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2 AMBIENTE ORGANIZACIONAL

3.5 O AGENTE DE CRÉDITO

3.5.3 O Trade-off entre focalização e sustentabilidade

Segundo IBAM (2001), a sustentabilidade financeira fundamenta-se em dois níveis: a capacidade de alavancar recursos para o fundo e sua política de crédito, que é capaz de tornar a instituição autônoma e atingir rapidamente seu ponto de equilíbrio, e no que se refere à política de crédito, a sustentabilidade depende da cobrança de juros que cubram os custos totais de execução do programa e de um sistema eficiente de recuperação dos empréstimos, de modo a manter baixas as taxas de inadimplência (PASSOS ET AL. 2002).

A ideia do trade-off entre sustentabilidade e focalização tem origem na percepção de que a população mais pobre não apresenta condições de pagar taxas de juros mais elevadas, necessárias para cobrir os custos das IMFs. De acordo com essa percepção, as instituições sustentáveis não poderiam focar nos clientes mais pobres, sob risco de sacrificar sua saúde financeira, enquanto aquelas que recebem doações poderiam cobrar taxas de juros subsidiadas e atender exclusivamente à população mais pobre (LIMA, 2009).

Para Ledgerwood (1999) apud Lima (2009), é possível servir aos mais pobres de forma sustentável, porém o tempo para que a instituição se torne sustentável financeiramente será menor quando os seus clientes forem ativos economicamente, ou seja, quando eles não estiverem entre os mais pobres. Todavia se a instituição escolher atender o núcleo duro da pobreza, os doadores devem estar comprometidos a apoiá-la por um período mais longo.

Por outro lado, há autores como Harper (2001) apud Lima (2009) que não acreditam na existência desse trade-off, pois acreditam que os mais pobres são perfeitamente capazes de pagar as taxas de juros mais altas e ter empreendimentos bem-sucedidos,

A tese central de Harper é que o retorno dos investimentos nos pequenos negócios costuma ser mais alto do que nos maiores, pois estes apresentam produtividade marginal decrescente do capital, o que reforça a ideia de que as microfinanças estão voltadas para os micronegócios, cujos donos são pessoas com micro rendimentos (HARPER, 2001 apud LIMA, 2009), já que apenas esses negócios apresentam retorno suficientemente alto para o pagamento das taxas de juros necessárias para cobrir os custos das IMF’s.

para o público-alvo do microfinanças, o acesso oportuno e ágil ao crédito é mais importante do que o custo desse dinheiro, isto é, as taxas de juros cobradas pelos empréstimos. A razão para isso é que a produtividade marginal do capital é extremamente alta nos microempreendimentos (PARENTE, 2002, p. 35).

Os pequenos negócios, normalmente, possuem elevadas taxas de rentabilidade e giro rápido, resultando em um investimento de alto retorno, capaz de ser alavancado financeiramente, mesmo com o alto custo de capital de terceiros (SOUZA, 2006).

A teoria econômica, através da lei dos rendimentos decrescentes explana, de modo mais genérico, o motivo de os pequenos negócios serem capazes de pagar taxas de juros que, muitas vezes, grandes negócios teriam dificuldades. Empreendedores de baixa renda, especialmente os comerciantes, podem gerar grandes benefícios com unidades adicionais de capital, diferentemente dos negócios altamente capitalizados, porque seu investimento inicial é muito pequeno (SOUZA, 2006).

Ainda de acordo com Souza (2006) a metodologia do microcrédito possibilita a redução dos custos de transação e de oportunidade do tomador de crédito, reduzindo ao máximo a burocracia e fazendo com que o agente de crédito vá até ao cliente evitando seu deslocamento e consequente ausência do trabalho, proporcionando uma compensação entre o custo financeiro e os custos de transação e oportunidade.

Em estudos realizados por Rhyne, Vogel e Christen, com ano base na análise de onze instituições de microfinanças, verificou-se que entre as IMFs com boa performance, não havia nenhuma correlação entre o nível de pobreza dos clientes e a viabilidade financeira da instituição. Para Rhyne (1998) apud Lima (2009), essas instituições desenvolveram métodos tão padronizados e eficientes de atendimento à clientela, que permitiu até mesmo os clientes mais pobres se tornaram capazes de cobrir os seus custos. A questão estaria, portanto, na capacidade das instituições de oferecer eficientemente os serviços, de forma a reduzir seus custos e, consequentemente, suas taxas de juros (LIMA, 2009).

Ainda de acordo com Rhyne (1998) apud Lima (2009), a sustentabilidade e o atendimento aos mais pobres são variáveis que se complementam, pois apenas as IMFs que forem sustentáveis financeiramente conseguirão ter acesso ao funding de

que elas necessitam para aumentar o tamanho da clientela e consequentemente atingir os mais pobres.

Harper (2001) apud Lima (2009) define que uma das “regras de ouro” da microfinanças é que o acesso ao crédito é mais importante do que o seu custo para os pequenos tomadores de empréstimos. Muitas vezes, para proporcionar melhores condições de acesso, as IMFs, além do bom gerenciamento e da inovação, precisam cobrar taxas de juros mais altas. Entretanto, isso não significa que a população de renda mais baixa deva ser excluída dos programas.

No Brasil, por exemplo, a experiência de limitar a taxa de juros praticada no microcrédito, operado com recursos do governo federal, a 2% ao mês para o tomador final, mostrou-se inviável, fazendo o governo flexibilizar essa posição, e permitindo aplicação de taxas, na ponta final, de até 4% ao mês (ALVES; LOPES; MELO, 2009).

Segundo Camargo et al. (2004) as taxas de juros cobradas em operações de microcrédito variam em torno de 3% a 5% ao mês, pois, em 90,91% das organizações as taxas encontram-se dentro deste intervalo. A taxa média encontrada, de 4% ao mês, está abaixo das opções que, normalmente, o microempreendedor encontra no mercado (principalmente o informal), como crédito pessoal e agiota.

Assim sendo, praticar uma taxa de juros adequada, que garanta essa sustentabilidade, favorece a manutenção da equidade na oferta de capital. Do contrário, praticar taxas que não permitam a auto sustentação da instituição operadora, inevitavelmente, levará esta ao encerramento prematuro de suas atividades, reduzindo, dessa forma, a oferta de capital àqueles que não têm acesso às instituições financeiras convencionais (ALVES; LOPES; MELO, 2009).

É importante ressaltar que o objetivo dos programas de microcrédito é permitir o acesso ao crédito àqueles que não são assistidos pelo sistema financeiro tradicional. Sendo que este público, em sua maioria, já utiliza mercados informais de crédito nos quais empreendedores de baixa renda tomam e pagam recorrentemente empréstimos informais, a taxas de juros muito mais elevadas que qualquer instituição de microcrédito formal cobraria. (ALVES; LOPES; MELO, 2009).

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