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Dispositivos enunciativos na sentença judicial condenatória de crimes contra a dignidade sexual infanto-juvenil

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Academic year: 2021

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(1)0. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES (CCHLA) DEPARTAMENTO DE LETRAS (DLET) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM (PPGEL). EMILIANA SOUZA SOARES. DISPOSITIVOS ENUNCIATIVOS NA SENTENÇA JUDICIAL CONDENATÓRIA DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL INFANTOJUVENIL. NATAL – RN 2017.

(2) 1. EMILIANA SOUZA SOARES. DISPOSITIVOS ENUNCIATIVOS NA SENTENÇA JUDICIAL CONDENATÓRIA DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL INFANTO-JUVENIL. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Estudos da Linguagem. Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues.. NATAL – RN 2017.

(3) 2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA.

(4) 3. EMILIANA SOUZA SOARES. DISPOSITIVOS ENUNCIATIVOS NA SENTENÇA JUDICIAL CONDENATÓRIA DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL INFANTOJUVENIL. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Estudos da Linguagem.. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues – UFRN Orientadora _____________________________________________________ Prof. Dr. Luis Álvaro Sgadari Passeggi – UFRN Examinador interno _______________________________________________________ Profa. Dra. Alessandra Castilho Ferreira da Costa – UFRN Examinadora interna _______________________________________________________ Profa. Dra. Maria Elias Soares – UFC Examinadora externa ______________________________________________ Profa. Dra. Sueli Cristina Marquesi – UNICSUL Examinadora externa. NATAL – RN 2017.

(5) 4. AGRADECIMENTOS. É oportuno demonstrar aqui a minha gratidão a Deus, em quem confio, por estar em minha companhia a todo momento e, assim, ter me concedido a fé, a força, a luz, a coragem e a sustentação, o afago, o refúgio e a paz nos momentos mais árduos e desanimadores durante as travessias das veredas mais turbulentas de minha vida nos último s tempos em que eu dizia ser até “impossível” a realização desta etapa acadêmica. Gratidão a Deus, à Nossa Senhora e a toda força do plano espiritual que me ajudaram a seguir, a revigorar a fé e a conquistar esta dádiva: minha defesa de Doutorado. Aleluia e Glória sejam dadas! Um agradecimento bem especial à professora, amiga/orientadora amada e querida Maria das Graças Soares Rodrigues que, com sua generosidade infinita, me apresentou à Responsabilidade Enunciativa, ao discurso jurídico e ao mundo acadêmico, sempre com dedicação, competência e empenho na orientação deste trabalho. Quero agradecer pelas lições valiosas, pelo estímulo constante, pelas orações, pela compreensão e por ter me ensinado a caminhar pelas veredas acadêmicas, bem como por ter me transmitido confiança para a realização das árduas tarefas acadêmico-científicas. Agradeço ainda pelo encorajamento nos mais difíceis momentos em busca do meu crescimento na minha carreira profissional “Ifriana” e na minha vida pessoal. Por todo ensinamento a mim reservado, por meio de aulas/conversas, traduções, viagens, e- mails, orientações e pelos livros e revistas raros que trouxe de outros países, aos quais dificilmente teria acesso, não fosse o desprendimento da amiga/orientadora, registro meu sincero apreço. Estendo minha gratidão à banca do Exame de qualificação, os professores: Luis Álvaro Sgadari Passeggi, Rosalice Pinto e Sueli Cristina Marquesi, por terem generosamente aceitado participar dessa fase de minha trajetória acadêmica, contribuindo com críticas e sugestões significativas para a realização e avanço deste trabalho. Um agradecimento especial à banca da Defesa, os professores: Luis Álvaro Sgadari Passeggi, Alessandra Castilho, Maria Elias e Sueli Cristina Marquesi. Muito me alegram com a honra de tê- los como avaliadores e interlocutores deste trabalho. Agradeço também pelas contribuições valiosas para o avanço desta pesquisa. À família amada, paciente, alegre e apoiadora de minha labuta pessoa l, profissional e acadêmica, destaco meu agradecimento e dedicatória, que aceitou e respeitou minhas ausências, mesmo sem compreender os desafios do mundo acadêmico. Agradeço por serem sempre minha maior fonte de amor e força. Vocês também são minha fonte de inspiração para.

(6) 5. que eu possa continuar seguindo o caminho e recomeçar sempre. Sou grata pelo amor, pelo apoio, pelas orações, pelo estímulo, pelo zelo, pela força e pelo incentivo nos momentos mais árduos e difíceis de minha vida. Graças a Deus pelos amigos-anjos tão afáveis e cheios de amor, por todas as contribuições e diálogos: Felipe Morais de Melo, Edivaldo Andrade, Célia Medeiros e Rosângela Bernardino. Amigos que caminham ao meu lado, trocando experiências, ajudandome, incentivando- me e apoiando- me nas horas mais difíceis dessa travessia acadêmicaprofissional, mesmo com tantas ocupações na labuta da vida. O agradecimento especial se estende ao meu querido, amigo- irmão Henrique, presente de Deus, fonte de amor fraternal e força espiritual, pelo carinho, pelo apoio, pelo zelo, pela força e pelo incentivo nos momentos de cansaço e de desânimo no decorrer dessa fase final de minha trajetória acadêmica. A todos os colegas do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos pelo apoio, incentivo e parceria, especialmente: Flávio, Angélica, Rildeci, Alba, Iranilson, Socorro, Romena, Elis, Fátima, Euclides, Hális, Nouraide, Vivi e Vitória. Aos meus amigos do Curso de Letras, em especial, do grupo amorzade, entre eles: Valeska Limeira, Edito, Lipon, Fran e Ricardo Yamashita. Agradeço o apoio recebido dos colegas, amigos e alunos do IFRN, pela compreensão e estímulo, bem como o apoio institucional “Ifrniano”, especialmente os amigos do grupo de Língua Portuguesa e meus amados alunos do integrado e superior. Grata aos amigos “ifrianos”, que me ajudaram a fazer essa travessia, dentre eles: Aurélia, Wagno, Lucas, Dayveson, Iran, Alcindo, Fernanda, Gilmara e Joyce. Agradeço à coordenação e aos funcionários da secretaria do PPGEL e do Departamento de Letras pela atenção, docemente dada a mim. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte pelo bom acolhimento e oportunidades de crescimento acadêmico-profissional que tive desde a minha graduação. Ao Projeto Leitura + Neurociências, em especial, à professora Ângela Naschold pela oportunidade e crescimento profissional. Aos amigos do Conselho Tutelar da Região Oeste de Natal pela força nessa trajetória, em especial ao amigo Marcílio de Oliveira, presente de Deus nesta fase de minha vida. À equipe da I e II Vara da Infância e Juventude da comarca de Natal pelo apoio neste percurso acadêmico. Por fim, a todos os que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa, a minha sincera gratidão..

(7) 6. Aos amores de minha vida: minha família e meus alunos, em especial, aos meus avós e ao meu pai, que, independente do sentido “ser doutora”, sempre sonhavam em ter uma neta-filha Doutora. Agora, com a honra e a Glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, de fato e de direito..

(8) 7. Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; Tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; Tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; Tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de juntar pedras; Tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; Tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; Tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; Tempo de guerra, e tempo de paz. [...]. (ECLESIASTES 3:1-22) Chegou o me u te mpo de recomeçar, de me recompor e de renovar..

