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Capítulo 5 Aplicação prática

5.2. Metodologia de pesquisa

5.2.1. Avaliação da disseminação

5.2.1.1 Observação de comportamentos

Foi feita uma pesquisa com o intuito de buscar as formas de avaliação da disseminação. Pantoja (2004) apresenta a avaliação de suporte à aprendizagem contínua com a aplicação de questionários e análise estatística dos dados. No questionário, a autora solicita a avaliação de uma série de comportamentos relativos ao assunto tratado. Utilizando a idéia da autora, desejava-se elaborar um questionário com comportamentos a serem observados durante o workshop, de forma a ter um indicativo da aprendizagem do grupo.

Segundo Von Krogh et al. (2000), o ambiente organizacional tem grande influência na maneira e na medida em que o conhecimento, em especial o conhecimento tácito, é compartilhado. O compartilhamento se sustenta em relacionamentos, que por sua vez têm maior ou menor qualidade dependendo de características, tais como confiança, medo, satisfação ou sensação de segurança. A esta percepção de ambiente benéfico os autores dão o nome de “solicitude” (care). Os autores relacionam cinco dimensões para delinear as características que influenciam positivamente a solicitude nas organizações:

Confiança mútua: Se manifesta de duas maneiras. Primeiro, deve-se confiar nas pessoas para utilizar seus ensinamentos e recomendações, e para adicionar valor pessoal às lições. Por outro lado, as pessoas devem confiar em suas boas intenções para aceitar a sua ajuda.

Empatia ativa: Ação pró ativa de procurar entender os outros e se colocar no lugar deles, adotando uma postura de ouvinte e de questionamento, em oposição à atitude de expor e advogar opiniões.

Acesso ao auxílio: Torna real e tangível o ambiente de aprendizado. A ajuda é acessível a quem necessita. Na medida em que aumenta o conhecimento de determinado indivíduo, aumenta também a responsabilidade por compartilhá-lo.

Leniência no julgamento: Característica de um ambiente sem críticas ou julgamentos duros, onde os menos experientes têm liberdade para experimentar e nisso são auxiliados no próprio crescimento.

Coragem: Se caracteriza por um ambiente onde existe a coragem para experimentar, para expor seus conceitos ao processo de julgamento intenso e para dar a sua opinião e o feedback como parte do processo de auxílio ao crescimento dos outros.

Essas dimensões foram adaptadas para compor o questionário de avaliação do workshop. Investigando-se o trabalho de Von Krogh et al. (2000), foram levantados 23 comportamentos relacionados às dimensões, sendo que 12 são considerados positivos ao ambiente e 11 são considerados negativos. A Tabela 8 traz a lista de comportamentos, separados por dimensão e classificados em positivos ou negativos.

Tabela 8.Comportamentos por dimensões de solicitude nas organizações

Dimensão: Confiança mútua P/N

Foram feitos pedidos de ajuda e estes foram bem aceitos P Foram feitos pedidos de ajuda, mas estes foram desconsiderados ou aceitos com dificuldade N Foi exigido que os conceitos e opiniões fossem provados com dados considerados confiáveis N Foi feito uso de metáforas e analogias para descrever posições e conceitos e isto foi suficiente (para que?) P Posicionamentos foram debatidos a exaustão N Os participantes aceitaram o posicionamento do outro, com as partes cedendo igualmente P

Dimensão: Empatia Ativa

Os participantes relataram emoções enquanto argumentavam P Os participantes expressaram a interpretação das necessidades e sentimentos do outro P Foram feitas constantes interrupções N Foram feitos questionamentos interessados sobre o posicionamento do outro P Foram feitos questionamentos com o objetivo de testar os argumentos e encontrar falhas N Os participantes se mantiveram irredutíveis na argumentação, baseando-se em sua própria vivência N Os participantes buscaram se colocar no lugar do outro para melhor entender o ponto de vista P

