• Nenhum resultado encontrado

OBJETO DE ESTUDO, COMPOSIÇÃO E CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DO CORPUS

Charaudeau (2011, p. 3) afirma que “as ciências da linguagem fazem parte, então, das disciplinas de corpus: compilação de dados linguísticos [...] que são constituídos em objeto de análise”. (CHARAUDEAU, 2011, p. 3). Nesse sentido, ele propõe que, para definirmos esse corpus, devemos, antes de tudo, considerar a natureza dos dados.

Partindo desses direcionamentos, a pesquisa tomou como objeto empírico o gênero sentença judicial de natureza penal que trata de crime contra a dignidade sexual129 de crianças e adolescentes (crime hediondo)130, tendo como vítimas enteadas, enteados, filhas e filhos (réus: pais ou padrastos)131; como objeto de análise a Responsabilidade Enunciativa e a orientação argumentativa do texto, respectivamente, níveis (n8 e n7) de análise textual dos discursos, denominados: enunciação (dimensão enunciativa) e atos de discurso/ orientação argumentativa (visadas argumentativas) (ADAM, 2011), articulados à contextualização do estudo do plano de texto do gênero em tela.

O corpus desta pesquisa constitui-se de sentenças judiciais condenatórias. A coleta foi realizada na sede da 2ª Vara da Infância e Juventude da comarca de Natal do Estado do Rio

129Segundo Digiáco mo (2016, p. 2), é possível considerar a violência sexual co mo o gênero, do qual o abuso e a

e xploração sexua l se constituem espécies. Em conformidade com o Progra ma Sentinela (apud DIGIA COM O, 20016, p.2), “violência sexual constitui-se de atos praticados com finalidade sexual que, por serem lesivos ao corpo e à mente do sujeito violado (crianças e adoles centes), desrespeitam os direitos e as garantias individuais como liberdade, respeito e dignidade previstas na Lei n°8.069/ 90 - Estatuto da Criança e do Adolescente (Arts. 7°, 15, 16, 17 e 19)”. No que tange ao “abuso sexual: caracteriza -se por qualquer ação de interesse sexual de um ou mais adultos em relação a uma criança ou adolescente, podendo ocorrer tanto no âmbito intra -fa miliar - relação entre pessoas que tenham laços afetivos -, quanto no âmbito e xtra -fa miliar - re lação entre pessoas desconhecidas”. Já no que concerne ao conceito de “Exploração sexual: caracteriza -se pela relação mercantil, por intermédio do comérc io do corpo/sexo, por me ios coercitivos ou não, e se expressa de quatro formas: pornografia, tráfico, turismo sexual e prostituição”. (BRASIL, apud DIGIA COMO, 20016, p.2). Conferir: DIGIÁ COM O, Murillo José. Li mites e obstáculos par a o cumpri mento do papel dos Conselhos Tutelares na

garantia de direitos de crianç as e de adolescentes em situaç ão de vi olência sexual. Disponível e m:<

http://www.mppr.mp.br/arquivos/File/ Conselho_Tutelar_e_violencia_sexual.pdf>. Acesso em 30 jun. 2016.

130

Conforme Digiáco mo (2016, p. 6), ocorreu um recrudescimento do tratament o dispensado pela Lei Pena l “aos autores de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, tendo a Lei nº 12.015/2009, de 07/08/2009, pro movido alterações no Código Penal e na chamada Le i de Crimes Hediondos, estabelecendo penas mais rigorosas para quem co mete ou fac ilita a v iolência sexua l contra crianças e adolescentes. Tal le i estabeleceu ainda uma tutela diferenciada quando as vítimas fore m c rianças e adolescentes com idade inferior a 14 (quatorze) anos, ou se tratar de pessoa que, por enfermidade ou deficiênc ia mental não tiver o necessário discernimento para a prática do ato, ou, por qualquer motivo, não possa defender-se (que passam a ser consideradas ‘pessoas vulneráveis’). A simp les prática de qualquer ato libidinoso com tais pessoas configura crime (cf. art. 217-A, do Código Penal), com pena prevista de 08 (oito) a 15 (quin ze) anos de reclusão, nã o mais havendo que se falar e m ‘p resunção de violência’, tal qual era previsto pelo art. 224, do Código Penal (o crime é meramente fo rmal e a existência ou não de ‘consentimento’ da vítima é absolutamente irrelevante para sua caracterização)”. Constata-se que “o fato de a nova lei ter passado a qualificar co mo ‘estupro’ o ato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, à prát ica de todo e qualquer ato libidinoso (termo era anteriormente e mpregado apenas para designar o constrangimento à prática de ‘conjunção carnal’, sendo o constrangimento à prática de outros atos libidinosos , então designados ‘atentado violento ao pudor’, termo que deixou de ser e mpregado pela Lei Penal)”.

