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A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a estratégia internacional foi a de ampliar o número de tratados que contemplassem os direitos humanos, sem a menor preocupação com repetições ou redundâncias, tendo em vista que alguns direitos são garantidos por diversos tratados. Exemplo claro é o direito a não ser submetido à tortura, que está contemplado no art. 7º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (TRINDADE, 1991, p. 98), pelo art. 5º da Convenção Americana (TRINDADE, 1991, p. 357), pela Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes e ainda pela Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura.

Como já mencionado, o fato é que se formou a partir daí, um sistema global de proteção aos direitos humanos, com normas de alcance geral, e, ao seu lado, surgiu também um conjunto de sistemas regionais de proteção a esses direitos. O sistema global, representado principalmente pela Organização das Nações Unidas, que tem por escopo a cooperação intergovernamental, no objetivo da proteção dos direitos inerentes à pessoa humana. Ela é um pacto global. Sobre o tema relativo à proteção dos direitos humanos, a Organização das Nações Unidas proclama que (ABC de las naciones Unidas APUD Sidney Guerra, 2011, Direito Internacional dos Direitos Humanos):

Uno de los grandes logros de las Naciones Unidas ha sido la creación de um conjunto global de instrumentos de derechos humanos – un código universal de derechos humanos protegidos internacionalmente – al cual se pueden suscribir todas las naciones y al cual pueden aspirar todos los pueblos. La Organización no solo ha definido una amplia gama de derechos reconocidos internacionalmente, como derechos económicos, sociales, culturales, políticos e civiles, sino también ha estabelecido mecanismos para promoverlos y protegerlos y para ayudar los gobiernos a que cumplan sus obligaciones.

Assim, principalmente com ações promovidas pela e após a Organização das Nações Unidas, os indivíduos passaram a ter direitos internacionais próprios, e se constituíram em sujeitos de direitos no mesmo nível que os Estados no plano supranacional, o que foi possível com o sistema global de proteção aos Direitos Humanos. Seguindo a luta pela proteção desses direitos, surgiram além dos instrumentos formadores do sistema global, também outros sistemas de ordem regional, destacando-se três em especial – o europeu, americano e o africano. Cada um dos sistemas regionais possui peculiaridades próprias e mecanismos jurídicos específicos.

De acordo com Flávia Piovesan (2000, p. 21),

Verifica-se que a proteção aos direitos humanos por meio de instituições de âmbito regional tem-se revelado mais positiva, na medida em que os Estados situados num mesmo contexto geográfico, histórico e cultural têm maior probabilidade de transpor os obstáculos que se apresentam em nível mundial.

Há que se concordar com tal afirmação, levando em conta o fato de que, no sistema regional, menos estados estão envolvidos e assim, acredita-se que o consenso possui maior probabilidade de ocorrer, quando comparado ao sistema global, em que o número de Estados envolvidos aumenta consideravelmente. Além disso, também há a questão cultural, como afirmado pela autora Flávia Piovesan. Em um menor número de Estados, que são geograficamente próximos, o provável é que exista homogeneidade quanto a certos pontos, como a língua, a cultura, às tradições, o que oferece vantagens (GUERRA, 2011, p. 133).

A própria organização das Nações Unidas, em 1977, por meio da resolução nº 32/127, encorajou todos os Estados que ainda não fossem contemplados por algum sistema regional de proteção aos direitos humanos, a se unirem para a formalização de novos agrupamentos, com o intuito de garantir a proteção aos direitos humanos (PIOVESAN, 2004, p. 226).

O que se consolida neste cenário, é a convivência dos dois sistemas, o global e o regional. O primeiro, integrado pelos instrumentos das Nações Unidas, como a Declaração dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,

o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, sociais e culturais, e o segundo, formado por três sistemas: o sistema americano, europeu e africano de direitos humanos (GUERRA, 2011, p. 134).

