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Capítulo 3: O e-learning e o e-assessment

3.1 Do magister dixit ao e-learning

3.1.1 O e-tutor e o e-aluno

Antes de mais convém clarificar o porquê de se optar pela terminologia de ‘e-tutor’ em detrimento da de ‘e-professor’. A escolha do primeiro prende-se essencialmente com duas questões. A primeira tem a ver com os traços semânticos do termo ‘professor’, ou

25 Esta questão será mais desenvolvida na secção 3.1.1.

26 É de realçar que o conceito de ‘conteúdos’ se refere aos materiais disponibilizados ao e-aluno para um determinado curso, não sendo estes necessariamente apenas conceptuais.

seja, aquilo que se associa a este conceito em termos de significação. A título de exemplo, pode dizer-se que o conceito de ‘professor’, regra geral, se associa àquele que ensina, que expõe (magistralmente) os conteúdos programáticos de uma determinada disciplina, etc. Assim sendo, desde logo se denota uma discrepância entre o professor tradicional (ou de contexto presencial) do tipo de professor de que se necessita num contexto que não é presencial. Por sua vez, o ‘tutor’ já será aquele que guia, que mostra caminhos possíveis, que aconselha,… Daí que, à partida, o e-tutor pareça ser a figura que mais se adequa ao contexto de ensino e de aprendizagem online, como se passa a explicar.

A tutoria online pode definir-se como o acto de gerir os formandos e a aprendizagem através de um meio online; daí que não se possa partir do pressuposto de que, por ser EaD, o professor não terá muita participação no processo de ensino e aprendizagem. Por outras palavras, o e-professor passará a assumir-se como e-tutor, uma vez que terá de gerir e de garantir a qualidade da comunicação e de moderar as interacções entre os elementos de uma CAD. Ponte (1997:57) ainda salienta que:

“(…) o papel do professor não perde importância, antes ganha novas dimensões e maior responsabilidade. (…) De facto, não faz sentido opor o computador e o professor como se fossem antagonistas. Será a combinação dos dois, ambos no máximo das suas possibilidades, que constituirá a equipa pedagógica do futuro.”

Actualmente, o EaD online está a deixar de colocar a sua ênfase apenas no recurso a repositórios de conteúdos e a apostar mais numa estrutura interactiva que valoriza questões sociais na construção do conhecimento e em abordagens pedagógicas que conferem centralidade ao aluno. Assim, para além da competência científica, o e-tutor terá de entender as dinâmicas da comunicação e da interacção online.

O papel do e-tutor passará, então, em grande parte, por dar resposta a desafios que já se colocavam no ensino presencial, mas que carecem de outro tipo de resposta devido ao contexto (online):

a) conceber e planificar um curso flexível em termos de utilização;

b) aprender a ser tutor/facilitador da aprendizagem (em vez de se apresentar como detentor de um “saber absoluto”);

c) gerir uma comunidade de aprendizagem heterogénea (com conhecimento prévio, necessidades e objectivos diferentes);

d) acompanhar a evolução não só da comunidade como um todo, mas também de cada indivíduo.

Em suma, terá de delinear estratégias que procurem garantir o sucesso do curso em causa, nomeadamente fomentando a interacção da comunidade de aprendizagem e respeitando o ritmo e as necessidades de cada aprendente enquanto indivíduo. Tudo isto implica que, não só o formador, como também os formandos (enquanto membros de uma CAD e simultaneamente indivíduos) tenham de assumir diferentes papéis: por um lado, os primeiros, enquanto e-tutores, terão de adequar os seus objectivos pedagógicos, metodologias e estratégias; por outro lado, os segundos serão chamados a ter mais autonomia sobre o processo de aprendizagem. Desta forma, o e-tutor deverá actuar em dois planos distintos (Santos, 2000), a saber:

a) Concepção do curso: Responsabiliza-se pela definição da metodologia, dos

objectivos pedagógicos e das estratégias mais adequadas. Uma vez que o contacto presencial será escasso ou mesmo nulo e que, regra geral, as limitações temporais dos cursos não se compadecem com muitas falhas a estes níveis, deverá estudar bem as características do público-alvo de forma a ir ao encontro das suas expectativas em relação ao curso. Uma das componentes do curso que também não pode ser negligenciada é o e-assessment. Assim, terá de o planificar e de o realizar tendo em conta, como referem Pereira et al. (2003:46):

“a natureza dos conteúdos da disciplina; [o] tipo de aprendizagens e competências que se pretende promover; [a] metodologia adoptada (estratégias, tipo de actividades, materiais utilizados, etc.); aspectos circunstanciais que podem condicionar as decisões a tomar (…) (tempo disponível para as tarefas, exequibilidade das mesmas, número de estudantes, etc.).”

Por sua vez, isto também implicará a definição de critérios de avaliação, a correcção per se e a classificação. Sendo que o processo de avaliação de aprendizagens se afigura fundamental para a evolução da aprendizagem da comunidade, terá de se ter em conta alguns aspectos que a caracterizam (condicionam, auxiliam, dificultam, …) quando realizada online, como se procurará expor na secção 3.2.

b) Tutoria: Terá de programar e efectuar o acompanhamento pedagógico dos

alunos, que neste cenário tende a ser feito de forma mais individualizada; de moderar discussões (síncronas e/ou assíncronas); de difundir a informação; e de gerir o interesse dos alunos nos conteúdos, para que as expectativas criadas não saiam defraudadas.

Já no que diz respeito ao e-aluno, tal como refere Dobson (2002), em quase toda literatura relacionada com o e-learning se refere que, regra geral, os aprendentes que

frequentam e-cursos demonstram estar motivados para integrarem este formato educacional. Ainda assim, o autor realça ser essencial que os e-alunos revelem ter outras características, entre as quais: uma boa preparação base no que diz respeito às temáticas que irão ser abordadas, um bom domínio de competências comunicativas, e, não menos importante, que estes estejam bem quer ao nível emocional quer ao nível físico, para que possam estar à altura de lidar com a exigência deste tipo de cursos. No sentido de optimizar os cursos que ministra, Dobson (2002) terá ido mais longe ao desenvolver um projecto que o próprio intitula de E-LOI27 (E-Learner Orientation

Inventory), sendo que o objectivo por detrás da sua concepção será o facto de poder

“provide the data necessary for e-learning projects to grow successfully in the virtual

learning domain” (Dobson, 2002)28, ou seja, terá sido pensado com o propósito de se

poder, de certa forma, antever as probabilidades de os candidatos questionados virem a ser e-alunos bem sucedidos. Como o próprio autor relata, e embora o projecto ainda se encontre numa fase experimental, já será possível concluir que todos os candidatos que terão alcançado oitenta pontos em cem, terão sido bem sucedidos enquanto e-alunos. A título de exemplo, o sucesso dos e-alunos terá, então, sido avaliado, por um lado, com base num aperfeiçoamento das suas competências comunicativas e interpretativas, sendo que tal implica que estes tenham utilizado o computador como uma ferramenta de estudo efectiva, como forma de construírem conhecimento de forma colaborativa, entre outras coisas; por outro lado, pelo desenvolvimento de capacidades de trabalho críticas e analíticas, fundamentais para a optimização trabalho autónomo individual.