131

Para Dig iácomo (2016, p.1), a v iolência se xual é “u m dos temas ma is comple xos e tormentosos, em se tratando de violação dos direitos de crianças e de adolescentes, diz respeito aos casos de violência, abuso e e xploração se xual. As dificuldades vão desde a identificação de casos concretos, que mu itas vezes ocorrem no âmb ito das próprias famílias, envolvendo parentes ou pessoas próximas, à ine xistência, como regra quase que absoluta, de políticas públicas específicas, destin adas à prevenção e ao atendimento efica z de crianças e adolescentes vítimas, be m como de suas respectivas famílias”. Conferir: DIGIÁCOM O, Murillo José. Limites e

obstác ulos par a o cumpri mento do papel dos Conselhos Tutelares na gar antia de direitos de crianç as e de adolescentes em situaç ão de vi olência sexual. Disponível e m: < http://www.mppr.mp.br/arquivos/File/ Conselho_Tutelar_e_violencia_sexual.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2016.

Grande do Norte (RN), localizada no Fórum “Desembargador Miguel Seabra Fagundes”, Rua Dr. Lauro Pinto, 315 – 2º andar - Lagoa Nova , após autorização do Juiz de Direito senhor Sérgio Roberto Nascimento Maia, que nos concedeu o acesso ao corpus, quando reafirmamos nosso compromisso de manter em sigilo o nome das partes envolvidas nos processos da 2ª Vara da Infância e Juventude, uma vez que todos os processos possuem publicidade restrita, chamados por alguns juristas de segredo de justiça132. Dessa maneira, qualquer cópia de documentos de processos da Vara da Infância e Juventude, mesmo sendo para fins acadêmicos, dependem de prévia autorização do Juiz. Ressaltamos que todas as sentenças foram prolatadas por um único juiz, o então juiz da II Vara da Infância e Juventude da comarca de Natal-RN.

Utilizaremos um corpus constituído por 6 (seis) peças jurídicas: sente nças judiciais condenatórias do processo penal, que é um instrumento destinado à realização do poder punitivo do Estado. A escolha por um corpus constituído de sentenças condenatórias relativas à esfera do código penal de crime contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, de condutas contra os direitos fundamentais infanto-juvenis, deu-se pelo fato de compreendermos que teríamos resultados mais delimitados ao analisarmos os textos produzidos circunscritos e provenientes de apenas um dos ramos do processo penal, já que as sentenças de outras áreas do Direito (Direito Civil, Direito Constitucional, Direito de Família e Sucessões, Direito Tributário), como, por exemplo, na esfera do Direito do trabalho, têm características específicas exigidas pelo Direito processual, o que ampliaria, possivelmente, o universo do corpus, gerando dificuldades no processo de síntese dos resultados e generalizações quanto aos procedimentos linguísticos dos textos em análise.

132

A respeito das questões de segredo de justiça, vale mencionar que é vedada a divulgação de atos judiciais, policia is e ad ministrativos que digam respeito a crianças e a adolescentes, uma vez que busca proteger a intimidade das partes, principalmente preservar e proteger a identidade e a intimidade de crianças e adolescentes, alé m do interesse social na resolução da lide. Co m isso, a lei impossibilita que “terceiros” tenham acesso aos autos do processo. Importa-nos registrar ainda que a pesquisadora teve acesso às sentenças dos processos que corre m e m segredo de justiça por estar no período da coleta em e xerc íc io de mandato de conselheira Tutela r e por se tratar de acesso para fins acadêmicos. Sabe-se que a publicidade dos atos processuais foi consagrada pela Constituição Federal em 1988, como direito fundamental, mas no que tange à Justiça da Infância e da Juventude é preciso considerar as peculiaridades processuais civis aplicáveis em prol da efetivação da doutrina da proteção integral, visando evitar ofensa à intimidade ou ao interesse social das crianças e adolescentes. Vale considerar que, consoante a Constituição Federal, em seu art. 5º, LX: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o e xigire m”. Nessa direção, segundo Abreu (2014), no que tange aos processos que tramitam na Vara da In fância é preciso considerar que “não se trata do segredo quanto aos atos praticados no processo; corresponde, tão -só, à restrição da publicidade destes atos às partes e a seus advogados, efetivando-se o princípio da a mpla defesa ao mes mo te mpo e m que se protege a intimidade ou o interesse social”.

