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Oficinas de escrita: colaboração e autoria coletiva

4 LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA NA/PELA CHAPADA DO APOD

4.1 EVENTOS DE LETRAMENTO DE RESISTÊNCIA NA CHAPADA DO APOD

4.1.2 Oficinas de escrita: colaboração e autoria coletiva

Nas práticas locais de educação popular, oficina é um evento coletivo que surge de uma demanda também coletiva. Oficina, no âmbito da educação popular com uma perspectiva feminista, é constitutiva de uma metodologia de trabalho, formação e transformação em grupo a partir da “[...] auto-organização das mulheres e de sua constituição como sujeitos políticos” (BUTTO et al., 2014, p. 115).

Nessa visão, as oficinas buscam adaptar-se à “[...] realidade das mulheres e, ao mesmo tempo, construir elementos para questioná-la” (BUTTO et al., 2014, p. 95). Isso implica afirmar que o trabalho e a aprendizagem em colaboração são fundamentais. Esses elementos fortalecem a formação política e expandem as experiências de interação e o protagonismo das mulheres para além dos momentos das oficinas.

Considerando que o STTR de Apodi é parte do movimento sindical nacional e que as trabalhadoras da Comissão de Mulheres do STTR além de sindicalistas também são militantes

da MMM, as demandas que impulsionam determinada oficina podem ser locais, nacionais e/ou internacionais.

Cada oficina, a depender da temática, do objetivo, do local ou das participantes, adquire uma dinâmica diferente de realização. No entanto, há componentes que são fundamentais em qualquer oficina, como por exemplo: explicar o(s) objetivo(s) da oficina e fazer um levantamento das expectativas das participantes, de modo a adaptar a condução do trabalho aos anseios do grupo, mas sem se afastar do objetivo inicial, que também foi construído de maneira coletiva e a partir das necessidades do público da oficina. Também é reservado um tempo importante para a avaliação, não só da condução da atividade, mas do processo em si, durante o qual é discutido se os objetivos e as expectativas foram atendidas e sugestões para as próximas ações do grupo. O desenvolvimento de uma oficina está entrelaçado por conhecimentos, práticas coletivas, saberes e vivências com o intuito de construir a transformação necessária da realidade das participantes do grupo.

Nessa perspectiva, a Comissão de Mulheres do STTR de Apodi e a MMM organizam oficinas de escrita coletiva no município de Apodi como táticas de luta contra o Decreto de 10 de junho de 2011. A primeira oficina é realizada na sede do STTR de Apodi e conta com a participação de militantes da MMM, coordenadoras da Comissão de Mulheres e diretoras do STTR de Apodi, lideranças de grupos de mulheres de comunidades e assentamentos rurais do município de Apodi. A oficina se desenvolve estrategicamente, de modo que a cada etapa agrega-se outros sujeitos políticos, aumentava o engajamento político em defesa do território da Chapada do Apodi, conforme podemos observar na fala da colaboradora Juazeiro.

Nessa época ((refere-se ao período de 2011 a 2012)) eu fazia parte da Comissão, eu e a companheira /.../ ((Macambira)) a gente fez uma reunião da Comissão, a gente fez uma oficina para explicar para outras companheiras o que era o decreto e como ia afetar a gente aqui da Chapada /.../ a gente passou para as companheiras a preocupação desse decreto e a ideia da carta que a companheira /.../ ((Macambira)) trouxe da reunião que teve em Mossoró ((refere-se à plenária regional Oeste da MMM)). Depois dessa reunião nos dividimos nas oficinas das comunidades para mais companheiras escreverem no mutirão.

Juazeiro. Excerto da entrevista concedida à pesquisadora no dia 30 de abril de 2018.

