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A Resignificação Religiosa do Turismo Regional: Um Estudo Geográficocultural do Santuário de Fátima da Serra Grande

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JOSÉ ARILSON XAVIER DE SOUZA

A RESIGNIFICAÇÃO RELIGIOSA DO TURISMO REGIONAL: UM ESTUDO

GEOGRÁFICO-CULTURAL DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) como requisito para a obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira.

FORTALEZA-CE 2009

(3)

S715r Souza, José Arilson Xavier de

A resignificação religiosa do turismo regional : um estudo geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande / José Arilson Xavier de Souza, 2009.

164 f. ; il. color. enc.

Orientador: Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências. Depto. de Geografia, Fortaleza, 2009.

1. Religião. 2. Turismo. 3. Santuário. 4. Região. 5. Geografia. I. Oliveira, Christian Dennys Monteiro de (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Pós-Graduação em Geografia. IV. Título.

(4)

JOSÉ ARILSON XAVIER DE SOUZA

A RESIGNIFICAÇÃO RELIGIOSA DO TURISMO REGIONAL: UM ESTUDO

GEOGRÁFICO-CULTURAL DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) como requisito para a obtenção do grau de Mestre.

Aprovada em 28 de Julho de 2009. Nota: 10

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira

Universidade Federal do Ceará – UFC Departamento de Geografia

(Orientador)

______________________________________________ Profª. Drª. Zeny Rosendahl

Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Departamento de Geografia

______________________________________________ Prof. Dr. Ireleno Porto Benevides

Universidade Federal do Ceará – UFC Departamento de Teoria e Economia

______________________________________________ Prof. Dr. Eustógio Wanderley Correia Dantas

(5)

À Maria Alice, minha mãe, à Maria Valdenice,

minha irmã, e a José Maria, meu pai, pelo

(6)

_________________________________________________________________________________ AGRADECIMENTOS

A realização do trabalho científico se mostra de forma mais acentuada por meio

de um esforço individual, através de reservados momentos de isolamento, mas também

nos coloca diante de pessoas e instituições sem os quais se tornaria praticamente

impossível o alcance dos objetivos pretendidos. Assim, agradecê-los nesta ocasião passa

a ser uma questão de caráter.

Deste modo, agradeço inicialmente a orientação do Professor Christian Dennys

Monteiro de Oliveira, por ter acreditado na efetivação deste projeto e pela competência

científica e simplicidade com que conduziu as nossas relações universitárias e

amigáveis. As suas palavras sempre me incentivaram a buscar algo a mais. Fica ainda

registrada a minha admiração e apreço a este ser humano.

Aos demais professores da Universidade Federal do Ceará que bem contribuíram

para a minha formação enquanto mestrando: José Borzachiello da Silva, Leví Furtado

Sampaio e Eustógio Wanderley Correia Dantas. A este último em especial pelo bom

atendimento que me concedeu, estimulando sempre o enfrentamento aos desafios postos

pela vida acadêmica. Pelo apoio empregado, este agradecimento se estende ainda para

os professores Jeovah Meireles, Elisa Zanella, Clélia Lustosa e Marta Celina.

Aos professores que não são da “casa” (UFC), mas que colaboraram de alguma

forma com a pesquisa, com destaque considerável à portuguesa Professora Maria da

Graça Mouga Poças Santos, do Instituto Politécnico de Leiria (Portugal), com quem

mantive contatos principalmente via internet, mas também pessoalmente durante evento

afim; à Professora Zeny Rosendahl, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que

se mostrou sempre solícita quando precisamos de suas compreensões; e à Professora

Maria de Lourdes de Araújo, da Universidade Regional do Cariri, integrante da Banca

de Qualificação desta pesquisa, que bem contribuiu através de suas importantes

intervenções.

Outro reconhecimento especial direciona-se ao amigo e Professor Lenilton

Francisco de Assis, que através de suas exigências e conversas durante a minha

graduação, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), fez-me acreditar que eu

era capaz, estimulando para que continuássemos pelos caminhos da academia. Nesta

época, até “um hoje simples” resumo de Iniciação Científica já me causava muitas

inquietações. A sua paciência foi algo imprescindível! Da UVA sou grato também às

(7)

A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza

_________________________________________________________________________________ 7

À minha família agradeço pelo apoio e estímulo, em especial aos meus pais,

Maria Alice e José Maria, à minha irmã Maria Valdenice, meu cunhado José Osmarino

e a meus sobrinhos Daniel, Izidório e Gelson. Registro exclusiva gratidão e meus

sentimentos ainda à Reneida Monteiro da Silva, companheira de muitos anos, pelos

momentos de contribuição e compreensão.

Aos amigos do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará, tanto da

graduação, onde tive a oportunidade de me relacionar muito bem, como do Mestrado,

com destacada menção a Márcio Luis, com quem pude compartilhar bons momentos de

convivência, João Correia e Suéllem Araújo. Guardarei para sempre os momentos de

risadas e colaborações mútuas que vivi com vocês. Estendo ainda estes agradecimentos

aos amigos Fábio e Maclécio.

Aos companheiros(as) do LEGE (Laboratório de Estudos Geoeducacionais),

Leandro, Rafael, Girlene, Ivna, Tiago, Aragão, Carla e Luana, pelo acolhimento e bons

momentos de convivência. Ao Lizandro agradeço pela ajuda atribuída na confecção dos

mapas utilizados.

Aos amigos que sempre torceram pelo meu sucesso profissional, Cleiton

Martins, Sidiney Wilker, Francisco Xavier, Renato Monteiro, Samuel Pinheiro e Juliane

Passos. A estes dois últimos também pela contribuição cedida em algum momento desta

pesquisa. Ao pintor e colega Robervaldo, pela confecção da tela que serve como capa

do trabalho.

À Diocese de Tianguá, no nome do Bispo Dom Javier, e ao corpo

administrativo do Santuário de Fátima da Serra Grande, com menção notória a Padre

Antônio Martins Irineu, João Carlos, Edvar e Bruna, dentre outros, os quais sempre se

mostraram solícitos na colaboração para com este estudo.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

pelo apoio no desenvolvimento deste trabalho de pesquisa científica, no que tange à

concessão de bolsa de estudos, tão importante ao desenrolar das atividades requeridas.

Agradeço ainda aos demais inquiridos, pelas respostas concedidas: agentes

turísticos, visitantes do Santuário, moradores da cidade de São Benedito e aos jovens

alunos da rede regional de ensino. Às coordenações das escolas averiguadas, pelo

espaço cedido.

E por fim, fica assinalada a nossa gratidão a todos que contribuíram e/ou

incentivaram a concretização deste estudo, que, por motivos de esquecimento, não

(8)

.

Descobrir o espaço, pensar o espaço, sonhar o espaço, criar o espaço... Uma pedagogia nova para um espaço vivido deve tomar em conta estas quatro exigências.