Embora possa se pensar que exista uma dicotomia entre os sistemas global e regional, o que ocorre na verdade, é uma complementação entre eles. Por óbvio que ambos devem seguir os mesmos princípios, entre eles, principalmente, os contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que serve de base, e se configura no objetivo a ser alcançado por todos os Estados, no que tange à proteção dos direitos humanos. O sistema global deve possuir parâmetros mínimos, enquanto o sistema regional deve ir mais além, incluindo novos direitos, aprimorando a proteção dos já existentes (PIOVESAN, 2004, p. 95).

Também concorda José Augusto Lindgren Alves (1997, p. 270), ao afirmar que “Todos têm o mesmo objetivo: a integridade da pessoa humana como princípio e fim da convivência societária”. O mesmo autor vai mais longe, afirmando que a “existência dessas arquiteturas regionais paralelas à arquitetura do sistema mundial, longe de enfraquecer a universalidade dos direitos humanos, visa a fortalecer sua observância com dois níveis complementares de garantia”.

Assim sendo, acredita-se que a superveniência dos sistemas regionais de proteção aos direitos humanos, ocorreu no objetivo de somar, de aumentar a gama de recursos disponíveis aos seres humanos, em casos de violações aos direitos mencionados. Ou seja, a coexistência do sistema global e os sistemas regionais de proteção, objetiva tão somente a ampliação e fortalecimento do aparato de proteção aos direitos humanos, sendo que o beneficiado - o ser humano - poderá eleger a norma que lhe é mais favorável, no caso de concomitância de duas normas. Trata-se do critério da primazia da norma mais favorável às pessoas protegidas (PIOVESAN, 2004, p. 228).

Iniciando brevemente a descrição dos três sistemas regionais de proteção aos direitos humanos, há que se falar no Sistema Europeu, que conta com a Convenção Europeia de Direitos Humanos, de 1950, que estabelece a Corte Europeia de Direitos Humanos, o Sistema Africano, que apresenta como principal instrumento a Carta Africana de Direitos Humanos, de 1981 e, finalmente, o Sistema Americano, que tem como principal instrumento a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969. Sobre este último é que se debruça a maior preocupação do presente trabalho.

A Convenção Europeia teve como objetivo estabelecer uma verdadeira ordem pública europeia baseada no respeito aos direitos humanos. A assinatura da Convenção

deu-se em Roma, no dia 04 de novembro de 1950, e sua entrada em vigor ocorreu em 03 de setembro de 1953.

De acordo com Cançado Trindade (2003, p. 123):

Desde então, ao longo das últimas décadas, foram adotados, em datas distintas, doze protocolos à Convenção, tida como instrumento vivo que deveria acompanhar a evolução dos tempos, e, sobretudo as mudanças ocorridas na sociedade europeia. A Convenção Europeia de Direitos Humanos consagra uma série de direitos (artigos 2-14), em sua quase totalidade civis e políticos. Ao longo dos anos, no entanto, o elenco dos direitos protegidos expandiu gradualmente – nos cinco protocolos substantivos à Convenção.

Ainda de acordo com o mesmo autor, tem sido considerável e cada vez mais crescente o uso da função contenciosa da Corte Europeia. Já nas palavras de Guerra (2011, p. 138), “há quem afirme que a Convenção Europeia para proteção dos Direitos do Homem e das liberdades fundamentais foi e continua a ser o mais importante catálogo europeu de direitos”. Até meados dos anos noventa, já haviam sido declarados admissíveis pela comissão Europeia, mais de 3.400 casos, além de mais de 350 casos sentenciados até então (TRINDADE, 2003, p. 127). De acordo com Sidney Guerra (2011, p. 137), “a região do continente europeu abrangida pelo Conselho da Europa é a parte do mundo mais desenvolvida no que tange à proteção dos direitos humanos”.

