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7. Elementos de Inculturação

2.2. Aplicação do instrumental de análise

2.2.1. Análise crítica do Ofício Divino das Comunidades em sua estrutura e

2.2.1.9. Preces

Já em meados do século IV, temos notícia do uso das preces nas Laudes e nas Vésperas344. A resposta era sempre Kyrie eleison, após cada invocação. Para as outras Horas, repetia-se várias vezes o Kyrie eleison, sem qualquer outro tipo de prece. Na Liturgia das Horas, as preces foram introduzidas, inicialmente no Ofício vespertino e, só mais tarde, na oração da manhã.

Os textos dessas preces – rezado em forma de ladainha responsorial – tinha um caráter mais penitencial e era tomado dos Salmos, sendo os mais comuns o Salmo 51 (50), para a oração da manhã, e o Salmo 130 (129), para a oração da tarde. Dado o seu cunho penitencial, ao longo de muitos séculos, as preces eram rezadas de joelhos. Só no breviário de Pio X (1911), é que estas reminiscências de Salmos penitenciais cederam lugar às intercessões de caráter mais livre em favor do papa, bispos e benfeitores da Igreja.

344 Cf. RIGHETTI, M. Historia de la Liturgia. Madrid, BAC, 1955, p. 1244-1246; FERNÁNDEZ, P. Elementos verbais da

A oração do Pai nosso, desde muito cedo (século VI), esteve vinculada às preces, sobretudo nas Laudes e nas Vésperas.

A reforma de Pio X, na verdade, foi o prelúdio de algo bem mais amplo que se concretizou no Concílio Vaticano II. Este ofereceu alguns princípios teológicos para as preces da Liturgia das Horas como: a) A oração cristã está entranhada de louvor e intercessão. Por isso a tradição “tanto judaica como cristã, não separa do louvor divino a oração de petição, e com frequência faz esta derivar daquele345. b) As preces do Ofício Divino devem corresponder à hora do dia em que são rezadas. Assim, nas preces da manhã, a Igreja recomenda e consagra ao Senhor o dia que renasce e os nossos trabalhos. Ao cair da tarde, suplica em favor da mesma Igreja, da humanidade e termina intercedendo pelos irmãos e irmãs falecidos. c) Para cada dia das quatro semanas do Tempo Comum346, encontramos um formulário próprio, ocorrendo o mesmo nos tempos fortes e festas do ano litúrgico. Esta variedade possibilita uma maior aproximação da Igreja com as vicissitudes da humanidade. d) Que se leve em conta a participação dos fiéis. Para tal se faz necessário uma resposta invariável, facilitando, assim, a reetição da assembléia após cada prece. Antes da prece final pelos defuntos, a assembléia poderá formular preces espontâneas.

No ODC, encontram-se três preces para cada Ofício – manhã, tarde e Vigília - nos roteiros elaborados para essas orações347. Outras preces podem ser formuladas espontaneamente, pela assembléia e concluídas com o Pai nosso. Pedir, interceder, suplicar pela humanidade, é tarefa de um povo sacerdotal, que é também um povo guerreiro que luta para conseguir seus objetivos. Pedimos porque temos consciência de que sem Ele nada podemos. Pedimos porque tudo é dádiva dele.

Podemos dizer que o conteúdo das preces do ODC está de acordo com as orientações teológico-litúrgicas do Concílio Vaticano II, embora a linguagem utilizada seja muito mais simples e a formulação muito mais breve que as preces da Liturgia das Horas, pois este Ofício é destinado às comunidades eclesiais, especialmente ao “povo simples”: que não possui cultura letrada, que é portador de uma cultura popular própria e de um lastro de crenças vivido de modo prático, emcocional, intuitivo348.As preces do ODC relacionam fé e vida, dimensão divina e dimensão humana, espiritualidade e cotidiano. Percebe-se nas preces aquela

345 Cf. IGLH n. 179.

346 Um bom estudo sobre o sentido teológico das preces das Laudes e Vésperas das quatro semanas do Tempo Comum encontra-se

em: BECKHÄUSER, Alberto. O sentido da Liturgia das Horas Petrópolis, Vozes, 1995, p. 51-70.

347 Cf. ODC p. 453-654.

“mútua fecundação” entre liturgia e religião popular. O fato de as preces terem as respostas cantadas349 é bem valorizado pelas comunidades que celebram o Ofício.