(9) 8. RESUMO. Dispositivos enunciativos na sentença judicial condenatória de crimes contra a dignidade sexual infanto-juvenil. Esta pesquisa tem por objetivo geral investigar dispositivos enunciativos concernentes à orientação argumentativa e a (não) assunção da responsabilidade enunciativa. Para tanto, analisamos a sentença judicial condenatória de crimes cometidos contra a dignidade sexual de crianças e de adolescentes, no âmbito da família. Estabelecemos como objetivos específicos identificar, descrever, analisar e interpretar: (i) o plano de texto do gênero judicial em estudo, com foco na estrutura composicional; (ii) a construção textual-enunciativa dos pontos de vista (PDV) e da (não) assunção da responsabilidade enunciativa em sentenças condenatórias de crimes contra a dignidade sexual de crianças e de adolescentes, considerando as marcas e categorias textuais e enunciativas que revelam o (des)engajamento com o dito de outrem, mobilizadas por L1/E1 (locutor-enunciador primeiro/juiz); (iii) as estratégias textuais e enunciativas, bem como expressões linguísticas que podem vir a contribuir para a orientação argumentativa do gênero discursivo/textual em estudo e (iv) os posicionamentos desencadeados pelas posturas enunciativas assumidas pelo L1/E1 (juiz) na gestão do gerenciamento e hierarquização dos conteúdos proposicionais dos PDV evocados por L1/E1 e imputados a enunciadores segundos (e2) a serviço da orientação argumentativa. O quadro teórico que fundamenta esta tese se constitui dos postulados da Análise Textual dos Discursos – ATD (ADAM, 2011), em diálogo com teorias linguístico-enunciativas e com as contribuições teóricas e analíticas do campo linguístico-discursivo da argumentação. Para tanto, além dos pressupostos adamianos, seguimos os estudos de Rabatel (2008, 2011, 2015, 2016), acerca do PDV, da responsabilidade enunciativa, dos posicionamentos, das posturas e instâncias enunciativas, de Guentchéva (1994, 1996, 2011, 2014) sobre o quadro mediativo (as estratégias de (não) assunção e de distanciamento com o dito de outrem) e trabalhos sobre aspectos linguísticos da argumentação e do discurso jurídico, entre eles, Pinto (2010), Gomes (2014), Lourenço (2013, 2015), Bittar (2015), Rodriguez (2005). Quanto aos aspectos metodológicos, trata-se de uma pesquisa documental, que segue procedimentos da pesquisa qualitativa, de base descritiva e interpretativista. Nosso corpus é constituído de 6 (seis) sentenças judiciais condenatórias que tratam de crimes hediondos contra a dignidade sexual de crianças e de adolescentes até 14 anos de idade, tendo como agressores o pai ou o padrasto (estupro de vulnerável). Essas sentenças foram prolatadas no período de 2011 a 2013 por uma Vara da Infância e Juventude da Comarca de Natal. Os resultados da análise evidenciam dois movimentos realizados pelo juiz na gestão dos PDV: (1) a imputação e (2) a assunção da responsabilidade enunciativa. Nos contextos de ocorrências de posturas enunciativas, no âmbito do fenômeno de (não) assunção da responsabilidade enunciativa no gênero sentença judicial condenatória, os mecanismos linguísticos mais evocados por L1/E1 (locutor enunciador primeiro), no caso o juiz, foram: discurso reportado (o discurso indireto e o discurso direto), o quadro mediativo (a modalização em discurso segundo, mediação perceptiva, mediação epistêmica), as marcas tipográficas (negrito e itálico), sinal gráfico (aspas), índices de pessoa, as expressões verbais em primeira pessoa, as expressões modais (lexemas avaliativos, expressões adjetivadas e advérbios) e os operadores argumentativos. O uso desses dispositivos textual-enunciativos e argumentativos, no gênero jurídico em análise, revela posicionamentos enunciativo-argumentativos de L1/E1 em relação aos PDV de e2 que direcionam a construção argumentativa para a condenação do réu, a saber: o acordo, por meio.

(10) 9. da hierarquização e da coenunciação de um PDV comum e partilhado por L1/E1 (concordância entre o PDV de L1/E1 e e2); o desacordo, por meio de dispositivos textuais e linguístico-enunciativos que refutam o PDV de e2 e a pseudoneutralidade, por meio de estratégias de distanciamento, principalmente, em alguns contextos do uso do mediativo, especificamente da mediação perceptiva e mediação epistêmica , revelando, no plano textual enunciativo-argumentativo, uma pseudoneutralidade de L1/E1 em relação ao PDV imputados aos enunciadores segundos. Nos contextos de responsabilização, observamos indícios da hierarquização de PDV como estratégia argumentativa. A aná lise revela também que o gerenciamento das vozes e a hierarquização dos PDV são mecanismos argumentativos marcados na construção textual, ou seja, a seleção dos PDV imputados a e2 (enunciadores segundos) realizada por L1/E1 orienta a interpretação e a construção argumentativa em favor da condenação do réu. Portanto, a gestão de vozes, no plano textual-enunciativo, configura-se, na dinâmica textual, como estratégia argumentativa, motivada por um projeto de dizer voltado à persuasão e à produção de efeitos de sentido.. PALAVRAS-CHAVE: Análise Textual dos Discursos. Análise enunciativa. Dispositivos enunciativos. Ponto de vista. Responsabilidade enunciativa. Orientação argumentativa. Gerenciamento de vozes. Discurso jurídico. Sentença condenatória. Dignidade sexual..

(11) 10. ABSTRACT. Enunciative devices in sentencing court’s judgme nt of crimes against the sexual dignity of children and adolescents. This research has the main objective to investigate enunciative devices concerning the argumentative orientation and the (non-) assumption of commitment. For this purpose, we analyzed the sentencing court’s judgment of crimes commited against the sexual dignity of children and adolescents within the family. We set, as specific objectives, to identify, describe, analyze and interpret: (i) the textual plan of the judicial genre under study, focusing on the compositional structure; (ii) the textual-enunciative construction of points of view (PDV) and (non-) assumption of commitment in sentencing court’s judgment of crimes against the sexual dignity of children and adolescents, by considering the textual and enunciative marks and categories – which reveal the (dis)engagement with other people’s utterance – mobilized by S1/E1 (first speaker-enunciator/the judge); (iii) the textual and enunciative strategies as well as the linguistic expressions that may contribute to the argumentative orientation of the discursive/textual genre under study and (iv) the positions triggered by enunciative positions taken on by the S1/E1 (the judge) in the management of the running and the hierarchization of the POV’s propositional contents evoked by S1/E1 and attributed to second enuncciators (E2) at the service of the argumentative orientation. The theoretical framework that supports this thesis is constituted by the postulates from the Textual Discourse Analysis – TDA (ADAM, 2011), in dialogue with linguistic and enunciative theories and with the theoretical and analytical contributions from the linguistic and discursive field of the argumentation. Therefore, in addition to the Adam’s assumptions, we follow the Rabatel’s studies (2008, 2011, 2015, 2016) about the PDV, the enunciative responsibility, the positions, the enunciative postures and instances, Guentchéva’s ideas (1994, 1996, 2011, 2014 ) on the mediative framework (strategies of (non-) assumption and distance from the other people’s utterrance) and works about linguistic aspects of argumention and legal discourse, among them Pinto (2010), Gomes (2014), Lourenço (2013, 2015), Bittar (2015), Rodriguez (2005). As for the methodological aspects, this tesis is a documentary research, following procedures of qualitative research with descriptive and interpretative basis. Our corpus consists of six (6) sentencing court’s judgements dealing with heinous crimes against the sexual dignity of children and adolescents under 14 years old, having their father or stepfather as their offender (rape of vulnerable). These sentences were handed down during the period from 2011 to 2013 by Juvenile Courts of the District of Natal. The analysis results show two movements made by the judge in the management of the POV: (1) the attribution and (2) the assumption of the enunciative responsibility. In the contexts of occurrences of enunciative postures within the phenomenon of the (non) assumption of the enunciative responsibility in the genre sentencing court’s judgement, the most evoked linguistic mechanisms by S1/E1 (first speaker-enunciator, represented by the judge in this study) were: reported speech (indirect speech and direct speech), the mediative framework (modalization in reported speech [in enunciation with “according to”, “in agreement with”, “for”], perceptive mediation, epistemic mediation), typographical marks (bold and italic), graphic sign (quotes), subject marks, verbal expressions, modal expressions (evaluative lexemes, adjective expressions and adverbs) and argumentative operators. The use of these textual-enunciative and argumentative devices, in the legal genre under analisys, reveals enunciative-argumentative positions of L1/E1 in relation to the PDV of e2 that direct the.

