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Respostas da luta: a correspondência da Presidência da República

4 LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA NA/PELA CHAPADA DO APOD

4.2 IMPACTOS DOS LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA NA/PELA CHAPADA DO APOD

4.2.1 Respostas da luta: a correspondência da Presidência da República

A carta coletiva escrita e enviada pela Comissão de Mulheres do STTR de Apodi

produziu uma resposta da Presidenta da República Dilma Rousseff. Essa resposta é materializada na escrita e envio do Ofício nº 671/2011-GP/GAB/GESTÃO/DG. Vejamos

Figura 10 – Correspondência do Gabinete Pessoal da Presidência da República

A resposta da Presidência da República é uma demonstração de que, no diálogo, a palavra que transita entre as interlocutoras produz sempre respostas. Assim, o Decreto de 10 de junho de 2011 produz como resposta a carta das trabalhadoras rurais e, por sua vez, a carta

produz como resposta o Ofício nº 671/2011-GP/GAB/GESTÃO/DG da Presidência da República.

Embora breve, o documento de resposta da Presidência da República sinaliza a possibilidade da abertura de um diálogo com as mulheres da Chapada do Apodi. Ao fazer a citação direta “ameaça à vida no campo, envenena a terra e traz agricultura empresarial irrigada substituindo agricultura familiar e camponesa” (l. 14 – 16), trecho grafado na carta das trabalhadoras rurais em caixa alta, o que faz analogia a um grito em coro, nos dá pistas que o grito das trabalhadoras rurais foi ouvido. Ademais, o enunciado informa sobre a utilização da carta das trabalhadoras como um dos documentos de apoio à decisão da Presidência da República quanto à revogação do Decreto de 10 de junho de 2011.

Assim, nesse trânsito de palavras entre as interlocutoras, as trabalhadoras rurais serem ouvidas pela Presidenta Dilma Rousseff cria possibilidades de convergências no diálogo em favor da Chapada do Apodi, o que demonstra que as forças podem se unificar em favor da Chapada do Apodi.

A resposta da Presidenta elevou a autoestima e reconhecimento político das trabalhadoras rurais e do movimento em defesa da Chapada do Apodi, conforme podemos

observar do excerto a seguir.

Eu estava em Brasília, em dezembro de 2011, se não me falha a memória, quando chegou... quando o meu esposo ligou dizendo que tinha chegado uma carta da Presidenta, assim, dizendo em nome da comissão do sindicato, dizendo que tinha recebido as cartas, né. E essa carta ((refere-se ao ofício enviado pela Presidência da República)) tá arquivada lá no sindicato /.../ E isso foi (+) foi bom porque a gente se uniu cada vez mais. Foi um momento que eu vi que os movimentos estavam em peso (+) todos unidos, né, não só a Marcha ((refere-se a Marcha Mundial das Mulheres)), mas a Marcha assim foi o pontapé pra gente começar aquela (+) assim, o sindicato já tinha um trabalho, só que assim uma coisa que fosse voltada /.../ só pras mulheres. Colaboradora Macambira. Excerto de fala na primeira Oficina Revivendo Memórias, realizada no dia 03 de fevereiro de 2018.

Da fala da colaboradora Macambira, depreendemos que a resposta da Presidenta da República à carta coletiva da Comissão de Mulheres do STTR de Apodi contribuiu para oxigenar a luta, não só das mulheres, mas do STTR de Apodi. Esse potencial organizativo das

trabalhadoras fortaleceu o reconhecimento político delas também enquanto protagonistas da luta em defesa da Chapada.

Além da resposta da Presidenta, a agência cívica e o protagonismo das trabalhadoras rurais no esforço de construir o diálogo com o Governo Federal produziu diversos fóruns de debates. Nesses fóruns, as mulheres desempenham importantes funções, colocando no centro do debate da resistência e luta pela Chapada lideranças feministas, como é possível observar no excerto a seguir.