De fundamental importância é a jurisprudência da Corte Europeia, particularmente nos casos Golder versus Reino Unido (1975) e Airey versus Irlanda (1979), sobre a questão do próprio direito de acesso à justiça. No caso Golder, afirmou a Corte que o direito de acesso a um tribunal, ainda que não mencionado no art. 6 (1) da Convenção, constituía-se num elemento inerente ao direito a um julgamento justo. E no caso Airey a corte foi mais além, ao afirmar que tal direito de acesso deveria ser necessariamente eficaz (TRINDADE, 2003, p. 133). Tal jurisprudência tem repercutido em alternados Estados, onde Estados outros que os demandados, têm tomado as sentenças da Corte como guia para lograr a compatibilidade de seu próprio ordenamento jurídico interno com a Convenção (TRINDADE, 2003, p. 128).

Destarte, ponto de grande importância, e que não enseja controvérsia, é o fato de a Convenção Europeia estabelecer órgãos destinados à fiscalização do respeito aos direitos humanos, bem como ao julgamento, em caso de violações, o que foi um grande avanço no sistema internacional de proteção aos direitos humanos. De acordo com Guerra (2011, p. 139):

Três instituições ficavam responsáveis pelo controle: a Comissão Europeia de direitos do homem (criada em 1954), o Tribunal Europeu de Direitos do Homem (instituído em 1959) e o Comitê de Ministros dos negócios estrangeiros dos Estados – membros ou pelos seus representantes.

A Comissão Europeia tinha como principal função, fazer uma espécie de seleção, triagem sobre as denúncias a ela dirigidas. Em caso de violações realmente haverem sido cometidas, cabia à Comissão encaminhá-las ao Tribunal. A comissão, portanto, configurava-se no principal elo que garantia o acesso do indivíduo, do ser humano ao Tribunal. A comissão também poderia receber denúncias de Estados contra Estados, desde que os Estados envolvidos, tivessem previamente reconhecido a competência da Comissão para tais julgamentos, e ainda, formular denúncias contra os Estados perante o Tribunal. Em 1º de novembro de 1998, por força do protocolo n. 11 à Convenção, a Comissão Europeia de direitos humanos foi extinta, transferindo grande parte de suas atribuições ao Tribunal (GUERRA, 2011, p.146 e 147).

Assim, ainda debruçando-se sobre a obra de Sidney Guerra (2011, p. 148), e utilizando das palavras deste, conclui-se que

Hodiernamente, o sistema vigente no continente europeu é extremamente avançado, haja vista que defere condição para a pessoa humana litigar diretamente no Tribunal europeu sem que haja intervenção de terceiros por violação aos direitos humanos.

Todos esses dados corroboram para a afirmação de que realmente, o sistema europeu de proteção aos direitos humanos, exerce suas funções de forma efetiva. Nesse sentido, afirma Guerra (2011, p. 145) que “dentre os vários aspectos positivos que podem ser observados, deve-se enfatizar o funcionamento em si do sistema”. Sem dúvida, um dado muito marcante, tendo em vista que, quando se tem a efetividade em algum sistema, este pode servir de exemplo para os demais. De acordo com as palavras de Lindgren Alves (1997, p. 271), o “sistema regional de proteção aos direitos humanos mais desenvolvido, é o sistema europeu”.

Além do sistema europeu, como já mencionado, há ainda mais dois, o interamericano e o africano. Quanto a este último, tem como documento mais importante a Carta Africana dos Direitos Humanos e Direito dos povos, aprovada pela Conferência Ministerial da Organização da Unidade Africana (OUA), em Banjul, Gâmbia, em janeiro de 1981, e adotada pela XVIII Assembleia dos Chefes de Estado e Governo da OUA em Nairóbi, Quênia, em 27 de julho de 1981 (GUERRA, 2011, p. 153), mas que entrou em vigor somente em 21.10.1986. Surgiu como resposta às

atrocidades cometidas em Uganda, na República Centro-Africana e na Guiné Equatorial, e invoca logo em seu preâmbulo, a liberdade, a igualdade, a justiça e a dignidade para a realização das principais aspirações do povo africano (TRINDADE, 2003 p. 196).

Segundo André de Carvalho Ramos (2012, p. 250), a inspiração para a Carta de Banjul, como é conhecida,

Teria sido um composto de tratados e declarações de direitos humanos anteriores, como a Declaração Universal de Direitos Humanos, a Declaração Americana de Direitos e deveres do Homem e dois Pactos onusianos de 1966 (Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais).

