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CAPITULO V OPÇÕES E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

7. Validade e Fiabilidade da Investigação

A investigação em educação, necessita de ser rigorosa e pautar-se por critérios de qualidade científica. O que significa que a opção pela realização de uma pesquisa de natureza qualitativa, implica questionamento e preocupação com a validade e a fidelidade de todo o processo de recolha, análise e interpretação dos dados. De facto, investigar no paradigma positivista, não é o mesmo que investigar no paradigma fenomenológico- interpretativo; nem os critérios de rigor, validade e fidelidade são os mesmos (Amado, 2013). No caso de quem investiga no paradigma interpretativo, como é o nosso caso, as teorias ou hipóteses não são verificadas ou testadas, não se procura uma verdade única, mas antes mostrar a utilidade, ou o eventual contributo da realidade em estudo para o quotidiano profissional dos indivíduos, designadamente promovendo mudanças, inovação no seu modo de agir, em função, ou de acordo com cada contexto (Elliott, 2007).

Ao longo do trabalho, muitas vezes refletimos sobre a validade e a fidelidade deste estudo, porque consideramos que o rigor e a qualidade são imprescindíveis na investigação. De acordo com Estrela (2002), Alarcão (2001a), Esteves (2001), Nóvoa (2002) entre outros, a investigação deve ser relevante, útil e problematizadora da realidade profissional dos professores. A investigação em educação deve, assim, produzir conhecimentos rigorosos, acessíveis e impulsionadores de mudanças. Para quem investiga no paradigma interpretativo, os critérios propostos por Guba e Lincoln (1998), e que seguimos nesta investigação, devem ser: a credibilidade; a transferibilidade; a consistência e a aplicabilidade ou confiabilidade.

Credibilidade

A credibilidade prende-se com a multiplicidade de fontes de informação, com a multivocalidade, com a focalização progressiva e com o grau de concordância dos participantes relativamente às interpretações do investigador. Para se atingir a credibilidade, é importante descrever o contexto de forma rica, sensível, convincente e plausível, que satisfaça e vá ao encontro do que foi dito e partilhado pelos participantes na pesquisa. Com esta preocupação em mente, procedemos a uma descrição detalhada do caso (programa de formação em filosofia com crianças e jovens) com base nos testemunhos e discurso dos participantes, submetendo posteriormente os dados à sua aprovação com o objetivo de chegar a interpretações convergentes, “in other words, the case is

credible when what the researcher presents describes the reality of the participants who informed the researcher in ways that resonate with them” (Conrad & Serlin, 2006, p. 413). Outro aspeto que contribui para o rigor, consistência e, por conseguinte, credibilidade de uma pesquisa qualitativa, é o recurso a um ou mais protocolos de triangulação (Denzin, 1989; Flick, 2005; Stake, 2007). No caso específico deste estudo, usámos a triangulação metodológica, combinando diversas técnicas de recolha de dados. Também procurámos verificar se o fenómeno em estudo se mantém inalterado em circunstâncias e em momentos ou ocasiões diferentes (Denzin, 1989). Assim, conduziu-se o estudo em diferentes momentos no tempo. As notas de campo foram recolhidas no ano de 2013 através da observação participante. No final da formação procedeu-se à entrevista às formadoras. O questionário foi aplicado aos professores que frequentaram a formação desde o seu início em 2006, até ao ano de 2013 inclusive, no ano de 2014. E as entrevistas de follow-up aos professores formandos de 2013, foram realizadas em 2016. Esta recolha de dados aconteceu quase sempre no mesmo grupo, com exceção do questionário que abriu a recolha a indivíduos novos; esta abertura permitiu explorar as diferenças temporais e espaciais, conduzindo a algumas considerações comparativas. Assim, foi-nos permitido identificar mudanças nas práticas dos professores, em resultado da formação em filosofia com crianças e jovens, e perceber se transferiram as aprendizagens e técnicas experienciadas na formação para o seu quotidiano profissional, e como o fizeram.