/…/ E outro momento também muito importante no decorrer dessa caminhada foi quando nós tivemos no Ministério da Integração, quando eu falei pelas trabalhadoras rurais – não foi a pessoa de /.../ ((Macambira)) que falou, isso eu dizia muito e digo: quando /.../ é nós dos movimentos sociais, a gente nunca vai falar eu, é nós trabalhadoras e trabalhadores que estamos lá sendo representado. Quando o companheiro /.../ ((presidente do STTR de Apodi)) que também estava presente disse que quem ia falar era eu, eu me tremi muito porque numa mesa que só tinha “doutor” /.../ e o companheiro /.../ ((da CPT)) falou pelas instituições – tinha muitas instituições nos apoiando no momento lá, mas só podia falar duas pessoas, então representando a categoria dos trabalhadores rurais foi eu que falei /.../. E foi um momento bom, né.

Colaboradora Macambira. Excerto de fala na primeira Oficina Revivendo Memórias, realizada no dia 03 de fevereiro de 2018.

A colaboradora Macambira relata a experiência de ser reconhecida politicamente durante uma audiência no Ministério da Integração Nacional. Nesse momento de diálogo estabelecido com o Governo Federal, a coordenadora da Comissão de Mulheres do STTR de Apodi foi a pessoas indicada pelos movimentos e organizações para ser a representante, a porta-voz, da categoria de trabalhadoras e trabalhadores rurais da Chapada do Apodi. Entendemos que esse reconhecimento é resultado do potencial mobilizador e organizativo da Comissão de Mulheres do STTR de Apodi no processo de mobilização das duas mil mulheres no processo de escrita coletiva.

Outro aspecto a observar na fala de Macambira é a consciência de grupo, a responsabilidade coletiva do dizer ao reconhecer que “nós dos movimentos sociais, a gente

nunca vai falar eu, é nós trabalhadoras e trabalhadores que estamos lá sendo representado”. Ao evidenciar esse aspecto em sua fala, Macambira traz para junto de si a responsabilidade de um sujeito político feminista que atua na Chapada do Apodi. Ela sabe que não fala apenas por ela e nem está sozinha, mas que representa, naquele momento, um coletivo que, em 2011, mobilizou trabalhadoras rurais em um mutirão que produziu e enviou duas mil cartas para a Presidenta da República Dilma Rousseff.

4.2.2 “Somos Todas Apodi”: 24 horas de solidariedade feminista

No dia 10 de dezembro de 2012, a MMM organizou em diversos países, seguindo o relógio do sol, uma campanha de 24 horas de ação e solidariedade feminista. No Brasil, com o lema “Somos Todas Apodi”, a campanha cumpriu o propósito de construir em diversos estados brasileiros ações de solidariedade às mulheres da Chapada do Apodi.

A ação no Brasil, após quase um ano e seis meses de luta contra as desapropriações, ratificou o potencial mobilizador das trabalhadoras que, em conjunto com o movimento no qual elas são militantes, destacou a capacidade de questionamento dessas mulheres, ecoando mundialmente, a crítica ao capitalismo que, através do agro e hidronegócio, avança sobre as terras e os territórios da Chapada do Apodi.

Vejamos, na Figura 11, o momento da ação no território da Chapada do Apodi.

Figura 11 – Ato de solidariedade “Somos Todas Apodi”, em Apodi-RN

A Figura 11 cumpre o propósito de registrar o momento da chegada da marcha ao local do canteiro de obras do Projeto Irrigado Santa Cruz do Apodi, na BR 405. Essa marcha marca o encerramento da ação “Somos Todas Apodi” que saiu da cidade de Apodi em direção à comunidade rural onde o DNOCS instalou o canteiro de obras do canal do perímetro irrigado.

A escolha por realizar a ação exatamente no local do canteiro de obras constitui uma ação-denúncia internacional das agressões ao solo, às reservas hídricas e à vida da população do território. Ao mesmo tempo, configura-se uma ação de solidariedade e proteção do

território camponês, pois ao menos durante a ação, com o apoio de diversas pessoas e movimentos sociais, as obras do projeto foram paralisadas.

No dia da marcha, no canteiro de obras havia uma placa de sinalização de obras do Governo Federal, instalada, meses antes, pelo DNOCS, órgão executor da obra, conforme observamos na Figura 12.