Juazeiro nos faz perceber a atuação política das trabalhadoras rurais de Apodi em ao menos três espaços de atuação política, sendo eles, a plenária da MMM, a reunião da Comissão de Mulheres do STTR de Apodi e as oficinas nas comunidades. Essa articulação

favorece o engajamento de mais mulheres na luta contra o decreto de desapropriações. Na plenária da MMM, motivada, entre outros aspectos, pela participação de Macambira (companheira de luta de Juazeiro), as outras participantes aderem a tese em defesa da Chapada do Apodi contribuindo com a genealogia da carta, enquanto estratégia de luta.

Nas oficinas, realizada pela Comissão de Mulheres do STTR de Apodi e pela MMM nas comunidades e nos assentamentos foi construída uma compreensão coletiva do Decreto de 10 de junho de 2011 e das consequências das desapropriações no território, o que subsidiou a escrita das cartas, conforme observamos na fala da colaboradora Mastruz. Vejamos.

Foi reunida uma turma (+) vieram para cá pro sindicato (+), a gente foi dizendo o que queria, o que não queria, a gente foi fazendo a carta aqui, no sindicato /.../ a gente conversou mais ou menos o que queria (+) e todo mundo queria a mesma coisa, né, contra esse projeto (+) e aí uma foi escrevendo /.../.

Colaboradora Mastruz. Excerto da entrevista concedida à pesquisadora no dia 30 de abril de 2018.

Além da compreensão do contexto de ameaças ao território, ao dizer o que ocorreu na oficina, Mastruz dá pistas da vivência da educação popular na condução do processo de escrita coletiva. Depreendemos que, na oficina, não há a imposição de um modo de fazer ou do conteúdo da carta, mas a oficina possibilita criar “[...] condições em que aprender criticamente é possível” (FREIRE, 1996, p. 14).

Na oficina são desenvolvidas capacidades de responsabilidade, de organização e de divisão de tarefas. Enquanto umas partilhavam ideias sobre o que deve constar na carta, outra já se encarregam da escrita do texto, de modo que a carta vai sendo construída colaborativamente. Nessa colaboração se constrói uma autoria coletiva da carta, uma vez que cada uma pode dizer o “queria” enquanto outra participante assume a função de escrevente. Consequentemente, cada participante da oficina vai se constituindo agente de letramento na luta em favor da revogação do decreto de desapropriações.

Esse processo de escrita colaborativa passa necessariamente pela vivência do desenvolvimento de variadas práticas de letramento. Embora se trate da produção de um texto escrito, essa produção exige das participantes, mais do que práticas de escrita. Até que se concretize a escrita da carta, é necessário que todas as escreventes conheçam o problema, se reconheçam vítimas das desapropriações e se engajem no processo colaborativo da escrita da carta. A partir das nossas notas de campo, elaboramos um infográfico que aponta algumas

práticas de letramento desenvolvidas na oficina de construção da carta, realizada pela Comissão de Mulheres do STTR de Apodi e MMM. Vejamos na Figura 3.

Figura 3 – Práticas de letramento da oficina de escrita da carta

Fonte: Acervo da pesquisa, 2019.

Na Figura 3, as práticas de escrita (5, 6, 7), leitura (1, 6) e oralidade (2, 3, 4, 6, 7) se associam em favor da produção de um documento escrito – a carta – que reivindica a anulação de outro documento escrito – o Decreto de 10 de junho de 2011. Na oficina, a escrita foi produzida de maneira processual e a partir das interações das participantes. Nessa perspectiva, a escrita vai sendo desenvolvida com a cooperação de todas as escreventes e em favor da coletividade.

A prática colaborativa de ler o Decreto de 10 de junho de 2011 cumpre a função não apenas de fazer com que as participantes conhecessem a natureza do documento, mas também permitiu que elas se apropriassem dos detalhes dele, tais como: as áreas e quantidade de terras que seriam desapropriadas, as(os) respectivas(os) proprietárias(os) atingidas(os) e objetivos das desapropriações. Ao conhecerem as áreas declaradas pelo decreto para fins de desapropriações, as participantes consequentemente reconheciam suas(seus) vizinhas(os), familiares, amigas(os) e a elas próprias enquanto pessoas prejudicadas pelas desapropriações. Esse (re)conhecimento favoreceu a análise das participantes sobre as consequências das desapropriações na Chapada do Apodi.

