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2. OS TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

2.4 O Tribunal Penal Internacional

Após cinco anos de negociação no seio das Nações Unidas, no ano de 1998, por ocasião da Conferência Intergovernamental em Roma, na Itália, foi adotado o texto do Estatuto do Tribunal Penal Internacional, o TPI (RAMOS, 2012, p. 275). Tribunal este que surgiu como resposta às atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, quando uma nova consciência tomou conta da humanidade após este importante acontecimento, e após a formação dos Tribunais Penais Internacionais de Nuremberg, Tóquio, bem como os Tribunais ad hoc para a ex Iugoslávia e Ruanda. Desta afirmação, não restam dúvidas.

Precisamente no ano de 1993 o Conselho de Segurança das Nações Unidas, através da Resolução S/RES/808, cria um tribunal internacional para julgar os crimes contra a humanidade praticados na Iugoslávia desde 1991. A partir disso, solicitou-se de forma prioritária, à Comissão de Direito Internacional para concluir o projeto de estatuto do Tribunal Penal Internacional, que vem a entregar o projeto definitivo somente em 1994, contudo, acaba não sendo aceito pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que prefere estabelecer um comitê ad hoc, com a incumbência de rever o projeto, solicitando ainda a todos os Estados que formulassem suas considerações até 1995. Por sua vez, a partir da Resolução S/RES/955, criada pelo Conselho de Segurança da ONU, instituiu um Tribunal Internacional para julgar os crimes de genocídio e outras violações ao direito humanitário internacional cometidos em Ruanda.

Os Tribunais ad hoc concluíram seu trabalho em 1995 e propuseram a criação do Tribunal Penal Internacional para julgar acusados de crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de genocídio. Em dezembro de 1995, a Assembleia Geral cria um comitê para redigir o projeto definitivo a ser apresentado na Conferência Diplomática de Plenipotenciários das Nações Unidas. Em 1996, um movimento de oitocentas organizações não governamentais se forma a fim de pressionar pela criação de um Tribunal Penal Internacional independente, imparcial e eficaz. Em 1998, realiza- se a reunião que conclui a redação final do projeto que vem a ser submetido à Conferência Diplomática de Plenipotenciários das Nações Unidas, realizada em Roma (PIOVESAN, 2004. p. 215).

Enfim, aprova-se o Tribunal Penal Internacional, em 17 de julho de 1998, por ocasião da Conferência de Roma. A aprovação contou com o voto de cento e vinte Estados em detrimento de apenas sete votos contrários: China, Estados Unidos, Iêmen, Iraque, Israel, Líbia e Quatar. Nessa ocasião, cabe ressaltar que houveram vinte e uma abstenções, dentre elas da Índia (RAMOS, 2012, p. 275). Em 01 de julho de 2002, o Estatuto de Roma entrou em vigor. Sem dúvida, essa aprovação foi um avanço decisivo na proteção internacional aos Direitos Humanos.(PIOVESAN, 2004, p. 214). Segundo André de Carvalho Ramos (2012, p. 275), “até hoje notam-se ausências expressivas, como as da China, Estados Unidos, Israel, Irã e Rússia”.

A ideia central da criação do Tribunal Penal Internacional destinava-se a criar um regime de cidadania mundial onde todas as pessoas sem qualquer distinção tivessem direitos e deveres em relação à humanidade, não adstritos apenas à soberania de um Estado, mas sim, regras de escala mundial que viessem a fixar normas de responsabilização penal para a prática de crimes que atentassem contra a dignidade humana. Assim, os criminosos, o julgamento e a punição não restariam limitados ao conceito de uma soberania determinada, mas sim, atrelados a regras de âmbito internacional.

Nas palavras de Mazzuoli (2005, p. 32), o Tribunal Penal Internacional

Trata-se da primeira instituição global permanente de justiça penal internacional, com competência para processar e julgar os chamados crimes internacionais, entendendo-se como tais as violações das obrigações essenciais para a manutenção da paz e da segurança da sociedade internacional em seu conjunto.

Somente no ano de 2000, Estados Unidos e Iraque assinam o tratado, após negativa repercussão política de suas oposições ao tratado. Contudo, após os ataques terroristas de 2001, e a posterior guerra do Afeganistão e Palestina, que representaram flagrantes desrespeitos às normas internacionais, a ratificação do tratado por tais países tornou-se insustentável. A consequência disso é que em 2002, os Estados Unidos notificou o Secretário Geral das Nações Unidas da intenção em não participar do Tratado, desautorizando a adesão feita em 2001. Israel igualmente fez em 2002, mediante declaração enviada ao Secretário Geral das Nações Unidas (MAZZUOLI, 2005, p. 34).

