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3. O SISTEMA AMERICANO DE DIREITOS HUMANOS E SEUS ÓRGÃOS

3.4 Os órgãos do Sistema Americano e as Jurisdições Nacionais

Dito isto, é possível agora realizar uma análise dos principais casos ocorridos em países inseridos no Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, para verificar a eficiência deste sistema. Inicia-se pelo resgate de alguns casos envolvendo o Brasil. O principal caso é o que envolveu a brasileira Maria da Penha. Para entender tal caso, é necessário realizar uma abordagem prévia dos direitos humanos das mulheres, uma vez que a violação cometida neste caso refere-se ao gênero.

Neste sentido, deve se lembrar que os direitos humanos das mulheres ganharam visibilidade nos últimos anos, sendo pauta constante de reuniões dentro do sistema internacional de proteção aos direitos humanos. Em 1993, durante a Conferência Mundial de Direitos Humanos, sediada em Viena, as mulheres levantaram uma campanha, apresentando como tema “os direitos das mulheres também são direitos humanos”. Nesse passo, a violência doméstica e familiar foi inserida como forma de violação aos direitos humanos das mulheres (ABREU, 2010).

Antes disso, o Brasil já havia ratificado a Convenção para Eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW – Convention on the Elimination of all Discrimination against Womwn), em 1984. Esse documento internacional, em seu artigo 1º, conceituou a discriminação contra a mulher como toda distinção, exclusão ou restrição fundada no sexo e que tenha por objetivo ou consequência prejudicar ou destruir o reconhecimento, gozo ou exercício pelas mulheres, independentemente do seu estado civil, com base na igualdade dos homens e das mulheres, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo (SOUZA, 2009).

Além da Convenção para eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, o Brasil também ratificou no ano de 1995 a Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, também chamada de Convenção de Belém do Pará. Esta convenção foi adotada pelos países da OEA (Organização dos Estados Americanos). Esta convenção teve o propósito de discutir a violência doméstica contra a mulher. Conceituou em seu art 1º a violência contra a mulher sendo

qualquer ação ou conduta baseada, no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico contra a mulher, tanto no âmbito público como no privado (SOUZA, 2009).

Quanto ao caso mencionado, trata-se da história de Maria da Penha Maia Fernandes, que foi vítima de violência doméstica, sofrendo duas tentativas de homicídio, vindas de seu ex marido. A vítima buscou a legislação nacional, no entanto, não obteve êxito. Apenas 19 anos depois de cometido o crime contra Maria da Penha, é que Marco Antônio, o ex marido foi preso, sendo que cumpriu apenas dois anos da pena imposta. Diante de tanta injustiça, no ano de 2001 Maria da Penha formalizou sua insatisfação judicial perante o Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL), e perante o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), sendo que a partir daí a denúncia foi encaminhada à Comissão Internacional de Direitos Humanos (ABREU, 2010, p. 6).

A denúncia culminou no relatório 54/01, o qual concluiu ter sido o Brasil omisso de uma forma geral em relação à violência doméstica contra as mulheres, e especificamente no que diz respeito a repressões que deveriam ter sido tomadas contra o agressor no caso Maria da Penha. Recomendou que fossem tomadas medidas que garantissem a efetividade dos direitos já reconhecidos na Convenção Americana e na Convenção de Belém do Pará. Segundo disposição do relatório, este considerou

Que o Estado violou os direitos e o cumprimento de seus deveres segundo o art. 7 da Convenção de Belém do Pará em prejuízo da Senhora Fernandes, bem como em conexão aos arts. 8 e 25 da Convenção Americana e sua relação com o art. 1 da Convenção, por seus próprios atos omissivos e tolerantes da violação infligida (SOUZA, 2009, p. 24).

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos determinou ainda que o Estado do Ceará (estado onde ocorreu o crime) pagasse à Maria da Penha o valor de R$ 20.000,00 a título de indenização pela morosidade judicial (MACEDO, 2010). Além disso, após o caso ilustrado, em 2006, houve a criação da Lei 11.340/2006, conhecida

como a Lei Maria da Penha, que traz por finalidade criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

A referida lei tornou as penas aos agressores mais graves, uma vez que antes, as penas eram brandas, e na maioria das vezes, consistiam no pagamento de cestas básicas ou multas, em função da Lei 9.099. Agora, os crimes praticados em regime de violência doméstica contra as mulheres, não permitem mais o pagamento de cestas básicas ou multa, e as penas agora podem chegar a 3 anos de prisão, com a possibilidade de prisão em flagrante ou prisão preventiva decretada quando houver riscos de integridade física ou psicológica da vítima. Segundo Macedo (2010, p. 3),