Um dos propósitos das práticas orais na oficina consistiu exatamente na análise das consequências das desapropriações para o povo camponês da região, mas também para o conjunto da população apodiense. A compreensão das consequências da expulsão das famílias de suas terras e, por conseguinte, o enfraquecimento das experiências

agroecológicas foi fundamental para fortalecer a adesão às iniciativas de resistência e de luta na Chapada do Apodi, especialmente as iniciativas mediadas por práticas colaborativas de escrita.

Conscientes das disputas ideológicas que perpassam o documento e também do embate que se revestia a iniciativa da carta, as trabalhadoras discutiam o conteúdo da carta ao mesmo tempo em que construíam táticas sobre o modo de dizer, as opções de envelopamento e as formas do envio. Essas táticas levam em consideração tanto a interlocutora direta, a Presidenta da República Dilma Rousseff, quanto outros elementos que favorecessem a chegada da carta ao destino, a leitura pela destinatária e uma possível resposta que fosse capaz de dispersar as forças do agro e hidronegócio da região.

Sendo a linguagem um campo fértil de disputas, ao contrapor-se ao decreto, a carta coletiva da Comissão de Mulheres do STTR de Apodi apresenta-se como uma

contrapalavra. Ela materializa em enunciados a disputa de dois projetos de agricultura – um defende a vida e a biodiversidade no campo, outro está em defesa do agro e hidronegócio internacional – e convoca a Presidenta da República Dilma Rousseff a somar-se às forças em defesa do povo e do desenvolvimento da Chapada do Apodi.

Para esse fim, as escreventes construíram diferentes movimentos na carta, conforme podemos observar na Figura 4.

Figura 4 – Trecho da carta produzida durante a oficina no STTR de Apodi17

Fonte: Acervo do STTR de Apodi, 2011.

17 Esta é uma imagem apenas da primeira página da carta. A carta em sua integralidade encontra-se

A carta, como podemos observar na Figura 4, é manuscrita, o que suscita pessoalidade ao texto. Esse fato nos dá pistas sobre estratégias e táticas construídas pela MMM e pela Comissão de Mulheres do STTR de Apodi no processo de escrita. Em meio às formas tradicionais de comunicação formal mediadas por textos escritos na modalidade impressa ou digital, uma carta escrita de próprio punho, com tinta azul, em folha pautada, causa mais impacto do que uma impressa, no usual papel branco, com tinta preta.

Já na saudação inicial (l. 3), “Saudações de uma terra de povo firme e mulheres de luta”, as escolhas lexicais contribuem para revelar a forma como as escreventes planejam aparecer na carta ou que imagens de si desejam construir no discurso. Com esse planejamento, as escolhas são precisas, nítidas: “povo firme e mulheres de luta”. Ademais, a escolha pelo recurso dessas adjetivações informa à destinatária a disposição e o engajamento do povo do lugar de onde parte a carta.

No parágrafo introdutório da carta (l. 5 - 10), “Presidenta Dilma é com enorme prazer e confiança que nós representantes da Comissão de Mulheres do STTR de Apodi e militantes da Marcha Mundial das Mulheres, moradoras de diversas comunidades de Apodi, escrevemos para pedir encarecidamente que você RETIRE de nossa terra – que com feijão, arroz, pão e esperança alimenta o nosso povo – o decreto DE No 0-001, DE 10 DE JUNHO DE 2011”, um dos movimentos construídos pelas escreventes é o de aproximação com a Presidenta Dilma Rousseff. A ideia de proximidade se dá pela demonstração de afabilidade e de confiança com a interlocutora. A partir das pistas deixadas no texto, percebemos que as escreventes antecipam a credibilidade em relação à interlocutora, o que se dá possivelmente pela história de luta política de Dilma Rousseff e pela sua eleição à Presidência da República ter sido pautada por um projeto de valorização e de fortalecimento da agricultura familiar.