Desse modo, propomo-nos a pesquisar os textos jurídicos elaborados pela II Vara Infanto-Juvenil da comarca de Natal, analisando textos provenientes de apenas um dos ramos do direito: a área Penal.

A razão para escolher tal área do Direito deu-se também em função de concordamos com Pereira (2012, p.16), o qual afirma que o Direito penal é conceituado “como o ramo do Direito público que se preocupa em eleger as condutas que atentam contra os bens jurídicos mais relevantes para a vida em sociedade e no caso de violação da regra imposta, aplica uma sanção”. Na sentença judicial condenatória penal, o juiz é o representante do Estado, que quando a norma é violada, “passa a ter o direito de efetivar a punição jus puniendi estatal, pois é o responsável pela paz, harmonia e estabilidade social”, uma vez que, por meio da sentença judicial, o juiz busca proteger “os bens jurídicos eleitos pelo legislador como indispensáveis à vida em sociedade”, os quais são direitos fundamentais, que, quando protegidos pelo Direito, passam à categoria de “bem jurídico”. Para tanto, “impõe sanção conforme a gravidade do bem lesado”. (PEREIRA, 2012, p.16 -17).

Como se percebe, é um campo do Direito de relevância social. Nessa perspectiva, cabe a ressalva de que a sentença é a aplicação do Direito e o Direito decorre dos fatos oriundo s da sociedade. Nesse contexto, Pereira (2012, p. 12)133 afirma que:

a sociedade vai evoluindo e se transformando, as necessidades dos seres humanos também vão se alterando, e o Direito surge como elemento essencial à sobrevivência da própria sociedade. É por meio do Direito e das normas advindas dele que se forma a ordem jurídica e que proporciona o bem coletivo e a paz social. (PEREIRA, 2012, p.12).

A partir dessas considerações, destacamos que o “fato social contrário à norma de Direito cria o ilícito jurídico. A forma mais severa de fato social contrário à norma de Direito é o ilícito penal, que lesa os bens mais relevantes da vida em sociedade, tais como a vida, a saúde, a honra, o patrimônio etc”. (PEREIRA, 2012, p. 15). No caso específico de nosso corpus, lesa a dignidade sexual infanto-juvenil.

Além disso, consideramos as sentenças judiciais penais condenatórias como uma forma de proteger esses bens, pois, “como contrapartida à agressão ao bem jurídico protegido, o Estado estabelece consequências jurídicas”, as quais são denominadas de sanções e de

133

Indica mos os estudos de Pereira (2012) para aprofundamento da história do Dire ito Penal, be m co mo para conhecimento das bases legais do Direito Penal no conte xto brasile iro : PEREIRA, Gisele Mendes. Direito Pe nal

medidas de segurança, “visando a prevenir e/ou reprimir a incidência de fatos lesivos aos bens jurídicos tutelados dos cidadãos”. (PEREIRA, 2012, p. 15).

Nessa concepção de pensamento, concordamos que a sentença judicial é uma ferramenta de se aplicar “as sanções impostas pelo Estado” que no caso é a pena, estabelecida para o caso de severa violação ao bem protegido.

Mencionamos, ainda, que a opção pela temática de crime de estupro de vulnerável se deu pelo fato de ser concebido juridicamente como crime hediondo134, tipificado na lei 8.072/1990, tendo em vista ser um crime contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes. Em relação à escolha do local de coleta, destacamos que a escolha da II Vara jurídica da Infância e Juventude da comarca de Natal também não se deu de modo aleatório. Levamos em consideração o período que tais crimes foram julgados por essa Vara, em conformidade com as competências delineadas pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Nor te (TJRN) em suas resoluções normativas135 e considerando o período do exercício no Conselho Tutelar da pesquisadora no município de Natal-RN.