O Tratado entrou em vigor em 11 de abril de 2002, com 65 ratificações encaminhadas ao Secretário Geral das Nações Unidas. Após decorridos sete anos, qualquer Estado poderia propor alterações no estatuto, desde que encaminhadas ao

Secretário geral das Nações Unidas. Para isso, é necessário alcançar, no mínimo, dois terços de votos, ao passo que para solicitar alterações acerca do funcionamento interno do Tribunal basta solicitar a qualquer momento. A revisão das disposições do estatuto se faz a partir do sétimo ano, ficando o Secretário Geral da ONU encarregado de convocar a Conferência de Revisão (LIMA, 2006, p. 59).

O Tribunal possui personalidade jurídica internacional, e sua sede está localizada em Haia, na Holanda. É um Tribunal independente da ONU, no que diverge dos Tribunais Ad Hoc da Ex Iugoslávia e Ruanda, os quais foram criados pelo Conselho de Segurança da ONU. No entanto, o Tribunal Penal Internacional, possui uma relação de cooperação com a Organização das Nações Unidas, uma vez que envia relatórios anuais à Assembleia Geral (RAMOS, 2012, p. 276).

A formação do Tribunal está baseada em quatro órgãos principais, a saber: Presidência, Divisão Judicial, Procuradoria (Ministério Público) e Secretariado. O Ministério Público será representado pelo Procurador, eleito pela Assembleia dos Estados Partes para um mandato de nove anos, não renovável. Sua função é receber as denúncias sobre crimes que sejam de competência do Tribunal Penal Internacional, fazer a investigação necessária, a fim de exercer a ação penal junto ao Tribunal (RAMOS, 2012, p. 276). Valério de Oliveira Mazzuoli (2005, p. 41), atenta para o fato de que o Gabinete do Procurador “atuará de forma independente, enquanto órgão autônomo do Tribunal, cabendo-lhe recolher comunicações e quaisquer outros tipos de informações, devidamente fundamentadas, sobre crimes da competência do Tribunal”.

Três propostas foram formuladas no tocante à jurisdição. A primeira delas, proposta pela Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas, que previa a liberdade dos Estados em aceitar ou rejeitar a jurisdição do Tribunal, a segunda proposta pela França, que previa a aquiescência de todos os Estados envolvidos e a terceira, proposta pela Alemanha, que previa a jurisdição universal e direta do Tribunal. Ao final, após proposta da Coréia do Sul, elaborou-se um sistema complexo de jurisdição restrita e complementar.

Este sistema contempla, primeiramente, do entendimento de que a aceitação dá pleno direito a jurisdição do Tribunal. Porém, algum Estado que não fizesse parte do Tratado, poderia mesmo assim aceitar a sua jurisdição. Assim, o Tribunal Penal Internacional, em resumo, poderia exercer a sua jurisdição sobre os Estados em duas situações: quando o Estado tivesse aceito o tratado, ou então fosse cometido algum crime no território daquele Estado (RAMOS, 2012, p. 280).

A jurisdição do Tribunal Penal Internacional é complementar, isto é, para que o tribunal haja é necessário o esgotamento de todos os procedimentos internos do Estado. Ademais, essa jurisdição somente será exercida sobre os crimes cometidos após a vigência do estatuto, ressalvada a anuência do Estado em consentir que o tribunal venha a exercer a sua jurisdição. De acordo com Flávia Piovesan (2004, p. 214):

O Tribunal Internacional Criminal Permanente surge como aparato complementar às cortes nacionais, com o objetivo de assegurar o fim da impunidade para os mais graves crimes internacionais, considerando que, por vezes, na ocorrência de tais crimes, as instituições nacionais mostram-se falhas ou omissas na realização da justiça. Afirma-se, deste modo, a responsabilidade primária do Estado com relação ao julgamento de violações de direitos humanos, tendo a comunidade internacional a responsabilidade subsidiária. Vale dizer, a Jurisdição do Tribunal Penal Internacional é adicional e complementar à do Estado, ficando, pois, condicionada à incapacidade ou à omissão do sistema judicial interno.

Portanto, a relação existente entre o Tribunal Penal Internacional e os Estados, é uma relação de complementaridade, uma vez que o tribunal somente será chamado a atuar, se o Estado não puder ou não quiser atuar. Importante também lembrar da cooperação entre Estados, vez que o Tribunal Penal Internacional não possui poder de polícia próprio, e ainda, a diferença no caso da complementaridade, para com os tribunais ad hoc, que são concorrentes às jurisdições estatais e têm primazia sobre os tribunais nacionais (MAZZUOLI, 2005, p.36).