(12) 11. argumentative construction to the defendant’s conviction, namely: the agreement by means of the hierarchization and coenunciation of a common PDV and shared by L1/E1 (agreement between the PDV of L1/E1 and E2); the disagreement by means of textual and linguisticenunciative devices that refute the PDV of e2 and pseudo-neutrality through strategies of distance, mainly in some contexts where mediation is used, specifically the perceptive and the epistemic mediation, revealing, in the textual and enunciative-argumentative plan, a pseudoneutrality of S1/E1 in relation to the pov attributed to the second enunciators. In responsability contexts, we found evidence of the hierarchization of pov as argumentative strategy. The analysis also reveals that the management of the voices and the hierarchization of PDV are argumentative mechanisms marked in the textual construction, i.e., the selection of the PDV imputated to E2 (second enunciator) was made by L1/E1 and guides the interpretation and the argumentative construction in favor of the defendant’s conviction. Therefore, the management of voices, in the textual-enunciative plan, works, in the textual dynamics, as an argumentative strategy, motivated by a project of speech focoused on the persuasion and the production of meaning effects.. KEYWORDS: Textual Analysis of Discourse. Enunciative analysis. Enunciative devices. Point of view. Commitment. Argumentative orientation. The management of voices. Legal discourse. Sentencing court’s judgement. Sexual dignity..

(13) 12. RESUMEN. Dispositivos enunciativos en la sentencia judicial condenatoria de delitos contra la dignidad sexual de los niños y adolecentes. Esta investigación tiene como objetivo general investigar dispositivos enunciativos relativos a la orientación argumentativa y a la (no) asunción de la responsabilidad enunciativa. Para ello, se analizó la sentencia judicial de condena de los delitos cometidos contra la dignidad sexual de los niños y adolescentes en el ámbito familiar. Establecemos como objetivos específicos identifican, describir, analizar e interpretar: (i) el plan de texto del género judicial, centrándose en la estructura composicional; (ii) la construcción textual-enunciativa de puntos de vista (PDV) y de la (no) asunción de la responsabilidad enunciativa en la sentencia judicial de condena de los delitos contra la dignidad sexual de los niños y adolescentes, teniendo en cuenta las marcas y categorías textuales y enunciativas que revelan el empeño con el dicho del otro, movilizadas por el L1/E1 (locutor-enunciador primero/el juez); (iii) las estrategias textuales y enunciativas, como expresiones lingüísticas que pueden venir a contribuir para la orientación argumentativa del género discursivo/textual en estudio; (iv) los posicionamientos desencadenados por las posturas enunciativas asumidas por el L1/E1 (el juez) en el manejo de la gestión y jerarquización de los contenidos proposicionales de los PDV evocados por L1/E1 y los imputados a enunciadores segundos (E2) a servicio de la orientación argumentativa. El marco teórico que fundamenta esta tesis se constituye por los postulados del Análisis Textual de los Discursos – ATD (ADAM, 2011), en diálogo con teorías lingüístico-enunciativas y con las contribuciones teóricas y analíticas del campo lingüístico-discursivo de la argumentación. Para ello, además de los supuestos adamianos, seguimos los estudios de Rabatel (2008, 2011, 2015, 2016) sobre el PDV, de las responsabilidades enunciativas, de los posicionamientos, de las posturas e instancias enunciativas, y Guentchéva (1994, 1996, 2011, 2014) sobre el cuadro mediativo (las estrategias de (no) asunción y de distanc iamiento con el dicho del otro), además de trabajos acerca de aspectos lingüísticos de la argumentación y del discurso jurídico, entre ellos, Pinto (2010), Gomes (2014), Lourenço (2013, 2015), Bittar (2015), Rodríguez (2005). En cuanto a los aspectos metodológicos, se trata de una investigación documental, que sigue procedimientos de la investigación cualitativa, de base descriptiva e interpretativa. Nuestro corpus consta de 6 (seis) sentencias judiciales condenatorias que tratan de crímenes atroces contra la dignidad sexual de los niños y adoles centes hasta los 14 años de edad, teniendo como agresores el padre o padrastro (violación de vulnerables). Estas condenas fueron dictadas en el período entre 2011 y 2013 por una Defensoría de la Niñez y Juventud de la región de Natal. Los resultados del análisis evidencian dos movimientos realizados por el juez en el manejo de los PDV: (1) la imputación y (2) la asunción de la responsabilidad enunciativa. En los contextos en que ocurren posturas enunciativas, en el ámbito del fenómeno de (no) asunción de la responsabilidad en el género sentencia judicial condenatoria, los mecanismos lingüístico más evocado por L1/E1 (loc utor/enunciador primero, el juez, en el caso de este estudio) fueron: discurso reportado (el discurso directo y discurso indirecto), el cuadro mediativo (modalización en discurso secundario, la mediación perceptiva y la.

(14) 13. mediación epistémica), las marcas tipográficas (negrita y cursiva), signo gráfico (comillas), índices de personas, las expresiones verbales, las expresiones modales (lexemas evaluativos, expresiones adjetivas y adverbios ) y los operadores argumentativos. El uso de estos dispositivos textual-enunciativos y argumentativos, en el género jurídico en análisis, revela posicionamientos enunciativo-argumentativos de L1/E1 en relación a los PDV de E2 que dirigen la construcción argumentativa para la condenación del acusado, a saber: el acuerdo, a través de la jerarquización y de la coenunciación de un PDV común y compartido por L1/E1 (acuerdo entre el punto de vista de la L1/E1 y E2); el desacuerdo, a través de dispositivos textuales y lingüístico-enunciativos que refutan el punto de vista de E2; y la pseudoneutralidade, mediante estrategias de distanciamie nto, principalmente en algunos contextos del uso del mediativo, específicamente de la mediación perceptiva y la medición epistémica revelando, en el plano textual enunciativo-argumentativo, una pseudoneutralidade de L1/E1 en relación con el PDV imputado a los enunciadores segundos. En los contexto de responsabilidad, vemos evidencia de la jerarquización de PDV como estrategia argumentativa. El análisis también muestra que la gestión de las voces y la jerarquización de los PDV son mecanismos argumentativos marcados en la construcción textual, es decir, la selección de los PDV imputados a E2 (enunciadores segundos) realizada por L1/E1 orienta a la interpretación y la construcción argumentativa en favor de la condena del acusado. Por lo tanto, el manejo de voces, en el plan textual-enunciativo, se configura, en la dinámica textual, como estrategia argumentativa, motivado por un proyecto enfocado a la persuasión y la producción de efectos con sentido. PALABRAS CLAVE: Análisis Textual de los Discursos. Análisis enunciativo. Dispositivos enunciativos. Puntos de vista. Responsabilidad enunciativa. Orientación argumentativa. Manejo de voces. Discurso jurídico. Sentencia judicial de condena. Dignidad sexual..

