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O Ofício Divino das Comunidades como Liturgia das Horas alternativa numa

No documento Maria da Gloria Melo de Souza (páginas 187-200)

7. Elementos de Inculturação

3.7. O Ofício Divino das Comunidades como Liturgia das Horas alternativa numa

Desde o ano 2000, temos usado o ODC como Liturgia das Horas alternativa em comunidades pequenas das Irmãs Beneditinas Missionárias de Tutzing, em São Paulo. Na realidade, o Priorado (=Província) de Sorocaba optou, há mais de duas décadas, pelo livro da Liturgia das Horas, tendo elaborado também fichas com as partituras, e coletado hinos, responsos, antífonas que não se encontram no livro da Liturgia das Horas romana. As melodias são, em grande parte, inspiradas no gregoriano.

Uma vez que já conhecíamos, há bastante tempo, o ODC (fim da década 80), desde quando morávamos em Olinda - PE, quando estava saindo a primeira edição do mesmo, tivemos a idéia, ao virmos morar em São Paulo, de fazer uma experiência com este Ofício, aqui. Pertencíamos a uma comunidade pequena (no máximo, oito Irmãs) e pensamos ser viável experimentar o ODC como mais uma alternativa para celebrar a Liturgia das Horas.

Primeiramente, moramos no Ipiranga. Lá, adquirimos os livros do ODC para todas as Irmãs. Começamos, usando um ou outro elemento: ensaiávamos um hino ou um cântico do Antigo ou do Novo Testamento, que a comunidade ainda não conhecia. Geralmente, usávamos algo do ODC aos domingos ou, eventualmente, em alguma festa. Depois, a Casa São José (Ipiranga) foi fechada, e fomos morar em Santo Amaro aonde a principal missão das Irmãs era a Creche Marieta Morse, que funcionava no mesmo local da residência das Irmãs.

Cantávamos um mantra, enquanto a comunidade aguardava a hora de começar a celebração. Usávamos a abertura, fazíamos a recordação da vida... Foi preciso um certo tempo para a comunidade entender o sentido deste elemento do ODC: às vezes, as falas se assemelhavam mais a preces que, no caso, estavam fora de lugar... Mas, pouco a pouco, conseguimos recordar a vida, trazê-la de volta ao coração, partilhar lembranças e preocupações, e assim, tornar a oração mais verdadeira.

Notamos que se foi criando uma expectativa em torno dos fins de semana - sábado à tarde e domingo –: eram dias esperados com alegria pela comunidade por conta do ODC. Quase nunca “abandonávamos” por completo o livro de Liturgia das Horas “oficial”: por ele cantávamos normalmente os salmos, às vezes, fazíamos as preces... Costumávamos “ruminar”

os salmos e/ou os cânticos. A verdade é que o fato de utilizarmos elementos do ODC dava um colorido especial à celebração. E não se tratava de uma mera inovação, mas de uma caminhada, de um re-aprender o Ofício Divino, herança milenar da Igreja e em especial da tradição beneditina.

As Irmãs falavam, faziam comentários sobre as celebrações. Via-se que estavam participando das mesmas “com conhecimento de causa” (SC 11), que “acompanhavam com a mente a recitação vocal” (SC 90) e faziam da celebração uma fonte de espiritualidade. Tivemos o cuidado de fazer chegar à comunidade não apenas o livro do ODC, mas também os recursos pedagógicos em função da prática ritual, da sua teologia e espiritualidade.

Aos sábados à noite e nas festas, usávamos velas: expressando a vigilância da comunidade, simbolizando a vida nova da ressurreição; e incenso: fumaça que sobe aos céus, à morada divina, odor agradável, que conota felicidade, bem-estar, vida eterna.

Num dia especial – aniversário de alguma Irmã, festa da Congregação... – usávamos só o ODC. Interessante que muitas vezes nem ensaiávamos com a comunidade os mantras, hinos, salmos, cânticos...: quem estava segura na melodia sustentava as demais, e tudo corria bem. É que, em geral, os salmos e cânticos têm versão popular, letra e melodia adaptadas ao povo. Grande parte das músicas, sobretudo dos salmos, tem sua inspiração nas raízes melódicas do povo, daí ser fácil aprender. A repetição também facilita a participação, e é fundamental não apenas para solucionar o problema de quem não tem acesso à leitura – o que não era o caso da nossa comunidade! -, mas porque permite aprofundar o sentido do rito e responde à nossa necessidade de estrutura e de regularidade na prática da oração.

