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O Santuário de Fátima da Serra Grande no contexto da Diocese de Tianguá: uma

CAPITULO III – SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE:

3.1. O Santuário de Fátima da Serra Grande no contexto da Diocese de Tianguá: uma

Todo santuário constituidamente reconhecido pela Igreja Católica36 reclama um

órgão maior que responda por sua organização e administração. Não raro, este mesmo órgão pode ser também o responsável pela idéia de sua criação, cuja tentativa de

entender a formação mitológica e territorial desta obra requer que passemos pela relação hierárquica do poder eclesial. A análise do geógrafo neste sentido se faz no princípio de desvendar os trâmites que levaram a formatação desse centro religioso, que por natureza gera fluxo e, na maioria dos casos, outros fixos.

Via de regra, os santuários instituídos pela Igreja Católica recaem sobre a normatização de uma Diocese, órgão comandado sob competência de um bispo diocesano. Por este entender, “a autoridade espiritual do bispo tem, assim, uma componente claramente espacial” (Santos, 2006, p.330). A Diocese representa um recorte regional no espaço que usa como maior desígnio de existência a alegação de eficazmente atender a demanda de sua população envolvente, podendo sofrer ao longo do tempo certas mobilidades espaciais37.

A Igreja Católica, espacialmente tratando, encontra-se repartida em áreas diocesanas. As paróquias, como paragens menores, ficam dentro destas áreas, funcionam como pontos de ligação umas das outras, formando verdadeiros “territórios- rede” (HAESBAERT, 2006), logo constituem a base da Diocese. Podemos afirmar, então, que a Diocese é tida como um território religioso (conceito discutido na seção 1.4 deste trabalho: “Igreja Católica: ação cultural, espacial e também turística”).

Realizado este breve esclarecimento sobre a função e ordem de uma Diocese, mesmo não sendo este recorte de interesse direto para a nossa investigação, ressaltamos

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A saber, o movimento católico, segundo seu direito canônico, adota a terminologia Santuário para qualificar as igrejas ou templos que concorrem para a atração expressiva de fiéis e assim conseguem justificar uma representação vistosa, consistindo em validações do bispo diocesano de sua área envolvente (SANTOS, 2008a). Vale destacar ainda que o Santuário tanto pode ser um espaço religioso que com o passar do tempo veio a ganhar esta denominação, como também já surgir enquanto tal. 37 Sobre a discussão de como a Igreja Católica modifica seu território de atuação usando para isso as ações da Diocese, ver: ROSENDHAL, Zeny. Os caminhos da construção teórica: ratificando e exemplificando as relações entre espaço e religião..., 2008.

que só conseguiremos entender a formação mitológica e territorial do Santuário de Fátima da Serra Grande (Figura 9) – objeto central de nossas análises – se o relacionarmos com as intenções desenvolvidas pela Diocese de Tianguá (Figura 10) nos últimos anos, responsável eclesial por suas atividades, com quem mantém vinculações significativas. Pelo exposto, torna-se necessário que façamos alguns enquadramentos sobre a Diocese em tela.

Figura 9: Santuário de Fátima da Serra Grande. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2009.

Figura 10: Sede da Diocese de Tianguá. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.

Por sua vez, a Diocese de Tianguá, que carrega o mesmo nome da cidade que se encontra sediada, foi criada pela Bula “Qui Sumopere” de 13 de março de 1971, do

Santo Padre Paulo VI, sendo erigida canonicamente em 22 de agosto do mesmo ano. Seu território foi desmembrado da Diocese de Sobral, ficando subordinada à Arquidiocese de Fortaleza, pertencente à Regional Nordeste I da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Sua Padroeira é Senhora Sant’ Ana (REVISTA, 2004).

Situada na porção Norte do Estado do Ceará, a Diocese de Tianguá abrange o território de 13 municípios e ocupa uma área de 9.670,7 Km², com uma população estimada acima de 500 mil habitantes (Figura 11). Composta de realidades físico- espaciais distintas, mescla áreas de litoral, sertão e serra. Esta última trata-se justamente da Região da Ibiapaba, exceto a cidade de Ipú, que se enquadra como território da Diocese de Sobral. Vale destacar ainda a presença do município de Graça na área de atuação da Diocese de Tianguá, não deferindo mais uma vez com a composição da Região da Ibiapaba.