(9)

RESUMO

Analisar de modo geográfico as atividades Religião e Turismo em suas relações sócio -espaciais é a maior intencionalidade desta pesquisa. Principalmente na tentativa de entender como a primeira pode significar novos valores à segunda é que tomamos como área para as nossas investigações a Região da Ibiapaba, situada na porção Norte do Estado do Ceará. Para tanto, tal direcionamento analítico é levado a cabo tendo como referência cabal as ações desenvolvidas pelo Santuário de Fátima da Serra Grande, localizado na cidade de São Benedito. A metodologia adotada no trabalho, por vez, segue predominantemente os desdobramentos do método fenomenológico, compreendendo a utilização de técnicas de pesquisa essencialmente qualitativas, porém, associando o uso de instrumentos quantitativos. Efetuou-se, assim, um compromissado levantamento e revisão bibliográfica, observação de campo, entrevista com representante eclesial e aplicação de questionários com visitantes da cidade de São Benedito, moradores locais e com alunos da rede regional de ensino. Com efeito, fazendo-se em parte como um estudo perceptivo, embasado nas leituras de uma renovada Geografia Cultural, o trabalho ora resumido analisa as representações imaginárias desses atores e agentes envolvidos com a realidade estudada. Portanto, o conhecimento destas representações, somado com as observações alcançadas, fazem com que ao final afirmemos que o Santuário em tela, diante de seus desígnios expansionistas em termos atrativos, proporciona à Região da Ibiapaba outra configuração territorial, incidente sobre o seu imaginário e quadro turístico, onde possivelmente se acarretará um grau maior de visitação e exploração. Em suma, acredita-se que o Santuário vem proporcionando uma espécie de resignificação religiosa do Turismo regional. Assim, defendemos que este equipamento seja visto pelo seu potencial turístico.

(10)

ABSTRACT

The major aim of this research is to analyze in a geographical way the activities of religion and tourism in their socio spatial relations. Trying to understand the first activity that means new values, we took the second as the area for investigating the region of Ibiapaba, situated in the North part of Ceará State. To do this, an analytical direction was taken, having as complete reference the actions developed by Fátima Sanctuary of Serra Grande, located in the city of São Benedito. The methodology used in this work, follows mainly the development of the phenomenological method comprising the use of techniques of research essentially qualitative, however associating the use of quantitative appliances. It was made a reliable survey, bibliographical review, field observation, interview with ecclesiastic representative and the application of questionnaires to visitors of São Benedito city, to the neighborhood and students of the teaching regional network. So, doing this work as a perceptive study, based in the readings of a renewed cultural geography, this work now summarized analyses the imaginary performances of these actors and agents involved with the reality studied. Therefore, the knowledge of these performances summed up with the reached observations, make us say that the Sanctuary in front of its expansive and attractive purposes, provides to the Region of Ibiapaba another territorial configuration , incident on its imaginary and touristic sights where possibly will have a more extent of exploration and visitation. In short, it is believed that the Sanctuary is providing a kind of religious meaning of regional tourism. Thus, this baggage needs to be seen because of its touristic potential.

(11)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01: Esboço reduzido da investigação

Figura 02: Área representativa de estudo

Figura 03: Antecedentes, gênese e evolução da Geografia da Religião (esquema-síntese)

Figura 04: Mediações motivacionais para o exercício do Turismo Religioso

Figura 05: Mapa das macrorregiões turísticas do Estado do Ceará

Figura 06: Vista parcial do Planalto da Ibiapaba

Figura 07: Mapa do Ceará – destaque a Região da Ibiapaba

Figura 08: CE 085 – ligação entre Jijoca e Granja

Figura 09: Santuário de Fátima da Serra Grande

Figura 10: Sede da Diocese de Tianguá

Figura 11: Mapa da área territorial da Diocese de Tianguá - em destaque São Benedito

Figura 12: Dom Javier

Figura 13: Igreja de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho

Figura 14: Padre Antônio em ato eucarístico

Figura 15: Interações Centrípetas e Centrífugas do Santuário

Figura 16: Terreno do Santuário

Figura 17: Benção do terreno

Figura 18: Projeto do Santuário

Figura 19: Vista aérea do Santuário(Projeto)

Figura 20: Santuário durante as festas de Maria – maio 2008

Figura 21: Santuário durante as festas de Maria – maio 2009

Figura 22: Religioso em penitência

Figura 23: Sala de ex-votos

Figura 24: Imagem de Nossa Senhora de Fátima

Figura 25: Devoto Thomas Bezerra da Silva

Figura 26: Mapa da cidade de São Benedito

Figura 27: Praça central da cidade de São Benedito

Figura 28: Mapa dos principais Santuários do Estado do Ceará

Figura 29: Cartaz do Santuário em comércio local

Figura 30: Mapa dos principais pontos turísticos da Região da Ibiapaba

(12)

Figura 32: Capa de panfleto de orações do Santuário

Figura 33: Modelo hipotético do processo de resignificação pela imaginação

Figura 34: Fachada da escola MAC

Figura 35: Fachada do CPACO

Figura 36: Fachada da escola Monsenhor Melo

(13)

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 01: Características físico-geográficas dos municípios da Região da Ibiapaba

Tabela 02: Principais atrativos turísticos da Região da Ibiapaba

Tabela 03: Quadro de paróquias que compõem a Diocese de Tianguá

Tabela 04: Áreas Missionárias que compõem a Diocese de Tianguá

Tabela 05: Regiões Pastorais da Diocese de Tianguá

Tabela 06: Quadro do número de alunos inquiridos por cidade e caráter da escola

Gráfico 01: Local de origem dos visitantes

Gráfico 02: Modo da viagem

Gráfico 03: Meio de hospedagem utilizado

Gráfico 04: Principal motivo da viagem

Gráfico 05: Enquadramento espacial do Santuário – Visitante

Gráfico 06: Valências associadas ao Santuário – Morador local

Gráfico 07: Enquadramento espacial do Santuário – Morador local

Gráfico 08: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola pública

de São Benedito

Gráfico 09: Importância do estudo do Turismo nas aulas de Geografia – escola pública

de São Benedito

Gráfico 10: Enquadramento espacial do Santuário – escola pública de São Benedito

Gráfico 11: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola privada

de São Benedito

Gráfico 12: Importância do estudo do Turismo nas aulas de Geografia – escola privada

de São Benedito

Gráfico 13: Enquadramento espacial do Santuário – escola privada de São Benedito

Gráfico 14: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola de

Ibiapina

Gráfico 15: Enquadramento espacial do Santuário – escola de Ibiapina

Gráfico 16: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola de

Tianguá

(14)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APL – Arranjo Produtivo Local

BNB – Banco do Nordeste do Brasil

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CONDER – Conselho de Desenvolvimento Regional da Ibiapaba

CPACO – Colégio Professora Alice do Carmo

EMCETUR – Empresa Cearense de Turismo

ENTBL – Encontro Nacional de Turismo com Base Local

FCT – Fórum de Cultura e Turismo

FUI – Festival União da Ibiapaba

GETI – Grupo de Empresários de Turismo da Ibiapaba

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPECE – Instituto de Pesquisa e de Estratégia Econômica do Ceará

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

LEGE – Laboratório de Estudos Geoeducacionais

MAC – Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ministro Antônio Coelho

MAPP – Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas

NEPEC – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura

NUPPER – Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião

OMT – Organização Mundial de Turismo

PDIR – Plano de Desenvolvimento Interregional do Vale do Coreaú-Ibiapaba

PNT – Programa Nacional de Turismo

PRODETUR-NE – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste

PRODETUR-CE – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Ceará

PRODETURIS – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Litoral do Ceará

RITUR – Rede de Turismo da Ibiapaba

RSG – Resignificação

SETUR-CE – Secretaria de Turismo do Estado do Ceará

(15)

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFC – Universidade Federal do Ceará

(16)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...17

Fundamentos teórico-metodológicos e procedimentos da pesquisa...19

CAPITULO I A ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA RELIGIÃO E DO TURISMO...26

1.1. A Religião enquanto tema cultural de interesse geográfico...27

1.1.1. A importância da renovação e difusão da Geografia Cultural...29

1.1.2. Sobre a disciplina Geografia da Religião...34

1.1.3. O interesse da Geografia pela Religião...36

1.2. O Turismo e o exame geográfico...39

1.3. Sobre o Turismo e a Visitação religiosa...45

1.4. Igreja Católica: ação cultural, espacial e também turística...51

CAPITULO II – O TURISMO REGIONAL: A IBIAPABA EM FOCO...55

2.1. A Região sob o olhar da Geografia...56

2.2. Planejamento do Turismo regional: a experiência do Estado cearense...61

2.3. Caracterização geográfica da Região da Ibiapaba...67

2.4. O Turismo na Ibiapaba...70

CAPITULO III SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE: DIMENSÕES GEOGRÁFICA, RELIGIOSA E TURÍSTICA DE ANÁLISE...76