Ainda a respeito da jurisdição do TPI, interessante ressaltar seus limites. Quanto à matéria, o Tribunal poderá julgar os crimes anteriormente mencionados, para o qual foi criado. No entanto, há a possibilidade de os Estados-Partes emendarem o Estatuto, aumentando este rol. Quanto aos limites espaciais, a jurisdição do TPI poderá ser chamado a atuar somente quando o crime for cometido no território de algum Estado – parte, ou por nacional do Estado – Parte, ou ainda, por meio de declaração específica de Estado não contratante. Por fim, quanto à limitação temporal, o TPI somente poderá ser invocado para o julgamento de crimes cometidos após a entrada em vigor do Estatuto, ou seja, após 1º de julho de 2002 (RAMOS, 2012, p. 278).

Considerando a característica de sistema subsidiário que cabe ao Tribunal Penal Internacional, importante se faz mencionar os requisitos de admissibilidade para o exercício da jurisdição internacional. Entre tais requisitos, conforme prevê o artigo 17 do Estatuto, estão a indisponibilidade do Estado Parte, quando por exemplo houver demora injustificada ou faltar independência ou imparcialidade no julgamento do crime.

Ademais, importante ressaltar que a decisão de mérito, de condenação ou absolvição fará coisa julgada não somente em relação ao Tribunal Penal Internacional, mas também em relação a qualquer outro tribunal, ou seja, uma pessoa já julgada pelo Tribunal Penal Internacional não poderá ser julgada novamente por outro tribunal em relação ao mesmo crime.

Por outro lado, uma decisão de mérito de um Estado igualmente faz coisa julgada em relação ao Tribunal Penal Internacional, salvo se a intenção tenha sido subtrair o acusado da responsabilização pelo crime de competência deste, ou então acaso o processo não tenha sido conduzido de forma imparcial e que venha a demonstrar que o acusado não se submeteu a um processo justo.

Quanto aos crimes de competência do Tribunal Penal Internacional, foram contemplados o genocídio, crimes contra a humanidade, e os crimes de guerra. Ficaram de fora os crimes de terrorismo e o trafico de entorpecentes. Mas, tais crimes poderão ser incluídos por ocasião de uma revisão do Estatuto. Interessante mencionar que, os crimes contra a humanidade, inicialmente, o art. 6º, c do Estatuto, definia como sendo crimes contra a humanidade o assassinato, o extermínio, a escravização, deportação ou outros inumanos cometidos contra a população civil antes ou durante a guerra. Posteriormente, no entanto, não mais exigiu-se a condição do cometimento ligado à guerra, quando após Nuremberg, a prática dos Estados reconheceu como crimes contra a humanidade, alguns praticados durante período ditatorial (RAMOS, 2012, p. 283).

O crime contra a humanidade trata-se de um ataque sistematizado, ou seja, o crime é executado a partir de um plano previamente estabelecido. A vítima deste crime, portanto, é a população civil. São considerados crimes contra a humanidade o homicídio, o extermínio (entendendo-se como tal a imposição intencional de condições de vida, tais como a privação do acesso a alimentos e a tratamento médico, capazes de provocar a destruição de parte da população), a escravidão, deportação ou transferência forçada da população, encarceramento, tortura, violência sexual, estupro, prostituição e esterilização forçadas, desaparecimento forçado, perseguições por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, o crime de apartheid, dentre outros crimes que atentem gravemente a integridade física ou mental. (COMPARATO, 2001, p. 245).

Por fim, também foram mencionados os crimes de Guerra, no artigo 8º do Estatuto, quando ocorridos dentro de um plano ou programa de ação. O armamento nuclear é considerado implícito dentro da regra desse artigo. São considerados crimes

de guerra o homicídio doloso, a tortura, causar intencionalmente sofrimento ou ofensa à integridade física e a saúde, a destruição de bens em escala grande, privação de um prisioneiro a um julgamento justo e imparcial, deportação ilegal, tomada de reféns, dentre outros. Os crimes de guerra envolvem principalmente as violações ao Direito Internacional Humanitário, especialmente às Convenções de Genebra de 1949 (RAMOS, 2012, p. 284).