Figura 12 – Placa de obras: implantação da 1ª etapa do projeto do DNOCS

A função social da placa da Figura 12 é dar publicidade ao investimento do Governo Federal na obra “IMPLANTAÇÃO DA 1ª ETAPA DO PROJETO DE IRRIGAÇÃO SANTA CRUZ DO APODI”. Para isso, informa o prazo de execução, valor do investimento, o local de realização, o órgão financiador e os órgãos executores da obra.

A instalação da placa demonstra que as forças que, em novembro de 2011, com a resposta da Presidência da República, sinalizavam favorecer a agricultura familiar na Chapada do Apodi, movimentavam-se, em 2012, em favor do agro e hidronegócio. Isso confirma que as vitórias são sempre temporárias. Os mesmos agentes que, em 2011, sinalizam abertura do diálogo através da resposta à carta da Comissão de Mulheres do STTR de Apodi e das audiências com representantes do Ministério da Integração Nacional, no momento em que autorizam o início das obras do perímetro irrigado, entre 2011 e 2012, dispersam as forças que se movimentam contrariamente à população da Chapada do Apodi.

Nessa perspectiva, consideramos que no entremeio dessas forças encontra-se o Governo Federal, que é, ao mesmo tempo, pressionado pelas empresas do agro e hidronegócio e pelos grupos em defesa da agricultura familiar agroecológica. É, portanto,

a correlação de forças que determina em qual direção os discursos e as ações vão seguir.

Se as vitórias são sempre temporárias, então, as lutas precisam ser permanentes. É dessa compreensão, aliada à ciência de que é preciso construir estratégias e táticas necessárias para a dispersão das forças contrárias e, ao mesmo tempo, para a unificação das forças em favor da Chapada, que a ação “Somos Todas Apodi” foi realizada em Apodi. Uma tática do movimento foi exatamente a retirada da placa de obras do Governo Federal, dando lugar uma placa em defesa da Chapada, conforme podemos observar na Figura 13.

Figura 13 – Placa instalada durante a mobilização “Somos Todas Apodi”

A placa da Figura 13 é mais uma resposta das trabalhadoras rurais e do conjunto do movimento em defesa da Chapada do Apodi ao DNOCS e ao Governo Federal. Essa resposta está refinada de táticas e estratégias de enfrentamento ao agronegócio. Chamamos a atenção para o fato da ação ser realizada em um processo de articulação internacional, a qual mobilizou mais de duas mil mulheres que ocuparam ruas, roçados e rodovias no município de

Apodi. Na ação de retirar a placa de obras e instalar a placa da campanha “Não ao #ProjetoDaMorte do DNOCS na Chapada do Apodi!” é construída uma simbologia de

retomada do território, de reapropriação das terras.

Outro aspecto que observamos é a multissemiose e o enquadramento na construção da placa da campanha em defesa do Chapada (Figura 13). Se aplicarmos as regras dos terços ou intersecções a essa placa, temos a trabalhadora rural com sua produção no ponto principal da

placa. Ao aplicar essa mesma regra na placa de obras do Governo Federal (Figura 12), o ponto principal recai no nome do projeto. Dessa primeira observação, percebe-se uma

inversão de valores. Na placa em defesa da Chapada (Figura 13) é a pessoa, a produção, o alimento, é o bem viver que são destacados para estarem no ponto de atenção.

Quando aplicada a mesma regra na placa de obras (Figura 12), são as palavras em caixa alta “IMPLANTAÇÃO DA 1ª ETAPA DO PROJETO DE IRRIGAÇÃO SANTA CRUZ” o foco da atenção. O uso da caixa alta nessa situação constrói a ideia de que em um grito se impõe a palavra. Na intersecção dos pontos não há pessoas, apenas letras próximas a um quadro completamente vazio. Nessa placa há um grande espaço vazio, o que empresta à Chapada a imagem de ausência de vida, representando, portanto, a morte dos ecossistemas e de vidas humanas, uma vez que o projeto de irrigação está ancorado em tecnologias hidrointensivas e no uso de veneno na plantação, o que contamina a terra, a água, a comida, comprometendo a saúde, a felicidade e a vida da população da Chapada.