3.1. O Santuário de Fátima da Serra Grande no contexto da Diocese de Tianguá: uma explicação mitológica para a constituição territorial...77

3.2. Santuário de Fátima da Serra Grande: um “geossímbolo” cosmogônico...87

3.3. São Benedito, cidade ibiapabana sede do Santuário...95

3.4. O Santuário e o Turismo [Religioso]: possibilidades regionais...100

CAPITULO IV – REPRESENTAÇÕES IMAGINÁRIAS ACERCA DO SANTUÁRIO E DO TURISMO REGIONAL...108

4.1. O processo de resignificação pelo discurso geográfico da imaginação...109

(17)

4.2.1) Análise das percepções de um representante eclesial responsável pelo

Santuário...113

4.2.2) Análise das percepções dos visitantes do Santuário...116

4.2.3) Análise das percepções dos moradores da cidade de São Benedito...121

4.2.4) Contextualizando a presença de alunos da Região no âmbito da pesquisa...125

4.2.4.1) Análise das percepções dos alunos da Escola Ministro Antônio Coelho – São Benedito...127

4.2.4.2) Análise das percepções dos alunos do Colégio Professora Alice do Carmo Oliveira – São Benedito...129

4.2.4.3) Análise das percepções dos alunos da Escola Monsenhor Melo – Ibiapina...132

4.2.4.4) Análise das percepções dos alunos da Escola Monsenhor Aguiar – Tianguá...135

4.2.5) Pontuando interpretativamente determinadas representações...138

CONSIDERAÇÕES FINAIS: REFLETINDO SOBRE A RESIGNIFICAÇÃO RELIGIOSA DO TURISMO IBIAPABANO...141

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...147

APÊNDICE 1: Roteiro de entrevista com representante eclesial responsável pelo Santuário...156

APÊNDICE 2: Questionário de opinião do visitante do Santuário...157

APÊNDICE 3: Questionário de opinião do morador da cidade de São Benedito... 159

APÊNDICE 4: Questionário de opinião dos alunos da Região da Ibiapaba...161

ANEXO 1: Decreto de lei canônica da criação do Santuário de Fátima da Serra Grande...163

(18)

INTRODUÇÃO

O espaço se revela como o maior direcionamento das atenções analíticas que o

geógrafo tem empregado em seus embates e desvendamentos teórico-empíricos em toda

a história da ciência geográfica, ao ponto de ser de maneira especializada nomeado de

espaço geográfico. Mesmo sendo objeto de interesse de outras ciências, o espaço,

quando mencionado, faz lembrar a Geografia. Seguindo o ritmo das transformações que

a sociedade mundial foi impregnando, e assim continua fazendo, em seu meio de

vivência, os geógrafos estão sendo continuamente chamados a contribuir com o foro

social pela análise espacial que sabem realizar.

Analisar o espaço geográfico não se trata de uma tarefa simples, tendo em vista

que este acolhe diversas atividades humanas e, não mais entendido unicamente de

maneira cartesiana, está sujeito a diversas representações imaginárias do homem. Deste

modo, no amplo campo das significações espaciais, a Religião vem se mostrando como

um fenômeno de interesse também do geógrafo, afinal, muito dos aspectos religiosos,

das mais variadas religiões, dependem diretamente de uma base geográfica para fixação.

Recortes espaciais são alegados e afirmados por suas constituições sagradas.

Afirmamos, por isso mesmo, que a Religião tem uma dimensão espacial que precisa ser

investigada.

O Turismo, outra atividade humana difusora de (re)definições territoriais em

lugares e regiões, também faz parte do temário empírico e teórico dos estudos

geográficos. Notadamente, as atividades turísticas têm merecido da Geografia uma

atenção maior se comparadas à Religião. As formas de crenças através de seus

rebatimentos espaciais, por sua vez, vêm crescendo enquanto temática de interesse dos

profissionais que “fazem Geografia”. A evolução teórica do conhecimento geográfico

tem concorrido em muito para esta ampliação analítica dos fenômenos.

Já quando nos colocamos a analisar um fenômeno que mescla fatores religiosos

e turísticos, o Turismo Religioso no caso, a quantidade de estudos geográficos afins é

ainda menor. Por caráter, esta especificidade de visitação se destaca, geograficamente

falando, por encontrar na religiosidade dos lugares e das pessoas o seu princípio de

origem, multiplicando paisagens, dinamizando territórios, distribuindo formas e gerando

(19)

Em termos concretos, acompanhando esta comenta inicial de direcionamentos, a

pesquisa que se segue está intencionada no ensejo de trabalhar com abordagens teóricas

que dêem conta de analisar as incidências espaciais de duas práticas sociais: Religião e

Turismo (ora em separado, ora em conjunto). Deste feito, visamos contribuir para o

conhecimento do fenômeno geográfico abrangente em nossas análises, bem como para

melhor visualizar, comparativamente, a formação de realidades semelhantes com a aqui

estudada. Assim, pela complexidade posta, torna-se necessária a adoção de um critério

de embasamento teórico plural, e não restritamente (puramente) geográfico, embora seja

este o dominante, buscando em outras áreas do conhecimento um desenho mais apurado

para as nossas explicações científicas de geógrafo.

Santos (2006), ao realizar um minucioso estudo geográfico referente ao

Santuário de Fátima em Portugal, assentado sobre o tripé Espiritualidade, Turismo e

Território, desenvolveu um importante aporte voltado aos estudos da Geografia da

Religião, mas também à Geografia do Turismo, que, assim, nos instigou para melhor

pensarmos o trabalho agora escrito. No intuito de fazermos render as pesquisas neste

campo da Geografia, procuramos investigar como pode ocorrer o processo de

“resignificação” religiosa do Turismo regional, tomando como estudo de caso a Região

da Ibiapaba, situada no Noroeste do Estado do Ceará, ponderando-a a partir da

organização religiosa do Santuário de Fátima da Serra Grande, localizado na cidade de

São Benedito.

Conforme proposta apresentada, as marcas impressas pela Religião Católica

através do Santuário de Fátima da Serra Grande, será, quanto possível, uma das

preocupações interpretativas deste trabalho científico. Outra inquietação manifesta

reside na tentativa de captar as eventuais tendências que este “equipamento religioso”

pode incidir no desenvolvimento futuro do Turismo na Região. Neste sentido, as

análises das percepções dispensadas por atores e agentes envolvidos enquanto “sujeitos

projetados” com a realidade estudada terão grande importância.

Partindo desses pressupostos, idealizamos a pesquisa em quatro capítulos

articulados. No primeiro capítulo, por meio de uma revisão bibliográfica consistente,

objetivamos demonstrar como a Geografia tem desenvolvido considerações teóricas a

respeito dos fenômenos Religião e Turismo e, mais especificamente, sobre o Turismo

Religioso. As ações culturais, espaciais e turísticas promovidas pela Igreja Católica

também são ventiladas neste capítulo inicial. No segundo, procuramos apresentar a

(20)

planejamento regional/estadual das atividades correspondentes. Já o terceiro capítulo se

inscreve na tentativa de apresentar, explicar a formação mitológico-territorial e avaliar o

caráter religioso e de potencialidades turísticas (atrativas) do Santuário de Fátima da

Serra Grande, intercalando considerações entre a escala local (São Benedito) e regional

(Ibiapaba). A análise das ações exercidas pela Diocese responsável pelo Santuário se faz

presente pelo fato de que expressam uma leitura explicativa para a criação e sustentação

de tal forma geossímbolica (o Santuário). E, por fim, o quarto capítulo é, em grande

parte, resultado de análises da coleta de dados e informações diretas. Efetuada a

aplicação de entrevista e questionários, privilegiaram-se as seguintes amostragens:

representantes eclesiais, visitantes do Santuário, moradores da cidade de São Benedito e

jovens da rede regional de ensino. Nessa seção do texto, as percepções dos inquiridos

são trabalhadas mediante as principais freqüências alcançadas, tendo o intuito de

absorver o imaginário regional concernente a temáticas ligadas ao fenômeno estudado, o

que nos forneceu subsídios para afirmar a existência de uma resignificação em sentido

amplo, inclusive espacial.