O Estatuto aceitou e consagrou princípios que serão interpretados pela legislação, doutrina e jurisprudência de todos os Estados que o ratificarem. Os principais e mais comentados pela doutrina são o princípio da anterioridade da lei penal, e o princípio da legalidade, onde, por decorrência do primeiro, o Estatuto não terá efeito retroativo, ou seja, ninguém será considerado responsável pela pratica de um crime antes da entrada em vigor (artigo 22 e 23) e, quanto ao segundo, somente poderão ser crimes com punição severa os atos que a consciência ética da coletividade e não a opinião pessoal de juízes ou então de interesse particular de quem detém o poder político. Ou seja, o crime praticado deve estar contemplado pela legislação antes de sua ocorrência. Cada crime possui uma individualidade única, precisa e inconfundível. Logo, não pode ser imputado um crime que não esteja previsto no Estatuto, proibindo a utilização da analogia (LIMA, 2006, p. 99).

Com relação à idade, somente as pessoas naturais podem ser sujeitos ativos dos crimes previstos no Estatuto (artigo 25, I), além de fixar a maioridade penal em 18 anos (artigo 26). A princípio, o Estado não é punido, contudo, a Convenção para prevenção e a repressão do crime de genocídio aplica no disposto do artigo 1º que todos os Estados assumem o dever de prevenir e punir os crimes de genocídio, o que faz com que se tornem responsáveis pelos atos de seus entes. Nesse sentido, o estatuto prevê a punição independentemente da qualidade de chefe de estado e de governo ou parlamento, isto é, não há imunidade dessas pessoas que poderão ser julgadas pelo Tribunal Penal Internacional, que se aplica de igual forma aos chefes militares, de acordo com o artigo 28 (ROMA, Estatuto Tribunal Penal Internacional).

Os crimes previstos no estatuto que são de competência do Tribunal Penal Internacional não estão sujeitos à prescrição (artigo 29), bem como são considerados crimes sempre dolosos, admitindo tanto o dolo direto como o dolo eventual (artigo 30). O Estatuto igualmente prevê as causas de exclusão da responsabilidade criminal, não havendo distinção das causas de inimputabilidade e causas excludentes da ilicitude. (artigo 31). O Tribunal somente terá competência para julgar crimes ocorridos após 1º

de julho de 2002, data em que o Estatuto de Roma entrou em vigor internacional (MAZZUOLI, 2005, p. 38).

Quanto à sua composição, o Tribunal Penal Internacional é formado por um grupo de 18 juízes, podendo ser ampliado a critério da presidência (artigo 36, I e II). Um juiz será provido a partir da proposta de um Estado e deliberado pela Assembleia dos Estados membros. Seus mandatos são de 9 anos, não podendo ser reeleitos ( GONÇALVES, 2001, p. 256). Deverão ter conhecimento e fluência nas línguas de trabalho do Tribunal Penal Internacional, qual seja, inglês e Francês. Deverão ter experiência e conhecimento em direito penal, direito processual penal, direito internacional e principalmente em direitos humanos e direito humanitário. O Tribunal Penal Internacional não poderá ter mais de um Juiz do mesmo Estado membro (RAMOS, 2012, p. 276). Ainda nas palavras do mesmo autor (2012, p. 276),

O Estatuto prevê que os juízes devem ser eleitos de modo a preencher, isonomicamente, duas categorias: a primeira categoria (“lista A”) é composta por pessoas com experiência em Direito Penal e Processo Penal; A segunda categoria (“lista B”) é composta por pessoas com competência em matérias relevantes de Direito Internacional, tais como o direito internacional humanitário e os direitos humanos.

Os juízes do Tribunal Penal Internacional, trabalham em uma das três seções: o Juízo de instrução, o juízo de Julgamento em 1ª instância e ainda o Juízo de apelação. Em relação ao inquérito e ao procedimento criminal, o inquérito é conduzido pelo promotor enquanto que a instrução criminal é conduzida pelos juízes do Tribunal Penal Internacional. Nem o acusado nem o indiciado são obrigados a depor contra si mesmos ou se declararem culpados. A sentença somente será proferida quando já não houver dúvida quanto à culpabilidade do acusado. O processo criminal possui duas fases: instrução e julgamento. Após o termino da instrução, o juiz profere sentença seja de pronuncia ou impronuncia. A sentença de mérito é suscetível de recurso ou revisão (LIMA, 2006, p. 71).

O início de alguma investigação pode ocorrer de três maneiras: 1) por iniciativa do próprio procurador; 2) pela remessa de um Estado- Parte ou por declaração específica de Estado não parte e; 3) por decisão do Conselho de Segurança, caso em que abrangerá inclusive Estados não contratantes. De acordo com André de Carvalho Ramos (2012, p. 284), “até o momento (2011), três Estados – Partes já remeteram casos ao TPI: Uganda, Congo e República Centro Africana. O Procurador já iniciou ação envolvendo

crimes internacionais no Quênia e o Conselho de Segurança já remeteu o caso de Darfur e da Líbia”.