Outra ocasião em que usávamos o ODC na íntegra é quando fazíamos algum encontro festivo (celebração natalina, Páscoa, festa junina, dia de São Bento...) com voluntárias, benfeitores/as e amigos/as. Neste caso, cuidávamos que o Ofício fosse mais breve (um só salmo). O clima era de espontaneidade e as pessoas participavam bem da celebração.

Podemos dizer que o saldo do uso do ODC como celebração alternativa da Lturgia das Horas numa comunidade beneditina foi positivo. Sempre que encontramos Irmãs que pertenceram àquelas comunidades em que celebrávamos o ODC, elas se recordam, com saudade, de nossas celebrações.

3. 8. O uso do Ofício Divino das Comunidades no itinerário da vida consagrada e presbiteral

Pe. Márcio Pimentel, religioso saletino, membro da Rede Celebra, atuando na Pastoral Litúrgica da Arquidiocese de Belo Horizonte e responsável pela formação dos aspirantes, postulantes e seminaristas de sua Congregação, relata a experiência do ODC em sua comunidade religiosa, no período da formação religiosa e presbiteral371.

Conforme Pe. Márcio, a introdução e a opção pela Liturgia das Horas na forma do ODC na etapa em que ele atua como formador tinha como objetivo a escolha de um estilo de Liturgia das Horas que fomentasse nos estudantes o gosto pelo canto dos salmos. Isto possibilitaria a descoberta de sua inigualável riqueza para a espiritualidade cristã, em especial, para a própria construção do perfil religioso e presbiteral. Pe. Márcio diz que mediante a celebração do ODC, ele mesmo pôde redescobrir a beleza da oração cristã e descortinar seu sentido para o seu próprio itinerário vocacional e missionário. Diz também que se deu conta de que a oração dos salmos permitia escapar das armadilhas que o nosso ego fabrica nas práticas religiosas, pois sem perceber, corre-se o risco de caminhar rumo à desfiguração do perfil de discípulo, de missionário e, sobretudo, do perfil humano. Acrescenta que entendeu que o ODC era um caminho que valia a pena ser compartilhado com aqueles que faziam sua iniciação à vida religiosa e presbiteral saletina no período do Aspirantado e Postulantado, quando eles cursam a Filosofia.

Continua dizendo que o ODC ocupa um lugar privilegiado no conjunto das celebrações do seminário. Diz que costumava referir-se a tais momentos como “significadores” do cotidiano ou como oportunidades para ajustar os passos ao ritmo do evangelho de Jesus. A comunidade formativa saletina reza o ODC pela manhã, à tarde e à noite: Laudes, Vésperas e Completas (esta última é celebrada segundo a estrutura da versão oficial da Liturgia das Horas). As Horas principais (Laudes e Vésperas) seguem a estrutura do ODC, embora sejam utilizados com frequência alguns hinos e salmos da versão oficial, pois não vêem oposição entre o ODC e a Liturgia das Horas. Assim, têm a oportunidade de rezar cotidianamente a Oração das Horas, segundo o estilo e a forma do ODC. E cada vez fica mais clara a importância e o ganho em ter optado por este Ofício como eixo da oração cotidiana da comunidade.

Com relação à recepção do ODC por parte dos formandos, o Pe. Márcio diz que certamente há frutos que já foram colhidos, sobretudo nos quesitos ritualidade e

