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Charaudeau e Maingueneau (2008, p. 377) preconizam que o texto não é um amontoado, mas sim uma sequência ordenada e hierarquizada de enunciados, traduzidos por planos de textos que desempenham papel capital na composição macrotextual do sentido que corresponde àquilo que os antigos, no período da Retórica, classificavam como disposição. Para esses autores, a disposição é a parte da arte de escrever e da arte da oratória que regula a organização dos argumentos. Afirmam que o modelo retórico não dá conta da variedade dos planos de textos possíveis.

Tais autores consideram ainda que o plano pode ser indicado explicitamente pela segmentação (subtítulos, mudanças de parágrafos, de capítulos, numeração dos assuntos, sumário) ou pode ser marcado em sua superfície. Preconizam que os planos se articulam com a interpretação, com foco na organização da estruturação do sentido, podendo ser de maneira mais explícita e ostensiva.

Na mesma direção, Adam (2011) considera o plano de texto como elemento condicionado pelo gênero e pontua que a partir do plano de texto é possível fazer uma descrição da composição semântica do texto e descobrir seu sentido, pois “os planos de texto desempenham um papel fundamental na composição macrotextual do sentido”. (ADAM, 2011, p. 257). Os planos de texto: são responsáveis pela estrutura composicional do texto e caracterizam-se pela composição e organização textual. Dessa forma, os planos de textos são responsáveis pela estruturação global do texto, ou seja, a forma como se ordenam e se desenvolvem, de modo a fornecer ao leitor/ouvinte, elementos necessários para sua compreensão e interpretação.

Os planos de textos podem ser convencionais (fixos), estabilizados pelo estado histórico de um gênero de discurso com estruturas mais fixas, clássicas, canônicas, institucionalizadas pelo domínio discursivo e com uma estrutura prototípica respaldada pela tradição; ou podem ser ocasionais, quando são deslocados em relação à história de um gênero, mais livres, maleáveis e dependentes das intenções do produtor textual. Desse modo, o autor distingue os planos de texto em convencional (fixo/rígido) e ocasional (fluido/flexível).

Dos pressupostos de Adam (2011), entendemos, ainda, que o plano de texto é estudado em sua materialidade e encontra-se relacionado à textura (à segmentação de proposições, de enunciados e de períodos) e a estrutura composicional, que encadeiam o sentido do texto organizado argumentativamente, em função das intenções comunicativas, observando que estruturação interna considera o domínio discursivo.

No campo dos estudos linguísticos da Análise Textual dos Discursos, Adam (2011, p. 258) explica que os planos de texto caracterizam-se pela composição e organização textual. De um modo esquemático, “eles permitem construir (na produção) e reconstruir (na leitura ou na escuta) a organização global de um texto, prescrita por um gênero”. Nesse sentido, os planos de textos são responsáveis pela estruturação global do texto, pela forma como se ordenam e se desenvolvem, de modo a fornecer ao leitor/ouvinte, elementos necessários para sua compreensão e interpretação, “sobretudo nos casos em que os encadeamentos de proposição ou períodos não chegam a formar claramente sequências”. (PASSEGGI et al., 2010, p. 297).

No entendimento de Adam (2011), os planos de texto desempenham um papel capital na composição macrotextual do sentido, uma vez que os planos de texto abarcam blocos de texto formados pelas sequências e estabelecem a organização global prescrita por um gênero. Dessa forma, eles são o principal fato unificador da estrutura composicional e sentido do texto.

Considerando essa perspectiva adamiana apresentada atualmente pela Linguística de Texto e pela ATD, concordamos que os planos de texto estão, do mesmo modo que os gêneros, disponíveis no sistema de conhecimento dos grupos sociais nas mais diversas situações de comunicação humana. Eles fazem, portanto, parte dos conhecimentos prévios do leitor, atuando na construção dos sentidos de um texto, conforme a situação enunciativa na qual circulam. Por esse motivo, no âmbito dos estudos sobre o gênero no Brasil, Marcuschi (2008, p. 72) considera a importância de considerar o objetivo dos interlocutores e o contexto sociocognitivo, afirmando que o

[...] texto é o resultado de uma ação linguística cujas fronteiras são, em geral, definidas por seus vínculos com o mundo no qual ele surge e funciona. Esse fenômeno não é apenas uma extensão da frase, mas uma entidade teoricamente nova. [...] falamos de texto como um evento que atualiza sentidos e não como uma entidade que porta sentidos na independência de seus leitores.