No entanto, obedecendo aos preceitos de uma pesquisa científica, estabelecemos

algumas escolhas teóricas e metodológicas preferenciais.

Fundamentos teórico-metodológicos e procedimentos da pesquisa

No desígnio de oferecer uma abrangência dos caminhos teóricos e

metodológicos utilizados na pesquisa perante os fenômenos e a área estudada, abrimos

esta seção para realizar esclarecimentos sobre os procedimentos empregados.

Assim, de modo geral, exporemos alguns tópicos visando iluminar e delimitar as

opções científicas aplicadas.

Campo de estudo

Demarcamos logo de início que esta pesquisa possui um caráter eminentemente

geográfico e que por isso segue preceitos direcionados por esta ciência. No entanto,

aposta em uma vertente de caráter interdisciplinar, em contato com outras áreas do

conhecimento; entendendo que assim o conhecimento geográfico se torna mais

(21)

Adiantamos que o acesso mais direto à temática da Religião não faz desta

pesquisa um estudo teológico. Embora tal campo possa ser visto como uma contribuição

à compreensão da ação eclesial no espaço geográfico averiguado. Quando nos referimos

à Religião, estamos nos restringindo ao entendimento específico de investigação sobre a

Religião Católica.

Com efeito, acreditamos que, pelo menos em parte, este texto esteja em

consonância com o eixo indicativo correspondente às “leituras sobre a transformação

territorial do espaço religioso”, apontado por Oliveira (2005), e com a linha de estudos

“religião, território e territorialidade”, proposta por Rosendahl (1996). Assim, por tratar

de simbolismo religioso, a Geografia da Religião é vista com bastante influência neste

estudo.

No bojo de discutir o Turismo como uma atividade incidente sobre a “geografia”

dos lugares, justamente pela interatividade espacial e fácil adaptação que desenvolve

junto aos mais variados espaços temáticos, neste tratamento, fazemos uso de

considerações alinhadas pelo campo de estudo conhecido por Geografia do Turismo.

A grande área de abrangência da ciência geográfica, chamada Geografia

Humana, que percebe as relações sociais como produtora cultural do espaço geográfico,

permite que enquadremos esta pesquisa no campo da Geografia Cultural. Entendemos

que as práticas religiosas e turísticas possuem uma natureza cultural incidente sobre o

“espaço do geógrafo”, ou seja, aquele que o geógrafo analisa.

Examinar os fenômenos espaciais por uma ótica cultural tem se tornado

preocupação de um número crescente de geógrafos, possibilitando vários mecanismos

de análise. A imaginação geográfica das pessoas, que, grosso modo, pode ser entendida

como a imaginação geográfica dos lugares estudados, é um caminho apontado. Com

isto, ao darmos voz aos atores e agentes que partilham da realidade em estudo,

trabalhamos com a idéia de averiguar as percepções significativas destes no sentido de

compreender o imaginário regional pelo seu novo molde após a instalação do Santuário

em tela.

Como um dos conceitos mais caros à Geografia em toda a sua história, Região

será aquele mais abordado na pesquisa, principalmente quando nos reportarmos à

Região turística da Ibiapaba. Isso não quer dizer, porém, que, para fazermos uma análise

geográfica o mais completa possível, não iremos recorrer a outros conceitos

(22)

A composição do título da pesquisa: “A Resignificação Religiosa do Turismo

Regional: Um Estudo Geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande”,

no entanto, pode ser capaz de evidenciar os principais eixos temáticos empregados

(Figura 1), aportando no Santuário o foco principal.

Figura 1: Esboço reduzido da investigação

Fonte: Elaboração própria, a partir de Santos (2006).

Resultado de reflexões acerca dos temas propostos, esta pesquisa teve sua

origem numa viagem, podemos dizer turística, realizada à Região da Ibiapaba em 2006,

na qual pudemos visitar o Santuário de Fátima da Serra Grande ainda no seu estágio

inicial de construção. Daí diferentes situações convergiram a favor do desenvolvimento

do projeto, sendo possível, em curto espaço de tempo, torná-lo uma realidade. O

amadurecimento teórico e metodológico veio mediante as discussões realizadas na

Universidade, no contato com a orientação direcionada e, concomitantemente, pela

participação em grupos de estudos afins a tais debates.

Recorteespacial e temporalidade de estudo

Os estudos geográficos sempre se situam por recortes espaciais e temporais de

referências. Perdemos quando rompemos com a interligação de áreas e temporalidades,

contudo, por outro lado, podemos ganhar no que toca à apuração mais detalhada dos

fatos. Dialeticamente, estas escolhas não funcionam como barreiras que nos impedem

de transbordarmos as referências tomadas a princípio. Caso seja necessária a “saída” a

outros recortes espaciais e temporais visando o melhor entendimento da realidade

(23)

Assim, a área espacial prioritária do nosso estudo conjuga três instâncias

principais: o Santuário de Fátima da Serra Grande, a Região da Ibiapaba e a cidade de

São Benedito (Figura 2), não necessariamente sempre nesta ordem. O recorte territorial

de atuação da Diocese de Tianguá, respondente por tal Santuário, deverá ser consultada

justamente por compor uma explicação territorial de implantação do mesmo.

Figura 2: Área representativa de estudo

A Região da Ibiapaba, composta por nove municípios, é alvo de nossas

investigações por já possuir um discurso turístico formado. Pode agora ser revista pela

implantação do centro de atração religiosa e turística que é o Santuário de Fátima da

Serra Grande. Localizado na cidade de São Benedito, o Santuário já ocasiona

transformações paisagísticas e territoriais em sua cidade sede; por isso mesmo este

circunscreve outro espaço analisado neste estudo.

Pela relação intermediária que adotamos entre o Santuário e a Região da

Ibiapaba, demarcamos como temporalidade referencial de nossas análises o ano de

2005, quando tem início a construção das obras do Santuário. No entanto, a fim de

realizarmos compreensões acerca da constituição deste centro religioso, teremos de nos

(24)

acima. Isso porque só assim conseguiremos revelar a “chave que abre as portas” para o

entendimento espacial da realidade geográfica posta. Quando tivermos que considerar a

organização política do Turismo na Região da Ibiapaba este exercício de “volta no

tempo” (tomando por base o ano de 2005) também se mostrará necessário.

Admitindo que o espaço geográfico além de ser um híbrido de marcas passadas e

presentes é ainda palco imaginativo de virtualidades futuras (SANTOS, 1996), também

nos remeteremos neste estudo às potencialidades que o espaço religioso do Santuário

pode conter rumo a um futuro promissor, tendo em vista a imaginação criadora do

homem. Para realizar uma pesquisa mais elaborada, os geógrafos que estudam sobre

Religião penetram, ou pelo menos assim devem fazer, na vida religiosa, estudam-na do

interior. Percebem como o futuro e a idéia de outro mundo é vivenciada pelos fiéis

(CLAVAL, 2008).