Eclesiasticamente, a Diocese de Tianguá é formada por 14 Paróquias (Tabela 3), 10 Áreas Missionárias (Tabela 4) e 03 Regiões Pastorais (Tabela 5). Assim, segundo a Igreja Católica em pauta:

“Para um melhor atendimento ao Povo de Deus, a Diocese de Tianguá investe na descentralização de comunidades e serviços, tendo dividido o território em três grandes Regiões Pastorais e as paróquias em setores, articulando as famílias numa verdadeira rede de Comunidades” (Revista, 2004, p.8).

Como já dissemos, a explicação da realidade geográfica e religiosa do Santuário de Fátima da Serra Grande só se torna possível se apurarmos o histórico das ideologias da Diocese de Tianguá nos últimos tempos, quando essa tem em vista uma política de avanço na evangelização de seu povo, ao passo que marca e se afirma mais ainda no território.

Neste instante, ressaltamos que é rarefeita a base documentária da Diocese de Tianguá, assim como do próprio Santuário, ficando mais complexa a nossa tarefa. Optamos, então, pelo uso da entrevista com dois personagens ativos da realidade em estudo. A idéia é buscar pela história oral38 montar um quadro explicativo que venha a dar conta de como a conformação supracitada foi acontecendo, transformando-se na realidade que é hoje o Santuário da Serra Grande39. Indagamos Dom Frei Francisco

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A entrevista neste sentido se torna uma experiência compartilhada, ocorrendo como um diálogo. Fugindo da formalidade crua e intencionada na tentativa de estabelecer uma espécie de colaboração entre entrevistador e entrevistado para que as informações, que passarão por uma análise crítica antes de se tornarem científicas, sejam conseguidas de maneiras experienciais. (MARTINS & SILVA, 2007). 39

O Santuário também é conhecido na Região nestes termos, sem necessariamente a inclusão do termo “Fátima”.

Javier Hernández Arnedo, bispo da Diocese de Tianguá, e, de maneira mais extensa, Pe. Antônio Martins Irineu, vigário geral da Diocese ressaltada, pároco da cidade de São Bendito e um dos maiores mentores e administradores do Santuário40.

Figura 11: Mapa da área territorial da Diocese de Tianguá - em destaque São Benedito41

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Estas entrevistas nos foram cedidas pelo Bispo Dom Javier e por Padre Antônio nos dias 11 e 13 de outubro de 2008, respectivamente, na própria sede da Diocese e no Santuário.

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O destaque a cidade de São Benedito acontece somente no sentido de fazermos referência a cidade sede do Santuário de Fátima da Serra Grande.

Tabela 3: Quadro de paróquias que compõem a Diocese de Tianguá

PARÓQUIA MUNICÍPIO SEDE

Bom Jesus dos Navegantes Camocim

São José Granja

Santa Luzia Granja (distrito de Timonha)

Santo Antônio Chaval

Nossa Senhora Sant’ Ana Tianguá

Nossa Senhora da Assunção Viçosa do Ceará

Santa Luzia Viçosa do Ceará (distrito de Oiticicas)

São José Ubajara

São Pedro Ibiapina

Nossa Senhora das Graças Graça

São Benedito São Benedito42

Nossa Senhora dos Prazeres Guaraciaba do Norte

Nossa Senhora Auxiliadora Carnaubal

Nossa Senhora das Dores Croata

Fonte: Elaboração própria, a partir da Diocese de Tianguá, 2008.

Tabela 4: Áreas Missionárias que compõem a Diocese de Tianguá

ÁREA MISSIONÁRIA MUNICÍPIO SEDE

Nossa Senhora dos Navegantes Barroquinha

Nossa Senhora de Fátima43 Camocim

Nossa Senhora Aparecida Camocim (distrito de Pedra Branca)

Santo Antônio Tianguá

Imaculada Conceição Tianguá

São Vicente de Paula Ubajara (distrito de Araticum) Nossa Senhora das Graças Ibiapina (distrito de Alto Lindo)

Santa Teresinha Graça (distrito de Campestre) Imaculada Conceição São Benedito (distrito de Inhuçu) Nossa Senhora do Perpétuo Socorro São Benedito

Fonte: Elaboração própria, a partir da Diocese de Tianguá, 2008.