Após as preces espontâneas das Laudes e Vésperas, segue a Oração do Senhor, conforme venerável tradição. No ODC, acrescenta-se ao Pai nosso, que poderá ser recitado ou cantado por todos: Pois vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre, como faziam as comunidades dos primeiros séculos, e como é costume até hoje na Igrejas evangélicas e nas celebrações ecumênicas 350.

2. 2. 1. 10. Orações

As orações (coletas) feriais do breviário, antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, correspondentes ao tempo do Advento, depois da Epifania e depois de Pentecostes, variavam muito pouco, pois sempre se repetia a coleta do domingo correspondente; somente as férias da Quaresma tinham coletas próprias para Laudes e Vésperas.

Atualmente, temos, na Liturgia das Horas do Tempo Ferial, uma coleta própria, diferente das coletas da missa, para Laudes e Vésperas dentro de um ciclo de quatro semanas, e para as Horas Menores e Completas dentro de um ciclo semanal. No Ofício das Leituras, repete-se semanalmente a coleta da missa dominical, apesar de ser possível escolher entre as trinta e quatro coletas do Tempo Comum. Na atual Liturgia das Horas, as orações feriais são setenta. Se considerarmos as coletas do tempo privilegiado, veremos que todas as Horas, com exceção das Completas, apresentam a mesma coleta, que é a da eucaristia, e muda cada dia351.

O ODC traz uma oração conclusiva para o Ofício da manhã e da tarde, nos roteiros para cada dia da semana do Tempo Comum. Nos tempos fortes ou privilegiados (Advento, Natal, Quaresma, Tempo Pascal) há uma oração própria para o Ofício de Vigília, manhã e tarde do domingo e uma oração para os dias da semana. Na Novena de Natal, na Quarta-feira de Cinzas, na Semana Santa e na Novena de Pentecostes há orações especiais. Há igualmente

orações para as festas do Senhor e para as festas e memórias da Santa Virgem Maria, dos Santos e Santas, para a Memória dos Defuntos e para os Ofícios em circunstâncias especiais.

Percebemos, de modo geral, que a eucologia do ODC concretiza em cada celebração a oração circunscrevendo-a em seu momento ou em em seu tempo litúrgico. As

349 Cf. ODC p. 449-450. OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES – II; Aberturas, hinos, refrãos meditativos, aclamações,

respostas às preces, São Paulo: Paulus, 2005, p. 375-385.

350 Cf. IGLH n.194-196. ODC p. 14.

orações se inspiram, de algum modo, na tradição romana clássica, inserem o plano da Salvação na vida e deste modo o Mistério adquire referência real na celebração.

Tomaremos, como exemplo, uma oração do Ofício da manhã e outra do Ofício da tarde, da segunda-feira, dia em que o ODC privilegia a memória do ato criador de Deus e a comunhão com todas as pessoas que trabalham e lutam pela vida:

Oração do Ofício da manhã352:

Pai, querido, és fonte de todas as coisas boas que existem neste mundo!

Orienta e acompanha esta nova semana de trabalho, para que os nossos pensamentos, palavras e ações tenham em ti o seu início, sejam por ti acompanhadas e recebam de ti o seu acabamento. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

Oração do Ofício da tarde353:

Fica conosco, ó Deus, Tu nos revelaste o teu amor maternal. A nós, que experimentamos o peso das atividades do dia e as tensões do mundo, dá o repouso e a força renovadora do teu carinho. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

Estas orações possuem conteúdo bíblico-teológico, um estilo simples e popular, afetuoso, e se inserem bem na realidade sócio-política do nosso povo.

2. 2. 1. 11. Bênçãos

O Ofício termina com a bênção. É na força desta bênção de Deus que Ele segue unido à comunidade, comunicando-lhe sua salvação. Na verdade, o termo “bênção” com o verbo correspondente ‘abençoar’ (ou ‘benzer’; em certos casos ‘bendizer’), denota particular atitude ‘religiosa’: uma relação entre o ser humano e o sobrenatural – e vice-versa – que se manifesta, em determinados contextos, muito diferentes entre si, mas que positivamente, tendem a evidenciar um vínculo entre o humano e o divino. Aqui, trata-se só do movimento descendente: Deus que abençoa o ser humano e as realidades criadas. Esta ação divina é solicitada e invocada pelo ser humano, que sabe que tudo depende de Deus.