Sobre o método

O trabalho científico direcionado amiúde para um objetivo de investigação

caminha para o conhecimento e possível explicação de determinado(s) fenômeno(s).

Para tanto, deve seguir a um método que direcione seus rumos. Desta forma, o método

usado numa pesquisa diz muito no seu resultado final. A sua variação implica

certamente em seu produto terminal.

O método diz respeito às concepções amplas de interpretação do mundo, de objetos e de seres, referentes às posturas filosófica, lógica, ideológica e política que fundamentam a ciência e os cientistas na produção do conhecimento (HISSA, 2002, p. 159).

Este estudo se estrutura, assim, pelos moldes de predominância do método

fenomenológico, dirigindo-se em maior grau como uma pesquisa qualitativa de análise

geográfica, baseada, principalmente, no estudo da “imaginação” (BACHELARD,

1989). No entanto, sabemos que “o projeto fenomenológico se define como ‘uma volta

às coisas mesmas’, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá

como seu objeto intencional” (SPOSITO, 2004, p.35). É procedendo por esta ideologia

que tocamos a pesquisa adiante.

Os atores e agentes escutados, mesmo diante das limitações estruturais da

(25)

experiências culturais e expressos por suas percepções1. A realidade geográfica que lhes

tocam é analisada através da vocação analítica que a considera como criação social, pois

“é na relação intersubjetiva que o lugar vai sendo construído” (NOGUEIRA, 2004,

p.217).

Aproximando o entendimento fenomenológico aos preceitos geográficos,

Nogueira (2004, p.212) ressalta:

A perspectiva fenomenológica da geografia deixa de priorizar a descrição do mundo físico e humano, para descrever o mundo vivido, onde o físico/humano são elementos percebidos e interpretados pelos diversos sujeitos que os experienciam.

Como a investigação aqui desdobrada pretende absorver “o espaço por ele

mesmo”, afinal de contas “o próprio do espaço deve mostrar-se a partir dele mesmo”

(HEIDEGGER Apud SAMARAGO, 2008, p.19), entendemos a extensão geográfica

estudada por uma constituição de aspectos identitários (projetivos) de vinculação

religiosa, de um lado, e uma perspectiva turístico-regional de outro. No paralelo à

composição emergente de um Santuário católico de forte apelo conciliador e grande

plasticidade simbólica, as vivências e as possíveis prospecções do espaço circundante

também se revestem em designações analíticas.

Clareando os caminhos de pesquisas afins, Fabri (2007, p.40), com base nas

idéias de Husserl, destaca:

Uma fenomenologia da cultura deve ter como objetivo analisar e descrever as relações de motivação entre os indivíduos, bem como a relação desses com os objetos culturais de seu próprio Umwelt2. Trata-se de compreender em que medida são possíveis formações sempre novas de significar e resignificar o mundo no interior da vida coletiva3. O devir do mundo circundante é determinado pela liberdade que caracteriza o agir humano.

Sobre a metodologia

“A pesquisa cientifica é uma busca de informações, feita de forma sistemática,

organizada, racional e obediente a cerca das regras” (MOREIRA, 2002, p.11).

Direcionada em muito pelo método adotado, a metodologia de uma pesquisa científica

1

Moreira (2002, p. 108) corrobora dizendo: “o método fenomenológico enfoca fenômenos subjetivos na crença de que verdades essenciais acerca da realidade são baseadas na experiência vivida”.

2

“O Umwelt (mundo circundante) é sempre e necessariamente algo percebido, rememorado, imaginado, etc. por alguém, vale dizer, ele é intencionado de diferentes modos por aquele que o percebe, rememora, imagina, e assim por diante. Conseqüentemente, não se pode separar o mundo circundante dos atos da pessoa” (FABRI, 2007, p. 40).

3

(26)

presume caminhos que a levarão a um determinado fim (DEMO, 1991). A metodologia

pode, então, ser caracterizada pelos seus aspectos instrumentais, referindo-se:

[...] ao conjunto de procedimentos – incluindo uma diversidade de técnicas –

adotado por uma atividade científica para a produção do conhecimento [...] Cada pesquisa demanda um projeto (metodológico) que lhe corresponda (HISSA, 2002, p. 159-164).

Os procedimentos adotados nesta pesquisa, inscritos na tentativa de facilitar a

compreensão da complexa realidade em estudo, funcionam como meios reguladores

canalizados para alcançar os anseios objetivados. Para que possamos ter um exame bem

apurado da pesquisa empreendida, não podemos, assim, considerá-los em separado.

Sublinhamos tais procedimentos em quatro momentos principais:

a) Levantamento, análise e revisão bibliográfica: Consiste na consolidação de uma base

teórica capaz de ventilar possíveis respostas às indagações surgidas através das

inquietações empíricas relacionadas com o campo de estudo. Neste sentido, trabalhou-se

com livros, artigos, dissertações, teses, dentre outros materiais. Trata-se de uma leitura

cara ao entendimento dos fenômenos estudados.

b) Trabalho de campo: Imprescindível a um estudo geográfico de caráter empírico,

refere-se às visitas e contatos que estabelecemos com o universo (físico e humano)

estudado. Além de oportunizar ambiência e conhecimento da área, possibilitou

importantes momentos de observações da realidade.

c) Aplicação e interpretação de inquéritos: Realizado em parte no campo, seguindo ao

rigor científico, acatando ao método predominante utilizado na pesquisa, optamos, para

além da observação real, por trabalhar com o recurso do inquérito, buscando

informações através de duas maneiras: entrevista e questionário. A entrevista, aplicada

com atores que representam um grupo ou instituição. O questionário, utilizado com

determinados agrupamentos. Este trabalho, mesmo com suas demarcações, acontece no

intuito de retratar existencialmente as percepções geográficas acerca da realidade

avaliada.

d) Confecção e uso de material iconográfico: Diz respeito basicamente à aquisição e

produção de imagens que auxiliam na leitura e compreensão do texto integral. Refere-se

à inserção de mapas, figuras, fotografias, tabelas e gráficos, usados para representar o

(27)

Capitulo I:

(28)

CAPÍTULO I: A ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA RELIGIÃO E DO

TURISMO

1.1.A Religião enquanto tema cultural de interesse geográfico

Expressão institucional do ponto de vista espiritual, reflexo das escolhas

culturais de vida dos seres humanos, a Religião faz parte das discussões geográficas,

principalmente, pela tentativa dos geógrafos de entender e explicar as razões que levam

o indivíduo a perceber e significar certas porções do espaço geográfico como sagradas.

Como tema profundo à vida social e cultural da humanidade, a Religião,

atividade esta repleta de implicações e significados espaciais, ao longo do processo de

evolução do pensamento geográfico não recebeu grande relevância nos estudos desta

ciência. Foi por muito tempo negligenciada pelos geógrafos. Na Geografia brasileira

este fato nos parece ainda mais notório.

Ao realizarmos um exame da obra “Geografia – Pequena História Crítica” de

Antonio Carlos Robert de Moraes (1987), onde o autor faz um balanço da evolução do

pensamento geográfico, apresentando e, em algumas vezes, confrontando ideologias das

principais escolas, autores e linhas de análises, mesmo levando em consideração os seus

contextos históricos, não conseguimos encontrar nenhuma menção a estudos que

pudéssemos relacionar diretamente ao entendimento da Geografia da Religião; nem

mesmo quando se relatou sobre o processo de renovação da Geografia.

Contudo, ao reconhecer que o movimento de renovação da Geografia “advém da

diversidade de métodos de interpretação e de posicionamentos dos autores que o

compõem” (1987, p. 98), Moraes faz um apontamento para as novas perspectivas das

pesquisas geográficas, como as possibilidades de estudos sobre as formas de

representação do espaço geográfico. Espaço que é, a nosso ver, carregado de feições e

significados religiosos.