A Organização da Unidade Africana (OUA) teve seu nome modificado no ano de 2000 para União Africana, sendo que congrega quase todos os Estados Africanos, tendo como exceção apenas o estado de Marrocos, o qual se retirou da Organização já no ano de 1985 (GUERRA, 2011, p. 153). No sistema africano, nas palavras de TRINDADE (2003, p. 197):

O direito aplicável é sempre a Carta Africana dos direitos humanos e dos povos. Em seu preâmbulo estão refletidos os grandes temas com que se defrontaram seus redatores, sobretudo a inserção da concepção africana dos direitos humanos na universalidade desses direitos, e a luta contra o colonialismo e a discriminação.

Importante ressaltar que o sistema africano difere do sistema europeu e dos demais, quanto aos principais direitos protegidos. Enquanto os outros se preocupam na garantia dos direitos civis, o texto contido na carta africana preconiza a proteção de direitos dos povos. Afirma Guerra (2011, p. 153) que “Foi assim que os Estados africanos estabeleceram nesse documento internacional direitos relativos à afirmação da independência, da autonomia e do progresso dos referidos Estados”. Tal condição se justifica em virtude dos povos africanos terem sido vítimas de um processo extremamente excludente ao longo de suas histórias.

O autor André de Carvalho Ramos (2012, p. 250), afirma que “a Carta foi o primeiro tratado de direitos humanos a elencar, de uma só vez, os direitos civis e políticos unidos aos direitos sociais, econômicos e culturais”. O artigo 20 da Carta Africana deixa clara a sua preocupação com o direito dos povos, ao mencionar que “Todo povo tem direito à existência. Todo povo tem um direito imprescritível e inalienável à autodeterminação”. Em seguida, afirma ainda que todos os povos

colonizados têm o direito de se libertar do seu estado de dominação recorrendo a todos os meios reconhecidos pela comunidade internacional (TRINDADE, 1991, p. 491).

Destarte, a Carta africana de direitos do homem e direito dos povos, nas palavras de Guerra (2011, p. 156):

Destaca a importância do direito ao desenvolvimento, a indissociabilidade dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, bem como a universalidade dos referidos direitos, e procura dar ênfase na luta contra o colonialismo, o apartheid, o sionismo, as bases militares estrangeiras de agressão e quaisquer formas de discriminação, nomeadamente as que se baseiam na raça, cor, etnia, sexo, língua, religião ou opinião pública.

O sistema africano também difere do sistema europeu e americano, no que tange à eficácia, eis que conta com diversos entraves para a efetividade da proteção aos direitos consagrados em sua carta. Nas palavras de Guerra (2011, p. 155):

A África apresenta vários problemas para que o referido texto possa ser efetivamente implementado: falta de recursos financeiros, falta de interesse político de alguns Estados, falta de maturidade política, falta de unidade, falta do desenvolvimento de maior cultura dos direitos humanos, falta de desenvolvimento econômico e social, além de outros fatores que comprometem o alcance de bons resultados nesse mister.

O fato é que, apesar dos entraves existentes, dos quais se tem conhecimento, não se pode considerar o sistema africano de menor importância ao consagrar em sua carta de direitos do homem e dos povos, a preocupação com a garantia de direitos da pessoa humana, e a conclamação de todos os Estados a cumpri-la.

No início dos anos 90, quase 5 anos após sua entrada em vigor, a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos povos já contava com a participação da quase totalidade dos Estados Membros da OUA, sendo exceções a Etiópia e a Suazilândia. Já no final da década de 90, a totalidade dos Estados membros da OUA, como Estados-Partes da Carta, foi alcançada, sendo que ao final do ano 2000, já havia recebido cerca de 300 comunicações (TRINDADE, 2003, p. 214).