Tabela 5: Regiões Pastorais da Diocese de Tianguá

REGIÕES PASTORAIS MUNICÍPIOS COMPONENTES

Norte Camocim, Granja, Chaval e Barroquinha Centro Tianguá, Viçosa, Ubajara, Ibiapina e Graça

Sul São Benedito, Guaraciaba, Carnaubal e Croatá Fonte: Elaboração própria, a partir da Diocese de Tianguá, 2008.

42 O destaque acontece pelo mesmo motivo que aponta a nota anterior. 43

Esta chamativa acontece por conta da referência a Nossa Senhora de Fátima, figura de representação maior do Santuário investigado.

Com efeito, para a nossa ambição de explicar a constituição do espaço religioso em pauta, precisamos fazer superar a visão cartesiana de que o “mito” não pode e/ou não deve ser objeto de interesse científico. A figura mitológica de Maria, mãe de Deus, encravada nas mentes de uma significativa parcela da população, é quem impulsiona a atração exercida pelos santuários marianos espalhados por todo o território mundial. Só através da análise do mito44 é que encontraremos explicação para tanto. Consideramos, pois, que “um caminho mítico ajuda a compreender o fenômeno territorialmente materializado” (Oliveira, 2001, p.30)45. O mito,

[...] desta forma, não seria um pensar insuficiente ou ingênuo, crença falsa, mas exporia a própria atividade criadora e imaginativa, a transcendência do viver imediato, o homem no ápice de seu vôo (Cesar, 1988, p. 38)

A ascendência imaginária, seguindo os termos de Bachelard, requer do ser religioso uma busca por espaços sagrados e, assim, estas porções espaciais ganham por ordem um existencialismo mítico que passa a ser reflexo para ordenamentos territoriais explícitos, por isso mesmo “o mito pode ser instrumentalizado para o estudo de um fenômeno espacial” (Oliveira 2001, p.26).

Alguns supostos acontecimentos miraculosos servem-nos de exemplos que permitem o exercício da tentativa de compreender como um mito se torna cosmogônico e conseqüentemente projeta-se como agente geográfico de primeira linha na transformação fenomenal dos lugares. Citamos os casos em que Maria teria aparecido a três pastorinhos na cidade de Fátima em Portugal e Padre Cícero teria transformado em sangue uma hóstia quando desenvolvia sua função de Padre em Juazeiro do Norte/CE46. Contudo, não é, de maneira alguma, do feitio do geógrafo questionar a veracidade desses fatos.

Não identificando um caso tão extremado como os citados acima, aproximamos, como alegação mitológica maior de justificação da Diocese de Tianguá para a

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Porém, não é o mito que explica, trata-se de um meio (MOURA 1988).

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Na obra Basílica de Aparecida: Um templo para a Cidade-Mãe (2001), Christian Dennys Monteiro de Oliveira, através de um ponto de vista fenomenológico, buscou compreender as condicionantes do processo geográfico que deu origem e sustentação a Basílica de Nossa Senhora de Aparecida (maior santuário mariano do Brasil, situado no Estado de São Paulo) demonstrando a validade de uma reflexão mitológica sobre uma espacialidade para um projeto de desenvolvimento local e regional viável.

46 Medeiros (1989, p.18), por ora, vai dizer que “[...] para a população de Juazeiro, é desnecessário dizer que a notícia do milagre não poderia ser melhor presságio de que Deus se manifestava em favor do povo e de que o sangue derramado, incontestavelmente, era o de Cristo, que se redimia pela segunda vez. Para os coronéis e homens ricos da região, as peregrinações que começaram a se organizar e que encheram a cidade de romeiros, significam, mais do que o sentido religioso da coisa, uma oportunidade de vitalizar o local, desenvolvendo o comércio e aproveitando a mão-de-obra para as suas atividades econômicas. A religiosidade pelo menos neste sentido, impulsionava o progresso”.

implantação do Santuário de Fátima da Serra Grande, a admiração e a devoção popular a Nossa Senhora de Fátima na Região da Ibiapaba. Eis o maior mito de justificação para tamanha obra. É por este pensamento que se levantou e vem se sustentando o Santuário.