O descuido da Geografia para com as investigações sobre Religião, o que não

aconteceu tão fortemente nas outras Ciências Sociais, que contribuíram em muito para

melhorar a ventilação explicativa deste fenômeno, é ressaltado em parte por Rosendahl

(1996) por dois aspectos principais: 1º) a influência positivista na Geografia; e 2º) a

(29)

No que toca à educação positivista, é sabido que, esta, na sua acepção, deixou

um legado de ser concernente a Geografia estudar os fenômenos de sua ordem por uma

base primeiramente física, dificultando a realização de análises que partam de

concepções abstratas perante conteúdos culturais e simbólicos, revelando a

espacialidade material econômica e populacional como eixo indispensável para as suas

investigações. É, pois, verdade que “o partido positivista adotado dissuadia os geógrafos

das representações” (CLAVAL, 1999, p. 45).

De acordo com a visão positivista, os objetos só podem ser estudados pelas suas

revelações exteriores. Explanações fenomenológicas não são bem vindas, isto porque

não são passíveis de uma fácil exposição aos olhos desses críticos. “O positivismo

caracteriza-se por um agnosticismo no qual nega a razão e a fé o poder de provar a

existência de Deus [...]. A existência de Deus constitui-se em uma questão metafísica,

fora do âmbito da ciência positiva” (ROSENDAHL, 1996, p.20). Grosso modo, pode-se

dizer que o positivismo provoca uma espécie de afastamento entre Religião e ciência.

Por sua vez, a Geografia Crítica, portadora de uma proposta austera de

questionamentos às bases da Geografia Tradicional – que adotava o positivismo como

premissa –, não conseguiu ensejar grande interesse nos geógrafos para que estudassem

as dimensões geográficas da Religião. “O procedimento rigorosamente materialista de

análise em busca das forças que realmente moviam a sociedade, levou os geógrafos a

marginalizar as questões religiosas de seus estudos” (ROSENDAHL, 1996, p.22).

Influenciados diretamente pelas concepções marxistas, os geógrafos críticos se

pautaram, sobretudo, por questões que denotavam as contradições do modelo de

produção capitalista, ficando, assim, negligenciados das averiguações outros

comportamentos do ser humano, como a religiosidade.

É também verdade afirmar que a relação entre marxismo e Geografia Cultural

não se desenvolveu por um diálogo mútuo (COSGROVE, 2007). A esse respeito, Claval

(1999, p. 59) ressalta:

Os regimes marxistas tentavam apagar as culturas ou reduzi-las a um folclore indigente [...] Os intelectuais marxistas contribuíram amplamente para o declínio dos estudos geográficos culturais, pois para eles, o econômico explicava tudo em última instância.

A esse período em que a Geografia esteve a se descuidar do estudo da Religião,

Santos (2002) denominou-o de “Geografia sem religião”, afirmando que tanto a

(30)

[...] Geografia Tradicional quanto a Geografia Marxista (com raras exceções) negligenciaram a dimensão sensível do homem de percepção do mundo. A primeira por negar o conhecimento subjetivo; a segunda, por rotular de alienação toda e qualquer relação afetiva ou simbólica do homem com a natureza (p.24).

Mesmo na Geografia Humana algumas correntes de estudo pouco consideraram

a religiosidade do ser humano, deixando à margem de suas investigações aspectos como

a percepção e a imaginação das criaturas diante das expressões religiosas. O quadro

recorrente de afastamento dos contextos religiosos nos conteúdos geográficos, porém, é

então relativizado pela atuação e importância da linha de pensamento conhecida por

Geografia Humanista (CLAVAL, 1999; ROSENDAHL, 1996; OLIVEIRA, 2001;

SANTOS, 2006).

A Geografia Humanista, como maneira distinta de enxergar as relações

geográficas, remete o homem ao centro de suas análises, tirando-lhe de uma situação

secundária e limitada. Ela vai ao encontro da dimensão subjetiva do homem,

entendendo-a como possuidora de fortes incidências geográficas. Nesta ordem, os

fenômenos são analisados e apresentados a partir de onde ganham vida, do íntimo de

cada ser. “De acordo com esse novo paradigma de conhecer o mundo, não somente em

sua percepção do mundo, mas também pelo imaginário que elabora acerca do meio em

que vive, torna-se possível uma reflexão do fenômeno religioso na geografia”

(ROSENDAHL, 1996, p.23).

1.1.1. A importância da renovação e difusão da Geografia Cultural

É consenso que a denominada virada cultural na Geografia trouxe grandes

avanços às pretensões das análises dos geógrafos que enveredavam seus estudos por

uma ótica cultural, ampliando as possibilidades teórico-metodológicas. Neste bojo, a

Religião passava a ser estudada de forma mais estruturada nesse campo científico, assim

como outros temas. Simbolismo e identidade são alguns desses. Essa passagem resulta

no processo de renovação da chamada Geografia Cultural e tem como referência inicial

a segunda metade da década de 1970. Uma leitura das ações que levaram a tal

acontecimento ajudará a compreender como a Religião, em meio à inserção de novas

perspectivas à Geografia, passou a ser incorporada pelo julgamento dos geógrafos como

(31)

A Geografia Cultural4, considerada subcampo da Geografia, tem seu processo de

difusão iniciado na Europa, estendendo-se daí para outros lugares, já possuindo mais de

um século de existência (CORRÊA & ROSENDAHL, 2007). Nasce a partir das

observações dos diferentes gêneros de vida e paisagens, quase que exclusivamente

levando-se em consideração as comunidades rurais. O modo de vida urbano não

interessava. A paisagem ficava compreendida como o resultado do trabalho do homem,

produto de sua cultura.

Oculta ou explicitamente, o tema cultural sempre fez parte das análises dos

geógrafos humanos5, ocorrendo uma espécie de sistematização dessas considerações a

partir do século XX. Alemanha, França e Estados Unidos apresentaram-se como os

países mais expressivos no tocante à disseminação dos estudos de Geografia que

optavam por uma perspectiva cultural de explicação dos fenômenos. A saber, essa

abordagem era denominada Geografia Cultural.

Em realidade, foi nos Estados Unidos, especialmente, que a Geografia Cultural

ganhou uma sólida base de sustentação, principalmente através dos estudos de Carl

Sauer. A obra de Sauer, tido por alguns como o “pai da Geografia Cultural”, hoje

considerada tradicional, sobretudo pela crítica à sua visão supra-ôrgânica de cultura,

“teve importante papel na história do pensamento geográfico, deixando um rico legado.

Dialeticamente, sua presença se faz sentir na geografia cultural renovada” (Corrêa &

Rosendahl, 2007, p.11). A Escola de Berkeley, por sua nota, teve papel ímpar no

favorecimento da inserção da variante temática cultural nas discussões geográficas,

onde já se tem hoje um relativo entendimento epistemológico da cultura no corpo da

“ciência do espaço”, a Geografia (MARTINS & SILVA, 2007), fator que, em parte,

deve-se à melhor compreensão do conceito de cultura, incorporando as subjetivas

maneiras de se vivenciar o conteúdo simbólico dos fenômenos geográficos.

Até que acontecesse o processo de revisão dos geógrafos ao conceito de cultura,

seus estudos se desenvolviam de uma forma reducionista, limitando-se às técnicas e

utensílios que os homens utilizavam na transformação da paisagem, reflexo do que se

4

Em nota: o termo Geografia Cultural é lançado pela primeira vez por Ratzel em 1880 na obra chamada Culturgeographie der Vereinigten Staaten von Nord-Amerika unter besonderer Berücksichtigung der wirtschaflichen Verhältnisse (CLAVAL, 1999).