O desfecho desta história é considerado de imensa relevância, pois, historicamente a mulher era vista como sexo frágil, submissa ao homem e proibida de exercer seus direitos civis, como votar por exemplo. Foi com muita determinação e garra que as mulheres conseguiram reverter o cenário preconceituoso e paternalista a todos submetido, garantido inclusive na Carta Magna brasileira, com o art. 5°, Inc I, a igualdade de deveres e obrigações entre homens e mulheres. Hoje, se vê mulheres ocupando cargos altos, votando, opinando em grandes causas.

Tratando-se do Estado Brasileiro, há ainda mais casos a serem mencionados. De acordo com André de Carvalho Ramos (2012, p. 237),

Em casos contenciosos julgados envolvendo o Brasil, já houve sentença de mérito (até o final de 2010) em alguns casos: o caso Damião Ximenes Lopes (procedência), o caso Gilson Nogueira de Carvalho (improcedência), os casos Garibaldi e Escher e outros (procedência em ambos) e, em 24 de novembro de 2010, o caso Gomes Lund e outros (procedência).

Vale lembrar que o caso Damião Ximenes Lopes, supra mencionado, foi o primeiro caso em que o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Proteção aos Direitos Humanos, o que ocorreu em 04 de julho de 2006, quando a sentença condenatória foi prolatada em San José, Costa Rica. O caso que ficou conhecido como “Ximenes Lopes”, refere-se ao brasileiro Damião Ximenes, que realizava tratamento psiquiátrico por conta de crises mentais. Damião fora internado na Casa de Repouso Guararapes, onde foi vítima de maus tratos, diversas violações a direitos humanos. De acordo com Paixão (2007, p. 5)

Três dias depois, quando D. Albertina Ximenes Lopes voltou à clínica, foi impedida de visitar o filho, desesperada, passou a gritar por Damião, seu filho surgiu então “cambaleando, com as mãos amarradas para trás, roupa toda estragada, a mostrar a cueca, corpo sujo de sangue, fedia a urina, fezes e sangue podre. Nas fossas nasais bolões de sangue coagulado. Rosto e corpo apresentavam sinais de ter sido impiedosamente espancado”.

Os responsáveis pelas violações eram os enfermeiros e demais profissionais da saúde. Damião veio a falecer na clínica, sendo que o atestado médico afirmava que a morte teria sido natural, resultante de uma parada cardiorrespiratória. A partir daí, a família Ximenes Lopes iniciou sua maratona na busca de esclarecimento dos fatos ocorridos na clinica, e também pela punição dos responsáveis (PAIXÃO, 2007, p. 6).

Vários órgãos foram acionados, inclusive muitos defensores de direitos humanos. Em nível administrativo, a Casa de Repouso Guararapes sofreu investigações, auditorias e acabou por ser descredenciada. Foi em 1999 então que a irmã de Damião levou o caso até a Comissão Interamericana. A denúncia trouxe a violação dos direitos à vida, à integridade pessoal, a proteção à honra e dignidade de Damião Ximenes Lopes, e o direito a recurso judicial (PAIXÃO, 2007, p. 8).

O Brasil foi cientificado da denúncia, e recebeu o prazo de 90 dias para apresentação de resposta. No entanto, restou silente quanto à denuncia realizada, motivo pelo qual a Comissão aprovou o relatório de admissibilidade da petição. Na etapa seguinte, qual seja, da conciliação, o Brasil se manteve inerte, sendo que a Comissão então aprovou o relatório de admissibilidade da denúncia, pela violação de direitos assegurados na Convenção Americana. De acordo com Paixão (2007, p. 9)

Nos termos da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a Comissão recomendou ao Estado Brasileiro a adoção de uma série de medidas para reparar essas violações. O relatório de Admissibilidade foi encaminhado ao Estado Brasileiro, fixando-se o prazo de 2 meses para que informasse sobre as medidas adotadas para o cumprimento das obrigações.