Remontando a história com base nas informações que adquirimos em campo, identificamos que a idéia de construção do Santuário de Fátima da Serra Grande tem sua origem logo depois da chegada de Dom Frei Francisco Javier Hernández47 (Figura 12)

à Diocese de Tianguá, no ano de 1991, nomeado pelo Papa João Paulo II para ser o

novo e segundo Bispo desta Diocese, após o falecimento do seu antecessor Dom Frei Timóteo Francisco Nemésio Pereira Cordeiro.

Ao chegar, logo no reconhecimento que fez da área territorial de atuação da Diocese (Ver Figura 11), que estaria agora perante a sua supervisão religiosa, Dom Javier diz ter sentido a necessidade da construção de uma grande obra que viesse a fortalecer a identidade religiosa do povo desta área.

Até então, um dos pontos mais expressivos em termos de reconhecimento enquanto Santuário na “Região da Diocese” dizia respeito à Igreja de Nossa Senhora do Livramento (Figura 13), localizada no distrito de Parazinho, município de Granja. Porém, esta Igreja foi identificada pela Diocese como um centro religioso que só conseguia atrair um número considerável de fiéis na época das festas de sua padroeira, tornando-se mais manifesta a necessidade de um centro de maior expressão. Vale destacar que a “Igreja do Parazinho” não é legalmente reconhecida pela Diocese como um Santuário, ou seja, a Diocese não expediu nenhum decreto que o legitimasse eclesialmente (Ver exemplo no anexo 1), só sendo assim reconhecido de forma popular48.

Reconhecendo a “timidez” atrativa do centro religioso do Parazinho e, mais ainda, a falta de um grande núcleo evangelizador que cumprisse a função de recepcionar romeiros e peregrinos em seu território, a Diocese de Tianguá, através das suas lideranças, resolveu investir intensamente na constituição e afloramento do mito de devoção a Nossa Senhora de Fátima na Região.

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Em complemento: Dom Francisco Javier Hernández Arnedo é de nacionalidade espanhola e neste momento é chegado de Manaus. Exerceu o cargo de Professor de Filosofia em São Paulo, onde foi Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida na cidade de Franca (final da década de 80 e 90) e desenvolve(u) trabalhos junto à CNBB através da Regional Nordeste I (REVISTA, 2004).

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A cidade de Ubajara também faz constar uma espécie de capela que é conhecida popularmente como Santuário da Mãe Rainha, mas que também não tem o reconhecimento da Igreja para tanto.

Figura 12: Dom Javier. Fonte: Santuário, 2008.

Figura 13: Igreja de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho. Fonte: Renato Monteiro, 2008.

Figura 14: Padre Antônio em ato eucarístico. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.

Segundo Dom Javier, uma leitura representativa da formação do Santuário de Fátima da Serra Grande deve ter início com a ida de Padre Antônio Martins Irineu (Figura 14) à cidade de São Benedito, em 1992, para desempenhar ali a função de Pároco, a qual acabara de ser nomeado.

Nesta empreitada, ao longo dos anos, Padre Antônio teria reconhecido neste seu novo espaço de atuação eclesial uma grande devoção a Nossa Senhora de Fátima, adotando assim a instituição das missas em todos os dias 13 de cada mês do ano, data referencial às aparições de Maria na cidade de Fátima em Portugal. A firmação dessas missas nesses preceitos só veio a corroborar para o acréscimo da referida devoção. Ao nosso entender, mais um passo estava sendo dado para a consolidação do mito. A simbologia de Nossa Senhora de Fátima neste momento concorreria em muito na escolha desta representação mariana para fazer alusão nominativa ao Santuário em estudo.

Na entrevista com Padre Antônio, relata o sacerdote que somente com o passar dos anos foi visualizando melhor a possibilidade da idéia da construção do Santuário ser constituída, ascendendo à medida que as pessoas foram avivando continuamente a prática de devoção à Fátima. Embora o processo tenha se dado por seqüência temporal contínua desde as primeiras cogitações de uma construção religiosa neste perfil, o Padre demarca 1998 como o ano de referência cabal aos primeiros passos na articulação local da Igreja com o povo.