Dimensão: Acesso ao auxílio

Foi compartilhado o conhecimento sobre fontes explícitas (documentos, modelos) N Foi compartilhado o conhecimento através de explicações detalhadas e transparentes P Quando compartilhado, o conhecimento foi superficial e genérico N

Dimensão: Leniência no julgamento

Foram colocadas novas idéias e posições e estas foram aceitas e debatidas P Foram colocadas novas idéias e posições e estas foram criticadas e descartadas N Foram feitas críticas ao posicionamento das pessoas N

Dimensão: Coragem

Foram dados feedbacks negativos como parte de críticas construtivas P Foram feitos elogios e dados feedbacks positivos P Houve exposição de opiniões pessoais sobre os assuntos P As exposiçãos de opiniões foram superficiais e políticas N

Borges-Andrade e Oliveira-Castro (1996) descrevem uma pesquisa sobre a produção nacional de artigos sobre treinamento e desenvolvimento. Os autores utilizam a opinião de duplas de observadores na avaliação. Os observadores pontuam algumas categorias a serem observadas nos artigos lidos e é calculado o índice de concordância (porcentagem de concordâncias sobre o total das classificações possíveis).

Como a aplicação dos questionários diretamente aos participantes do workshop exigiria níveis de validação do instrumento (PANTOJA, 2004) que destoariam do objetivo dos mesmos, optou-se por aplicar uma adaptação da técnica de Borges-Andrade e Oliveira- Castro (1996).

Assim, a avaliação foi feita com uma dupla de observadores presentes ao workshop, que preencheram o questionário desenvolvido a partir dos comportamentos retirados do trabalho de Von Krogh et al. (2000) que caracteriza as dimensões presentes no ambiente organizacional, propícias ao aprendizado. Coube a eles contar o número de vezes que o comportamento ocorreu, em sua opinião.

Utilizou-se a medição do nível de concordância entre os dois observadores (BORGES- ANDRADE e OLIVEIRA-CASTRO, 1996). Para trazer maior confiabilidade às observações foi estabelecido o nível de concordância das observações em 70%, ou seja, para que determinada observação fosse considerada válida, os observadores deveriam concordar com a quantidade de ocorrências quantificadas, com uma margem de tolerância de 30%. Isto é, se o Observador A contou 10 ocorrências, a observação será considerada válida se o Observador B apresentar um total de 10 ± 30% ( 7 a 13). O Apêndice D contém o formulário utilizado na observação.

Posteriormente, os itens classificados como positivos ou negativos, e organizados por dimensões, são totalizados para cada dimensão. Os itens negativos recebem pontuação negativa e as observações inválidas são marcadas com “---“ para diferenciar de comportamentos que não foram observados (Tabela 9). As observações inválidas foram desconsideradas na análise dos dados. A pontuação alcançada em cada dimensão revela a tendência demonstrada no workshop, na dimensão específica.

Tabela 9. Fragmento da totalização de observação

Dimensão: Confiança mútua Obs. A Obs. B Valido? P/N Qtd

Foram feitos pedidos de ajuda e estes foram bem

aceitos 3 5 Sim P 4,0

Foram feitos pedidos de ajuda, mas estes foram desconsiderados ou aceitos com dificuldade

1 1 Sim N -1 Foi exigido que os conceitos e opiniões fossem

provados com dados considerados confiáveis 1 7 Não N --- Foi feito uso de metáforas e analogias para descrever

posições e conceitos e isto foi suficiente (para que?) 6 7 Sim P 6,5 Posicionamentos foram debatidos a exaustão 6 2 Não N --- Os participantes aceitaram o posicionamento do outro,

com as partes cedendo igualmente 5 5 Sim P 5,0

Total 14,5

O número indicativo da tendência em uma determinada dimensão é avaliado relativamente aos valores apresentados nas outras dimensões. Isto é, se determinada dimensão alcançou um total de, digamos, 14, enquanto as outras ficaram por volta de 4 ou 5, observamos uma força nesta dimensão.