O Brasil apresentou no ano de 2004 um relatório à Comissão, a respeito de sua atuação na efetivação das recomendações por esta realizadas, bem como contestou o Relatório de admissibilidade aprovado pela Comissão. Mesmo assim, em 30 de setembro de 2004 a Comissão encaminhou o caso à Corte Interamericana de proteção aos direitos humanos (PAIXÃO, 2007, p. 10).

Na sentença, reconheceu-se o Estado brasileiro como responsável parcial pela violação dos direitos à vida e à integridade, contemplados nos artigos 4.1, 5.1 e 5.2 da Convenção, e o Brasil foi condenado ao pagamento de indenização às vítimas – D.Albertina Viana Lopes, mãe; Francisco Leopoldino Lopes, pai; Irene Ximenes Lopes Miranda, irmã, e Cosme Ximenes Lopes, irmão gêmeo - como forma de reparação pelos danos sofridos. Em 17.08.2007, o Estado Brasileiro pagou as indenizações fixadas pela Corte no valor de US$ 146.000,00 (cento e quarenta e seis mil dólares). No entanto, a responsabilização penal pelos crimes cometidos contra Damião, ainda não havia sido

concluída, sendo que o Brasil firmou um convênio com o Conselho Nacional de Justiça no sentido de uma “prestação jurisdicional rápida e satisfatória” (PAIXÃO, 2007, p. 17).

Ainda a respeito da efetividade e funcionamento do Sistema Interamericano, vale a pena lembrar dos casos 1683 e 1684, onde o Estado Brasileiro foi acusado de repetidas violações aos direitos humanos, especificamente nos anos 1969 e 1970, auge da ditadura militar. O caso começou a ser analisado em 1971, e, após 3 anos de estudo, a Corte Interamericana considerou existentes as violações denunciadas, recomendado ao Brasil a determinação dos fatos, sendo esta recusada pelo governo brasileiro da época (RAMOS, 2012, p. 200).

O Brasil naquela época, ainda não tinha ratificado a Convenção Americana de Direitos Humanos, mas, mesmo assim, foi responsabilizado com base nos dispositivos genéricos da Carta da OEA, na Declaração Americana de 1948 e ainda no Estatuto e Regulamento da Comissão (RAMOS, 2012, p. 200).

Ainda em relação ao Brasil na fase anterior à ratificação da Convenção, importante citar o caso dos índios Yanomani, descrito no caso de nº 7615, onde foi denunciada perante a Comissão Interamericana, uma invasão às terras demarcadas da comunidade indígena Yanomani nos Estados do Amazonas e antigo território de Roraima, com graves consequências para a saúde e integridade física dos membros daquela tribo (RAMOS, 2012, p. 200). Segundo o autor André de Carvalho Ramos (2012, p. 200):

Após informações do governo brasileiro, a Comissão elaborou a resolução n. 12/85, de 5 de março de 1985, concluindo que se verificaram, no caso, violações aos direitos reconhecidos dos índios Yanomani, a saber: direito à vida, direito à liberdade e à segurança, direito de residência e trânsito e direito à preservação da saúde e bem estar. Recomendou, então, a Comissão que o Estado brasileiro continuasse seu programa de delimitação das terra indígenas, bem como desse amparo material (através de programas de saúde e educação, entre outros) à comunidade indígena. O governo brasileiro não refutou as recomendações, tendo o caso não mais figurado nos relatórios Anuais da Comissão.

Outro caso que contou com o Brasil no banco dos réus, foi o caso Araguaia, o qual virou longa metragem brasileiro inclusive (“Araguaya, a conspiração do silêncio”, lançado em 2004, sob a direção de Ronaldo Duque). Para a Corte restou provado que entre os anos de 1972 e 1974 na região brasileira do Araguaia (Sul do Pará, divisa com Goiás e Maranhão), agentes estatais foram os responsáveis pelo desaparecimento forçado de 62 pessoas identificadas como vítimas. Na sentença, a Corte afirma que

O Direito Internacional e os precedentes dos órgãos dos sistemas universais e regionais de proteção aos direitos humanos dispõem que “são inadmissíveis as disposições de anistia, as disposições de prescrição e o estabelecimento de excludentes de responsabilidade, que pretendam impedir a investigação e punição dos responsáveis por graves violações dos direitos humanos, como a tortura, as execuções sumárias, extrajudiciais ou arbitrárias, e os desaparecimentos forçados, todas elas proibidas, por violar direitos inderrogáveis reconhecidos pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos (RAMOS, 2012, p. 369).