sacramentalidade que o ODC recupera. Mas, ainda há certo conflito com a mentalidade contemporânea, herdeira da lógica moderna e pós-moderna. Destacam-se dois aspectos: a) a racionalização da oração, ou seja, achar que se tem de entender tudo, que deve haver um benefício mensurável no que se faz. Tenta-se preencher todos os “vazios” para que o Mistério se manifeste e recrie a comunidade. Talvez por isso haja tanta dificulade com o silêncio... Perde-se, na oração, a noção de ser criatura. O que seria um espaço para a gratuidade, para o deleite com a presença de Deus, torna-se ocasião para um palavrório sem limites, conscientizações, ideologizações exageradas... b) A confusão entre a objetividade e a subjetividade da espiritualidade cristã. Pe. Márcio considera esta questão mais grave: os jovens que chegam hoje para a vida consagrada, além de, na sua maioria, não terem sido iniciados na fé de modo substancial e consistente, trazem consigo uma espiritualidade movida pela lógica devocional. Nesta prevalece o gosto individual e a fé subjetiva, em detrimento da objetividade da fé da Igreja, recebida no batismo, entregue por uma comunidade à qual se adere. Há o desconhecimento da bimilenar tradição orante da Igreja e então se sucumbe diante da falsa criatividade ou do criativismo exacerbado. A compreensão de liturgia, por exemplo, em ambos os casos não é boa. Ela não é considerada como a nossa resposta ao amor de Deus por nós, no seu trabalho carinhoso em governar e cuidar da humanidade, da história, do cosmo.

Como formador de religiosos saletinos, Pe. Márcio faz uma avaliação das celebrações do ODC no conjunto da formação para a vida religiosa e para o presbiterato. Diz ele que urge uma volta à compreensão mais mística da liturgia para que venha à tona a sua importância para a formação religiosa e presbiteral. Algo disso já acontece atualmente, mas deve-se caminhar muito. A liturgia, e aqui ele enfoca o ODC, é um microcosmo. Ele reflete o mundo e a história que se traça cotidianamente sob outro ângulo, que é a lógica de Deus. Pe. Márcio diz que gosta de falar em “ensaio existencial”. Tudo e todos são submetidos ao modo de ser de Deus revelado em Jesus. A forma de se relacionar como pessoas humanas e cristãs, a consagração batismal, vinculada e radicalizada num instituto de vida consagrada, e o ministério pastoral que é prestado à Igreja são vividos e antecipados na celebração do trabalho de Deus, a liturgia. Falta hoje, na vida consagrada e presbiteral, transparência sacramental: por exempo, quando se “preside” a uma celebração, a presidência, sinal pobre e insuficiente, se sobrepõe ao Mistério que este deveria comunicar. Tudo gira em torno do padre. É ele quem aparece, quem é escutado, visto e ovacionado não poucas vezes. Ele é o centro e para ele tudo converge. Como é um microcosmo e um ensaio, a celebração sinaliza que algo está errado e fora de lugar: na vida cotidiana, no modo de proceder, na vocação, missão, pastoral ou mesmo no âmbito celebrativo.

Esquecemo-nos de que Deus é Deus. A casa de formação é um lugar privilegiado para redescobrir o lugar do Mistério na condução de nossa vida, sem o qual nos tornamos ídolos.

Indagado sobre se o ODC é um caminho mistagógico para a formação, Pe. Márcio diz que este Ofício é uma porta para o Mistério. Ele diz crer nisto, sobretudo, porque o único Mistério que celebramos é a Páscoa do Cristo Jesus. O ODC possibilita a comunidade entrar em comunhão profunda com o Espírito de Cristo. E se ela quiser estar ligada a Ele, deve beber da fonte que Ele bebeu, rezar como Ele rezou, orar aquilo que Ele orou. A base da oração de Jesus são os salmos. Não é possível entrar em relação com Jesus sem estar imbuído de seu Espírito. No fato-fundante do Instituto dos Missionários Saletinos, existe um forte princípio sobre a oração baseado na pergunta da Virgem, na sua aparição em Salete, França: “Fazei bem as vossas orações, filhos?”. O cuidado com o “fazer bem as orações” aqui se expressa no zelo para com o ODC, que é uma conquista de cada dia. O carisma do Instituto é a reconciliação. Não dá para ser embaixadores da reconciliação, conforme o Apóstolo ( 2 Cor 5,20), se se esquece do mergulho na morte e ressurreição do Senhor. Não dá para viver e proclamar “a nova criatura” se não se está suficientemente vinculado ao Novo Adão. Somente cantando sua Palavra, apropriando-se dela na meditação de cada versículo sálmico, que ressoa e dialoga com aquilo que se recorda da vida e a re-significa; somente silenciando para que o vazio seja preenchido pela novidade do Evangelho, é que a existência do consagrado ganhará o tom e a cor do Reinado de Deus. Assim como os salmos no ODC ganham vida e beleza advindas da métrica poética que lhes é peculiar, dos ritmos regionais que os embalam, das sutilezas melódicas do modalismo redescoberto nas composições, a vida de quem está sendo formado para a vida conagrada é embelezada pela voz do Verbo que através deles ressoa.

