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A presente pesquisa, de todo modo, pode ser entendida como um esforço na direção de evidenciar a necessidade dessas articulações, no caso específico do objeto de estudo para o qual ela busca estabelecer uma perspectiva histórica para sua abordagem: a Educação Superior Brasileira, a partir de 1968. Para otimizar as possibilidades de alcançar esse propósito, de acordo com a minha percepção, sua exposição encontra-se organizada da seguinte maneira:

- um primeiro capítulo que, tomando a modernidade ocidental como estrutura- cuja caracterização é deflagrada a partir da percepção de uma substancial mudança, em relação ao período anterior (Idade Média), no papel social desempenhado pelo conhecimento8-, enuncia o substrato epistemológico por mim proposto para abordar o problema focalizado;

- num segundo capítulo, no qual, após um debate com as visões que a identificam com a abertura de um novo intervalo estrutural, a contemporaneidade é vista como conjuntura integrante da estrutura anteriormente caracterizada. Nela, um dos aspectos centrais é o fato de que o conhecimento, ao desempenhar o papel delineado no primeiro capítulo, passa, então, a exibir explicitamente uma faceta já pré-existente mas antes ocultada. Tomando-se esse aspecto, em suas relações com as variadas vertentes da vida societária atual, como ponto de partida, é apresentado o suporte teórico sugerido para a narrativa pretendida;

- o terceiro capítulo, que tem como base a formulação de um elenco dos principais acontecimentos/ eventos (a partir de 1968) da educação superior brasileira, inseridos na conjuntura estabelecida pela contemporaneidade-

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Na medida em que se concebe o conhecimento como construção ou produto social, é de se esperar que ele seja dotado de uma função na sociedade que o gerou.

possibilitando a proposição de uma periodização da duração referenciada que os incorpore como marcos-, discorre sobre o aparato metodológico que considero adequado à apropriação dos referidos eventos no processo da escrita da História, que passa pelo desdobramento dos mesmos em fatos históricos, assumidos como construção e, a partir destes, alcança a produção da narrativa;

- finalmente, agrupadas como possíveis conclusões, algumas considerações finais, nas quais serão destacados, entre outros aspectos, os limites e possibilidades da pesquisa desenvolvida, bem como as perspectivas de continuidade por ela apresentadas.

Conforme já mencionado anteriormente, integra-se, também, a este trabalho um anexo dedicado a uma reflexão sobre afinidades e distinções entre as categorias mentalidade e ideologia, que tem, como propósito maior, delimitar, com nitidez inequívoca, os sentidos a elas- e à relação entre ambas- atribuídos, nesta investigação, uma vez que o aparecimento de questões envolvendo essas temáticas é, aqui, recorrente. Desse modo, o mencionado anexo poderá proporcionar uma referência explícita da forma de tratamento que as mencionadas questões irão receber ao longo de todo este trabalho. Vale, ainda, mencionar, a respeito do anexo, o vínculo de complementaridade existente entre ele e o item 2.3, do Capítulo I, que discute, mais detalhadamente, a questão da verdade no conhecimento.

Cabe, ainda, para encerrar esta seção, apresentar algumas justificativas sobre escolhas aqui formuladas, varias delas já contidas no projeto original da pesquisa (cf NÁDER: 1999), e outra, novas, decorrentes da mudança realizada nos propósitos originais da investigação.

Em primeiro lugar, deve ser justificada a escolha do ano de 1968 como marco inicial da duração em foco. No plano internacional, os eventos ocorridos em diversas

universidades nesse ano (maio- Paris, setembro- Califórnia: Berkeley e Los Angeles) parecem configurar, ao meu ver, indicadores do início de uma transição na instituição universitária, pelo menos em termos do desejo de inclusão, explícita e efetiva, manifestado por sujeitos sociais, anteriormente excluídos, no processo da definição de seus rumos.