Interessante mencionar que a Carta Africana criou apenas um órgão, diferente dos outros dois sistemas. Trata-se da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, composta por onze membros escolhidos entre “personalidades africanas que gozem da mais alta consideração, integridade e imparcialidade e que possuem conhecimento em matérias dos direitos humanos e dos povos”. Cabe à Comissão elaborar pareceres ou fazer recomendações aos governos a respeito da temática dos direitos humanos, emitir opiniões interpretativas sobre alguma disposição da Carta,

quando provocada por algum Estado Membro, e cooperar com outras instituições africanas ou internacionais especializadas na temática (RAMOS, 2012, p. 251).

Em 1998, foi elaborado protocolo à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, o qual previu a criação de uma Corte. Tal protocolo entrou em vigor somente no ano de 2004, após a 15ª ratificação. Segundo André de Carvalho Ramos (2012, p. 253), “atualmente, 25 dos 53 Estados africanos ratificaram o Protocolo e somente quatro reconheceram o direito de ação de indivíduos perante a Corte”.

A Corte foi instalada no ano de 2006, e tem competência contenciosa relativa à interpretação e aplicação da Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos, e também dos demais tratados e instrumentos de direitos humanos adotados pelo Estado Réu. O primeiro caso julgado, o foi no ano de 2009. De acordo com André de Carvalho Ramos (2012, p. 253),

Podem propor ações perante a Corte os seguintes entes: a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos, o Estado-Parte que acionou a Comissão ou foi demandado perante a Comissão, O Estado – Parte da nacionalidade da vítima de violação de direitos humanos, uma Organização internacional intergovernamental africana e, a depender do critério da Corte e da adesão facultativa dos Estados – Partes, o indivíduo ou a organização não governamental.

Com relação ao Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, que é o tema sobre o qual o presente trabalho, debruça sua maior preocupação, embora ele se ramifique por instrumentos genéricos e especializados (LINDGREN ALVES, 1997, p. 271), o principal documento internacional que o inspira é a Convenção Americana de 1969, entrando em vigor, no entanto em 1978. Somente os Estados Membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) teriam o direito de aderir à convenção. Neste universo, os Estados Unidos da América não ratificaram a convenção, e o Brasil foi um dos países que mais tardiamente o fez, o que ocorreu apenas em setembro de 1992 (PIOVESAN, 2000).

Conhecida como Pacto de São José, a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, assinada por ocasião da Conferência Especializada Interamericana sobre direitos humanos, datada especificamente de 22 de novembro de 1969, possui tamanha importância, que Lindgren Alves (1997, p. 276) menciona que ela “está para o sistema interamericano assim como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos está para o Sistema Internacional das Nações Unidas”.

Em caráter substancial, a Convenção apresenta um rol de direitos civis e políticos similar ao mencionado no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e

determina que todos os Estados Membros têm a obrigação de respeitar e mais, o dever de assegurar o pleno exercício desses direitos, sem qualquer tipo de discriminação, bem como de criar normas legislativas necessárias à efetividade dos direitos elencados. O estado, portanto, possui obrigações positivas e negativas em relação à Convenção (PIOVESAN, 2004, p. 231).

O Sistema Interamericano conta com dois fortes aparatos para a efetivação dos direitos humanos. São eles a comissão interamericana de direitos humanos, e a corte interamericana de direitos humanos. Ambas serão descritas minuciosamente no último capítulo do presente trabalho, onde serão trazidos diversos exemplos de casos de violações a direitos humanos levados até a comissão de direitos humanos, e julgados pela corte.

Com efeito, dos três sistemas abordados, uma característica importante a ser mencionada é que ambos contemplam a existência de uma corte que julga seus respectivos Estados Partes em caso de violação de suas normas de direitos humanos. Além disso, a possibilidade de petições individuais, e também interestatais, além da questão geográfica, que em ambos é restrita.

O que de fato não se pode negar, é que com a vinda dos sistemas regionais de proteção aos direitos humanos, os indivíduos protegidos se viram mais perto dos órgãos a quem recorrer em caso de violações, o que é um dado muito importante. No entanto, há ainda outros mecanismos de proteção que foram criados ao longo da história da luta pelos direitos humanos- os Tribunais internacionais, que serão a seguir abordados.