5

“Da maioria dos geógrafos humanos pode dizer-se que estão a “fazer” geografia cultural de uma forma ou de outra, mesmo quando eles se chamam a si próprios de “geógrafos urbanos”, “geógrafos históricos”,

(32)

entendia por cultura (CLAVAL, 1999). Os temas cultura, paisagem cultural, região

cultural, história da cultura e ecologia cultural predominavam no seio da disciplina6.

O interesse dos geógrafos pelos fatos de cultura era centrado no conjunto de utensílios e equipamentos elaborados pelos homens para explorar o ambiente e organizar seu hábitat. A mecanização e a modernização introduzem um arsenal de máquinas e de tipos de construções tão padronizados que o objeto de estudo é esvaziado de interesse. A geografia cultural entra em declínio, porque desaparece a pertinência dos fatos de cultura para explicar a diversidade das distribuições humanas (CLAVAL, 1999, p.48).

Como a visão de cultura nos estudos geográficos se resumia aos modos de

existência e sobrevivência de alguns grupos que estariam à margem do progresso, esta

Geografia se negava a estudar as implantações modernas. Por isso a sensação real de

crise, afinal a globalização surgia com uma promessa de homogeneização.

Contraditoriamente àquilo que foi pensado, os efeitos do processo da

globalização não conseguiram extinguir os diferenciados estilos de vida dos grupos

sociais, tornando-os inclusive mais notáveis na maioria dos casos. A massificação não

se deu por completo. A cultura ganhou ares de multiplicidade, brotando de diversas

interações. Portanto, incidiu que, diante de um mundo “multicultural”, tornava-se

manifesto crescente o interesse de geógrafos por esse campo, elegendo a cultura como

elemento essencial de suas análises. Em registro, postula-se que a Religião faz parte

decisivamente do cotidiano cultural de grupos e lugares.

Num apontamento embasado frente às limitações analíticas engendradas pelas

epistemologias naturalistas e funcionalistas, visões de parte dos geógrafos do final do

século XIX e de parte do século XX, que ideologicamente dispensavam o

questionamento crítico à natureza e à sociedade, Paul Claval (2002) vem nos elucidar o

fato de que estas concepções não deram o lugar devido às ações executadas pelo

indivíduo. Ressalta o autor que:

El enfoque cultural corrige estas orientaciones: al concebir el espacio como una escena donde los seres humanos se ofrecen al espectáculo, representan papeles que los valorizan, los enriquecen o les aseguran ciertos poderes, tiene en cuenta al individuo y las iniciativas de que es autor. Nos hace descubrir el sentido que le dan los seres humanos a los decorados que los rodean y que, en gran medida, han construido. Nos hace entrar en el universo de sus valores y creencias, y aclara las estrategias que retienen en su vida social, política o cultural (p.38).

Destarte, seguindo a orientação indicada acima, as análises dos geógrafos

começavam a considerar as representações imaginárias do indivíduo. A partir daí o

mundo passa a ser visto pelo lado perceptivo de quem o vivencia, de quem lhe traz

6

(33)

animação. A cultura passa a se constituir em um elemento primaz às análises de tal

natureza, não mais explicando tudo, e sim, precisando ser explicada quando abordada

em estudos sobre as realidades geográficas de regiões, territórios, paisagens e lugares –

instâncias estas constituídas de fixos e fluxos, fatores básicos da conceituação de espaço

geográfico (SANTOS, 2005). Espaço que é palco da vida social, onde os homens

descansam seus laços afetivos e desenvolvem seus mecanismos de comunicação. É

diante deste novo patamar de abordagem que a Geografia Cultural se renova.

Uma possível definição dessa “nova” geografia cultural seria: contemporânea e histórica (mas sempre contextualizada e apoiada na teoria); social e espacial (mas não reduzida a aspectos da paisagem definidos de forma restrita); urbana e rural; atenta à natureza contingente da cultura, às ideologias dominantes e às formas de resistências. Para essa “nova” geografia a cultura não é uma categoria residual, mas o meio pelo qual a mudança social é experienciada e, contestada e constituída. (COSGROVE & JACKSON, 2007, p. 136).

Os estudos de Geografia Cultural, por expressão, devem, então, reclamar por

explicações que relacionem o meio geográfico com o homem através de suas atividades

culturais. Devem pensar a percepção do ser para com o espaço que visita ou que habita.

Por exemplo: Como peregrinos e romeiros ou turistas vivem a festa religiosa e

percebem o espaço sagrado? Como os moradores da localidade anfitriã dessa mesma

festa a entendem? Obviamente que suas experiências culturais refletirão diretamente em

suas concepções de existência e convivência. É também provável que os estudos postos

adotem conceitos variados de cultura, retratando da melhor maneira o fenômeno que

estão a averiguar.

Superando a visão de cultura como um agente supra-orgânico, como via Carl

Sauer, onde o ser humano não passava de um simples receptor desta suposta força dada,

compreendemo-la como uma variável política e que “enquanto criação social, é parte

integrante da trajetória humana” (CORRÊA, 2007a, p. 172). Pouco acrescentaria se aqui

recorrêssemos por uma definição una de cultura, assim preferimos tê-la como “multi”,

brotando das diversas relações sociais, salvaguardando suas especificidades de tempo e

lugar. Assim, acreditamos que a cultura possui simultâneas geografias como lócus de

sua representação e vivência, com um status perceptivo peculiar.

Não obstante a produção bibliográfica com abordagem centrada na dimensão

cultural, por vários motivos, ainda consista em uma quantidade relativamente menor do

(34)

destacam nesse tratamento7 e contribuem para o incremento dessa discussão geográfica,

visitando freqüentemente outras áreas do conhecimento, como Filosofia, Ciências da

Religião, Psicologia, Sociologia, Antropologia etc.

Aproximando as discussões da Geografia Cultural com as intenções marcadas

nesta seção textual, salientamos que, na “Geografia Cultural Tradicional”, a Religião se

apresentava pelas formas descritivas dos lugares possuidores desse cariz. Mesmo com

todo o preconceito vindo dos paradigmas positivistas, tornava-se quase que impossível

desconsiderar a questão religiosa frente à realidade geográfica de lugares e regiões, pelo

menos como uma atividade disseminadora de formas arquitetônicas magníficas tidas

como sagradas, que geravam por ora uma atratividade surpreendente. Em causa:

Os geógrafos preocupados com as realidades culturais dedicam uma atenção crescente aos fatos religiosos. Eles continuam, portanto, a abordá-los do exterior, a partir dos signos que imprimem na paisagem. Hesitam em tratar de sua influência sobre os comportamentos e sobre as escalas de preferência que instituem (CLAVAL, 1999, p.45).

Na seqüência das palavras ditas acima, Paul Claval aponta como importante

contributo ao avanço da discussão da Religião pela Geografia a obra do francês Pierre

Deffontaines: Géographie et religion (Geografia e religião), datada de 1948. Em outro

número literário, Claval (2007) faz menção a mais um trabalho científico também

inerente ao amadurecimento da apreciação posta: L Homme et la Terre (O Homem e a

Terra), de outro francês, do historiador Eric Dardel, escrita em 1952. De fato, estas

produções configuraram-se como contribuições respeitáveis aos anseios da Geografia da

Religião – objeto de nossas próximas discussões.

No entanto, não podemos deixar de mencionar que os avanços epistemológicos

da Geografia Cultural refletiram em potencialidades para os estudos da Geografia da

Religião. Um dos grandes feitos reside na mudança de escala das análises, antes focadas

em grandes paisagens e regiões, passando a permitir o estudo de espaços mais

reduzidos, como um bairro, uma rua ou um santuário (SANTOS, 2006).