(15) 14. LISTA DE FIGURAS E ESQUEMAS Figura 1 – Esquema I da argumentação para Adam Figura 2 – Esquema II da argumentação para Adam Figura 3 – Visão da contra-argumentação Figura 4 – Visão da argumentação com base em Toulmin Figura 5 – Visão esquemática da argumentação proposta por Grize Figura 6 – Visão esquemática da sequência Argumentativa de Adam Figura 7 – Níveis de análise de discurso e de análise de texto Figura 8 – As três dimensões da proposição-enunciado Figura 9 – Tipos de plano de texto Figura 10 – Levantamento histórico dos estudos da polifonia Figura 11 – Relações de heterogeneidade discursiva Figura 12 – Visão do pdv para ScaPoLine Figura 13 – A representação da responsabilidade enunciativa para a ScaPoLine Figura 14 – Tipos de PdV apresentados em Adam (2011) Figura 15 – Instâncias enunciativas Figura 16 – Dimensão enunciativa: esquema da relação de (não)-assunção da RE Figura 17 – A hierarquização das vozes e o acordo na OrArg da SJCEV1 Figura 18 – A hierarquização das vozes e o acordo na OrArg da SJCEV2 Figura 19 – A hierarquização das vozes e o acordo na OrArg da SJCEV3 Figura 20 – A hierarquização das vozes e o acordo na OrArg da SJCEV4 Figura 21 – A hierarquização das vozes e o acordo na OrArg da SJCEV5 Figura 22 – A hierarquização das vozes e o acordo na OrArg da SJCEV6 Figura 23 – Construção do (des)acordo dos PDV na OrArg da SJCEV1 Figura 24 – Construção do (des)acordo dos PDV na OrArg da SJCEV2 Figura 25 – Construção do (des)acordo dos PDV na OrArg da SJCEV3 Figura 26 – Construção do (des)acordo dos PDV na OrArg da SJCEV4 Figura 27 – Construção do (des)acordo dos PDV na OrArg da SJCEV5 Figura 28 – Construção do (des)acordo dos PDV na OrArg da SJCEV6 Figura 29 – Sincronia entre os PDV da OrArg da SJCEV1 Figura 30 – Sincronia entre os PDV da OrArg da SJCEV2 Figura 31 – Sincronia entre os PDV da OrArg da SJCEV3 Figura 32 – Sincronia entre os PDV da OrArg da SJCEV4 Figura 33 – Sincronia entre os PDV da OrArg da SJCEV5 Figura 34 – Sincronia entre os PDV da OrArg da SJCEV6 Figura 35 – O gerenciamento e os posicionamentos entre as vozes na SJCEV1 Figura 36 – O gerenciamento e os posicionamentos entre as vozes na SJCEV2 Figura 37 – O gerenciamento e os posicionamentos entre as vozes na SJCEV3 Figura 38 – O gerenciamento e os posicionamentos entre as vozes na SJCEV4 Figura 39 – O gerenciamento e os posicionamentos entre as vozes na SJCEV5 Figura 40 – O gerenciamento e os posicionamentos entre as vozes na SJCEV6. 67 68 68 69 69 70 86 89 100 115 119 125 125 127 135 137 255 256 256 257 257 258 260 260 261 261 262 262 263 263 264 264 265 265 266 267 268 269 270 271. Esquema 1 – Relações e dimensões do plano enunciativo-argumentativo Esquema 2 – Categorias de análise textual-enunciativa. 155 156.

(16) 15. LISTA DE QUADROS. Quadro 1 – Características do discurso jurídico Quadro 2 – Estudos sobre os gêneros em diferentes perspectivas discursivo-textuais Quadro 3 – Características gerais do plano de texto da sentença judicial condenatória Quadro 4 – Síntese de marcas linguísticas e categorias de (não) assunção da RE Quadro 5 – Categorias de análise linguístico-textual e enunciativa do PDV e da RE Quadro 6 – Categorias textuais e marcas linguísticas selecionadas para as análises Quadro 7 – Quantidade de sentenças prolatadas até 2013 Quadro 8 – Sentenças judiciais coletadas em sequência cronológica (2008-2013) Quadro 9 – Tipo de crime Quadro 10 – Idade das vítimas das sentenças selecionadas Quadro 11 – Levantamento de agressores Quadro 12 – Sentenças condenatórias selecionadas de acordo com critérios apresentados Quadro 13 – Quantidade de laudas de cada sentença selecionada (1-15 páginas) Quadro 14 – Número de laudas das sentenças selecionadas para análises com recodificação Quadro 15 – Exemplificação do plano de texto de nosso corpus Quadro 16 – Síntese do plano de texto da sentença do corpus Quadro 17 – Quadro sinótico plano do texto da sentença judicial condenatória Quadro 18 – Ocorrências da estrutura composicional do plano do texto da sentença Quadro 19 – Síntese dos e2 mobilizados por L1/E1 para a OrArg Quadro 20 – Quadro sinótico exemplificação de movimentos enunciativos Quadro 21 – Marcas linguísticas indicadoras de hierarquização de PDV Quadro 22 – Elementos linguísticos e avaliativos nos posicionamentos de L1/E1 Quadro 23 – Quadro sinótico das marcas linguísticas de quadro mediativo Quadro 24 – Os operadores e as relações de sentidos indicadoras de OrArg e de RE Quadro 25 – Os operadores e as relações de sentidos indicadoras de OrArg e de RE. 55 95 111 154 156 157 175 177 181 181 181 182 182 182 191 203 204 204 273 274 276 288 289 291 293.

(17) 16. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. ATD – Análise Textual dos Discursos AD – Análise de Discurso CPC – Código do Processo Civil CP – Código Penal DD – Discurso direto DI – Discurso indireto DISJURI-Simpósio Internacional de Estudos sobre o Discurso Jurídico (DISJURI) E – enunciador ECA – Estatuto da criança e do adolescente e2 – Enunciador segundo L – Locutor LT – Linguística Textual L1/E1 – Primeiro locutor-enunciador (juiz) l2/e2 – Segundo locutor enunciador (outras fontes enunciativas) L – locutor L1 – locutor primeiro MED – Mediativo ME – Mediação epistêmica MP – Mediação Perceptiva N5 – Nível da estrutura composicional/Plano de texto N7 – Nível da enunciação N8 – Nível de análise da orientação argumentativa Oc. – ocorrências OrArg – Orientação argumentativa PdV – Sigla usada por Adam (2011) (ADAM, [2008] 2011). 1. PDV – Sigla usada por Rabatel (2009, 2015, 2016 e outros trabalhos) pdv – Sigla usada pela Teoria Escandinava da Polifonia Linguística (ScaPoLine). 1. Advertimos que a sigla tem flutuação na grafia. O termo ponto de vista pode variar de acordo com o teórico. Rabatel usa PDV (em letras maiúsculas ), a ScaPo Line usa pdv (letras minúsculas), por sua vez Adam utiliza Pd V. Em nossas análises, seguimos a perspectiva rabateliana (PDV) para uniformizar, considerando o foco da análise..

(18) 17. PT – Plano de texto PTD – Plano de texto do Dispositivo PTE – Plano de texto da ementa PTF – Plano de texto da fundamentação PTR – Plano de texto relatório quase- RE – quase Responsabilidade Enunciativa RE – Responsabilidade enunciativa ScaPoLine – Teoria Escandinava da Polifonia Linguística s-d – ser discursivo SJC – Sentença judicial condenatória SJCEV – Sentença judicial condenatória estupro de vulnerável STF – Supremo Tribunal Federal TJRN – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte TJSC – Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJRJ – Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJSP–Tribunal de Justiça de São Paulo UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