Além deste caso, ainda no objetivo de evidenciar a influência que o Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos exerce sobre a Jurisdição Nacional, várias situações podem ser ilustradas. Uma que com certeza é bastante polêmica, é a que trata da impossibilidade da prisão civil para o depositário infiel, trazida pela Convenção Americana de Direitos Humanos, e que teve que ser incorporada ao direito brasileiro, que até então, permitia tal espécie de prisão (MELO, 2000, p. 317). Especificamente o art. 7º, § 7º, é que restringe a prisão civil por inadimplência, somente nos casos de obrigação alimentar (COMPARATO, 2001, p. 366). Tal implementação ou alteração no caso dos países que permitiam a prisão civil por dívidas, com certeza trouxe uma mudança significativa na vida não só do Estado, mas de todos os seus cidadãos.

Outra alteração muito significativa se refere à proibição da pena de morte. Em 1990, um novo protocolo adicional à Convenção Americana foi adotado (além do protocolo adicional de 1988). Este segundo, relativo à abolição da pena de morte, que também foi adotado pela Assembleia Geral da OEA (ALVES, 1994, p. 81). De acordo com Comparato (p.365), “A Convenção não só proíbe o restabelecimento da pena capital nos países que a tenham abolido, como ainda veda a sua aplicação em se tratando de crimes políticos ou comuns a ele conexos”. Entende-se que tal ordem, constitui-se em verdadeiro avanço em relação aos direitos humanos.

Além do Brasil, outros países vizinhos também foram denunciados por violações aos direitos humanos. Ocorreu, por exemplo, com a Argentina, cuja denúncia envolve a questão dos desaparecimentos forçados sob influência da Ditadura. Na ocasião, como já mencionado anteriormente no presente trabalho, a Comissão Interamericana enviou uma missão, que ficou instalada naquele Estado por 14 dias. Importante passagem encontra- se na obra de Lindgren Alves (1994, p. 82), acerca da referida missão. Trata-se do pronunciamento do ex secretário Geral da Comissão Internacional de Juristas, que se manifestou no seguinte sentido:

...Tivemos experiência semelhante a propósito do fim dos desaparecimentos maciços na Argentina sob a Ditadura. Numerosas ONGs as haviam relatado pormenorizadamente, mas o governo descartava os informes como propaganda inspirada por comunistas. Entretanto, como resultado dos relatos das ONGs, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos enviou uma missão à Argentina, que chegou às mesmas conclusões e publicou relatório muito forte e bem documentado condenando os desaparecimentos. Em resposta a essa pressão intergovernamental, o governo afinal cedeu e, primeiramente reduziu e, em seguida, encerrou a prática.

As missões in loco, além de resolverem questões em ocorrência, também possuem caráter preventivo, uma vez que, quando da publicação internacional de algum estudo de caso de algum Estado específico, outros Estados que muitas vezes encontram- se em desacordo com a ordem jurídica internacional, realizam alterações legislativas necessárias para a efetivação dos direitos humanos.

Cite-se por oportuno, a primeira visita in loco realizada em território brasileiro. De 27 de novembro a 9 de dezembro de 1995, uma missão organizada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos permaneceu no Brasil, oportunidade em que reuniu-se com membros do governo e também da sociedade civil, tomando depoimentos e coletando dados. A partir dessas reuniões, a Comissão pode finalizar um relatório que procurou demonstrar a realidade dos direitos humanos no Brasil, além de trazer recomendações para a promoção destes (RAMOS, 2012, p. 199).

Também pelo desaparecimento forçado de pessoas, sofreu condenação o Estado de Honduras, no caso Velásquez, já citado no presente trabalho, na parte em que se versou acerca da Corte Interamericana de Proteção aos Direitos Humanos. Neste caso, a Corte conduziu uma séria investigação, e ao final, decidiu pela indenização do Estado de Honduras à família da vítima, sob a seguinte fundamentação:

O desaparecimento forçado de seres humanos é uma violação múltipla e contínua de muitos direitos contidos nesta Convenção, aos quais os Estados - parte são obrigados a respeitar e a garantir. Esta obrigação implica no dever dos Estados - partes de organizar um aparato governamental, e em geral, todas as estruturas nas quais o poder público é exercido, sendo assim capazes de juridicamente assegurar o livre e pleno exercício dos direitos humanos (...). A falha do aparato estatal de agir, que está claramente provada, reflete a falha de Honduras em satisfazer as obrigações assumidas em face do art. 1.1da Convenção. (GOMES, 2000, p. 49).

