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CAPITULO II – O TURISMO REGIONAL: A IBIAPABA EM FOCO

2.4. O Turismo na Ibiapaba

A compreensão do Turismo na Região da Ibiapaba pode ser alcançada, em parte, na contramão dos investimentos realizados no litoral cearense. Deve ser analisada tendo em vista as propostas de interiorização da atividade pelo Estado, com todos os impasses e perspectivas que esse processo suscita. Contudo, a organização de políticas internas de Turismo realizadas entre os municípios contidos na Região revela-se como outra plataforma de análise. Somado a isso ainda podemos dar ênfase aos principais pontos turísticos regionais.

Difícil se torna dizer quando exatamente a atividade turística chegou à Ibiapaba, porém, apontamos como ação propulsora para tanto a implantação do teleférico no Parque Nacional de Ubajara, realizada no final da década de 1970. Sem dúvidas, esta obra, que foi construída pela ordem da EMCETUR (Empresa Cearense de Turismo), veio a instigar o Turismo nesta Serra, oportunizando inclusive uma visibilidade para as demais cidades.

Nesse período, embora ainda fosse ínfima a situação do Turismo no Estado, já se falava, mesmo de maneira pontual, na propalada (talvez nem tanto) interiorização e da diversificação das modalidades de Turismo para além das “rotas do sol”30, que estavam relacionadas unicamente ao litoral (BENEVIDES, 1998). A interiorização, por sua vez, tem como premissa desconcentrar fluxos e fixos turísticos do litoral, em especial de Fortaleza, fazendo com que cheguem até outras áreas, bem como aumentar o tempo de permanência dos turistas no Estado, dado o elevado número de atrativos dispostos no território estadual.

Segundo dados da SETUR-CE, as serras, em muito comentadas por suas riquezas naturais e culturais, todavia, representam somente pouco mais de 10% das procuras por destinos turísticos no Estado do Ceará. Nesse contexto, a maioria dos

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Quanto à terminologia “rotas do sol”, temos uma crítica a fazer: o sertão é a parcela do território estadual onde mais faz sol, porém, é a que menos recebe investimentos e fluxos turísticos.

municípios da Ibiapaba apresenta insuficiência no quadro de suas ofertas e conseqüentemente têm baixos índices em suas demandas31.

Seguindo a “atmosfera” de valorização dos espaços para usos turísticos no Estado, no final da década de 1990, o Turismo passa a ser considerado pelas lideranças regionais da Ibiapaba como uma importante fonte para o desenvolvimento. Aconteceram a partir desse momento os primeiros passos de uma organização intra- regional em prol da atividade. As ações visavam melhorar as infra-estruturas dos municípios para valorizar e desenvolver as suas potencialidades turísticas.

Contudo, é realidade que na Ibiapaba a organização estrutural dos serviços não vem agregando os produtos turísticos uns aos outros; acontecimento que denota uma falta, quando sabemos que o planejamento turístico em escala regional requer uma gestão flexível da atividade, cujas principais potencialidades dos municípios envolvidos devem ser postas de forma interligada e as estratégias de desenvolvimento têm que ter isso em conta.

Sobre este tema, Beni (2007, p.177) adverte:

A política de turismo é a espinha dorsal do “formular” (planejamento), do “pensar” (plano), do “fazer” (projetos, programas), do “executar” (preservação, conservação, utilização e ressegnificação dos patrimônios natural e cultural e sua sustentabilidade), do “programar” (estratégia) e do “fomentar” (investimentos e vendas) o desenvolvimento turístico de um país ou de uma região e seus produtos finais.

Na Ibiapaba as frentes de articulação entre os promotores turísticos dos municípios ainda acontece de modo muito insatisfatório em termos de ações concretas, tornando complicado o fortalecimento de uma organização em nível regional. Diante de outras atividades, a própria participação de representantes municipais em debates afins é considerada uma não prioridade. Viçosa do Ceará e Ubajara são os municípios que melhor se destacam nesse processo de vinculação de políticas satisfatórias à organização da atividade em tela32.

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Participamos do Grupo de Estudos “Políticas Regionais e Locais de Turismo” ligado ao Núcleo de Avaliação em Políticas Públicas do Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas (MAPP) – UFC e, ao realizarmos uma atividade de campo em outubro de 2008 para a Ibiapaba, pudemos constatar, através de uma primeira investigação empírica sobre os desafios e potencialidades para o desenvolvimento turístico dessa Região, que a organização regional do Turismo não é uma ação satisfatória. Com base nos trabalhos realizados nesta empreitada é que dispensamos algumas destas considerações.