Tamanha é a confiança que, ao anunciar o objetivo da carta, as escreventes optam pelo verbo de solicitação “pedir” seguido pelo advérbio “encarecidamente”. Ao utilizar um verbo de solicitação ao invés de um que denote exigência, de conotação autoritária, em conjunto com o “enorme prazer” com o qual se revestem as escreventes, elas fortalecem a tentativa de construir proximidade com a Presidenta da República. Continuando o empenho pela aproximação, as escreventes incluem a interlocutora em “nossa terra” e “nosso povo”, pois sendo a destinatária a Presidenta da República, ela também é considerada representante da terra e do povo apodiense. Essa aproximação confere afetividade ao texto, pois “Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo” (FREIRE, 2014 [1974], p. 110).

Ainda no enunciado introdutório, ao apresentar-se, as escreventes informam que são moradoras de diversas comunidades, representantes da Comissão de Mulheres do STTR de

Apodi e são militantes da Marcha Mundial das Mulheres, evidenciando um sujeito político coletivo, o que ratifica que as mulheres “[...] se constituíram como sujeito político em aliança com os demais movimentos sociais” (DANTAS, 2018, p. 103).

No segundo parágrafo (l. 11 - 16), “A região do Apodi é a mesma que LULA veio em 2005 e nos encheu de esperança, assinou o primeiro contrato PRONAF MULHER do país. Nela há muitas experiências de organização de mulheres. É também uma região com muitas experiências de convivência com o semiárido, pois aqui criamos galinhas, abelhas, caprinos e plantamos de forma agroecológica. Apodi é um dos poucos municípios que a população rural é maior que a urbana”, os movimentos cumprem o propósito de contextualizar a região, enfatizando investimentos do governo anterior (LULA) no município e as experiências produtivas e organizativas de Apodi. As escreventes ressaltam que Apodi foi, em 2005, o município escolhido pelo governo “LULA”, entre os 5.565 municípios brasileiros, para o lançamento de uma linha de crédito voltada especialmente para as trabalhadoras rurais, o “PRONAF MULHER”18 (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). É importante notar que, ao evidenciar que em Apodi “há muitas experiências de organização de mulheres” no mesmo parágrafo da informação de que a região é também rica em “experiências de convivência com o semiárido”, as escreventes significam igualmente produção e organização, o que retoma o exposto na saudação inicial, afirmando “Apodi uma terra de povo firme e mulheres de luta”.

No terceiro parágrafo (l. 17 - 26), “Nas nossas comunidades somos mais de 800 famílias, que há anos cuidamos dessa terra e da água com maior respeito. Aqui plantamos feijão, arroz, batata, macaxeira, frutas, verduras e criamos pequenos animais para a nossa alimentação diária. A chegada desse decreto nos expulsará de nossas terras, nos distanciará de nossos laços de amizade e, inclusive, de nossas famílias. Com esse decreto nós deixaremos de produzir para o próprio sustento e seremos obrigadas a vender nosso trabalho para poluir nossas águas e nosso chão e colocar comida envenenada em nossas mesas ao invés do arroz e do feijão agroecológico que nós mesmas produzimos. Esse decreto ameaça nossa soberania alimentar, nossa saúde e até mesmo nossas vidas”, as escreventes utilizam como estratégia de escrita a recuperação de um fato histórico do Governo LULA, inscrito na memória coletiva da comunidade para comparar com o que está sendo proposto pelo Governo Dilma. Ao retomar esse fato histórico, as escreventes confrontam as duas visões de projeto de desenvolvimento

18 Linha de crédito especial do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar em vigor

desde o Plano Safra 2004/2005. O objetivo dessa linha de crédito é reconhecer e estimular o trabalho das mulheres rurais na agricultura familiar e nos assentamentos da reforma agrária.

para a Chapada de Apodi e se inscrevem enquanto sujeitos coletivos críticos com capacidades de apresentar a Presidenta Dilma Rousseff o melhor projeto para a Chapada do Apodi, o qual já se encontra em curso com o desenvolvimento de experiências agroecológicas e de convivência com o semiárido.