As técnicas de recolha de dados, foram combinadas de acordo com os objetivos do estudo, de forma a dar resposta ao seguinte tipo de informações que apresentamos no Quadro 10, inspirado em Cohen, Manion e Morrison (2005).

Quadro 10 - Informações pretendidas e técnicas de recolha de dados adotadas para as recolher

Informações

Técnicas de recolha de dados Entrevista às formadoras Questionário Notas de Campo Entrevistas follow-up aos professores/ formandos Da análise das práticas aos

princípios da formação XX X

Perfil do professor aplicador

do programa XX X

Motivação para a formação X XX

O processo de formação X XX

Dificuldades na formação XX X

Mudanças nos professores XX X

Mudanças nas crianças XX XX X

Mudanças na escola XX X

Dificuldades na aplicação do

programa X XX

Legenda

X- Técnicas de recolhas de dados mais eficientes XX- Técnicas de recolhas de dados complementares

Neste quadro, é visível que as técnicas de recolha de dados se complementam umas às outras, fornecendo diferentes tipo de informação. A busca pelo rigor assenta, ainda, na triangulação de teorias, onde procurámos salientar algumas incertezas, evidências negativas e confronto com teses rivais (Conrad & Serlin, 2006).

Transferibilidade

No caso desta investigação, não se procura nem é expetável que os dados sejam generalizados, o que pretendemos é que este estudo de caso seja útil para pensar, refletir sobre outro contexto dentro da mesma problemática, ou seja, que possa ser aplicado a outras situações ou grupos (Amado & Vieira, 2013). Com este objetivo em mente, procurámos ser exaustivos e rigorosos na descrição do caso e na sua apresentação, tendo um especial cuidado na explicação dos procedimentos e técnicas de recolha e análise de dados, fornecendo o máximo de detalhes

possíveis “for a later researcher to ascertain whether the case is similar enough to be relevant” (Conrad & Serlin, 2006, p. 416).

Consistência

A consistência depende da possibilidade de replicação, ou seja, o estudo será consistente na medida em que os seus resultados se repetiam em situações ou contextos similares, quando se usam as mesmas técnicas de recolha de dados. Como desenvolvemos uma pesquisa qualitativa e em particular um estudo de caso, assumimos a complexidade do real, no sentido em que a realidade é dinâmica e encontra-se em permanente mudança, assim, não se aspira a uma replicação porque inevitavelmente as situações sofrem alterações, modificam-se (Amado & Vieira, 2013). No entanto, conforme referido anteriormente, procuraremos descrever pormenorizadamente e com rigor a metodologia, as técnicas de recolha de dados e a análise efetuada, de modo a permitir que outros investigadores possam perceber o processo percorrido e reanalisar os dados recolhidos (Cohen, Manion & Morrison, 2005).

Confirmabilidade

A investigação, designadamente as descobertas devem refletir os dados recolhidos, isto implica que o processo de interpretação e de construção do conhecimento que originam, são independentes e não podem estar sujeitas às crenças, aos preconceitos ou motivações do investigador. É necessário assumir uma relativa neutralidade e liberdade razoável. Neste âmbito, temos como preocupação representar de forma justa, clara, rigorosa e imparcial o que se passa na realidade. Assim, a neutralidade assenta, nas interpretações efetuadas pelos participantes, no modo como estes confirmam as interpretações ou leituras do seu discurso por parte do investigador, na expressão da sua voz e não nos desejos e juízos da investigadora (Amado & Vieira, 2013).

Em jeito de conclusão, referimos que nesta investigação procurámos olhar para o objeto em estudo de forma reflexiva e crítica, recorrendo a diferentes ângulos e perspetivas, comparando resultados de várias técnicas de recolha de dados e fontes diversas de informação. Também tivemos como preocupação problematizar e apresentar alguns factos contraditórios, mantendo- -nos fiéis aos vários pontos de vista dos participantes no estudo. Por fim, garantiu-se a diversidade de sentidos expressos pelos interlocutores, abandonando a ideia de uma verdade única e universal.