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Na saída de campo ressaltada na nota acima, tivemos a oportunidade de entrevistar a Secretária Municipal de Cultura de Tianguá, Srª. Edvânia, participante de grupos de interesses pelo tema Turismo na

Não obstante a situação da Ibiapaba em termos turísticos ainda aponte muitas baixas, algumas ações vêm sendo definidas para se discutir a atividade na Região. O Sebrae/CE, um dos principais incentivadores, tem apostado na vocação turística da Serra da Ibiapaba e acreditado na força que o Turismo pode proporcionar ao desenvolvimento econômico da Região.

O Sebrae/CE começou a atuar mais fortemente no Turismo da Ibiapaba a partir de 2006, com o desenvolvimento de projetos cujo objetivo era estimular o aumento do fluxo turístico e gerar oportunidades de negócios para as micro e pequenas empresas que atuam na cadeia produtiva do Turismo na Região. Em meio as suas tarefas, este

órgão fez com que a Ibiapaba fosse levada para workshops em algumas cidades do

Brasil e realizou cursos de capacitação para envolvidos no setor.

Mesmo com todos os impasses, nos últimos anos, certos instrumentos e projetos foram e vêm sendo concebidos, direta ou indiretamente, para melhor potencializar a atividade turística na Região da Ibiapaba. Deste modo, relacionamos aqui alguns desses:

a) Rede de Turismo da Ibiapaba (RITUR): Criada, sobretudo, por Secretários

municipais de Turismo da Região, é formada por pessoas que trabalham ligados a cadeia produtiva do Turismo. Realiza encontros para discutir a execução de ações/soluções com vistas à promoção integrada do Turismo na Região. Ultimamente, desenvolve com mais vigor projetos que buscam a captação de eventos;

b) Plano de Desenvolvimento Interregional do Vale do Coreaú-Ibiapaba

(PDIR): Criado no Governo de Lúcio Alcântara, trata-se de um plano que visou à integração turística e o planejamento espacial das regiões do Vale do Coreaú e do Planalto da Ibiapaba, associando neste feito zonas de litoral e serra. A idéia do plano era baseada na ação conjunta das regiões, na tentativa de reunir esforços para alcançar os objetivos de crescimento econômico. Dentre as ações turísticas propriamente ditas, o plano visava à criação de pólos regionais de Turismo e de rotas turísticas temáticas33, bem como a

Ibiapaba, com grande experiência no setor. Assim, a mesma pode-nos relatar um pouco das problemáticas municipais frente às estratégias de fomento ao Turismo regional.

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A saber: Rota 01: Do mar e dos ventos; Rota 02: Ecoturismo e esportes de natureza; Rota 03: Arte, tradição e memória; Rota 04: Produtos da terra e da vida Rural; e Rota 05: Espeleologia, Arqueologia e Biologia. Com exceção desta primeira, o plano visava, através do que chamava de “Corredor Estruturante do Turismo - Planalto da Ibiapaba (Turismo serrano)”, a execução destas rotas por todos os

melhoria da infra-estrutura espacial afim. Entretanto, pouco foi realizado das ações que o plano enumerou;

c) Grupo de Empresários de Turismo da Ibiapaba (GETI): Muito ligado ao

Sebrae/CE, refere-se a uma entidade que congrega interessados de um dado grupo empresarial da Região – donos de pousadas, restaurantes, agências de viagem, organizadores de esportes de aventura etc.;

d) Fórum de Cultura e Turismo (FCT): Gerido pela Secretaria de Turismo do

Estado do Ceará (SETUR-CE) e pela Rede de Turismo da Ibiapaba (RITUR), revela-se como um momento de debates proveitosos à promoção do Turismo na Região;

e) Conselho de Desenvolvimento Regional da Ibiapaba (CONDER): Órgão de

colegiado autônomo para discussão, planejamento, acompanhamento e encaminhamento de ações de fomento ao desenvolvimento regional. É composto por representantes de entidades públicas, privadas e da sociedade civil organizada. Dentre as atividades discutidas, o Turismo ganha destaque enquanto um setor de Arranjo Produtivo Local (APL).

Reconhecendo também essa pré-disposição para as atividades turísticas na Região, o Governo do Estado do Ceará, em contribuição, vem viabilizando através de verbas do Prodetur/NE II (2007) a construção das rodovias CE 085 (Figura 8), que liga os municípios de Jijoca de Jericoacoara e Granja, e CE 311, que liga Granja ao município de Viçosa do Ceará.

Com isso, dado o fato de ser Jericoacoara um destino turístico reconhecidamente internacional, fator que se acentuará com a implantação de um aeroporto em suas proximidades, na troca e integração com o litoral34, a tendência é que haja um crescimento do Turismo na Região da Ibiapaba. Considerada por alguns como a cidade mais charmosa da Serra da Ibiapaba, Viçosa do Ceará, marcada por sua história secular e por seu traçado urbano pomposo, será em breve a “porta de entrada” da Região da Ibiapaba para os visitantes provindos do litoral.

municípios da Ibiapaba. Aqui nos cumpre a ressalva de esclarecer que nada disso foi efetivado tal qual planejado.

