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CAPITULO V OPÇÕES E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5. Técnicas de Recolha de Dados

5.1 Observação Participante

Observar é uma técnicaque nos permitiu investigar o fenómeno em estudo, no caso presente, o programa de formação no seu contexto natural. Tendo em conta os objetivos enunciados para esta investigação, pareceu-nos fundamental e clarificador utilizar a observação participante. Técnica que coloca o investigador em contacto direto, continuado e paritário com os sujeitos participantes no fenómeno em estudo. (Amado & Silva, 2013). A opção por esta técnica, justifica- -se pela necessidade de vivenciar a experiência de formação, colocarmo-nos no lugar do outro de forma a obtermos informações sobre o como e o porquê deste tipo de formação, descrevendo e analisando o modo como os professores/formandos e as formadoras vivem e interpretam todo

1ª ETAPA

Princípios orientadores e processo de formação

Observação Participante – 15 Formandos e 2 formadoras

Entrevista de tipo biográfico – 2 Formadoras

2ª ETAPA

Mudanças nas perceções e práticas dos professores

Questionário Aberto – 41 Professores Entrevistas de follow-up – 11 Professores

ANÁLISE DOCUMENTAL

este processo (Amado & Silva, 2013). A investigadora/observadora participou como professora formanda na vida quotidiana do grupo, que tinha conhecimento do seu duplo papel de formanda e investigadora. A finalidade foi conhecer, compreender e inferir os princípios e as práticas de formação com detalhe e em profundidade, procurando também perceber o que os professores em formação pensam ou fazem nas circunstâncias em estudo, através da imersão do investigador no contexto dos participantes, recolhendo dados sobre os seus diferentes encontros (Bisquerra Alzina, 2004). Os dados recolhidos, foram obtidos durante as cinco sessões de formação, correspondentes a um total de vinte cinco horas, e decorreram de 4 de maio a 8 de junho de 2013, na Escola Secundária Miguel Torga, em Queluz. O foco desta observação foi a formação na sua totalidade, pelo que procurámos observar situações variadas, concentrando-nos nas dinâmicas próprias da formação, mas também em aspetos mais específicos das interações entre os participantes. Estivemos particularmente interessados nos princípios que orientam a formação, nas dinâmicas relacionais, nas estratégias e nos materiais utilizados. Houve, da parte da investigadora, a preocupação de preparar o campo de pesquisa contactando com os sujeitos envolvidos, pedindo a sua autorização e consentimento informado. Procurou-se inicialmente observar tudo, mesmo tendo a consciência de que isso é uma tarefa impossível de ser realizada (Amado & Silva, 2013). Observamos de forma espontânea, enquanto espectadores e atores da formação, procurando mobilizar a informação na condução do nosso olhar, descrevendo de forma simples o que íamos captando no contacto com esta realidade.

De acordo com a revisão de literatura, existem várias formas e graus de participação. No que concerne a este estudo, em particular, a investigadora participou ativamente de todo o processo e de forma integral, encontrando-se também ela em formação, portanto, participante no mesmo tipo de dinâmicas, de interação e de avaliação específicas. Foi importante o convívio entre a investigadora e o grupo, bem como o envolvimento e a possibilidade de compartilhar e acompanhá-lo em todas as situações por ele vivenciadas.

Começámos por efetuar anotações pouco extensas e codificadas, que posteriormente fomos relendo e tentámos expandir sem perder o sentido do que tinha sido dito e com o maior rigor que a nossa memória nos permitia (Correia, 2009). A presença e participação do observador, permitiram um verdadeiro convívio de partilha e, também, de alguma afinidade com os professores formandos, o que facilitou o diálogo e a compreensão de comportamentos e interações observadas. No entanto, tivemos também em conta que a presença pode causar interferências, conduzindo a alguns

enviesamentos ou alterações do que se pretende observar; para minimizar este “efeito do observador” (Amado & Silva, 2013) procedeu-se, desde logo, à explicitação das nossas funções enquanto observador e do carácter sigiloso dos dados. Fomos sempre verdadeiros, informando, clarificando e interagindo com os diferentes sujeitos, de forma a criar o clima de confiança e empatia indispensável, para que os participantes expressassem livremente e sem reticências as suas impressões sobre os processos educativos que se encontravam a vivenciar (Bogdan & Biklen, 1994).