(19) 18. SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 20 1 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................. 49 1.1 DISCURSO JURÍDICO: LINGUAGEM E DIREITO .......................................................... 50 1.2 ESTUDOS DA ARGUMENTAÇÃO E A RELAÇÃO COM O DISCURSO JURÍDICO ..... 57 1.3 PRESSUPOSTOS DA LINGUÍSTICA ENUNCIATIVA ..................................................... 77 1.4 POSTULADOS DA ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS .......................................... 83 1.5 REVISITAÇÃO TEÓRICA: GÊNERO DISCURSIVO/TEXTUAL ..................................... 91 1.6 PLANO DE TEXTO: CONVENCIONAL OU OCASIONAL .............................................. 97 1.7 PLANO DE TEXTO DA SENTENÇA JUDICIAL CONDENATÓRIA ............................. 101 1.8 INICIANDO O DIÁLOGO SOBRE A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA ............. 112 1.8.1 Polifonia (vozes), dialogismo e heterogeneidade na linguagem: acepções basilares e (inter)relações para o estudo da RE/PDV ............................................................................. 112 1.9 RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA E PONTO DE VISTA – DIÁLOGOS POSSÍVEIS NOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS ........................................................................................... 121 1.9.1 Fenômeno linguístico Responsabilidade enunciativa ................................................... 121 1.9.2 Perspectiva da ScaPoLine ............................................................................................. 122 1.9.3 Perspe ctiva textual adamiana: categorias de análise da dimensão enunciativa .......... 125 1.9.4 Pressupostos enunciativos rabatelianos para o estudo do PDV e da RE: categorias de análise linguístico-enunciativa ............................................................................................... 129 1.9.4.1 Concepção de PDV e tipos ............................................................................................ 129 1.9.4.2 Instâncias, posicionamentos, posturas, dimensões e movimentos enunciativos .............. 134 1.10 NOÇÃO DO QUADRO MEDIATIVO DE GUENTCHÉVA ........................................... 146 1.11 ARTICULANDO AS BASES TEÓRICAS PARA AS ANÁLISES .................................. 152 2 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA ............................................................ 167 2.1 ABORDAGEM DA PESQUISA E PROCEDIMENTOS PARA A. CONSTITUIÇÃO,. DELIMITAÇÃO, SELEÇÃO E ANÁLISE DO CORPUS ........................................................ 167 2.1.1 Classificação da abordagem da pesquisa ...................................................................... 167 2.2 OBJETO DE ESTUDO, COMPOSIÇÃO E CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DO CORPUS ..... 169 2.3 PROCEDIMENTOS DE DESCRIÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS . 183 3 ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................... 189 3.1 RETOMANDO AS CATEGORIAS PARA A ANÁLISE LINGUÍSTICA E TEXTUALENUNCIATIVA ...................................................................................................................... 189.

(20) 19. 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO PLANO DE TEXTO DO GÊNERO DISCURSIVO/TEXTUAL SENTENÇA CONDENATÓRIA – ACEPÇÕES E ESTRUTURA COMPOSICIONAL .......... 190 3.3 ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS ENUNCIATIVOS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA: PLANO ENUNCIATIVO-ARGUMENTATIVO ..................................................................... 207 3.3.1 Análise dos PDV e da (não) assunção da RE na perspectiva linguístico-textual e argumentativa da dimensão enunciativa ............................................................................... 207 3.4 SÍNTESE DAS ANÁLISES ............................................................................................... 255 3.4.1 Esquematização do gerenciamento e posicionamentos enunciativos de (des)acordo e hierarquização dos conteúdos proposicionais dos PDV em favor da OrArg de L1/E1 ....... 255 3.4.1.1 Esquematização hierarquização dos PDV...................................................................... 255 3.4.1.2 Gerenciamento, sincronia e posicionamentos enunciativo-argumentativos dos PDV ..... 259 3.4.2 Síntese dos e2 (fontes do saber) mobilizados e posicionamentos enunciativos em prol da OrArg de L1/E1...................................................................................................................... 273 3.4.3 Movimentos, tipos de PDV e posicionamentos enunciativos em contextos de imputação e assunção da RE.................................................................................................................... 274 3.4.3.1 Movimentos enunciativos ............................................................................................. 274 3.4.3.2 Tipos de PDV, contextos de imputação de PDV a e2 e posturas e posicionamentos enunciativos assumidos por L1/E1 ........................................................................................... 276 3.4.4 Síntese de marcas e categorias textuais e enunciativas articuladas à OrArg .............. 287 3.4.5 Indicadores de quadro mediativo e fontes do saber ..................................................... 291 3.4.6 Estratégias e expressões que marcam a RE em prol da OrArg .................................. 293 3.4.6.1 Conectores da OrArg e da (não) assunção da RE........................................................... 293 CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 297 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 302 ANEXO................................................................................................................................... 316.

(21) 20. INTRODUÇÃO. [...] o Direito, mais que qualquer outro saber, é servo da linguagem. Como Direito posto é linguagem, sendo em nossos dias de evidência palmar constituir-se de quanto editado e comunicado, mediante a linguagem escrita, por quem com poderes para tanto. Também linguagem é o Direito aplicado ao caso concreto, sob a forma de decisão judicial ou administrativa. Dissociar o Direito da Linguagem será privá-lo de sua própria existência, porque, ontologicamente, ele é linguagem e somente linguagem. (CALMON DE PASSOS, 2001, p.63-64). O texto é, certamente, um objeto empírico tão complexo que sua descrição poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral que temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das diferentes ciências da linguagem, um novo quadro e uma indispensável coerência. (ADAM, 2011, p. 25).. Esta tese desenvolve-se no âmbito dos postulados da análise textual dos discursos, da análise enunciativa e dos efeitos argumentativos dos enunciados, na interface dos estudos Linguagem e Direito. À vista disso, nosso intuito é responder às seguintes questões de pesquisa: (i) Como se apresenta o plano de texto do gênero judicial condenatória, com foco na estrutura composicional? (ii) Como ocorre, no nível linguístico, os dispositivos enunciativos 2. na construção textual-enunciativa do PDV e da (não) assunção da responsabilidade. enunciativa de sentenças condenatórias de crimes contra a dignidade sexua l de crianças e de adolescentes, considerando as marcas linguísticas e categorias textuais e enunciativas que revelam o (des)engajamento com o dito de outrem, mobilizadas por L1/E1?; (iii) De que. 2. Em linhas gerais, os dispositivos enunciativos estão interligados aos mecanis mos linguísticos no nível da dimensão enunciativa materializados textualmente. Seguimos Rodrigues (2016) que considera três dispositivos enunciativos inter-relacionados: o ponto de vista (PDV), a responsab ilidade enunciativa e a visada argumentativa. Além d isso, ratificamos, no sentido amplo, que a abordagem enunciativa [...] não se limita a u m determinado nível da língua, mas atravessa todo o estudo da língua, isto é, a enunciação está presente em todos os níveis da análise linguística (FLORES, 2010, p. 398). Através dos estudos dos dispositivos enunciativos descrevemos os mecanismos, as marcas e as operações que revelam a relação da enunciação com as marcas do sujeito com seu próprio enunciado, bem como o processo de produção de sentido no discurso (FLORES et al, 2010)..

(22) 21. maneira as estratégias textuais e enunciativas, bem como expressões linguísticas podem vir a contribuir para a orientação argumentativa no gênero sentença judicial condenatória de crimes cometidos contra a dignidade sexual de crianças e de adolescentes (estupro de vulnerável)? e (iv) Quais posicionamentos desencadeados pelas posturas enunciativas assumidas pelo L1/E1 (juiz) na gestão do gerenciamento e hierarquização dos conteúdos proposicionais dos pontos de vista (PDV) evocados por L1/E1 e imputados a enunciadores segundos (e2) a serviço da orientação argumentativa? Estabelecemos como objetivo geral investigar dispositivos enunciativos concernentes à orientação argumentativa e a (não) assunção da responsabilidade enunciativa. Para tanto, analisamos a sentença judicial condenatória de crimes cometidos contra a dignidade sexual de crianças e de adolescentes, no âmbito da família. Delinea mos como objetivos específicos identificar, descrever, analisar e interpretar: (i) o plano de texto do gênero judicial em estudo, com foco na estrutura composicional; (ii) no nível linguístico, os dispositivos enunciativos da construção textual-enunciativa dos pontos de vista (PDV) e da (não) assunção da responsabilidade enunciativa em sentenças condenatórias de crimes contra a dignidade sexual de crianças e de adolescentes, considerando as marcas e categorias textuais e enunciativas que revelam o (des)engajamento com o dito de outrem, mobilizadas por L1/E1 (locutorenunciador primeiro/juiz); (iii) as estratégias textuais e enunciativas, bem como expressões linguísticas que podem vir a contribuir para a orientação argumentativa do gênero discursivo em estudo e (iv) os posicionamentos desencadeados pelas posturas enunciativas assumidas pelo L1/E1 (juiz) na gestão do gerenciamento e hierarquização dos conteúdos proposicionais dos PDV evocados por L1/E1 e imputados a enunciadores segundos (e2) a serviço da orientação argumentativa. Partimos da hipótese de que as escolhas linguísticas realizadas e o gerenciamento das vozes dos PDV evocados por L1/E1 e imputados a enunciadores segundos (e2) no jogo enunciativo, como ter um ponto de vista, assumir ou não assumir a responsabilidade enunciativa pelo conteúdo proposicional do PDV, considerando o valor enunciativoargumentativo na materialidade da tessitura textual, revela que o locutor-enunciador primeiro está utilizando mecanismos da língua, que demarcam a orientação argumentativa do discurso jurídico em função de um direcionamento utilizado para atingir um determinado propósito argumentativo. Ou seja, os mecanismos linguísticos permitem reforçar a adesão ou, ao contrário, marcam o distanciamento e a não-adesão do juiz ao PDV do réu, do MP, da defesa e da testemunha, dentre outros enunciadores..