Do ponto de vista dos elementos verbais, a placa em defesa da Chapada cumpre o propósito de, minuciosamente, contestar informações do Governo Federal. A propaganda do governo “Aqui tem investimento do Governo Federal” produz a resposta “Aqui, já fazemos desenvolvimento”. O elemento dêitico, “aqui”, tem a função de retomar o enunciado do DNOCS/Governo Federal e reafirmar que “A CHAPADA DO APODI É TERRITÓRIO DA AGRICULTURA FAMILIAR CAMPONSESA” e nela já tem desenvolvimento.

Desse modo, as escreventes da placa produzem uma contrapalavra em resposta ao DNOCS. O recurso semiótico de destaque em caixa alta é produzido em resposta ao enunciado do governo, também grafado em caixa alta, e assim como na escrita da carta, as escreventes da placa imprimem a simbologia de um coro ou uma palavra de ordem que

ecoa na Chapada do Apodi e pelo mundo. As pistas deixadas pelas escreventes da placa constroem a compreensão que o desenvolvimento que existe na Chapada do Apodi é baseado na agricultura familiar camponesa, no respeito a quem vive na terra e dela se alimenta, na proteção da biodiversidade da Caatinga, em suma, em um desenvolvimento sustentável que tem como centro a vida.

A assinatura “NÃO ao #ProjetoDaMorte do DNOCS na Chapada do Apodi”, também inscrita no rodapé da placa (Figura 13) assume a tática de confronto ao discurso do DNCOS/Ministério da Integração Nacional e também atribui autoria coletiva à palavra, reafirmando que o território não aceita o projeto proposto pelo Governo Federal.

Outro aspecto que analisamos é a presença de um recurso midiático utilizado na Internet, o uso da hashtag (#), ou palavra-chave para a indexação de conteúdo na Internet. A hashtag #ProjetoDaMorte faz parte de uma campanha virtual em defesa da Chapada do Apodi. Com o uso da hashtag em um suporte fora do ambiente virtual, as escreventes da placa conseguem dialogar com outras(os) interlocutoras(es). Sendo a hashtag um recurso de indexação de conteúdo, a campanha pode ser ampliada no tempo e no espaço. Com isso, a pessoa que passe pela rodovia, veja a placa e deseje saber mais sobre o enunciado pode ter acesso a essas informações a partir de seu smartphone, tablet ou computador em uma rápida busca em sites e redes sociais.

Sabendo da funcionalidade da hashtag, fizemos uma pesquisa no Facebook, Instagram, Twitter e em sites buscadores, o que nos permitiu o aceso a fotografias, vídeos e textos da campanha #SomosTodasApodi que ocorreu em ambientes virtuais, em diversas cidades de nove estados brasileiros e em outros países. Vejamos, no Brasil, algumas informações que resultaram da busca pela hastag #SomosTodasApodi.

“Quixadá (CE) – cerca de 350 mulheres de Quixadá, Quixeramobim, Fortaleza em conjunto com o MST e CUT realizaram um ato estadual nas 24 horas de ação feminista.

Paulo (SP) – militantes da Marcha ficaram na Praça Ramos das 11h30 as 13h. O ato foi regado à criatividade e irreverência. De pratos vazios nas mãos as mulheres denunciavam a pobreza gerada pela concentração de terra do agro e hidronegócio. Foram distribuídos saches de mel simbolizando a agricultura familiar, a alimentação saudável.

Araras (SP) – as mulheres se reuniram para prestar sua solidariedade às mulheres de Apodi, debatendo e entendendo melhor a ação o agronegócio na vida das mulheres.

Curitiba (PR) – o ato contou com militantes sindicais e feministas da Marcha Mundial das Mulheres e da CUT. A denúncia do projeto do agronegócio que prevê a desapropriação de 13 mil hectares em Apodi-RN, com expulsão de mais de 150 famílias produtoras de alimentos livres de agrotóxicos foi o eixo central da atividade.

