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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 O universo de empresas estudadas

A tabela 1 mostra a situação de 64 empresas que foram identificadas como possuidoras de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA), no município de Botucatu, no ano de 1997. Destas, 63 constavam no Livro de Registro de CIPA da Subdelegacia do Trabalho e Emprego de Bauru, como tendo essa comissão em funcionamento no ano de 1997. A outra empresa foi identificada a partir de consulta direta, realizada pelo pesquisador junto a 12 empresas que tiveram mais de 1 acidente registrado no Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS, no ano em questão. As outras 11 empresas não necessitavam instalar CIPA, de acordo com os critérios legais vigentes.

Tabela 1. Empresas de Botucatu, possuidoras de CIPA, no ano de 1997, segundo situação em relação à ocorrência de acidente do trabalho, funcionamento da

CIPA e resposta à solicitação de documentos relativos à investigação de acidentes ocorridos nesse ano. Botucatu, SP, 2000.

Situação das empresas Nº de empresas

Responderam à solicitação 27

Investigaram todos os AT registrados ou mais 07 Investigaram parte dos AT registrados 11 Não investigaram nenhum dos AT registrados 09

Sem AT registrados em 1997 24

CIPA extinta (Sem AT registrado) 03

Empresa fechada 05

Empresa não localizada (Sem AT registrado) 05

Total 64

Do total de 64 empresas, 24 não tiveram acidente do trabalho registrado junto à Previdência Social, fato verificado, seja pela pesquisa de acidente, no banco de dados disponível no Programa de Saúde do Trabalhador (PST) da Diretoria Regional de Saúde de Botucatu, DIR XI, seja por contato direto do pesquisador com a empresa. Das 40 restantes, 27 responderam à solicitação de cópias de material (fichas de investigações adotadas na empresa, cópia de investigações de acidentes ocorridos

no ano de 1997, material usado em formação de cipeiros e prevenção de acidentes na empresa), tendo 7 delas investigado a totalidade dos AT registrados com comunicação de acidente do trabalho (CAT) junto à Previdência Social, 11 investigado parte e 09 não tendo investigado nenhum dos AT notificados.

A busca de informações acerca das demais 13 empresas permitiu constatar que, em 3 casos, a CIPA havia sido extinta devido à diminuição do efetivo da empresa, sem que houvesse a respectiva baixa junto à representação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O mesmo aconteceu no caso de 5 empresas que haviam sido comprovadamente fechadas e, provavelmente, com outras 5 que não foram localizadas, apesar de busca em catálogo telefônico e consultas diversas, inclusive visita ao endereço indicado no Livro de Registro, que resultaram infrutíferas. Conforme esperado, não existiam registros de acidentes do trabalho relativos a essas 13 empresas, no banco de dados formado a partir das comunicações de acidentes do trabalho.

Esses achados mostram que, das 64 empresas inicialmente identificadas como possuidoras de CIPA, no ano do estudo, esta comissão não existia em 13, sendo que, em 10 casos, a própria empresa não existia mais. Nas 51 empresas restantes, 27 apresentaram registro de acidentes e 24 não tiveram acidente registrado.

Alguns casos merecem registros especiais. Em 3 empresas, o número de acidentes típicos investigados foi maior que o de registrados. Uma fábrica de conglomerados ou chapas de madeira, que entregou material referente a 71 investigações de acidentes ocorridos no ano, mostrava registros de “apenas” 41 acidentes, no banco de dados formado a partir das CAT recebidas pelo PST. Uma fábrica de aviões, que teve apenas 1 acidente identificado no banco de dados, entregou cópias de 7 investigações realizadas no ano.

A maioria das empresas que não investigou os acidentes ocorridos não possuía Sesmt, embora estivesse com suas CIPA estruturadas e com o preenchimento dos documentos encaminhados ao Ministério do Trabalho e Emprego em dia. Das empresas que não investigaram a totalidade dos acidentes típicos identificados no banco de dados de CAT, merecem destaque:

a) uma, do ramo de atividade química, que, apesar de possuir Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (Sesmt) estruturado no ano do estudo

,

registrou 22 acidentes e não investigou nenhum deles;

b) um serviço público, também possuidor de Sesmt, que registrou 31 acidentes e investigou apenas 1;

c) uma empresa estatal do ramo de transportes que, no ano de 97, promovia programas de demissões incentivadas e desmontava o seu Sesmt, que registrou 11 acidentes e nenhuma investigação;

d) uma empresa de serviços com 27 acidentes registrados e nenhum investigado;

e) uma empresa de construção civil, que comprava serviços de empresa de assessoria de segurança, a qual investigou 3 de 17 acidentes registrados. Por outro lado, houve empresas que investigaram mais acidentes do que o total registrado no sistema de informações do PST. Essas duas ocorrências revelam insuficiências desse sistema em relação ao seu objetivo de detecção de acidentes ocorridos. Entre as hipóteses capazes de explicar o número de investigações superior ao de registros, duas parecem ser mais importantes:

a) a perda ou extravio de informações recebidas pela Previdência Social, seja no arquivamento na Agência local do INSS, seja após a remessa de cópias das CAT para o Serviço de Saúde até sua recepção no PST pelos encarregados da recepção, codificação, digitação dos dados e posterior emissão de relatórios;

b) a falta de emissão de CATs, pela empresa, ou o extravio de parte destas, antes de sua chegada ao INSS. Nos casos de acidentes considerados mais leves, a não-emissão parece mais provável. Além disso, o fato de muitas empresas atribuírem ao próprio acidentado a responsabilidade de entrega

da CAT, na agência local do INSS, pode associar-se ao extravio ou não- entrega desses documentos.

Por outro lado, o fato de a maioria das empresas não ter investigado ou ter investigado apenas parte dos acidentes ocorridos revela, em primeiro lugar, o desrespeito, por parte de empresas do município, às determinações legais firmadas nas Normas Regulamentadoras nº 5 (NR 5) ou 18 (NR 18), do Ministério do Trabalho. Além disso, a inexistência de investigação contraria tendência observada na literatura, no sentido de extensão dessa prática, inclusive para incidentes ou eventos sem vítimas, reconhecidos como fontes de informação importantes para o aprimoramento das práticas de prevenção adotadas nas empresas (Carter e Corlett 1984; Menckel e Kullinger 1996; Hale e col. 1997).

A existência de 13 empresas não localizadas, fechadas e/ou com CIPA desativada e de 01 empresa com CIPA constituída e não incluída no Livro de Registro existente na Subdelegacia do Trabalho mostra que o sistema de registro dessas comissões, adotado pelo Ministério do Trabalho, na região, não possui mecanismos de atualização com agilidade adequada às transformações do mercado. Esse fato pode relacionar-se à existência meramente cartorial desses registros, segundo depoimento de responsável pela área ao pesquisador.

4.2 As práticas de investigação de acidentes adotadas nas empresas

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