estava com problemas na leitura de

CDs. Algumas vezes funcionava e outras não. Já a Profa R. utiliza o aparelho de som da escola. Em um dia de observação na sala de aula da Profa. T., esta nos contou que desenvolveu um trabalho de construção de instrumentos musicais para trabalhar a bandinha rítmica com seus alunos. Os instrumentos musicais foram confeccionados pelos alunos com ajuda e orientação da professora. Dentre eles foram confeccionados instrumentos de percussão feito de sucatas com som indeterminado, como pandeiros, triângulos, chocalhos, guizos, tambores e platinelas. Assim, somente a Profa T. dispõe de instrumentos de percussão. As demais professoras não têm acesso a estes instrumentos que ficam no armário da sala de aula da professora. Porém, as demais professoras colaboradoras manifestaram o desejo de confeccionar instrumentos e trabalhar com bandinha rítmica.

A Profa. R. possui um violão e diz levar esporadicamente para a sala de aula. Todas as professoras colaboradoras possuem CDs variados de cantigas folclóricas e cirandas, adquiridos também com recursos próprios. O material é identificado por Cdteca57. A Profa. C.

relatou sua opinião, ao perguntarmos sobre a colaboração da escola na aquisição de materiais para a aula de música58, que:

56 Os recursos materiais foram listados por nós quando desenvolvemos o trabalho de campo na escola.

Infelizmente, no mês de janeiro do ano de 2007, posteriormente à essa fase da pesquisa, fomos informados de que a escola havia sido assaltada e que hoje não conta mais com os recursos listados.

57 Cdteca é uma coletânia de Cds contidos em uma caixa.

58 Nessa ocasião havíamos feito a seguinte pergunta à professora: Você tem enfrentado alguma dificuldade para

desenvolver o ensino de música na educação infantil? Especifique. Assim, dentre algumas dificuldades colocadas por ela, apontou-nos a questão dos recursos materiais para as atividades com música. Prosseguimos a entrevista perguntando se caso solicitassem a escola atendia seus pedidos para esse fim.

[...] Não sei, não posso te afirmar, nós sempre, de uma forma ou de outra, compramos, uma faz e passa para outra que reproduz e passa, a escola sempre tem tanta coisa para comprar, ela manda fazer uma lista, mas prioriza aquilo que mais precisa, e não vamos fechar os olhos para o fato de que a escola é uma escola carente onde tem a necessidade do lápis, da borracha e do caderno porque senão o aluno não escreve. Então é muito complicado essa questão, sabemos que às vezes isso é um pouco supérfluo para necessidades tão imediatas da escola, não sei se acostumamos mal, mas procuramos, sempre procurou ter e infelizmente, as poucas coisas que a escola adquiriu no tempo daquela administradora que eu falei, as pessoas não preservam, some, não se sabe quem pegou, some até os nossos se não tomarmos cuidado. Infelizmente são problemas que fazem parte do nosso dia-a-dia. (Prof. C. Entrevista em 04/12/06).

Nessa fala percebemos, ainda que a música se faça presente nos documentos escolares como no plano de curso da Educação Infantil e no planejamento anual das professoras desse nível de ensino, isso não significa que ela esteja nas prioridades da escola. Ou seja, a escola ainda vê a música como uma prática à margem das demais disciplinas consideradas sérias. Também nos questionamos: será que a falta de recursos materiais para as atividades com música se justifica apenas pelo fato de ser a escola pesquisada uma escola carente? Ou seria também por desconhecimento da música como área de conhecimento, e que dessa maneira, exige recursos mínimos para sua efetivação? Assim, é importante que a escola esteja consciente sobre a importância da música e de sua presença no contexto educativo, seja de acordo com uma abordagem que a considere como área científica de conhecimento e, portanto, enquanto linguagem, ou como recurso didático em outras áreas do conhecimento conforme esta tem se configurado nessa escola. Considerar a música como supérflua é simplesmente negá-la como área de conhecimento. É preciso que a escola mude de postura perante a música e que realmente possa contribuir para a construção do conhecimento das crianças na área.