Com a reformulação da Geografia Cultural, a Religião passou a fazer parte mais

intensamente do rol das atividades culturais assim demarcadas pelos geógrafos, sendo

vista até pelos seus aspectos simbólicos. Assim, o foco desses estudos conseguiu ir além

das materializações espaciais da Religião, chegando até o modo como as pessoas ao

vivenciarem suas crenças interpretam estes espaços.

7

(35)

1.1.2. Sobre a disciplina Geografia da Religião

De acordo com a subdivisão que realizam os geógrafos nesta ciência,

estabelecendo nomenclaturas singulares às suas áreas de especialização, em

consonância com as atividades que diretamente estudam8, a Religião, como seu alusivo

nome indica, é analisada de forma mais acentuada pela disciplina Geografia da

Religião. Situada mais acertadamente como sub-ramo integrante do campo da Geografia

Cultural, pelas relações estreitas existentes entre os aspectos religiosos e culturais

exprimidos por pessoas e lugares, a Geografia da Religião enquadra-se mais

perfeitamente na grande divisão Geografia Humana (FICKELER, 2008).

A Geografia da Religião9, como parte da Geografia que tece preocupações

acerca dos fatos religiosos, relacionando-os a quadros espaciais, faz atualmente um uso

significativo de abordagens que privilegiam as compreensões dos seres humanos frente

aos fenômenos simbólico-religiosos. Tem, por ordem, a tarefa de investigar e explicar

as relações entre a Religião e a realidade geográfica dos lugares.

Enquanto disciplina, a Geografia da Religião passou por algumas etapas de

evolução (Ver Figura 3). Remontando ao período da Antiguidade grega, é a partir dos

séculos XVI e XVII que se denotam os primeiros indícios de conhecimentos referidos à

classificação geográfica sobre a Religião. Fazendo-se de informações teológicas,

sobretudo para cartografar os lugares religiosos, os geógrafos contribuíram nessa

mesma época para a sistematização do que se chamou de Geografia eclesiástica. Ao

mesmo tempo do desenrolar desta última, ainda no decurso do século XVII, surge da

necessidade e vontade do geógrafo de identificar, localizar e representar os lugares

descritos pela Bíblia a denominada Geografia bíblica, conhecimento que se estende até

o início do século XX. Este é um período que se caracteriza incisivamente por estudos

descritivos, geralmente analisando o cristianismo em seu nível de crescimento

(SANTOS, 2006).

8

É o que Hissa (2002) chama de “distritos do saber”. Como por exemplo: Geografia do Turismo, Geografia da Indústria, Geografia Agrária, Geografia da Saúde, dentre outras.

9

(36)

Figura 3: Antecedentes, gênese e evolução da Geografia da Religião (esquema-síntese) ...--- Séculos XVI-XIX Século XX

Fonte: Adaptado parcialmente de SANTOS (2006, p. 128).

Segundo Santos (2006), é a partir do Pós Segunda Guerra Mundial que acontece

o movimento de despertar da verdadeira Geografia da Religião, agora baseado

essencialmente em conhecimentos geográficos formais, cujas informações religiosas

serviam apenas de suporte ao entendimento das realidades espaciais. No andamento do

processo de evolução, é entre os anos 60 e 70 que vem a ocorrer o período da

construção10 disciplinar. Foi durante estes dois momentos citados por último que

paisagens e territórios passaram a ser mais bem analisados pelos seus aspectos de

influência religiosa.

Somente no início dos anos 80 é que a Geografia da Religião conhece seu

processo de consolidação, firmando-se como campo reconhecido no seio da ciência

geográfica. Assim, com a validação científica, surge a oportunidade de inovações nos

métodos de estudo, não por acaso seguindo as transformações do processo de renovação

da Geografia Cultural. O homem passa a ser visto por sua “individualidade” religiosa, o

que enriquece as possibilidades deste campo de estudos. Já o século XXI, diante do

aumento das mazelas que vivem a população num todo, desponta com muitos desafios a

Geografia da Religião, requerendo respostas inteligíveis no que concerne ao

entendimento da formatação de quadros espaços-religiosos, suscitando novos caminhos

de investigação (SANTOS, 2006).

Tanto em nível nacional como mundial, ganham cada vez mais importância na

ciência geográfica discussões sobre os efeitos das diversas legendas religiosas. Cresce o

10

Santos (2006, p.174) apresenta um quadro-síntese com os nomes dos principais autores que concorreram com seus trabalhos para a construção do corpo teórico da disciplina Geografia da Religião.

GEOGRAFIA DA RELIGIÃO Antiguidade clássica Geografia bíblica Geografia eclesiástica Anos 40-50 -Despertar- Anos 60-70 -Construir- Anos 80-90 -Consolidar-

(37)

número de departamentos, núcleos11, revistas, encontros e grupos de pesquisas12 de

Geografia que incorporam esta temática em seus anseios universitários. Mesmo ainda

em estágio inicial de evolução, no Brasil o estudo geográfico da Religião conhece

alguns nomes destacáveis neste tratamento. Aqui relacionamos alguns desses:

FRANÇA, 197213; ROSENDAHL, 1996; OLIVEIRA, 2001; GIL FILHO, 2001.

Recentemente, a Professora Maria da Graça Poças Santos dispensou ao campo

da Geografia da Religião uma ampla e significativa contribuição. Fruto de seu trabalho

de doutoramento, a obra da autora portuguesa se intitula “Espiritualidade, Território e

Turismo: Estudo Geográfico de Fátima”. Privilegiando uma ótica da Geografia

Cultural, situando aí a Geografia da Religião, Poças Santos buscou entender as

dimensões espacial, religiosa e espiritual exercidas pelo Santuário de Fátima de

Portugal, entendendo-o como um atrativo religioso e turístico. Para tanto, parte de uma

noção de território enquanto construção social que carrega vertentes de ordem material e

temporal.

1.1.3. O interesse da Geografia pela Religião

Muito influenciadas pelas ideologias do historiador Mírcea Eliade, as

investigações geográficas sobre a Religião têm se pautado pela dualidade conceitual

entre sagrado e profano. Segundo este autor, esses são os dois modos possíveis de

existência do ser humano no mundo. Deste feito, no que tange às refletâncias do espaço

sagrado, “o homem deseja situar-se num ‘centro’, lá onde existe a possibilidade de

comunicação com deuses” (ELIADE, 2008, p.141). Em geral, o que fica fora deste

centro se torna espaço profano.

Contudo, a compreensão do acontecimento de processos, encontros e misturas

culturais no mundo atual, cada vez mais heterogêneo, nos leva ao entendimento de que

11

Em termos nacionais, o NEPEC (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura), coordenado pela Professora Drª. Zeny Rosendahl, que funciona na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), destaca-se pelo trabalho desempenhado nesta área. Ver: www.nepec.com.br. O NUPPER (Núcleo Paranaense de Pesquisas em Religião), sob coordenação do Prof. Dr. Sylvio Fausto Gil Filho, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), é outro meio de discussão geográfica da Religião. Ver:

http://www.geog.ufpr.br/nupper/.

12

Como exemplo, citamos o Grupo “ESTUDOS GEOEDUCACIONAIS - Turismo, Religiosidade e Planejamento Regional na Formação do Imaginário Geográfico” do qual fazemos parte, coordenado pelo Professor Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira, cadastrado pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e que se encontra vinculado ao LEGE (Laboratório de Estudos Geoeducacionais) do Departamento de Geografia da UFC. Ver: www.lege.ufc.br.

13

Imagem

Figura 1: Esboço reduzido da investigação
Figura 2: Área representativa de estudo
Figura 3: Antecedentes, gênese e evolução da Geografia da Religião (esquema-síntese)                                                                          ......................................-----------------------------------------------------
Figura 4: Mediações motivacionais para o exercício do Turismo Religioso
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Referências

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