(23) 22. Do ponto de vista teórico, fundamentamo-nos nas propostas da Análise Textual dos Discursos ─ ATD (ADAM, 2011, 2012), em diálogo com teorias linguísticas enunciativas e com as contribuições teóricas e analíticas do campo linguístico-discursivo da argumentação. Para tanto, seguimos também os postulados da Teoria do Ponto de Vista e Responsabilidade Enunciativa (RABATEL, 2008, 2009, 2011, 2013, 2015, 2016), do Quadro Mediativo (GUENTCHÉVA, 1993, 1994, 1996, 2011), além dos trabalhos sobre aspectos linguísticos da Argumentação e do Discurso Jurídico (PINTO, 2010, 2014, 2016), (GOMES, 2014), (LOURENÇO, 2008, 2011, 2012, 2013 e 2015), (CABRAL, 2014), (BITTAR, 2015), dentre outros. Além desses contributos teóricos, seguimos trabalhos de outros autores, dentre eles, Bakhtin (1992, 2003), no que concerne à interação, à enunciação, à polifonia, ao dialogis mo e aos gêneros discursivos; Marcuschi (2005) sobre os gêneros textuais; Benveniste (1989, 2005, 2006), Flores (2009, 2013) e Authier-Revuz (2004, 2011) no que diz respeito à enunciação, à subjetividade da linguagem, à heterogeneidade discursiva e ao dialogismo; Passeggi et al (2010), Rodrigues (2016), Bernardino (2015) dentre outros sobre o discurso jurídico e sobre a responsabilidade enunciativa. Quanto aos aspectos metodológicos, trata-se de uma pesquisa documental, que segue procedimentos da pesquisa qualitativa, de base descritiva e interpretativa. Nosso corpus 3 é constituído de sentenças judiciais condenatórias que tratam de crimes praticados no âmbito familiar contra a dignidade sexual de crianças e de adolescentes, tendo como agressores o pai ou padrasto, prolatadas no período de 2011 a 2013 pela II Vara da Infância e Juventude da Comarca de Natal. No que se refere aos procedimentos de análise, utilizamos categorias e marcas linguístico-textuais e enunciativas propostas por Adam (2011), Rabatel (2003, 2005, 2008, 2009, 2011, 2013, 2015, 2016) e Guentchéva (2011, 2014) que permitem identificar o grau de responsabilidade enunciativa de uma proposição: índices de pessoas, expressões verbais, modalidades sintático-semânticas/elementos modalizadores: advérbios, lexemas avaliativos, tipos de representação da fala/ discurso reportado (discurso direto, indireto e modalização em discurso segundo, indicação de quadros mediadores), conectores, indicação de um suporte de percepções e de pensamentos relatados, posicionamentos assumidos pelo Locutor 1/Enunciador 1 desencadeados pelas posturas enunciativas e tipos de pontos de vista,. 3. O detalhamento do corpus será efetuado na seção do percurso metodológico da pesquisa..

(24) 23. articuladas ao estudo do plano de texto e da orientação argumentativa da sentença condenatória de estupro de vulnerável. Assim, nossa investigação focaliza a responsabilização por parte de quem profere a sentença, ou seja, o juiz, uma vez que este assume o que é enunciado, visto que, em princípio, ao se utilizar da forma verbal “decido”, assume a responsabilidade pelo dito. Quanto a essa assunção, cabe, porém, questionar se é mesmo ele a fonte do dizer ou se essa pode ser atribuída a outrem? Afinal, a produção de uma sentença implica, certamente, a preocupação com a construção do discurso, com a linguagem, com a estrutura do texto, dentre outros fatores relevantes, uma vez que é um gênero essencialmente dialógico, parte de vozes anteriores, já que se embasa em outros gêneros, leis e relatos que compõem os autos do processo em análise. Para dar conta dos objetivos apresentados, recorremos a procedimentos de análise que supõem levantamentos detalhados das ocorrências de. fenômenos. linguísticos da. responsabilidade enunciativa e da orientação argumentativa, analisadas conforme as marcas e categorias textuais e linguístico-enunciativas descritas em Adam (2011), Rabatel (2011, 2015, 2016) e Guentchéva (1993, 1994, 2011, 2014) e detalhadas ao longo deste trabalho. Dessa maneira, articulamos o estudo do: . Plano de texto;. . PDV;. . Responsabilidade Enunciativa;. . Mediativo;. . Orientação argumentativa.. Destacamos que este trabalho filia-se ao grupo de pesquisa em Análise Textual dos Discursos (ATD – PPgEL/UFRN) 4 , que desenvolve estudos de análise textual nos mais diversos domínios discursivos (político, acadêmico, midiático e jurídico) e nas mais diversas dimensões: sequencial-composicional, enunciativa, argumentativa e semântica, com o propósito de descrever, interpretar e analisar práticas discursivas concretas, contribuindo, dessa maneira, teórica e metodologicamente, para os estudos linguísticos do texto.. 4. Consideramos o grande leque de subáreas que a Linguística abarca, dentre as quais destacamos a Linguís tica Textual e a Linguística da Enunciação, correntes teóricas que direcionam e fundamentam a ATD. Desenvolvemos essa pesquisa de doutoramento, orientada pela professora Maria das Graças Soares Rodrigues..

(25) 24. Nesse sentido, esta tese intitulada Dispositivos enunciativos na sentença judicial condenatória de crimes contra a dignidade sexual infanto-juvenil apresenta-se como mais um estudo junto ao referido grupo, com vistas a contribuir para as pesquisas no campo da ATD, especificamente, no campo de descrição, análise e interpretação linguístico-textual da dimensão composicional-sequencial (plano de texto), dimensão enunciativa (vozes, PDV e responsabilidade enunciativa) e dimensão dos atos de discurso (visada, orientação argumentativa). As questões a que nos propomos responder foram instigadas por alguns estudos desenvolvidos no contexto do grupo de pesquisa Análise Textual dos Discursos, do qual fazemos parte. Uma das nossas motivações iniciais partiu, inclusive, dos questionamentos decorrentes da elaboração de nossa dissertação de mestrado, intitulada: A (não) assunção da responsabilidade enunciativa no gênero acadêmico artigo científico produzido por alunos do curso de Letras, em que analisamos a Responsabilidade Enunciativa no gênero artigo científico, trabalho cujos resultados motivaram- nos a uma reflexão no que tange ao gerenciamento de vozes no texto acadêmico e que nos incentivaram, pois, a desenvolver mais estudos referentes a essa área de pesquisa em outro gênero discursivo/textual5 , como também em outro domínio discursivo, no caso, a sentença judicial circunscrito ao domínio jurídico. Sob o quadro da perspectiva de Adam (2011), diversas pesquisas estão emergindo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em nível de mestrado e de doutorado, especificamente sob o eixo temático dos Estudos Linguísticos do texto no qual esta pesquisa se vincula. No âmbito do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos (ATD), várias pesquisas têm sido desenvolvidas, focalizando o nível enunciativo de textos políticos, jornalísticos, acadêmicos, didáticos, jurídicos 6 , dentre outros, de impacto social e relevância histórica. Nesse viés, nosso trabalho se articula aos trabalhos que tratam especificamente das noções da ATD, com foco na noção de responsabilidade enunciativa e orientação argumentativa no discurso jurídico, com foco na dimensão enunciativo-argumentativa. Nossa. 5. Tomamos por base o diálogo entre os estudos bakht inianos sobre os gêneros discursivos e os estudos marcuschianos sobre os gêneros textuais, articulado aos contributos adamianos no âmbito da ATD e LT (Linguística Textual). Em decorrência disso, neste trabalho, nos referimos aos gêneros numa perspectiva discursivo-textual, ou seja, gênero discursivo/textual, com foco nos aspectos linguístico -textuais. No corpo deste trabalho, procuramos realizar u ma abordagem conciliadora dialógica. Pinto (2010) e Ro jo (2005) afirmam que devido a enfoques variados, denomina m os gêneros de forma diferente. 6. Destacamos alguns trabalhos vinculados ao grupo ATD dedicados à investigação da Responsabilidade Enunciativa em gêneros discursivos/textuais de diferentes domín ios: Bernard ino (2015, Medeiros (2015) e Fernandes (2012) sobre o discurso acadêmico; Fonseca (2014) sobre o discurso político; Jales (2015) sobre o discurso didático; Lourenço (2013) sobre o discurso jurídico; Chacon (2013) sobre o discurso literário; Costa (2015) sobre discurso jornalístico e produção do artigo de opinião no Vestibular da UFRN..