Além do Brasil, Argentina e o Estado de Honduras, o Peru também sofreu denúncias e condenação por parte da Corte. Trata-se do caso Loayza Tamayo versus Peru (1997), que retratou a primeira vez em que a Corte manifestou-se no sentido de considerar que as disposições de direito interno eram incompatíveis com a Convenção,

ao afirmar em sua sentença que “os decretos-leis peruanos que tipificaram os delitos de terrorismo e “traición de La pátria” eram incompatíveis com o artigo 8 (4) da Convenção”. Tal sentença terminou com os chamados “juízes sem rosto” no Peru, e libertou a prisioneira María Elena Loayza Tamayo (TRINDADE, 2003, p. 69).

Muito importante mencionar ainda, a questão da edição de medidas provisórias, como mencionado anteriormente, no caso Urso Branco, Casa de detenção localizada em Porto Velho, Rondônia, onde a Comissão utilizou-se de tal procedimento, ao solicitar que o Estado adotasse medidas urgentes para evitar que continuassem ocorrendo violações, e para melhorar as precárias condições em que os detentos viviam (RAMOS, 2012, p. 233).

Em caso de descumprimento parcial ou total das medidas impostas aos Estados violadores, a Corte Interamericana poderá incluir o caso no relatório anual que é encaminhado à Assembleia Geral da OEA. No entanto, a OEA tem sofrido algumas críticas, no sentido de não ser ela o órgão competente para informar os descumprimentos da Corte. Essas críticas iniciaram especificamente no caso Velásques, onde a Corte incluiu em seu relatório o descumprimento das medidas, e a Assembleia Geral da OEA, no entanto, ao publicar a aprovação do informe de 1990, nada mencionou acerca do descumprimento (RAMOS, 2012, p.238). Ainda de acordo com André de Carvalho Ramos (2012, p. 238),

A implementação das decisões da Corte e da Comissão exigem uma participação mais ativa da Assembleia Geral e do Conselho Permanente da OEA. Com efeito, a Assembleia tem se restringido a aprovar os informes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sem adotar medidas específicas para que o Estado violador cumpra com as medidas da Comissão, o que pode consistir no pagamento de uma indenização pecuniária ou mesmo na exigência de reforma de normas legais internas.

Além disso, o Sistema Interamericano de proteção aos Direitos Humanos é alvo de algumas outras críticas, como a questão da grande quantidade de casos em processamento, mas, não solucionados, bem como a falta de mecanismos de implementação das recomendações feitas e também o fato de existirem poucas investigações que envolvam os direitos econômicos e sociais e culturais, direitos das mulheres e dos povos indígenas, o que caracteriza uma lacuna na proteção desses direitos (PIOVESAN, 2000, p. 78), pela lentidão no processamento, e o alto custo disso (RAMOS, 2012, p. 246).

Nesta senda, parte da doutrina defende a reforma no Sistema Interamericano, no sentido de garantir maior efetividade às decisões da Corte. Na opinião de André de

Carvalho Ramos por exemplo (2012, p. 239), “deveria haver menção expressa ao poder- dever da Assembleia Geral de estipular sanções aos estados que descumprissem deliberação tanto da Comissão quanto da Corte Interamericana de Direitos Humanos”.

Por outro lado, é possível visualizar o desenvolvimento e amadurecimento desse sistema ao longo dos últimos anos, o que traz a esperança de que existe a possibilidade de aumentar a proteção aos direitos humanos.

É preciso levar em conta também, as dificuldades financeiras dos órgãos do Sistema Interamericano, bem como dos Estados, para a implementação das recomendações. Ademais, necessário também observar que a maioria dos países abrangidos por esse sistema, passaram por uma transição democrática de governo. Destarte, embora existam críticas ao Sistema, é necessário valorar os entraves que transtornam o funcionamento deste.

Cabe à sociedade civil atuar junto à Comissão Interamericana, pressionando o seu Estado a cumprir as recomendações recebidas, bem como fomentar o debate acerca da matéria de direitos humanos na sociedade. Isto fará crescer a consciência de cada cidadão da sua condição de sujeito de direito internacional de direitos humanos.

Além disso, importante também fomentar as organizações não governamentais para atuarem na área dos direitos humanos, e procurar trazer mais visibilidade dentro do