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Sobre quem deve ensinar música na Educação Infantil.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 2007 (páginas 129-132)

3 SABERES E FAZERES MUSICAIS DE PROFESSORAS UNIDOCENTES DA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1 Saberes de professoras unidocentes sobre o ensino de música na Educação Infantil

3.1.2 Sobre os papéis ocupados pela música na Educação Infantil

3.1.2.1 Sobre quem deve ensinar música na Educação Infantil.

Embora as professoras unidocentes tenham defendido que elas mesmas podem desenvolver um trabalho com música na escola, tentam justificar as práticas pedagógico- musicais desenvolvidas pela ausência de formação, mostrando-nos as possibilidades e os limites para o ensino de música na escola a partir da realidade presente. As professoras unidocentes não se sentem seguras para trabalhar com música na escola, fazem como podem e de certo modo, sabem que o que fazem está aquém do que poderia ser feito. Esse fato é evidenciado por nós na pesquisa quando elas afirmam ser “metidas” à trabalhar com música na sala de aula; que só “arranha o violão”, não sabe tocar direito; quando alegam “serem desafinadas” para cantar com as crianças, ou que “sabem pouco” de música, para trabalhá-la como área de conhecimento. Desse modo, comungamos com Figueiredo (2005) ao afirmar que “a falta de formação musical das professoras unidocentes promove uma falta de confiança das professoras com relação a esta área no currículo escolar”.(p.2).

Portanto, como a escola em que atuam não conta com o professor especialista, elas atribuem a tarefa de ensinar música a elas mesmas. Porém, as professoras, de modo geral, defendem a importância do professor especialista em música na Educação Infantil e acreditam que elas também podem trabalhar com a linguagem musical. Os trechos retirados das entrevistas ilustram esta questão.

[...] como não tem especialista eu acho que tem que ser através de mim mesma, eu não posso ficar esperando, nada acontecer por acaso, então eu tenho que partir, que buscar e tentar fazer o que estiver ao meu alcance para trabalhar [...] (Profa. T. Entrevista em 17/10/06.) [...] primeiramente eu acho que o professor especialista tinha que começar e eu poderia auxiliar porque tenho outros conteúdos a passar, mas isso também não desliga do compromisso de colaborar. Só que já trabalho a música de uma maneira informal [como recurso],

sem o compromisso de ensinar as matérias inerentes à música. Mas aqui não tem professor de música, tem professor de artes plásticas, esse é o problema da rede [municipal de ensino], vai ser muito difícil

você encontrar na rede professores de música [...] (Profa. R. Entrevista em 24/10/06) (Acréscimos nossos)

Concordamos, especialmente com a colocação da Profa. R. quanto à escassez do professor especialista em música atuando nas escolas de Educação Infantil e até mesmo nas séries iniciais do ensino fundamental não só da rede municipal, mas, da rede estadual de educação na cidade de Uberlândia, MG. Nesse sentido, Borges e Ribeiro (2002) em pesquisa realizada sobre mapeamento parcial do ensino de arte na Educação Infantil em dez escolas de Uberlândia/MG concluem que no que se refere à habilitação dos professores de arte, quando as escolas, em sua maioria, possuía professores especializados, tinha como habilitação a Licenciatura em Artes Plásticas.

Os relatos acima sinalizam a realidade atual do ensino de música na Educação Infantil, e demonstram também que esse nível de ensino permanece sendo campo fértil que demanda um ensino de música. Nesse sentido, faz-se necessário investir na formação musical dos professores unidocentes conforme coloca Souza et al. (2002) salientam:

[...] é preciso investir nas capacidades e possibilidades de desenvolvimento musical do professor de séries iniciais [e da Educação Infantil]. Além de contribuir com a atuação deste professor, que, muitas vezes, não se sente preparado para ensinar música, esse investimento poderia suprir a escassez de professores especialistas. Sabemos que são poucas as escolas que contam com um professor especialista em música e, notadamente, esse espaço vem sendo ocupado por professores de outras áreas que, por vezes, ministram a disciplina de música sem ter o mínimo preparo. Essa também seria uma forma de auxiliar o trabalho dos professores especialistas, quando estes estivessem presentes nas escolas. (SOUZA et al. 2002, p. 76)