No que concerne à tipificação do crime, de acordo com Donizete (2014)136, o crime hediondo é aquele que, por sua forma de execução ou pela gravidade do seu resultado,

134Disponível e m:<http://www.idecrim.co m.br/inde x.php/direito/29-le i-de -crimes-hediondos>. Acesso em 16

ma i. 2016.

135No que tange ao contexto de produção da sentença judicial de crimes contra a dignidade sexual de crianças

pela II VIJ, vale destacar que: de 2005 a 2007, os processos relativos aos crimes consumados contra a criança e adolescente foram processados e julgados pela décima prime ira Va ra Criminal da Co marca de Natal, considerando a resolução 019/2005-TJ, publicada no Diá rio da Justiça de 4 de agosto de 2005. Em 2007, a resolução 019/2005-TJ foi revogada pela resolução 033/ 2007-TJ de 18 de outubro de 2007, que, por considerar a ine xistência de Vara especializada para o processo e julgamento dos crimes contra a criança e o adolescente, observando que se tornava necessário ser definida uma vara com essa competência mes mo que provisoriamente, atribuiu, a partir de 2007 até 2013, a competência aos juízes de Dire itos da Segunda e Terceira Va ras da Infância e Juventude da Comarca de Natal, para processar e julgar os crimes consumados ou atentados contra crianças e adolescentes. Através da resolução 013/ 2008 de 17 de março de 2008, a resolução 033/ 2007 de 18 de outubro de 2007 teve redação alterada. A resolução 013/ 2008 atribui a II VIJ a co mpetência para processar e julgar crimes de natureza sexual (crimes contra os costumes – título VI, da parte especial do Código Penal e do art.244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente teve sua atribuição modificada. De 2008 a 2013, os crimes de violência sexual fora m ju lgados apenas pela II VIJ. Apenas em 2013, passou a ser julgado pela 10ª Vara c rimina l, conforme a resolução 70/2013 de 11 de dezembro de 2013, que atribuiu à Décima Vara Criminal da Co marca de Natal a competência para processar e julgar os feitos relativos aos crimes consumados ou tentados contra criança ou adolescente, tendo em v ista a necessidade de se efetivar a prioridade absoluta prevista na Constituição Federal de 88, ta mbé m pela adoção de medidas que garantam tra mitação mais célere aos processos crimina is cujas vítimas de delitos contra a dignidade sexual, seja m c rianças ou adolescentes. No período em que a II VIJ ficou responsável e m julgar os processos de crime contra a dignidade se xual de c rianças e adolescentes, fora m prolatadas 273 sentenças, sendo 130 condenatórias e 143 absolutórias. Como recorte para esse estudo, as sentenças condenatórias, objeto de análise dessa tese, fora m elaboradas pelo juiz da II Vara da Infância e Juventude da Coma rca de Nata l.

136

DONIZETE, J. de F. O estupro de vulnerável como cri me he di ondo: princí pio da pr oporcionali dade x a

segurança jurí dica. Disponível

provoca intensa repulsa social, como também é um crime visto como horrendo e que causa indignação moral por ser um crime que mais ofende aos bens juridicamente tutelados.

Nessa direção, trata-se de um crime que o legislador entendeu merecer maior reprovação por parte do Estado, pois os crimes hediondos, do ponto de vista da criminologia sociológica, são os crimes que estão no topo da pirâmide de desvaloração axiológica criminal, devendo ser considerados como crimes mais graves, mais revoltantes e que causam maior aversão à coletividade. É um crime de extremo potencial ofensivo, ao qual se denomina de crime “de gravidade acentuada”. No que tange ao ponto de vista semântico, o termo hediondo significa ato profundamente repugnante, imundo, horrendo, sórdido, segundo os padrões da moral vigente.

À vista disso, é o tipo de crime que causa profunda e consensual repugnância por ofender, de forma acentuadamente grave, valores morais de indiscutível legitimidade, como o sentimento comum de piedade, de fraternidade, de solidariedade e de respeito à dignidade da pessoa humana.