A partir desse momento se incitava mais intensamente nas mentes alheias o potencial religioso que se encontrava adormecido. Estamos tratando agora do imaginário do “homem religioso”, que é então reconhecido como a base originária e mitológica do alavancar da realidade ponderada.

Quando inquirimos ao Padre como foi pensado o Santuário pela Diocese, o especialista religioso nos deixou a seguinte contribuição:

Nós vivemos numa realidade em que a presença da religiosidade popular, da piedade popular, é muito forte. Então, nós vimos que se precisava de um Centro pra integrar, ao mesmo tempo dar uma certa catequese pro nosso povo. E vimos que a Ibiapaba era apenas um corredor de romarias, onde se passa em direção a Juazeiro e a Canindé. Nós vimos, mas também nós podemos e devemos ter esta preocupação de ter aqui um Centro de peregrinação para canalizar todo esse potencial. Foi aí que fomos pensando, foi se materializando pouco a pouco a idéia da Diocese de ter um Santuário. Isso no sentido da Diocese, no pensamento da Diocese de ter um Santuário. Agora e porque esta devoção? Por que ligado à Fátima? Por que não foi um santuário franciscano? Já que aqui na terra é uma “loucura” a festa

de São Francisco. Porque isso tem Canindé! E aí vimos que havia uma lacuna, já que existe uma força muito grande de devoção em Nossa Senhora de Fátima. Daí pensamos que talvez fosse Deus nos falando dessa forma, de que este seria o ideal: construir um Santuário mariano.

Sob uma leitura fenomenológica, torna-se correto afirmar que o maior “milagre” que vem acontecendo por meio do Santuário de Fátima da Serra Grande reside no fato da expressão canalizada da fé do povo ali vivente. Este é o mito na sua expressão existencial. É esta força que está dando configuração ao espaço religioso em pauta. A idéia da Diocese de encravar na sua área de trabalho um centro de peregrinação, como diz o Padre, só se torna possível através de um trabalho evangelizador direcionado. Diga-se de passagem, um trabalho imaginativo, cultural e re-fundador do processo de

sacralização do lugar (assunto ainda discutido na próxima seção do texto).

Portanto, entendemos que o Santuário de Fátima da Serra Grande é validado enquanto espaço sagrado através de um trabalho diocesano-eclesial de apresentação do potencial religioso residente no âmago de cada ser que para ali se direciona e o aceita enquanto tal. Em contribuição ao que estamos a alegar, Eliade (2008, p.17) destaca que

“o homem toma conhecimento do sagrado porque ele se manifesta, se mostra como algo

absolutamente diferente do profano”, forças que ao mesmo tempo em que se contradizem, só existem pela razão da outra.

Mais uma vez a fala de Padre Antônio vem ratificar o que estamos a expor: Este santuário é aprovação do povo. É algo que não brotou da vontade do Bispo. A idéia de decidir: vamos construir?! Vamos! Isto parte da Igreja, do Bispo, do Padre, mas, dizer assim: vamos fazer aqui um Santuário de Santo Agostinho (o Bispo é agostiniano) [...], quer dizer, qual era a relação que o Santuário de Santo Agostinho teria aqui com o povo? Nenhuma! Nós tivemos a idéia de construir o Santuário porque a gente sabia que precisávamos de um Centro de romaria e de peregrinação. Mas sabíamos que este Santuário deveria ser firmado sobre o alicerce que já tinha sido lançado desta ou daquela devoção, e, vimos que Nossa Senhora de Fátima é uma presença muito forte na vida, na piedade do povo; é tanto que, de fato, com tão pouco tempo e ainda em construção este Santuário já atrai tantas pessoas. Então, eu creio dessa forma: a Diocese tem a idéia, toma a decisão de construir, mas de fato quem determinou foi o povo, a sua necessidade, a sua piedade.

Dando seguimento às nossas considerações, trataremos a seguir de analisar como o Santuário de Fátima da Serra Grande vem se constituindo enquanto um geossímbolo

cosmogônico, construído e aceito, na prática, como um centro real e potencial de atração.