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O trabalho que apresentamos nas próximas páginas organiza-se em torno dos problemas enunciados, das questões que deles derivam, dos objetivos apresentados e dos pressupostos que nos orientam. Assim, divide-se em dois grandes momentos: uma primeira parte incide sobre o enquadramento teórico e na segunda descreve-se, analisa-se e problematiza-se a sua vertente empírica.

A primeira parte é composta pela presente introdução e por mais quatro capítulos, onde se procurou manter um equilíbrio entre a sua extensão e consistência. No primeiro capítulo apresenta-se as perspetivas pedagógicas que Lipman, criador do programa de filosofia para

crianças, considera serem as suas fontes; expõem-se esta proposta e o modelo de Brenifier, uma vez que o programa de formação de professores em estudo é pensado e concebido de acordo com estas duas influências. De seguida, procede-se a uma análise da formação de professores nesta área, apresentando as críticas ao programa e o nosso entendimento sobre as mesmas. O segundo capítulo, centra-se no ensino da filosofia prática, nos seus prossupostos, trajetórias e possibilidades. Procura-se uma aproximação ao conceito de filosofia, que se enquadre na perspetiva em estudo. Explora-se a viabilidade e as potencialidades de ensinar filosofia desde a infância. O que nos conduz a uma análise mais profunda desta corrente, designadamente nas suas relações complexas com a história da pedagogia e com os estudos da criança, realizados no âmbito da antropologia, da sociologia e da psicologia. Consideramos como parte integrante e constituinte da prática filosófica, o pensamento crítico, criativo e ético, que descrevemos com base em diversos autores e estudos desenvolvidos no campo educativo. Por fim, apresentamos uma reflexão onde se destaca a importância e o valor do diálogo no ensino da filosofia, que entendemos como uma metodologia que é em si mesma um ato de democracia. O terceiro capítulo, é dedicado aos estudos nacionais e internacionais, desenvolvidos no âmbito da filosofia com crianças e jovens. Nesta seleção procuramos apresentar trabalhos diferenciados, que nos permitam perceber o que tem sido feito em diferentes países, e com que objetivos ou finalidades. No quarto capítulo problematiza-se a conceção de formação contínua e os modelos de formação, explorando os paradigmas de desenvolvimento humano e racionalidades em que se enquadram, princípios em que assentam e as metodologias de formação para que remetem. De seguida procura-se perceber a evolução da formação contínua em Portugal, os problemas que se colocam e as diretrizes atuais. O que acreditamos nos ajudará a enquadrar e a perceber o percurso do programa específico em estudo. A formação de professores deve contribuir para o desenvolvimento profissional docente, pelo que, exploraremos o seu significado e abrangências de acordo com a vertente de inovação e mudança que encerra. A reflexão é amplamente reconhecida como fundamental na formação de professores, nesta perspetiva é importante perceber qual o seu significado e sentido? Com que intenções é utilizada? Como pode ser implementada? Quais são as suas vantagens? Vários autores e vários estudos apontam para a colaboração, designadamente para o trabalho desenvolvido em comunidades de prática, como impulsionador do desenvolvimento profissional docente. Assim, devido às semelhanças e articulações que vislumbramos entre comunidades de prática e a comunidade de investigação

referenciada por Lipman, problematizamos neste capítulo as possíveis aproximações entre os dois conceitos.

A segunda parte é composta pela descrição do processo empírico e pela apresentação e discussão dos resultados. Neste sentido discutem-se no quinto capítulo as questões metodológicas. Começa-se por relembrar as questões de investigação e os objetivos do estudo, que orientam a análise dos dados, justifica-se e detalha-se o design e o contexto da investigação, caracterizam- se os participantes na pesquisa e as técnicas de recolha e análise de dados. No sexto capítulo, explicita-se o contexto da investigação e dá-se início à apresentação dos resultados da pesquisa. Assim, centrados nos fundamentos e nos processos de formação, correspondentes à primeira etapa de investigação, descreve-se e analisa-se o modelo, os princípios e práticas de formação de professores em filosofia com crianças e jovens, e o perfil desejado do professor. No sétimo capítulo refere-se as conceções dos professores e das formadoras acerca do processo vivido e, as dificuldades percecionadas pelas formadoras e pelos professores formandos, ao longo da formação. O oitavo capítulo, que corresponde à segunda etapa de investigação, é voltado para o produto, pelo que se analisam os efeitos da formação no desenvolvimento profissional docente, bem como os efeitos que os professores percecionam nas crianças, quando aplicam o programa, e as dificuldades que afirmam sentir, na transferência do programa para o quotidiano escolar. No nono capítulo apresentamos a conclusão, procurando responder às perguntas de partida e às respetivas questões que lhe estão associadas, tendo em conta os objetivos que formulámos para este trabalho. Procede-se às reflexões finais sobre a investigação, designadamente aos seus contributos à luz dos problemas, das questões e dos objetivos enunciados. Reflete-se sobre as limitações gerais do estudo e fornecem-se algumas pistas para futuras investigações e, no final apresenta-se uma reflexão pessoal acerca do processo vivido e do trabalho desenvolvido nesta área.

PARTE 1

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

O problema está em onde encontrar um paradigma de ensino para o pensar que sirva a todas as disciplinas, quer ocasionalmente ou regularmente. Há alguma disciplina cujo próprio conteúdo exija ensinar para o pensar e possa se realizar com isso? A resposta é que todas podem, mas seria mais difícil para a filosofia do que para qualquer outra disciplina, não fazer assim. A filosofia e o pensar- ou talvez, a filosofia e a busca pelo pensar melhor- andam de mãos dadas