O penúltimo parágrafo (l. 27 - 30), “ESSE DECRETO Nº 0-001 DE 10 DE JUNHO DE 2011 AMEAÇA A VIDA NO CAMPO, ENVENA NOSSA TERRA E TRAZ AGRICULTURA EMPRESARIAL IRRIGADA, SUBSTITUINDO A AGRICULTURA FAMILIAR E CAMPONESA. ISSO NÃO NOS INTERESSA, NÃO SERVE PARA AS NOSSAS VIDAS, NOSSAS FAMÍLIAS, NEM PARA O NOSSO FUTURO”, reforça críticas contundentes ao agro e hidronegócio. Nesse enunciado, as trabalhadoras rurais deixam evidente a posição delas em relação à disputa instaurada no território e materializada linguisticamente pela publicação no Diário Oficial da União do Decreto de 10 de junho de 2011. É oportuno frisar o recurso semiótico de ênfase utilizado pelas escreventes ao grafar esse parágrafo completamente em caixa alta. Em uma analogia às mobilizações de rua, essa pista semiótica presente no texto, lembra vozes em coro, em grupo. É como se as escreventes estivessem gritando juntas uma palavra de ordem. Além disso, o enunciado em caixa alta cumpre a função ratificadora das questões apontadas anteriormente com vistas a provocar na interlocutora uma reação em favor da revogação do decreto e consequentemente da paralização das obras do perímetro irrigado em Apodi.

No parágrafo de despedida (l. 28 - 33), “Chegada a hora de terminar esta carta, enviamos nosso abraço com o desejo que esta a encontre bem e que continue firme e forte. Esperamos também que sua luta para acabar com a fome e a miséria tenha reflexo aqui em nossa terra e assim nos permita continuar nos alimentando de nosso próprio trabalho, da comida vinda de nosso próprio chão sem depender de veneno nem patrão”, as escreventes reivindicam coerência política ao enunciar “esperamos também que sua luta para acabar com a fome e a miséria tenha reflexo aqui em nossa terra”. Nesse parágrafo, enfatizando o desejo e a necessidade de permanecerem na terra e trabalharem livremente e de maneira agroecológica, a carta faz um chamamento, provocando a Presidenta a refletir sobre a responsabilidade dela enquanto representante maior da nação de defender e proteger os povos do campo, reforçando que defender a Chapada do Apodi contribui para a erradicação da fome e da miséria no Brasil. A saudação final (l. 35), “Aguardo sua resposta, na esperança que você vai atender nosso pedido”, ratifica a confiança anteriormente anunciada. Há, no entanto, nessa despedida uma transgressão no grau de interferência, saindo de uma subjetividade controlada durante toda a interlocução para assumir no final uma subjetividade excessiva, marcada pelo uso da 1ª

pessoa do singular. Com isso, as escreventes, indiretamente, subscrevem uma presença individual no texto e trazem, para junto de si, a pessoa da Presidenta Dilma Rousseff, tornando o pedido um compromisso de uma para uma, entre o eu escrevente (cada trabalhadora) e o eu leitora (a Presidenta Dilma Rousseff). Na assinatura da carta (l. 37), elas assumem um posicionamento que reflete “efeito de objetividade”, dado o distanciamento entre o “eu” anteriormente utilizado e a marcação “Comissão de Mulheres do Sindicato dos Trabalhadores e trabalhadoras Rurais de Apodi”, que sinaliza a autoria coletiva e a institucionalização do dizer.

A ação de discutir o que é o Decreto de 10 de junho de 2011 e o que ele representa para a vida de cada uma, pensar propostas que se contrapõem ao projeto, traçar estratégias de lutas mediadas pela escrita, entre outras ações, culminou na produção da carta coletiva. A produção coletiva favoreceu a autoria coletiva na interlocução com a Presidenta da República Dilma Rousseff.