Por isso, para Adam (200459, 2011), a (re)construção do texto e de suas de partes ou segmentos que correspondem ou ultrapassam os níveis do período e da sequência é uma “atividade cognitiva fundamental que permite a compreensão de um texto e, para isso,

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ADAM, J. M. Une approche textuelle de l'argu mentation: "schéma", séquence et phrase périodique. In: DOURY M; MOIRAND, S (eds.) L'Argume ntati on aujour d'hui. Paris: Presses de la Sorbonne Nouvelle, 2004, p. 77-102.

mobiliza todas as informações linguísticas de superfície disponíveis ” (ADAM, 2011, p. 263). Nesse sentido, os planos de textos são as diferentes possibilidades de estruturação do texto que dispomos no uso da linguagem, para a interação humana, de acordo com as nossas necessidades sociais e discursivas.

Assim, ainda conforme Adam (2011), os planos de texto, ao explicitarem a estrutura global do texto, a forma como os parágrafos se organizam, a ordem em que as palavras se apresentam, podem fornecer os elementos necessários à compreensão da produção de determinado texto, uma vez que o leitor lançará mão de seus conhecimentos linguísticos e textuais para a percepção-elaboração da referida estrutura global.

Assim, ratificamos que o plano de texto pode ser elaborado em função das intenções comunicativas, em conformidade com o domínio discursivo que o gênero se encontra inserido. Para o linguista da ATD, os planos de texto podem ser mais ou menos marcados, mais ou menos visíveis e legíveis, seja pela segmentação seja pelos anúncios de temas e subtemas, ou ainda pelas mudanças de tópico, pelas reformulações e pela articulação dos organizadores textuais. Outra característica importante dos planos de textos é a que eles permitem a junção de partes multiperiódicas ou multissequenciais mais complexas, na medida em que possuem uma homogeneidade semântica interna.

Em Adam (2011, p. 258), encontramos o plano de texto como principal fator unificador da estrutura composicional e sendo fundamental para a organização estrutural interna do texto. Segundo o referido autor, os planos de texto convencionais são fixados “pelo estado histórico de um gênero ou subgênero de discurso” (ADAM, 2011, p. 258) e correspondem às constantes composicionais de gêneros discursivos. Como é o caso do gênero sentença judicial. Já o plano de texto do tipo ocasional é “inesperado, deslocado em relação a um gênero ou subgênero de discurso” (Idem, Ibid., p.258), como também são dependentes, em maior grau, de decisões do produtor textual. Os exemplos elencados por Adam (2011) são: a canção, o anúncio publicitário, dentre outros.

No entendimento de Passeggi et al. (2010, p. 297), os planos de texto ocasionais “são mais abertos e flexíveis e [...] com frequência, fogem à estruturação clara de um gênero ou subgênero do discurso.” Em suma, os planos convencionais são estruturas mais fixas, clássicas, canônicas e com uma estrutura prototípica respaldada pela tradição, enquanto os planos ocasionais são mais livres e flexíveis.

O esquema a seguir, de forma sumária, reproduz a subdivisão dos tipos de plano de texto, baseado em Adam (2011), Pinto (2010, 2014) Passeggi et al (2010) e Marquesi (2016).

Figura 9 – Tipos de plano de texto

Fonte: Elaboração própria baseada em Adam (2011), Pinto (2010, 2014), Passeggi et al (2010) e Marquesi (2016)

Portanto, o plano de texto é fator unificador da estrutura composicional, bem como desempenha um papel fundamental na composição macrotextual dos sentidos e está, juntamente com os gêneros, disponível no sistema de conhecimentos dos grupos sociais. Ele permite construir (na produção) e reconstruir (na leitura ou na escrita) a organização global de um texto, prescrita por um gênero.

Nessa direção, vale mencionar os contributos teóricos de Coutinho (2005 apud PINTO, 2010) sobre o plano de texto, no âmbito de uma perspectiva textual, para quem, cada gênero, no interior do discurso em que se integra, seleciona e faz a gerência dos recursos disponíveis, tendo no texto concreto a escolha entre reprodução e inovação do gênero (ou entre um grau maior ou menor de forte reprodução ou de inovação).

Concluímos, de acordo com Marquesi (2016, p. 116), que, na perspectiva da análise textual dos discursos, o plano de texto é responsável por “organizar as sequências textuais e as informações para que as intenções de produção sejam atendidas e materializadas”.