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CAPITULO III – SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE:

3.3. São Benedito, cidade ibiapabana sede do Santuário

São Benedito55, indicada pela ordem diocesana como a cidade ibiapabana sede do Santuário de Fátima da Serra Grande, estádistante 348 km de Fortaleza e possui uma população de aproximadamente 45 mil habitantes, ocupando uma área de 338,14 km². Limita-se ao norte com a cidade de Ibiapina; ao sul com Carnaubal e Guaraciaba do Norte; a leste com Graça; e a oeste com o Estado do Piauí (Figura 26).

O clima ameno, com temperaturas que oscilam entre 22° e 24° C durante todo o ano, é proveniente da sua localização geográfica, explicada pela sua altitude. Além deste “atrativo”, a cidade ainda conta com um quadro “harmonioso” de paisagens naturais e uma dinâmica urbana um tanto quanto peculiar (Figura 27).

Dentre os principais pontos de visita da cidade de São Benedito, somado a algumas construções arquitetônicas e às instalações de floriculturas – que bem possuem

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Mais considerações sobre o poder de sacralidade deste espaço será obtido no Capitulo IV, quando analisaremos uma variada gama de representações.

55 Reza a história que a cidade de São Benedito tem esta toponímia pelo fato de um índio da tribo dos Tapuias, devoto de São Benedito, nas suas demarcações territoriais em pleno século XVII, ter adotado este nome ao seu povoado em apreço à figura do Santo.

certa interação turística, uma vez que abrem horários para a realização de visitações –, vem ganhando cada vez mais importância o Santuário de Fátima da Serra Grande. É, pois, onde acontece atualmente a maior aglomeração de visitantes, intensificada em dias de festas e finais de semana.

Figura 26: Mapa da cidade de São Benedito

Figura 27: Praça central da cidade de São Benedito. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2009.

O Santuário está situado na Avenida Santíssima Trindade, Bairro Nossa Senhora de Fátima, zona periférica da cidade. Vale mencionar que a instalação do Santuário fez com que os nomes da Avenida e do Bairro fossem alterados, passando a ser chamados como são hoje, denotando mudanças na organização urbana da cidade.

De qualquer modo, um Santuário desses é sempre uma construção arranjada para que os visitantes possam ali se satisfazer espiritualmente. Deste feito, eles chegam idealizando ser bem recebidos, o que requer da organização desse equipamento, e também da cidade, um preparo para realizar esse acolhimento da melhor maneira possível.

São Benedito ainda ensaia os primeiros passos no que toca a organização urbana, tendo em vista a magnitude do Santuário em tela. Destarte, embora este represente uma realidade recente, as forças políticas municipais e até regionais devem discutir um planejamento urbano de adequação, principalmente no que concerne aos meios de acesso. Algumas cidades do Ceará há tempos já se mobilizam por esse viés.

O território cearense, em sua vivacidade, é repleto de santuários católicos que fazem alusão a várias santidades, sendo certo que uns são mais relevantes que outros (Figura 28). Como núcleos receptores de visitantes, destacam-se, com fortes simbologias e incidências espaciais, as cidades de Juazeiro do Norte, através da lendária figura de Padre Cícero, e Canindé, que tem como figura simbólica maior São Francisco. Essas duas cidades atraem, anualmente, uma gama significativa de interessados religiosos.

Como mostramos no mapa da figura 28, São Benedito já aparece entre as principais cidades do Estado do Ceará que possuem santuário católico. Na procura de alcançar um patamar semelhante aos casos exemplificados acima (Juazeiro e Canindé), a cidade de São Benedito, através dos trabalhos do Santuário, pretende se firmar enquanto destino religioso-turístico.

No entanto, compreendemos que a existência da cidade só é possível através da conjunção de vários simbolismos, significantes ao seu funcionamento. “É, em parte, por meio de formas simbólicas que a cidade expressa uma dada cultura e realiza o seu papel de transformação cultural, tanto em sua hinterlândia como em seu espaço interno, tanto no passado como no presente e visando o futuro” (Côrrea, 2007a, p.177). E hoje, o Santuário representa uma forma simbólica de primeira grandeza implicante nas diversas esferas temporais (passado, presente e futuro) da cidade, e, por conseguinte, significante no funcionamento.

Como reflexo da projeção do Santuário, a cidade de São Benedito vive um processo de mudanças aparente. O simples fato dos moradores locais já usarem com mais veemência artigos que fazem referência a Nossa Senhora de Fátima demonstra as primeiras mudanças sócio-culturais. Outro fato que evidencia impacto está no processo, mesmo que inicial, de descentralização de serviços e comércios para os arredores do Santuário. Alguns desses estabelecimentos ganham nomenclaturas ligadas à simbologia da Santa.

As campanhas para arrecadar fundos para as construções do Santuário, por sua vez, são fortes em toda Região da Ibiapaba e por mais extrapolam essa demarcação, porém, em São Benedito, em especial, essas são divulgadas com mais efervescência. Não raro se encontram cartazes afins nos estabelecimentos comercias (Figura 29).

Figura 29: Cartaz do Santuário em comércio local. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2009.

Desde o ano de 2008, o governo são-beneditense decretou feriado municipal para o dia 13 de maio por conta do encerramento das festas de Maria, realizadas no Santuário de Fátima da Serra Grande. Assim, criam-se condições para que a cidade, em seu corpo social, interaja ainda mais com o Santuário. Por este fato, podemos observar que “o sagrado é perceptível na organização espacial, não somente pelos impactos desencadeados pelos devotos no lugar, mas também pela forma essencialmente integrada entre religião e tempo” (Rosendahl, 1997, p.124). Neste sentido, podemos dizer que o tempo da cidade já é influenciado por tamanha obra.

Suspeitamos, contudo, que a intensificação do número de barracas e ambulantes que comercializarão artigos religiosos no centro da cidade – como é comum nesses tipos de espaço – não tardará muito a acontecer, bem como a intensificação do número de

pousadas, restaurantes e abrigos; o que denunciará de vez um “novo território”, que já se encontra em constante metamorfose.

Com o desenho dessa nova urbanização, torna-se necessário que a população esteja atenta para os possíveis arranjos que podem ocorrer em função das territorialidades criadas.