Se buscarmos o significado de “benção” em nossas línguas neolatinas, encontramos o “invocar a divindade, a sua proteção sobre as pessoas e sobre as realidades humanas”, às vezes, por meio de um intermediário, proteger, fazer feliz, tornar próspero354.

352 ODC p. 462. 353 ODC p. 464.

A bênção como expressão da aliança entre Deus e seu povo, tem uma dupla dimensão: é dom, é graça no sentido de que Deus abençoa, por si ou por meio de outras pessoas, comunicando sua bondade e realizando as promessas; é louvor do povo que exalta, bendiz e presta culto de piedade, reconhecendo a Deus como fonte de todo o bem e de toda a graça.

Concluir, portanto, uma celebração, um Ofício invocando a bênção de Deus é pedir-lhe o dom de seu amor, de sua misericórdia, de sua paz, nas vicissitudes da vida, até que o Reino de Jesus se realize plenamente no mundo355.

Transcreveremos algumas bênçãos do ODC para que observarmos melhor o seu estilo:

Tempo Comum - Sábado à noite – Ofício de Vigília356

O Deus, fonte de luz, afaste de nós toda escuridão e fique conosco, agora e para sempre. Amém!

Domingo – Ofício da manhã e da tarde 357 O Senhor no abençoe e nos guarde! Amém!

O Senhor faça brilhar sobre nós a sua face e nos seja favorável! Amém! O Senhor dirija para nós o seu rosto e nos dê a sua paz! Amém!

Segunda-feira – Ofício da manhã 358

O Deus da vida nos abençoe e confirme a obra de nossas mãos agora e sempre. Amém!

Segunda-feira – Ofício da tarde 359

O Deus de Amor, que fez o céu e a terra, nos abençoe agora e sempre. Amém!

Tempo do Advento - Sábado à noite – Ofício de Vigília360

O Deus da esperança e da paz nos dê a sua alegria e nos mantenha perseverantes até o dia da vinda de Jesus Cristo. Amém!

Domingo – Ofício da manhã361

355 Cf. ODC p.14. 356 ODC p. 455. 357 ODC p. 457-458. 358 ODC p. 462. 359 ODC p. 464. 360 ODC p. 487. 361 ODC p. 489.

O Deus, fonte de paz, nos santifique totalmente e nos mantenha vigilantes para o dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, agora e para sempre. Amém!

Domingo – Ofício da tarde 362

O Deus da esperança, da alegria e da paz que logo vem, permaneça em todos nós, agora e para sempre. Amém!

Festas e Memórias da Santa Virgem Maria – Ofício de Vigília e Ofício da tarde 363

O Deus de Maria, que cumpre suas promessas em favor do seu povo, nos conceda uma noite tranquila e uma manhã de luz, agora e para sempre. Amém!

Ofício da manhã 364

Deus que olhou para Maria volte os seus olhos para nós e nos faça caminhar na esperança da libertação, agora e para sempre. Amém!

Acreditamos que esta mostragem de bênçãos do ODC seja suficiente para fazermos uma ideia de como são todas as demais. As bênçãos deste Ofício são breves, possuem um estilo simples e atual, estão em consonância com a teologia do Concílio Vaticano II, são relacionadas com a vida da comunidade e fazem menção à hora do dia, ao tempo litúrgico e à festa celebrada.

Após a bênção, dita pelo (a) coordenador (a) da celebração, a comunidade é despedida com o popular “Louvado seja nosso Jesus Cristo”, ao que todos respondem: Para

sempre seja louvado”. É um convite a prolongar o louvor de Deus nos afazeres do dia ou no descanso da noite.

Concluindo

Concluímos a segunda parte da tese, o corpo do trabalho, que é justamente a análise crítica do ODC. Em um primeiro momento, descrevemos o instrumental de análise, e, em seguida, fizemos a aplicação deste instrumental.

No primeiro momento, o ponto de referência foi a tradição, e, como dizíamos, a tradição viva, interpretada e traduzida a partir de situações históricas correspondentes a cada época, e não uma tradição engessada. Estudamos, portanto, em primeiro lugar, a história da Liturgia das Horas, desde os primeiros séculos até os dias atuais.