Elaborámos, desde o primeiro dia, notas de campo, onde íamos fazendo anotações in loco e, no final de cada sessão, escrevíamos com detalhe o que tinha acontecido (Bogdan & Biklen, 1994). Estas notas de campo (Anexo, 1), apresentavam detalhes com alguma precisão e extensão, o que nos permitiu descrever e analisar esta formação contínua de professores. Como o nosso objeto de estudo é o programa de formação de professores em filosofia com crianças e jovens, procurámos perceber através da descrição do conteúdo das sessões, das questões que se colocaram na formação, da interação entre as formadoras e os professores formandos, das dinâmicas criadas e das estratégias propostas, o modelo e os princípios orientadores da formação inspirando-nos em Estrela e Estrela (2001). Também tivemos em atenção os comentários que os formandos foram fazendo entre si, tentando retirar algumas elações sobre o modo como percecionavam o processo de formação. O discurso das formadoras na formação permitiu-nos ainda, inferir alguns aspetos que estas consideram importantes e que constituem o perfil do professor para trabalhar com o programa.

Questões éticas

O grau de participação, foi negociado com as formadoras e com os professores formandos. Antes da formação realizou-se uma reunião com as duas formadoras, onde o projeto de pesquisa foi apresentado. As formadoras manifestaram entusiasmo, total disponibilidade para ajudar no que fosse necessário e abertura para facultar documentos referentes à formação presente e passada e para participar na recolha de dados. Combinámos, logo nessa reunião, que na primeira sessão o projeto seria apresentado pela investigadora aos professores formandos e seria pedido o seu consentimento para realizar a observação participante. Ao pedirmos às formadoras para gravar as sessões, uma delas mostrou-se reticente, pois considerou que isso poderia influenciar os formandos, nomeadamente no que se refere à participação e ao à vontade que considera fundamental irem adquirindo neste tipo de formação. Aceitámos a sua justificação e procurámos registar frases,

conceitos e palavras-chaves, sobre acontecimentos que considerávamos importantes. Ao longo do processo de observação fomos realizando notas descritivas das situações observadas.

5.2 Entrevista semi-diretiva

A entrevista, enquanto técnica de recolha de dados, tem como objetivo obter informação, de forma oral e personalizada, sobre acontecimentos vividos e aspetos subjetivos da pessoa, como crenças, atitudes, opiniões, ou valores em relação com o assunto que se está a estudar (Bisquerra Alzina, 2004). De acordo com a natureza qualitativa do estudo que pretendemos realizar, esta técnica tem uma identidade própria e é um complemento das outras técnicas que iremos utilizar. É um tipo de entrevista que requer uma preparação cuidada, através da construção de um guião, onde estão delineados os objetivos a atingir com a entrevista, a organização da entrevista e orientações para perguntar. “A entrevista de investigação não se improvisa; pelo contrário ela exige um elevado esforço de preparação” (Amado & Ferreira, 2013, p. 213). Neste formato, as perguntas são realizadas de forma aberta, o que permite obter uma informação mais “rica e matizada” (Quivy & Campenhoudt, 2005). Através desta técnica, procuramos ir entrelaçando os temas de forma a construir progressivamente um conhecimento holístico e compreensivo da realidade. Na condução, estivemos atentos às respostas, numa atitude de escuta ativa, de forma a conseguir estabelecer conexões entre elas, reconhecendo estruturas invisíveis que organizam o discurso do entrevistado (Bourdieu, 1999). A entrevista é, assim, uma forma de interação social, cujo foco é o uso da palavra, de símbolos e de signos preponderantes nas relações humanas. Através dela, procurámos dar sentido à realidade que nos ocupa (Flick, 2005).

A entrevista semi-diretiva foi aplicada nas duas etapas de investigação. Em ambas se estabeleceu uma relação intersubjetiva entre o entrevistador e o entrevistado, o que propiciou abertura e à vontade para que as informações pretendidas se evidenciassem no discurso das formadoras e dos professores entrevistados (Amado & Ferreira, 2013). Na utilização desta técnica, as trocas verbais e não-verbais que se foram estabelecendo conduziram a uma maior compreensão dos significados, das opiniões e das vivências dos entrevistados. Na primeira etapa realizámos entrevistas em profundidade, de carácter biográfico, às duas formadoras, o que possibilitou uma flexibilização no processo de investigação, fornecendo novas temáticas para aprofundamento (Bisquerra Alzina., 2004). Esta entrevista teve como objetivos gerais: recolher episódios e narrativas de formação significativas; conhecer as opiniões das formadoras acerca dos contributos da formação para o seu