Ainda sobre os recursos (in)disponíveis na escola para o trabalho com música as demais professoras colaboradoras fizeram os seguintes comentários:

Nós temos um [aparelho de] som que normalmente dá problemas em

dia de festa e só! Nós temos [recursos materiais] se trouxermos, se a

gente “ nos virarmos nos tinta”! Se não, não temos. Aqui [na escola]

tem esse som de levar para sala de aula, eu tenho as minhas fitas, meus CDs, que eu procuro comprar ou gravar quando acho alguma coisa que gosto. Mas, a escola nunca me proporcionou nada não. Aqui na escola tem televisão e aparelho de som, e a supervisora tem

alguns CDs de música, mas como eu já tenho um monte, nem tenho utilizado nada dela, porque se eu já não estou conseguindo trabalhar nem com o que tenho [...] (Profa. R. Entrevista em 24/10/2006). (Acréscimos nossos)

Eu não conto com o aparelho [de som] da escola. Então eu tenho o

meu, como recurso, eu tive que optar por ter o meu aparelho, para ele estar em minhas mãos quando eu precisar, além disso, eu montei a bandinha rítmica com os meninos [...] Instrumentos de percussão aqui só feito de sucatas. Penso que poderia ter flautas [...] Aqui na escola temos vídeo, aparelho de DVD59 e o disco DVD do “EmCantar” (Profa. T. Entrevista em 17/10/06). (Acréscimos nossos)

Destacamos, nessas narrativas, a falta de recursos disponibilizados pela escola para as atividades com música. A falta do aparelho de som, e de CDs, enquanto recursos mínimos para atividades musicais é uma questão importante na fala das professoras. No entanto, percebemos que ainda assim as professoras buscam como alternativa adquirir o material básico com recursos próprios para desenvolverem as atividades com música e acreditam que apesar da precariedade desses recursos na escola é possível desenvolver um trabalho com música em suas práticas pedagógicas. Desse modo, as narrativas das professoras reforçam o desprestígio da música, e o descomprometimento da escola com relação a ela como área de conhecimento.

Portanto, por meio das narrativas de nossas colaboradoras e pelo que vimos na escola concordamos que os recursos materiais disponibilizados pela escola e mesmo os adquiridos pelas professoras com recursos próprios são insuficientes para desenvolverem um trabalho com música, ainda que essa presença esteja como recurso didático no auxílio de outras áreas do conhecimento. Podemos perceber por meio dos recursos (in)disponíveis na escola e das professoras colaboradoras, como professores e membros da administração escolar percebem a presença da música nesse contexto.

As professoras manifestaram o desejo de possuir instrumentos industrializados de bandinha rítmica, instrumentos musicais como flautas e apontaram como um dos limites para o trabalho com música na escola o fato de não tocarem nenhum instrumento musical. Os depoimentos abaixo ilustram este fato.

[...] eu gosto muito de cantar com os meninos e acredito que eles também gostam... [...] se eu pudesse mudar eu gostaria de mudar eu mesma, porque eu queria aprender a tocar violão direito para fazer

uma coisa mais bonita, mais harmoniosa para envolver as crianças, porque acho que um instrumento muda tudo. (Profa. R. Conversa informal)

[...] eu gostaria de acompanhar as crianças com instrumentos. É tão gostoso quando um toca e outro acompanha, seria bom. Eu acho que o meu limite é não saber tocar um instrumento para que as crianças pudessem interagir mais com a música, estarem acompanhando, vivenciando ali. (Profa. T Entrevista em 17/10/06).

[...] não dá para eu tocar porque não sei nenhum instrumento. Cantar eu canto, desafinado ou não, eu canto! (Profa. C. conversa informal)

Procurando compreender o pensamento das professoras unidocentes sobre o ensino de música na Educação Infantil, consideramos pertinente conhecer as relações que estabelecem com os documentos curriculares. Podemos afirmar de antemão que o conhecimento a respeito desses documentos não é consensual, mas, variado.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 2007 (páginas 132-135)