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Observa-se, contudo, que mesmo nessa ação, o Turismo no interior (no caso a Ibiapaba) torna-se dependente de alguma maneira do Turismo litorâneo e pode constituir uma extensão deste último.

Figura 8: CE 085 – ligação entre Jijoca e Granja. Fonte: Arquivo pessoal, mar/2009.

Em termos de pontos turísticos, é certo que todos os municípios da Ibiapaba possuem desses atrativos e são indicados enquanto tais. Porém, de maneira geral, existem uns pontos mais relevantes que outros. Aqueles que ao longo do tempo chamaram mais atenção dos meios de comunicação social e são assim também reconhecidos pela população local, merecendo menção destacável as riquezas naturais (Ver Tabela 2).

A Ibiapaba é, além disso, uma Região carregada por fortes manifestações culturais. No que concerne aos eventos, destacam-se o carnaval, os festivais35 (de música, juninos, gastronômicos, das flores etc.), os aniversários dos municípios, as comemorações de final de ano (natal e réveillon) e, também, as festas religiosas, que acontecem em todos os municípios. Porquanto, a Região apresenta atrativos que nos permitem chamá-la de Região turística, com demarcados potenciais para desempenhar diversas formas de se fazer Turismo. Seriam estas as principais: Turismo ecológico (ou ecoturismo), Turismo esportivo, Turismo cultural, Turismo rural, Turismo de eventos e Turismo religioso. Este último quase nunca cogitado nos planos e projetos turísticos.

Mesmo tendo na agricultura a sua atividade central, sem criar falsas expectativas, a Ibiapaba deve continuar os seus trabalhos visando o Turismo como importante atividade à soma de recursos interessantes ao desenvolvimento almejado.

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Destacamos atenção especial ao FUI (Festival União da Ibiapaba), que reunia em suas versões temas como cultura, música, teatro, gastronomia, Turismo etc., mas que nos últimos dois anos, por motivos políticos de organização, não pôde ser realizado. Este evento se tornava ainda mais interessante porque acontecia fazendo uma rotatividade entre os municípios. O Festival de Música da Ibiapaba, que é realizado geralmente no mês de Julho, período das férias escolares, é outro evento com presença notória em nível regional.

Tabela 2: Principais atrativos turísticos da Região da Ibiapaba Atrativos Município(s) de localização Características Parque Nacional de Ubajara Ubajara

Estende-se por entre os municípios de Ubajara (sua sede), Tianguá e Frecheirinha e possui uma área de 6.299,00 (ha.), sendo administrado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA). Desponta por suas belezas naturais, dentre essas cachoeiras, grutas e diversas trilhas dispostas à visitação. Alia-se a este quadro a presença de um teleférico para passeios dentro do próprio Parque.

Patrimônio Histórico- cultural Presente em todos os municípios, com destaque em Viçosa do Ceará

Inclui: casarões, igrejas, festas, gastronomia etc. Por reunir um conjunto de antigas edificações de comprovado valor arquitetônico, a cidade de Viçosa do Ceará foi declarada oficialmente Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2003. O potencial histórico e turístico da cidade ainda conta com os pólos de lazer Igreja do Céu e Lagoa D. Pedro II, situados no centro.

Bica do Ipú Ipú

Possui 130m de altitude, está localizada na encosta da chapada da Ibiapaba. Por conta desse recurso natural a cidade de Ipú também é conhecida como a terra da Índia Iracema, personagem do romancista José de Alencar.

Belezas Naturais Presente em todos os municípios, com

destaque em Tianguá

Inclui: fauna, flora, vegetação, hidrografia etc. Sendo o município da Ibiapaba que apresenta maior dinâmica em termos econômicos, polarizando os serviços e negócios das demais cidades da Região, do ponto vista turístico Tianguá é apontada, sobremaneira, por suas riquezas naturais , que conta com a presença de parques e reservas, quase sempre, porém, de propriedade privada. Alguns desses pontos são ideais para a execução de esportes radicais e/ou para a realização de camping.

Fonte: Elaboração própria.

Diante do que foi descrito nesta seção, visto a situação emergente da Ibiapaba no tratamento turístico, para que se alcance uma espécie de Turismo que contribua para se chegar pelo menos próximo aos anseios de um desenvolvimento sócio-espacial, citado por Souza (2002), dialeticamente, torna-se necessário que os ritmos e as demandas aumentem. Deve-se constituir com mais presteza o destino Ibiapaba, aproveitando todas as suas atrações. Assim, acreditamos que a presença do equipamento religioso, e por mote incisivo em termos de visitação, Santuário de Fátima da Serra Grande poderá vislumbrar um novo momento à organização regional da atividade turística.