3. 9. Uma experiência do Ofício Divino das Comunidades em Belo Horizonte – MG372

A agente de pastoral mineira, Sônia Rios, foi entrevistada pela Revista de Liturgia sobre sua experiência com o ODC em Belo Horizonte – MG. Ela foi coordenadora da Comunidade do Divino Espírito Santo, membro da equipe de Liturgia e participa da Rede Celebra, em Belo Horizonte. Segue seu relato da primeira experiência com o ODC naquela arquidiocese. Seu testemunho é uma repercussão do que muitas comunidades, que celebram este Ofício, experimentam.

Sônia conta que a Comunidade do Divino Espírito Santo pertencia à Paróquia São Francisco, mas a distância entre a comunidade e a Paróquia era grande e havia ainda mais um obstáculo: uma movimentada avenida de Belo Horizonte separava o restante da Paróquia. O povo sentia muita falta de se reunir para celebrar a fé. De vez em quando, algum padre vinha celebrar com a comunidade, mas ainda assim, buscava-se um caminho... O ODC começou a ser celebrado na Comunidade do Divino Espírito Santo, em 1992. Com a chegada das Irmãzinhas de Jesus, de Foucault, o povo começou a se reunir para a reza do Ofício. Este foi fundamental para que fosse assegurado o jeito próprio da comunidade celebrar e de viver a fé. O jeito de celebrar o Ofício influenciava inclusive as celebrações da Palavra e da Eucaristia: os cantos, a partilha, as preces, os serviços... Na época, a celebração do Ofício acontecia nas casas, pois ainda não havia igreja. Tudo era muito familiar e informal. As pessoas pediam que fossem rezar em suas casas. Havia ensaios semanais para o Ofício e para o Dia do Senhor. Por ocasião de alguma necessidade como enterros, mutirões, bênçãos de casa e nas visitas aos doentes, sempre o Ofício era celebrado.

Sônia aponta como acontecimento especial que marca a experiência com o ODC em sua comunidade a filmagem do vídeo da Rece Celebra. Naquela ocasião, descobriu-se que mais gente rezava o Ofício. Reuniram-se com o pessoal na Paróquia São Francisco das Chagas e dos Sagrados Corações, de um outro bairro. Prapararam-se para os trabalhos de filmagem com ensaios e formação. Muita gente animada e comprometida se empenhou bastante, pois sabiam que era uma forma de ajudar outros a conhecer e a celebrar a Oração das Horas. Uma trazia o forro mais bonito que tinha em casa para enfeitar a mesa. Outra trazia um antigo ferro a brasa para servir de braseiro do incenso. Havia também quem trazia as flores, o incenso e as velas. Era tudo muito participado. Aquele foi também um momento de parada para escutar o que o ODC significava na vida das pessoas: a reza em família, o encontro com a fé celebrada de forma viva na própria cultura, a força que brota da oração dos salmos nos momentos difíceis. A Palavra de Deus estava sendo cantada nos salmos, do jeito que a Igreja ensina e como o povo entende e gosta. Era a música do povo, seus gestos, seus símbolos. Essas coisas vieram à tona, quando as pessoas se reuniram para fazer a gravação. O resultado foi aquele vídeo bonito que está espalhado pelo Brasil afora.

Com relação às dificuldades de percurso, Sônia falou que houve muitas. Às vezes, depois que a igreja foi construída, o pessoal nem sempre a encontrava aberta para a celebração. Na indecisão de saber para onde ir, por causa das distâncias, do horário e de outrros inconvenientes, as pessoas se assentavam no passeio e rezavam. Nada impedia a turma de celebrar o Ofício. Era ao memso tempo um prazer e um compromisso. A celebração se

