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1.2. A AVENTURA DOS CAMINHOS: METODOLOGIA DA

1.2.2 Observação e coleta de dados

Na primeira etapa da pesquisa, a da observação e coleta de dados, utilizamos o recurso da fotografia para registrar o cotidiano da comunidade e da escola. Num segundo momento, buscamos informações sobre quem seriam nossos possíveis interlocutores nas entrevistas, em conversa com os sujeitos mais antigos da comunidade e com algumas das famílias cujos filhos frequentam a escola. Conseguimos, assim, as informações para fazer o mapeamento dos sujeitos que haviam ido para a escola em sua infância. Por meio desses dados, elegemos os sujeitos da pesquisa que seriam os nossos interlocutores. No âmbito da escola conversamos com as crianças reunidas em grupos, de acordo com o turno em que estavam matriculadas: 1º e 2º ano no período da manhã e 3º e 4º ano no período da tarde. Elaboramos um roteiro para o que denominamos rodas de conversa (RC) tendo por base questões relacionadas às festas e brincadeiras no quintal (da comunidade e da escola). Com os sujeitos nativos e não nativos da comunidade em geral, com os funcionários antigos e atuais da escola, realizamos entrevistas (E) gravadas em vídeo baseadas em um roteiro que serviu de guia para o diálogo. Estas foram realizadas em suas casas, após agendamento de horário disponibilizado por eles próprios.

O objetivo das entrevistas e das rodas de conversa foi ordenar e analisar historicamente a vida vivida em comunidade, fora de uma instituição social (a escola) e no âmbito da escola, reconhecer e compreender os discursos e suas estratégias interindividuais, bem como os signos circulantes nessa esfera em seus aspectos renovadores e renovados, tomando como ponto de partida o contexto atual.

Um dado interessante que convém aqui assinalar é a multiplicação dos interlocutores da pesquisa por meio das entrevistas. Descobrimos, por exemplo, sujeitos ligados à história da instituição escolar, como foi o caso de uma interlocutora que, ao ser entrevistada, revelou ter sido a primeira professora a lecionar na escola da Costa da Lagoa.

Consideramos ainda como dados da pesquisa as conversas fortuitas nos bares, na escola, nos barcos do transporte coletivo e nas trilhas do caminho da Costa da Lagoa.Para o registro dessas conversas, utilizamos o diário de campo (DC). Trabalhamos com os apontamentos desse diário durante o processo de pesquisa, estudo e análise. Desse modo, fomos compondo, articulando e analisando os dados coletados

por meio dos recursos utilizados, estabelecendo redes de sentidos com as imagens fotográficas e as narrativas orais dos interlocutores.

Pontuamos, ainda, que durante as entrevistas e as conversas informais oferecemos a câmera fotográfica para cada um dos interlocutores com a intenção de lançá-los ao seguinte desafio: capturar a imagem que poderia definir a Costa da Lagoa. Analisando o resultado desse procedimento, concluímos que três circunstâncias interferiram no andamento da atividade e no produto final e que necessitam ser explicitadas: primeiro, que a máquina fotográfica ficava em posse do interlocutor por um período de dois a três dias; segundo, houve casos em que o interlocutor buscava em seu acervo uma foto que correspondesse à resposta que desejava dar; e terceiro, esse mesmo interlocutor buscava fotos tiradas por outros para representar a sua interpretação. Com essa nossa atitude investigativa buscamos compreender, pelas narrativas e imagens produzidas ou escolhidas, o ponto de vista dos sujeitos da pesquisa, em sua singularidade, bem como os sentidos de que se apropriam os sujeitos e que se entrecruzam nas diferentes instâncias sociais compartilhadas. Visamos, assim, ir ao encontro do que defendia Bakhtin/Volochínov (2006) ao referir-se à consciência individual como “um fato sócio-ideológico” (p. 33), de maneira que esta, segundo ele, “adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais.” (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV, 2006, p.34).

Paralelamente a esse conjunto de procedimentos citados, arquivamos informações consultando os documentos oficiais da escola, como o Projeto Político-Pedagógico (PPP), fichas de matrícula das crianças e edições do jornal O Arteiro desde a sua origem, em 1997, selecionando as edições dos anos 2010 e 2011 por esses trazerem informações sobre as festas e as brincadeiras registradas no espaçotempo da pesquisa, estabelecendo relação entre as notícias de lá e de cá.

No terceiro momento, de posse de toda a materialidade discursiva e histórica sobre a comunidade em geral e a escola, começamos a etapa da análise detalhada dos enunciados. Primeiramente escutamos por diversas vezes as gravações das entrevistas e das rodas de conversa; depois lemos e relemos as anotações do diário de campo, observando e anotando os tópicos relevantes como hipóteses, ainda, para análise; por fim, organizamos as fotos coletadas, aproximando-as por temas. Após esses procedimentos, transcrevemos os trechos das entrevistas que continham elementos relevantes para a nossa investigação.

Em suma, para a compreensão do objeto desta pesquisa, foi fundamental colocarmos em relação o conjunto dos dados coletados no decorrer da pesquisa de campo, isto é, as narrativas verbovisuais com a teoria que embasa esta investigação.Foi possível, assim, o adensamento necessário para o fortalecimento do diálogo do pesquisador com seus interlocutores (comunidades – geral e escolar); um pesquisadorpartícipe da comunidade investigada, sendo-lhe exigido o exercício duplo da exotopia (membro da comunidade investigada e pesquisador) para compor a análise em sua totalidade, buscando, evidentemente, na compreensão do outro, a sua, para compreender sentidos. Disse Bakhtin: “Chamo de sentidos às respostas a perguntas. Aquilo que não responde a nenhuma pergunta não tem sentido para nós” (BAKHTIN, 2010, p. 381).

2 CONSIDERAÇÕES E HISTÓRIAS PRIMEIRAS

2.1 COSTA DA LAGOA: UM LUGAR, UM ESPAÇO, UM TEMPO