362 ODC p. 491. 363 ODC p. 607. 364 ODC p. 610.

Já que aplicaríamos o nosso instrumental de análise ao ODC – proposta inculturada da Liturgia das Horas – o segundo momento da descrição do instrumental de análise foi o tema da inculturação.

Como dissemos, tivemos em mente uns critérios que nos nortearam ao longo de todo o estudo: o sujeito da celebração, o como o Ofício era celebrado. Tentamos sempre descobrir a relação existente entre liturgia e vida pessoal, comunitária e social, a teologia que emergia da tradição e a permeava, e ainda a capacidade que tinha o Ofício, em cada época, de envolver a pessoa como um todo – corpo, mente e coração – no momento da celebração.

Após termos descrito em dois momentos distintos, o instrumental de análise, aplicamos ao ODC a descrição apresentada. Em outras palavras: confrontamos, comparamos o ODC em sua estrutura e em seus elementos, com a tradição do Ofício Divino ao longo da história, de modo especial com a atual Liturgia das Horas.

Parte Terceira – Práxis do Ofício Divino das Comunidades: relatos sobre a celebração do Ofício Divino das Comunidades em grupos e/ou comunidades variadas e em particular

Introdução

Havendo concluído a análise crítica do ODC em sua estrutura e em seus elementos, passaremos a estudar, por meio de exemplos concretos, a práxis deste Ofício ao longo destes vinte e três anos, e como o mesmo tem-se tornado oração litúrgica mais autêntica e melhor inculturada.

Como sabemos, a primeira edição do ODC foi em 1988. A partir da sétima edição (1994), houve mudanças significativas: mudaram o formato (tamanho) e a estrutura do livro, que começa, agora, com os salmos e cânticos bíblicos, seguidos dos hinos, responsos, aclamações e refrãos para os diversos tempos. Os ofícios de cada dia (Tempo Comum) e de cada tempo, que antes vinham no início, agora se encontram mais no final do livro.

Houve também mudanças na própria estrutura de cada ofício. A parte que se referia ao Cântico do Novo Testamento, depois da leitura, foi omitida nos dias da semana. Ficou, para os domingos e festas, a proposta dos Cânticos Evangélicos. Os outros Cânticos do Novo Testamento vêm indicados, junto com a salmodia, para o Ofício da Tarde.

A partir da sétima edição, os ofícios do Tempo Comum não trazem mais dentro de cada esquema os hinos e os salmos: há apenas a indicação de textos, para dar mais possibilidade de escolha e adaptação.

Corrigiram-se alguns salmos e cânticos bíblicos: a versão está mais próxima do original hebraico. Há, além disso, vários salmos e cânticos novos. O hinário também foi ampliado, bem como a coletânea de responsos e refrãos. Há diversos ofícios novos para os tempos litúrgicos e para circunstâncias especiais.

Quanto à linguagem, sempre que foi possível substituiu-se a segunda pessoa do plural (vós) pela segunda do singular (tu), para tornar Deus mais próximo de quem a Ele se dirige. Há o cuidado com a inclusão da mulher, evitando que a linguagem permaneça só no masculino.

A numeração dos cânticos bíblicos, hinos, responsos, aclamações e refrãos foi feita numa única sequência para facilitar o manuseio do livro.

Junto às partes cantadas, vem indicada a tonalidade para os instrumentos musicais e a referência às fitas (atualmente há CDs) e partituras365.

Constatamos que à proporção que este Ofício foi-se espalhando pelo Brasil afora, foi dialogando com a riqueza das muitas tradições e grupos culturais do Norte, do Sul, do Nordeste, do Sudeste, do Centro-Oeste, dos indígenas e afrodescendentes, de comunidades religiosas, de moradores de rua e de ribeirinhos, de jovens, adolescentes e crianças (em edições a eles adapatadas), de grupos de catequese... Assim, foram surgindo símbolos, gestos, vestes, novas melodias para as aberturas, para os hinos, salmos e cânticos... Na realidade, a extensão do ODC é adaptada às possibilidades e sensibilidade de cada grupo: mais breve ou mais ampliado. Há também a adaptação do Ofício para determinadas ocasiões ou circunstâncias especiais, algumas das quais já previstas no livro, outras que surgem de necessidades locais: encontros pastorais, romarias, colheitas, mutirões, bênção de uma casa, ocupações, festa do (a) padroeiro (a), celebração com enfermos, velórios...