São João Del Rei (MG) – das 12h às 13h foi realizado uma oficina de estêncil e panfletagem com as Mulheres do Coletivo Carcará da MMM e Levante Popular da Juventude. Somos todas APODI!

Rio de Janeiro (RJ) – o Largo da Carioca ficou mais lilás, junto com as companheiras da MMM e o MST - que realizam a Feira Estadual da Reforma Agrária. Elas manifestaram o repúdio ao agronegócio e a nossa solidariedade feminista às companheiras de Apodi.

Araguaina (TO) – as meninas do Coletivo Olga Benário fizeram um grafite na Universidade Federal do Tocantins e panfletagem dizendo SOMOS TODAS APODI!

Recife (PE) – as mulheres da MMM foram pelas ruas, panfletando e manifestando porque somos contra o agronegócio.

Brasília (DF) - além da panfletagem, a MMM colocou uma faixa em frente ao palácio do planalto, dizendo: "Presidenta Dilma! Contra o perímetro irrigado e contra o agronegócio, por soberania alimentar e autonomia para as mulheres: Aqui, Somos todas Apodi!

Porto Alegre (RS) – com o grito “Privatizar é a gota d'água”, as gurias estiveram no centro da cidade denunciando o agronegócio desde Apodi e as ações nefastas do capital sobre a vida das mulheres, sobre a natureza em ataques constantes a nossa soberania a autodeterminação dos povos.

Santa Cruz do Sul (RS) – as ativistas da Marcha Mundial das Mulheres e do Fórum em Defesa da água pública, ocuparam o espaço na Rádio Comunitária das 12h às 13h /.../ O programa foi dedicado às questões feministas dando destaque especial a Apodi - “Somos solidárias às mulheres de Apodi, que resistem ao agro e hidronegócio” e “Estamos em marcha até que todas sejamos livres! Livres do agronegócio! Livres do hidronegócio! Aqui, Somos todas Apodi!”

Excerto extraído de notícia do site da Sempreviva Organização Feminista, publicada no dia 12 de dezembro de 2012.

A digitação da hashtag “SomosTodasApodi” reportou resultados de sessenta e oito páginas (entre sites, blogs e redes sociais), o que possibilita obter informações das cidades brasileiras que realizaram a ação de solidariedade pela Chapada do Apodi. O tamanho da ação no Brasil, “[...] reforça o feminismo como resposta coletiva e antissistêmica” (FEMINISMO EM MOVIMENTO, 2019, p. 28).

Além disso, vários países também organizaram ações em solidariedade à luta da Chapada do Apodi, que seguindo o relógio do sol desde as ilhas do Pacífico até as Américas, o mundo passou 24 horas em luta contínua contra o avanço do capitalismo neoliberal na vida das mulheres e nos territórios. Assim, com diferentes colorações, as mulheres anunciam ao DNOCS/Governo Federal e ao mundo que a Chapada do Apodi é território da agricultura familiar camponesa, que juntas as mulheres vão continuar em luta para defender o território, as sementes, a biodiversidade e a vida e a felicidade na Chapada do Apodi.

Percebemos que, ao atenderem ao chamado de solidariedade da MMM, os estados organizaram as ações de diferentes formatos. Foram realizados atos, panfletagens, debates públicos, feiras, oficinas, entrevistas em rádios, adequando-se aos contextos de cada localidade, reafirmando que os letramentos são sempre situados. Essa luta assumida por diversas mulheres, durante as 24 horas do dia 10 de dezembro de 2012, mostra a força do princípio da solidariedade da MMM, que contribui para fortalecer a resistência na Chapada do Apodi.

Concluímos que as mulheres compartilham histórias e situação de “[...] opressão que se manifestam de diferentes formas em cada país, território ou região” (SEGUIREMOS EM MARCHA ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES, 2015, p. 13). Desse modo, compreendemos que a solidariedade é motivada pela compreensão de que se todas sofrem opressões a luta deve ser globalizada, internacionalista. Com isso, ações locais podem fortalecer uma luta internacional e uma iniciativa internacional pode potencializar processos locais.