Assim, entendemos que nos espaços escolares em que não se conta com a presença de professores especialistas em música, o trabalho pode ser realizado pela professora unidocente já que esta lança mão do uso da música, mesmo como “suporte” e “auxílio” para a aprendizagem de conteúdos de outras disciplinas. E a esse respeito, Figueiredo (2001) afirma:

Parece que temos uma situação ainda sem soluções: o professor especialista em música não está atuando em todas as séries escolares ou quando está presente atua com uma carga horária mínima em aula: por outro lado, o professor generalista está todo o tempo com as crianças na escola e poderia tirar proveito desta experiência integradora em educação. A integração, interdisciplinaridade, trabalhos em conjunto, retomam alguns aspectos da polivalência e uma grande parte dos professores de arte abomina tal idéia. A possibilidade de integração das áreas não significa que os professores nas escolas estarão invadindo territórios alheios, mas sim, aponta para uma educação mais significativa, sem tanta fragmentação, que leve em conta os saberes da humanidade, incluídas as artes nestes saberes. (FIGUEIREDO, 2001, p. 34-35)

Porém, não se pode deixar de considerar a necessidade de uma integração entre as professoras unidocentes e especialistas a fim de se realizar um trabalho mais significativo, bem como atentar para a questão da formação inicial ou permanente que deverão buscar. Essa preocupação é pertinente no sentido de se pensar um trabalho de modo relacionado, sem a compartimentação tão comum entre disciplinas, bem como da possibilidade de se estabelecer um trabalho integrado, conforme o que é defendido por vários educadores musicais como Figueiredo (2001); Bellochio (2001); Beaumont (2003). Nesse sentido, buscando um caminho “ideal” com o trabalho integrado entre professoras e especialistas, no caso da Educação Infantil e séries iniciais do ensino fundamental, Bellochio (2001) aponta que:

Bastam 45 minutos de aula de música semanais, de modo desarticulado dos demais conhecimentos que estão sendo trabalhados pelos professores, para potencializar a educação musical na escola? Uma possibilidade que vejo é a da articulação mais consciente, crítica e madura entre o professor atuante nos anos iniciais de escolarização e os profissionais especialistas no ensino de Música. Longe de pensar que o professor desses anos poderá substituir o professor especialista, acredito na construção de um trabalho mais colaborativo, que possa articular melhor a atuação desses profissionais da educação na escola. (BELLOCHIO, 2001. p.45).

Comungando com esta autora, Figueiredo (2003) considera que:

Ambos profissionais podem trabalhar oferecendo uma educação com mais qualidade e significação. O professor generalista é aquele que está com as crianças a maior parte do tempo e deve compreender as questões musicais e artísticas que fazem parte da experiência infantil, contribuindo para o desenvolvimento de uma formação integral. O professor especialista pode contribuir com a continuidade do desenvolvimento musical, estimulando práticas que requerem formação mais específica, assim como contribuindo para a formação continuada dos professores generalistas. (FIGUEIREDO, 2003, p.4).

Investir na formação musical de professores parece ser um caminho para que possam desenvolver práticas significativas de ensino de música no cotidiano escolar para os alunos e também para que possamos consolidar o desenvolvimento da educação musical na escola (Souza et al. 2002). Outra possibilidade seria a de um trabalho colaborativo entre professores especialistas em música e os professores unidocentes para que possam conjuntamente atuar na educação musical e geral das crianças da Educação Infantil.

Outro aspecto mencionado pelas professoras colaboradoras que interfere significativamente nas práticas educativas que desenvolvem com música na escola são os recursos materiais nela disponíveis. O item abaixo sinaliza o que as professoras unidocentes falam, pensam sobre o que existe na escola.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 2007 (páginas 129-132)