desenvolvimento pessoal e profissional; conhecer as estratégias que as formadoras utilizam na formação e como o fazem; conhecer as perceções das entrevistadas acerca dos processos de formação, os desafios e os limites do programa de filosofia com crianças e jovens. Assim, incidiu sobre temas como o modelo ou modelos de formação, que se encontram a utilizar; os princípios orientadores da formação; o modo como perspetivam o profissionalismo para trabalhar com o programa; as dificuldades que percecionam nos professores e nos alunos, e o modo como estes reagem ao programa. O guião da entrevista(Anexo, 3), é composto pelo bloco (A) de apresentação (legitimação da entrevista- informações / criar um ambiente apropriado à entrevista), pelos blocos temáticos de questões: (B) Experiência como formandas e como formadoras; (C) Desafios e limites do programa; (D) Processos/ Dinâmicas de formação. A entrevista termina com um bloco (E) de finalização da entrevista (Síntese e reflexão sobre a entrevista/ Agradecimentos). As entrevistas foram gravadas e tiveram a duração de aproximadamente noventa minutos, transcritas na íntegra e sujeitas à análise de conteúdo(Anexos, 4 e 5) e em conjunto com as notas de campo, serviram de base para a construção dos questionários.

Na segunda etapa de investigação, efetuámos entrevistas de follow-up, que ocorreram passados três anos, aproximadamente, do processo formativo 2 em que os professores estiveram envolvidos. Alguns professores que frequentaram esta formação encontravam-se a lecionar na mesma escola, caso de três professoras do primeiro ciclo (correspondente a um grupo) e de duas educadoras de infância (outro grupo) que, por motivos de horários e disponibilidades, se acordou fazerem a entrevista em conjunto (por grupo disciplinar). Assim, formou-se um pequeno grupo com três elementos e outro com dois. Também uma professora de filosofia e uma professora de expressões artísticas (atividades extracurriculares), da mesma família, mostraram disponibilidade apenas no mesmo dia e à mesma hora, pelo que também neste caso se realizou a entrevista com as duas. Tivemos assim três entrevistas em pequenos grupos e cinco entrevistas individuais. É importante referir que, quando foram contactados por telefone para realizarem as entrevistas, os professores mostraram total disponibilidade e entusiasmo e, desde logo, marcaram uma hora para se concretizar a entrevista. Todas as entrevistas tiveram uma duração aproximada de sessenta minutos e foram realizadas nas escolas dos entrevistados, com exceção de uma que teve lugar no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, por ser perto da residência das duas

entrevistadas e elas só terem disponibilidade ao sábado. Estas entrevistas tinham como objetivos gerais: compreender o modo como os professores percecionam os contributos desta formação para o seu desenvolvimento profissional; conhecer as perceções dos professores acerca de mudanças específicas ocorridas nas suas práticas pedagógicas; identificar mudanças nas práticas pedagógicas dos professores, que estes relacionam com a formação; conhecer de que modo os professores aplicam os conhecimentos que adquiriram na formação profissional. Esta entrevista incidiu, fundamentalmente, nas eventuais mudanças percecionadas pelos professores no âmbito dos conhecimentos e das crenças, das práticas pedagógicas e da participação na escola. À semelhança da entrevista às formadoras, esta entrevista contém um bloco inicial de legitimação da entrevista (A), blocos temáticos de questões, organizados da seguinte forma: (B) Formação no Centro Diálogos Filosofia com crianças…e outras idades e desenvolvimento profissional;

(C) Mudanças nas práticas pedagógicas de sala de aula; Mudanças introduzidas na participação da escola. Por fim, termina com o bloco (E), síntese e reflexão sobre a entrevista e agradecimentos.

As entrevistas, depois de transcritas, foram enviadas aos participantes para que estes pudessem rever e reformular o que tinham dito. Transcreveram-se todas as entrevistas (Anexo, 10) que foram sujeitas à análise de conteúdo. Temos como grande finalidade, nas entrevistas dirigidas às formadoras bem como aos formandos, perceber se, de facto, este tipo de formação fomenta nos professores a reflexão sobre a sua prática e o sistema de ensino em geral, e se provoca alterações nas suas práticas, hipótese que sustenta a nossa investigação.