(26) 25. investigação concentra-se no domínio discursivo dos textos jurídicos, dando continuidade aos trabalhos desenvolvidos pelo citado grupo de pesquisa. Em razão dessa articulação proposta, nossa pesquisa se justifica por contribuir para os estudos no campo da interface Linguagem e Direito, com foco nos fenômenos linguísticotextuais inerentes ao estudo do texto jurídico, pois, de acordo com Rodrigues (2016, p. 129), o “discurso jurídico ainda é pouco explorado em uma perspectiva linguística”. Constatamos, ainda, que a ATD continua sendo um quadro teórico que carece de investigações nos estudos da Linguística brasileira, tendo, no entanto, profícuo trabalho no âmbito da UFRN. Daí surge mais um motivo para o desenvolvimento de nossa pesquisa, com vistas a contribuir com os estudos teóricos e análises empíricas com base na abordagem da ATD e Linguística do Texto, para a compreensão dos processos de construção do sentido do texto. Ademais, a temática específica desta pesquisa situa-se no contexto de um novo olhar para a análise de textos empíricos, o da ATD, a qual recentemente começa a ser colocada em atuação em universidades brasileiras e de modo mais notório no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, especificamente pelo grupo ATD da UFRN. No tocante a isso, Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010, p.187) enfatizam que: [...] é preciso ter sempre presente que os níveis de análise textual constituem o ponto de vista do analista e, se corretamente estabelecidos, são apenas o reverso dos processos de construção do sentido textual. As modalidades segundo as quais esses processos se constituem e se configuram para a produção co(n)textual de sentido são questões cruciais para a linguística do texto e que necessitam de mais estudos teóricos e análises empíricas.. Nessa linha de raciocínio, vale lembrar que Pinto (2010, p. 83-85) ratifica que “o estudo da argumentação, numa perspectiva textual condicionada por questões relativas ao gênero, é relativamente recente” e pouco investigado. Neste trabalho, explicitamos que o direito é indissociável da argumentação, pois sua responsabilidade é tecer argumentos. Dessa forma, a argumentação tem uso contínuo na ciência do direito. Ou seja, praticar o direito é argumentar, uma vez que se questiona o porquê do concedido ou negado, e isso se faz com argumentos, com a utilização da palavra. Asseveramos que o raciocínio jurídico pode ser reconstruído por diversas formas linguísticas, dentre elas as expressões argumentativas. Nesta investigação, focamos especificamente na sentença, que é um ato jurídico, mas também um ato comunicativo e de integração humana, inserida no contexto de um processo judicial, isto é, de um conflito..

(27) 26. Nessa conjectura, cabe ainda destacar que nossa pesquisa, mesmo situando-se no direcionamento de outras investigações cujo foco recai também sobre o texto jurídico e os níveis de análise propostos pela ATD, especificamente, a sentença judicial condenatória, o levantamento do estado da arte revela que tanto os objetos de estudo quanto os caminhos teórico- metodológicos de análise dos dados são diferenciados. Ainda quando observadas semelhanças no postulado teórico abordado, as circunstâncias contextuais de coleta, seleção, descrição, análise e interpretação dos dados não são os mesmos. Nessa perspectiva, vale ressaltar que escolhemos um corpus inédito, de relevância social, que também carece de análise, e que tem como temática um crime hediondo: a violência sexual contra a dignidade infanto-juvenil. Desse modo, destacamos o caráter inovador de nossa tese frente aos trabalhos desenvolvidos nesse nicho acadêmico-científico. Acresça-se a isso a articulação na análise textual de diferentes níveis, propostos por Adam (2011). Desse modo, neste estudo, ao mesmo tempo que visamos contribuir para as pesquisas em Análise Textual dos Discursos, buscamos contemplar uma questão pouco observada nos trabalhos até então realizados, isto é, a articulação de níveis de análise textuais (enunciativoargumentativo e composicional) propostos pela ATD, focalizando quatro eixos: texto, gênero, enunciação e discurso. Há outros fatores que justificam nossa pesquisa que também estão associados ao corpus selecionado para a análise. O primeiro deles diz respeito ao gênero, à tipificação do crime (violência sexual), a partir dos quais selecionamos os textos do corpus, isto é, decidimos pelo gênero sentença judicial condenatória por ser um dos gêneros forenses mais importantes. Nessa discussão, dada à relevância legal em um processo judicial, quer seja ele penal ou cível, a sentença é considerada um gênero discursivo/textual que se caracteriza por sintetizar os aspectos mais importantes de um processo, possuindo a capacidade de modificar a realidade dos indivíduos, uma vez que suas decisões afetam diretamente a vida dos cidadãos envolvidos no processo. Ademais, segundo Montolío (2011, p. 75), o gênero sentença é o “gênero jurídico mais ambicioso, complexo e interessante, já que em seu seio inclui grande variedade de tipos de discurso e numerosos fragmentos pertencentes a outros gêneros jurídicos”. Além disso, justifica-se a opção pelo gênero sentença judicial para a constituição do corpus, por ser esse gênero discursivo/textual constituído a partir da análise e compreensão de outras vozes que o estruturam, tais como o depoimento de testemunhas, alegações no.