Certos grupos, à medida que foram amadurecendo, têm procurado inserir outros elementos da Liturgia das Horas, que não foram previstos inicialmente no ODC: mais antífonas e responsos, oração sálmica, leituras hagiográficas e patrísticas.

Ao descrever as mudanças que aconteceram a partir da sétima edição do ODC, percebemos que a equipe que organizou e segue divulgando o livro não o considera uma proposta “fechada” de Liturgia das Horas, algo definitivamente acabado. Acompanhando grupos e comunidades no período de 1988 a 1994 a equipe ouviu críticas e sugestões que resultaram nesta sétima edição revisada e ampliada. Acreditamos que continua válida esta abertura a críticas e sugestões, a modificações e acréscimos, pois o ODC segue em processo evolutivo ou de amadurecimento de sua proposta.

O presente trabalho leva-nos a apontar para duas tarefas que, cremos, deverão ser continuadas pela equipe que elaborou e organizou o ODC: 1) procurar mais diálogo com o mundo afro e com o mundo indígena, bem como acentuar a dimensão cósmica, ecológica e ecumênica na celebração do Ofício; 2) tentar superar o “nordestinismo” do ODC incentivando as outras regiões do Brasil a compor, a criar e adaptar este Ofício à sua realidade cultural.

Desde que o ODC foi editado, muitas pessoas, comunidades e grupos passaram a tê-lo como referência permanente na sua prática de oração. Passaremos a descrever algumas experiências que revelam o quanto as comunidades buscam um caminho de oração e como este Ofício tem ajudado nesta busca, ao longo destas mais de duas décadas de existência.

3. 1. Uma experiência jovem366

Começamos com o relato de Daniel Seidel, então, assessor de formação no Centro de Capacitação da Juventude, em Brasília – DF, e também secretário nacional da Pastoral da Juventude, que fala de sua experiência com o ODC. Ele conta que começou a utilizar o ODC ao sair a primeira edição, entre 1988 e 1989, quando morava em Colatina – ES. Em sua nova missão, como assessor de formação de Jovens e como secretário da Pastoral da Juventude, mais que nunca, continuou rezando o Ofício. Inicialmente, ele rezava o Ofício sozinho. Todas as manhãs, era sagrado. Começava o dia tendo meditado o dia anterior e recentrando o fundamento de sua vida na história do povo de Deus, principalmente nos salmos. Quando alguém se hospedava em sua pequena casa, geralmente rezavam juntos. Depois que formaram uma pequena comunidade, reuniam-se para rezar o Ofício, e quando havia algum aniversário ou almoço festivo entre vizinhos, o Ofício era adaptado àquelas circunstâncias.

Foi a partir de sua experiência pessoal que Daniel foi propondo a reza do Ofício nas pastorais e grupos por ele acompanhados ou dos quais participava. Ele sentia que as orações iniciais nos encontros pastorais e nos grupos que assessorava eram algo “pró-forma”, hipertradicional (parecendo “carimbo de validade” para dizer que a reunião era da Igreja), ou eram cheias de “dinâmicas” e um sofrimento porque nunca se sabia aonde ia dar...

Com o uso do ODC, prossegue Daniel, conseguiram ter momentos de oração com maior profundidade, que tocavam a vida e alimentavam a mística do grupo. As rezas que eram de cinco ou dez minutos “correndo”, passaram a durar quarenta minutos. O costume era rezar o Ofício até a meditação, como oração inicial, e do canto evangélico em diante, como oração final.

As pessoas que, então, rezavam o Ofício pertenciam a grupos de espiritualidade (militantes): o grupo de assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocee de Brasília, o grupo que coordenava a liturgia das paróquias de Ceilândia Norte e o grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Samambaia (neste grupo, era mais usado o “Oração Jovem”, um livrinho com elementos fundamentais do Ofício, para ficar mais barato e de mais fácil manuseio). O Ofício foi rezado também como celebração inicial em encontros de massa com jovens, incorporando gestos corporais.

No documento Maria da Gloria Melo de Souza (páginas 166-187)