realizava uma vez por semana, mas era com gosto e responsabilidade. Às vezes, havia só três pessoas. Mas elas não deixavam de rezar por isso. Outra dificuldade era lidar com pessoas que chegavam e não entendiam a importância de rezar conforme a proposta do ODC. Queriam inserir outros cantos, escolher salmos à revelia, inventar gestos. O pessoal resistiu muito a isto. Não por fechamento, mas por entender que o caminho era outro. Sem saber formular, as pessoas intuíam que a questão era rezar com a Igreja, conforme a Tradição ensinou. Obedecer ao esquema do Ofício tinha o sentido de ouvir a voz de Jesus, na voz da comunidade. Por isso, as preferências pessoais importavam menos. Quando faltava o violeiro, Sr. Jonas, o pessoal também ficava meio desanimado. Mas, um padre, amigo da comunidade, disse que não tinha problema, pois ainda tínhamos o principal instrumento: a nossa voz. Há também dificuldades econômicas. O livro está caro para as pessoas mais pobres. Nos aniversários, a comunidade costuma presentear com o Ofício, mas isto resolve pouco. Para o ODC ser mais das comunidades, precisaria também ser mais barato.

Sônia disse que o ODC influenciou as celebrações da Comunidade do Divino e que ela percebe isto de muitos modos. Primeiro passou-se a entender que nem tudo precisa ser missa. Todos gostam da missa e sabem que não se pode viver sem ela. A questão é que outras formas de celebrar a liturgia ficam obscurecidas, e a missa, que deveria ser o ponto alto das celebrações litúrgicas, fica desvalorizada. Um exemplo são os tríduos das festas do Divino (Pentecostes). Foi introduzido, em algum dos dias, o Ofício. Isto já foi uma mudança significativa. Outra coisa importante que se percebe é a valorização da Palavra de Deus. As pessoas escutam mais, aprendem que Deus está falando com elas, mesmo na celebração da Palavra ou na missa dominical. Sônia acha ser fruto da celebração do Ofìcio. Há também os símbolos e os ritos. As pessoas gostam do incenso, dos gestos de se inclinar e levantar as mãos no “Glória ao Pai”, de cumprimentar os irmãos no convite da abertura. Também a novena da Arquidiocese, já por três anos, traz o esquema completo do Ofício da Novena de Natal Já não é mais uma coisa estranha para o povo, mas uma confirmação de que se está no caminho certo.

Quanto à relação oração pessoal e reza de Ofício Sônia disse não existir nenhuma dificuldade. No Ofício, começa-se com oração pessoal, rezando em silêncio, preparando-se para a celebração. Muitos membros da comunidade rezam o Ofício em casa, antes de dormir, ou no amanhecer. Citou D. Odete, que rezava com suas netas. As crianças adoravam... Essa senhora já faleceu, mas deixou a semente do Ofício no coração da sua família. Há também o momento das preces. Nelas encontram-se preces prontas, que expressam o que a comunidade quer dizer, ou então o pessoal faz as suas próprias preces no espaço reservado às intenções particulares. Além disso, é muito bom ser socorrido com as palavras do salmo, quando não se sabe o que rezar.

Eles ficam impregnados no coração. Sem querer, as pessoas acabam colocando isso para fora na conversa com Deus. Em um curso dado sobre o Ofício, isso foi falado a respeito de Jesus. Ele rezava os salmos como um bom judeu. Por isso, respondia com salmos, na cruz, rezou um salmo... É o que está acontecendo com a comunidade. Ela entrou na escola de Jesus. D. Odete costumava dizer: “O que mais gosto no Ofício é do salmo, pois aí, na mesma hora que a gente fala, Deus responde com as próprias palavras do salmo”.

Finalmente, Sônia mostra que o Ofício tem a ver com o sacerdócio dos cristãos. Lembra-se de que no final da abertura, se canta: “povo de sacerdotes, a Deus louvação”. E diz ficar pensando que se trata do sacerdócio de Jesus do qual participamos como fiel e batizado. É o que se chama sacerdócio comum dos fiéis. Não se trata do sacerdócio dos padres, mas o de todo o povo. O nosso louvor se torna serviço sacerdotal porque se une à oração de Jesus, o único sacerdote. Voltamo-nos para o Pai na pessoa de Jesus, em louvor e adoração, unindo-nos a Ele na ressurreição e no seu sacrifício, que entre nós se faz louvor. O culto da vida não fica sem o amparo do culto da comunidade. As mães e os pais de família, os jovens e as crianças, vão entendendo que o seu dia-a-dia tem de agradar a Deus como no Ofício rezado na Igreja. E

No documento Maria da Gloria Melo de Souza (páginas 187-200)