Ressaltamos que o Código Penal sofreu modificações com a lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, pois foi incluída a discussão sobre os crimes sexua is contra vulneráveis, especificamente no artigo 217, que trata de Estupro de vulnerável relacionado à idade. Tal lei define, no artigo 217, que estupro de vulnerável é: “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos”. (DONIZETE, 2014, p. 1).

Com essa lei, ter a conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso com pessoas dessa mesma faixa etária passou a configurar o delito do artigo 217 – A, denominado estupro de vulnerável, com pena de reclusão de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. O tipo penal do artigo 217-A é considerado como crime hediondo e é um crime analisado juridicamente com maior severidade e rigor.

Nessa direção, estupro de vulnerável é considerado crime hediondo punido com a não concessão de anistia, graça, indulto e não tem direito ao pagamento de fiança, além do cumprimento inicial da pena em regime fechado, e de maior dificuldade na concessão de progressão de regime, dentre outras determinações que implicam sua sanção mais severa.

Desse modo, Donizete (2014) considera que, classificar o crime de estupro de vulnerável como hediondo, foi uma forma que o legislador encontrou para demonstrar a repulsa a essa conduta, visando minimizar a prática desse tipo penal.

Destacamos que o produtor dos dados nesta pesquisa é o juiz que atua na II Vara da Infância e Juventude da comarca de Natal-RN, quem disponibilizou 29 textos, do período

compreendido de 2008 a 2013. Desse universo, compusemos o corpus com a amostra de 6 sentenças.

No que concerne às técnicas de coletas de dados, esta pesquisa se desenvolve a partir da análise de dados secundários137, cujo processo de produção não acompanhamos, haja vista que, em nossas análises, trabalhamos com o produto, as sentenças já prolatadas pela 2ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Natal (IIVIJ), as quais foram disponibilizadas pelo jurista citado inicialmente através de cópias impressas das sentenças e em seguida por meio de arquivos digitais.

Para a coleta dos textos na Vara da Infância e Juventude, fizemos o procedimento de mapeamento das sentenças prolatadas. De antemão, delimitamos como critério o recorte temático, temporal, a idade das vítimas e os agressores (pais ou padrastos). Nossa amostragem inicial é composta por vinte e nove (29) sentenças, número este cedido e selecionado aleatoriamente pela própria Direção da II VIJ, considerando apenas a temática de violência sexual contra crianças e adolescentes. Desse universo de textos, selecionamos 6 sentenças, considerando os critérios elencados. Desse modo, chegamos à composição final do corpus.

Vale apresentar, a seguir, o quadro que demonstra a quantidade e tipo de sentença prolatada pela II VIJ, no período delineado para nossa coleta, com a temática de violência contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes.

Quadro 7 – Q uantidade de sentenças prolatadas até 2013

Ti po de SJC Quanti dade Total

Condenatória 130 273

Absolutória 143

Fonte: Elaboração própria . Dados coletados na II VIJ

No que se refere, especificamente, à seleção das sentenças pela Direção da IIVIJ, concordamos com os pressupostos de Bauer e Gaskell (2011, p. 39-40), os quais afirmam que a orientação mais elaborada para selecionar a evidência nas ciências sociais é a “a mostragem estatística aleatória”. Tais autores defendem que essa estratégia para construção do corpus

137No que se refere aos dados secundários são todos os dados já disponíveis, acessíveis através de consulta às

fontes bibliográficas e/ou outros documentos; são chamados secundários por já terem sido, anteriormente, elaborados e registrados. Informação obtida no materia l de Metodologia do Trabalho Científico do componente curricula r Metodologia da pesquisa no ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa, apostila elaborada pelo Professor Dr. João Go mes da Silva Neto, no Curso de Especialização em Língua Portuguesa Gra mática , Te xto e Discurso, no ano de 2009.

fornece um referencial seguro, uma vez que se vale do critério da representatividade. Sendo assim, ela “garante eficiência na pesquisa ao fornecer uma base lógica para o estudo de apenas partes de uma população sem que se percam as informações”.

Vale mencionar o percurso realizado pela pesquisadora para ter acesso aos textos jurídicos que tramitam na II VIJ em processos judiciais em segredo de justiça. Os dados foram fornecidos pela II Vara da Infância e Juventude atendendo a uma solicitação nossa realizada oficialmente por meio de requerimento protocolado na direção de secretaria da vara