A pena aplicada pelo Tribunal Penal Internacional é a prisão, não podendo ultrapassar 30 anos, com uma excepcionalidade em relação à pena perpétua, que poderá ser adotada quando justificada pela extrema gravidade do crime e pelas circunstâncias pessoais do condenado, conforme o artigo 77 do Estatuto. Além da sanção penal, alternativamente poderá ser estabelecida também, sanção civil, determinando a reparação às vítimas e aos seus familiares. É o que versa o artigo 75 do Estatuto (GONÇALVES, 2001, p. 289). De acordo com André de Carvalho Ramos (2012, p. 286), “as penas podem passar por revisão a favor do sentenciado após 2/3 do seu cumprimento”. Já nas penas de caráter perpétuo, a revisão poderá ocorrer após 25 anos de cumprimento.

De uma maneira geral, da sentença emitida pelo Tribunal, cabe recurso, desde que presentes alguma das justificativas, como erro de fato, vício processual, erro de direito ou qualquer outro motivo que possa colocar em risco a observância da equidade ou a regularidade do processo ou da sentença (RAMOS, 2012, p. 285).

A respeito da criação de uma jurisdição internacional, observa Norberto (2002, p. 25), que as atividades internacionais na área dos direitos humanos podem ser classificadas em três categorias: promoção, controle e garantia. Nas palavras de Flávia Piovesan (2004, p. 313):

As atividades de promoção correspondem ao conjunto de ações destinadas à introdução e aperfeiçoamento da disciplina dos direitos humanos pelos Estados. Já as atividades de controle envolvem as atividades que cobram dos Estados a observância das obrigações por eles contraídas internacionalmente. Por fim, a atividade de garantia só será criada quando uma jurisdição internacional se impuser concretamente sobre as jurisdições nacionais, deixando de operar dentro dos Estados, mas contra os Estados em defesa dos cidadãos.

Seguindo este raciocínio, pode-se chegar a conclusão de que, até a aprovação do Tribunal Internacional Criminal Permanente, o sistema global de proteção só compreendia as atividades de promoção e de controle dos direitos humanos, não dispondo de um aparato de garantia desses direitos.

Marcel Fortuna Biato afirmou, no prefácio da obra de Elio Cardoso, intitulada “Tribunal Penal Internacional: conceitos, realidades e implicações para o Brasil”, que as violações aos direitos humanos contempladas em processos abertos pelo Tribunal Penal

Internacional – todos na África estariam intimamente ligadas às precárias condições sociais e a marginalidade econômica da população (2012, p. 25).

Resta claro o objetivo do Tribunal Penal Internacional é a cooperação entre os Estados, na luta pela proteção aos direitos humanos, por meio da criação e sustentação de cortes nacionais eficazes e duradouras. Ou seja, a maior preocupação, pelo que se luta, é pela garantia de que os Direitos Humanos serão respeitados em qualquer parte do planeta.

No entanto, cabe ressaltar algumas ressalvas, concessões feitas pelo Estatuto do Tribunal Penal Internacional. A primeira a ser mencionada, é a possibilidade de suspensão do art. 8º, o qual versa acerca da punição aos crimes de guerra, pelo período de 7 anos. Como lembrado por André de Carvalho Ramos (2012, p. 277), “essa exceção foi aproveitada pela França e pela Colômbia. A França retirou sua declaração em 2008. Já a declaração Colombiana perdeu o sentido, pois o Estatuto a vincula há mais de 7 anos”.

Além disso, o Estatuto, em seu artigo 98, também traz a possibilidade aos Estados contratantes de não colaborar para a entrega de um estrangeiro ao Tribunal Penal Internacional, caso tenha firmado acordos de imunidade. Nesse sentido, afirma André de Carvalho Ramos (2012, p. 277) que

Justamente por isso que os Estados Unidos, que possuem tropas espalhadas pelo mundo (várias delas estacionadas em países partes do TPI) se esforçam em ratificar esse tipo de acordo para proteger seu pessoal de acusações de crimes jus cogens. O Brasil recusou-se a celebrar esse tipo de acordo com os EUA, mostrando firmeza no respeito ao papel do TPI no combate à impunidade dos violadores bárbaros de direitos humanos.

Quando se está a tratar de um importante Tribunal como o Internacional Penal, importante trazer os dados acerca das atividades realizadas, e dos custos gerados por