No Brasil, 1968 foi marcado pelas passeatas dos excedentes- engrossando a mobilização social que acabou provocando, como reação do Regime Militar, a decretação do Ato Institucional 5, de 13/12/1968, e de seus sucedâneos. Em que pese a pré-existência da aspiração da sociedade brasileira, principalmente das camadas médias, a ter acesso à Universidade- oriunda, ao meu ver, do período no qual prevaleceu o entusiasmo nacional-desenvolvimentista-, face aos arrocho e achatamento salariais implementados pela Ditadura, a via da formação em nível superior passa a ser, nesse período, visualizada como, na prática, o único canal remanescente de ascensão social. Dever-se-ia, portanto, apesar de todos os sinais truculentamente emitidos pelo governo militar no sentido de sua intenção de neutralizá-lo, lutar intensamente para que aquele canal fosse preservado e, até mesmo, ampliado. Esses episódios, conjugados a outros, como a vigência dos acordos MEC-USAID, a apresentação do relatório Meira Matos e, finalmente, a aprovação pelo Congresso Nacional e sanção da Lei da Reforma Universitária (Lei 5540, de 28/11/1968), no campo normativo, apontam a ocorrência de uma tendência, em suas marchas e contramarchas, na mesma direção daquela percebida mundialmente, ainda que condicionada, também e inevitavelmente, pela conjuntura nacional então vigente.

Além disso, para além da questão universitária, os desdobramentos e as reações provocadas pelos movimentos ocorridos em 1968 fizeram com que os

tempos proximamente subseqüentes fossem marcados pelos primeiros indícios de uma significativa alteração conjuntural, de dimensão bastante abrangente, que viria a se completar na virada 80/90, delineando , “grosso modo”, o contexto- inclusive, e muito importante, em termos do ideário hegemônico em circulação- planetário atual (cf EAGLETON: 1999).

Com relação ao tema do trabalho propriamente dito, considero ser possível atribuir à contribuição decorrente da conclusão da pesquisa aqui anunciada uma dose relevante de originalidade e, no caso da adoção das proposições nela contidas, a possibilidade de ensejar o aparecimento de trabalhos semelhantes mas com diferenças marcantes em relação a outros já existentes, alguns deles aqui referidos, o que dará a oportunidade de cotejos que acredito profícuos.

Adicionalmente, a caracterização das condições teóricas necessárias para se buscar o reconhecimento das identidades- dinâmicas- da Educação Superior e da Universidade brasileiras contemporâneas justifica-se por propiciar a possibilidade de, ao alcançar o referido reconhecimento, resgatar, reforçar e aperfeiçoar minha identidade como sujeito social, a partir de seus elementos constitutivos, com ênfase na dimensão profissional. Ser-me-á, desse modo, oferecida uma oportunidade ímpar de consolidar minha própria historicidade como professor universitário- e de buscar exercê-la sem historicismos.

Por outro lado, se resgatarmos a concepção de cultura- ou civilização9- proposta por Freud (cf FREUD: 1986 e MEZAN: 1985), que a vincula ao campo da razão e também ao das paixões, considero ser lícito justificar, adicionalmente, o

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Diferentemente da visão braudeliana apresentada na seção anterior, a percepção freudiana de civilização privilegia os fatores imateriais, em consonância com o espectro investigativo de seu trabalho, a teoria psicanalítica. No entanto, cabe mencionar que, ocasionada pelas traduções, aparece uma incerteza da adequação do uso do termo civilização, posto que muitos autores consideram ter Freud discorrido sobre cultura. A própria obra referenciada acima é um exemplo dessa

tema deste trabalho a partir de um outro argumento nitidamente localizado no território híbrido razão/emoção: estou, aqui, referindo-me à minha atuação como militante do sindicalismo de docentes das instituições de Ensino Superior organizado na ANDES-SN. Tal militância, tendo por base um ideário claramente não hegemônico, é portadora de concepções de Sociedade e Educação e, insistente e inquietantemente, interroga: as proposições oriundas dessas concepções detêm, nos dias de hoje, uma atualidade sustentável? Como dinamizá-las, concepções e proposições, na busca de maior efetividade, nestes novos tempos de hoje e nos que virão? Assim, a pesquisa aqui proposta procura, também, assegurar uma reflexão e, subseqüentemente, uma compreensão mais aprofundada dos fatores que possam conferir viabilidade a um percurso que, partindo do presente, retorne ao passado- próximo- e volte ao presente, para o delineamento de ações direcionadas ao futuro, na perspectiva da concretização do novo, do favorecimento da emergência de forças sociais igualitárias. Em um momento posterior, pretendo retomar esse aspecto para um maior detalhamento.

controvérsia: seu título, na tradução brasileira, é O mal-estar na civilização; a portuguesa acompanha as traduções em língua espanhola e adotaO mal-estar na cultura.