(28) 27. inquérito policial, denúncia ofertada pelo Ministério Público entre outras. Isto é, o juiz observa todas as peças (gêneros discursivos/textuais) 7 que constituem os autos do processo legal, desde sua instauração à conclusão com a sentença. Profere o julgamento fazendo o uso linguístico da forma verbal na 1ª pessoa do singular. Dessa maneira, observamos que, no momento em que o juiz profere a sentença, ele assume o seu papel de julgador, aquele que tem autoridade legitimada. Nesse direcionamento, indagamos até que ponto o juiz pode ser a fonte primeira do dizer e, ao mesmo tempo, ser o responsável pelo dito, uma vez que ele parte de vozes do discurso alheio que compõem os textos do caderno processual, entre eles, termos de depoimento, petições, inquérito policial, despachos e pareceres especializados 8 . Por essa razão, Montolío e López Samaniego (2008) salientam o caráter intertextual da sentença judicial, o que acarreta uma “heterogeneidade de vozes”, dificultando tanto a redação quanto a interpretação da sentença. Nesse enfoque, Montolío (2011) preconiza que a sentença é respaldada pela tradição, fato que, para muitos analistas, é a causa principal da complexidade sintática desse gênero discursivo. Desse modo, nossa investigação ganha relevância, uma vez que estudar os PDV e a articulação com os propósitos argumentativos do jurista pode oferecer orientações mais claras para que o cidadão entenda melhor os textos que “afetam diretamente a sua vida e seu patrimônio”. (MONTOLÍO, 2011, p. 89). Nessa mesma linha, cabe pensar que os textos do âmbito jurídico conquistaram a hegemonia do dizer institucional, o valor dos atos sociais de forma legitimada e praticamente inquestionável, e que a compreensão desses textos garante o exercício da cidadania. Daí mais uma vez a importância da aplicação da teoria dos gêneros discursivos aos estudos do disc urso 7. Pela abordagem de Pinto (2010, p.143), as peças jurídicas, dentre elas, as sentenças, apresentam estabilidade a partir da recorrência de unidades linguísticas. As peças são gêneros denominados instituídos. Eles são pouco permeáveis a mudanças e apresentam características estruturais mais rígidas. 8. Trata-se de gêneros discursivos/textuais do domínio juríd ico. Modelos de textos com alto grau de estabilidade constitutiva (PINTO, 2010, 2014). Os aspectos sobre gêneros textuais/ discursivos serão por nós detalhados na seção teórica. No âmb ito das perspectivas discursivo-textuais, citamos os trabalhos bakhtinianos, adamianos e mascuschianos. Retomamos os postulados bakhtinianos por terem in fluenciado os estudos teóricos dos demais autores que seguiremos. Não é nosso intento fazer u ma análise exaustiva sobre os gêneros. Restringimo -nos apenas a contextualizar as questões teóricas no âmbito da ATD para a caracterização da sentença judicial condenatória de crime contra a dignidade sexual infanto-juvenil, articu lado ao estudo do plano de texto, com foco na estrutura composicional. Deixamos de lado o aprofundamento das imp licações teóricas e analíticas dos diferentes pesquisadores sobre o tema em tela. Reconhecemos que existem flutuações teóricas entre as denominações gênero(s) do discurso e de texto. Co mo será demonstrado, autores como Bakht in e Adam utilizam a primeira denominação; enquanto que Marcuschi, denomina gênero textual. Co mo focamos em u ma análise de perspectiva linguístico-textual e discursiva da dimensão enunciativa, art iculamos e conciliamos as visões teóricas e optamos pela denominação gênero discursivo/textual. Para u m aprofundamento sobre a recapitulação dos estudos em perspectivas discursivo-textuais sobre gênero, indicamos Pinto (2010)..

(29) 28. jurídico, pois “toda sentença é um ato performativo da linguagem” 9 e “deve ser escrita para que se apresente em sua concretude” (BITTAR, 2015, p. 304). Nesse prisma, a sentença é um “ato de linguagem decisório e performativo de linguagem” (BITTAR, 2015, p. 304-305), que objetiva produzir efeitos “não discursivos”, isto é, produzir efeitos “extra-autos”, modificando “coisas do mundo e estados do mundo”. Para esse autor, o discurso jurídico é um discurso que se impõe, por derivar de uma estrutura de poder sobre a qual se assenta e ao mesmo tempo a faz funcionar. Centrada nessa perspectiva Colares (2010) explica que no Direito, a linguagem estabelece relações entre pessoas e grupos sociais, faz emergir e desaparecer entidades, concede e usurpa a liberdade, absolve e condena o réu. Cabe ainda ressaltar que para essa autora a sentença é um ato jurídico constituído através de um ato de fala, ou seja, realiza-se um ato performativo de fala, uma ação que determina mudanças no mundo legalmente estruturado. Assim, consoante Rodrigues et al (2014), constatamos o amplo espectro no cruzamento entre linguagem e discurso jurídico, pois deriva das relações entre pessoas e grupos,. em práticas sociais. institucionalizadas.. Concebemos que as autoridades. institucionalmente constituídas “legislam, executam, administram, orientam a vida das pessoas, através de uma imensa variedade de normas que se materializam na e por intermédio da linguagem, com primazia da linguagem verbal” (RODRIGUES, 2014, p.243). Nesse panorama, López Samaniego (2006, p. 62) considera que é [...] necessário reconhecer que a organização das sentenças judiciais é muito complexa, já que manipulam uma grande quantidade de informação e conteúdos diversos. Como culminação do processo judicial, a sentença deve (i) referir-se a etapas anteriores do pleito; (ii) incluir um grande número de vozes, como a dos implicados, dos juristas, dos especialistas, dos legisladores, etc.; (iii) desenvolver as ponderações que permitem alcançar uma decisão; e (iv) fundamentar seus argumentos com citações de autoridade, procedentes de textos legais ou jurídicos.. Nessa trilha, López Samaniego e Montolío (2011, p. 75) ressaltam dois pontos importantes sobre a sentença: o ponto de vista social e o linguístico, considerando que:. 9. Os estudos de Bittar (2015) se relacionam com os estudos de J. L Austin sobre os atos de fala, conforme veremos na seção que trata da Linguagem e Direito. Trask (2011, p. 227) baseia -se nos pressupostos austinianos e define um ato performat ivo como um enunciado que é por si só um ato de fazer algo. TRASK, R, L. Dicionário de linguagem e linguística. São Paulo: Contexto, 2011..

(30) 29. (do) ponto de vista social, a sentença é o documento mais relevante do processo judicial, dado que reveste uma transcendência inegável tanto para o cidadão (sobre cuja vida e patrimônio resolve) como para a própria jurisprudência. [...] (do) ponto de vista linguístico, a sentença é o maior e mais complexo dos gêneros do âmbito jurídico, o que faz com que as patologias da escrita apareçam nela de modo mais representativo. De fato, nas sentenças emergem de maneira recorrente todas as inexatidões de expressão identificadas como características dos textos deste âmbito; mas, além disso, ocorrem nela fenômenos textuais próprios. Assim, por exemplo, apesar de que outros textos jurídicos utilizem de modo característico fragmentos descritivos, narrativos ou argumentativos, somente na sentença coabitam simultaneamente e se imbricam entre si esses tipos de sequências textuais [...].. Podemos dizer que nos últimos anos tem crescido o interesse pelo estudo do texto jurídico, tanto pelos operadores do direito quanto pelos linguistas, assim como também pelas pessoas comuns não iniciadas na linguagem jurídica. Consoante Lourenço (2013, 2015), tal interesse possui origens diversas, uma vez que os operadores do direito se dedicam ao tema pela sua relação profissional cotidiana com os gêneros que circulam no domínio jurídico, limitando-se a discussões travadas pela Hermenêutica jurídica, que concebe a língua na sua imanência. Já os linguistas, pelo interesse enquanto cientistas em analisar, descrever e interpretar como se dá o funcionamento da linguagem no âmbito judicial, contribuem, assim, com a formação dos profissionais da área, já que a Linguística oferece meios que perpassam os interesses, em geral, de investigação do profissional do direito. Dessa maneira, o linguista interessa-se pela análise da linguagem jurídica, uma vez que esta constitui uma importante área no âmbito da comunicação. Assim, promover o estudo dos gêneros jurídicos escritos implica descrever e sistematizar, determina ndo os objetivos do pesquisador, elementos caracterizadores desse tipo de texto/discurso, que, por sua vez, é detentor de características próprias, obedece a exigências previstas na legislação e tem um caráter prático. Assim, considerando a relevância social dos gêneros jurídicos, é de fundamental importância que esses mesmos textos portem clareza, concisão e objetividade, bem como os demais fatores de textualidade. Vale ressaltar que os trabalhos supracitados compõem uma instigante linha de estudos sobre o Discurso Jurídico sob a ótica da Linguística a que deve ser dada continuidade. No contexto de pesquisas desenvolvidas abrangendo as duas áreas de conhecimento, aqui correlacionadas, Lourenço (2013, p.104) destaca as pesquisas realizadas pela Linguística Forense, que é área de estudos linguísticos interessada pelo.

Referências

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