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H OJE B IOLOGIA , AMANHÃ o M UNDO

No documento nancy-pearcey-verdade-absoluta.pdf (páginas 155-171)

Os nossos genes se interessam pelo que parece "certo", moralmente certo. ROBERT WRIGHT1

Depois da aula, o aluno da primeira série chegou em casa e perguntou: "Mãe, quem está mentindo: você ou a professora?"

Naquele dia, a professora contara à classe que os seres humanos e os macacos são descendentes de um antepassado comum. O pequeno Ricky era bastante inteligente para entender que essa informação não se encaixava com os ensinos bíblicos de sua mãe. Por isso, imaginou que uma das duas tinha inventado uma história. Claro que não podia ser a professora; afinal de contas, aos olhos do menino ela era a pessoa que tinha todas as respostas e entendia de tudo na vida. Não, só podia ser sua mãe. Com tristeza, ela percebeu que era melhor começar um longo processo de contra-educação.

E por causa de ocorrências assim, repetidas inúmeras vezes em sala de aula, que a controvérsia sobre ensinar evolução nunca acaba. Quando, em 2002, o Estado de Ohio debateu o tema, o Ministério da Educação americano recebeu a maior reação pública que qualquer outro assunto. O povo sente intuitivamente que há muito mais em jogo do que ciência. As pessoas percebem que quando a evolução naturalista é ensinada nas aulas de ciências, ela faz com que uma visão naturalista da ética e da religião venha a ser ensinada nas aulas de história, de estudos sociais, de vida familiar e em todos os outros cursos de estudos. Certo líder na controvérsia do Estado de Ohio foi feliz ao dizer: "A definição naturalista de ciência tem o efeito de doutrinar os estudantes em uma cosmovisão naturalista".2

O povo tem razão de estar preocupado, e o propósito dos próximos dois capítulos é mostrar o porquê.3 O darwinismo funciona como base científica para uma cosmovisão naturalista envolvente, que está sendo promovida dinamicamente muito além dos limites da ciência. Há quem diga que estamos entrando na era do "darwinismo universal", quando não será mais mera teoria científica, porém uma cosmovisão abrangente. Para causar um impacto redentor em nossa cultura, os cristãos precisam se envolver com a evolução darwinista não só como ciência, mas também como cosmovisão.

DARWINISMO UNIVERSAL

Gostaria de começar com uma frase de um dos livros de Francis Schaeffer. Segundo ele, a razão central de nós, os cristãos, não termos sido mais eficazes no cenário público, é que tendemos a ver as coisas em "pequenas medidas". Preocupamo-nos com coisas como desentendimento familiar, violência nas escolas, entretenimento imoral, aborto, bioética e extensa variedade de assuntos individualmente. Mas não vemos o quadro geral que liga todos os pontos.

E qual é esse quadro geral? Schaeffer escreve que todas estas formas de dissolução cultural "ocorrem em virtude de mudança na cosmovisão [...] para uma cosmovisão baseada na idéia de que a realidade final é matéria ou energia impessoal moldada em sua forma atual pelo acaso impessoal". Em outras palavras, muito antes de haver o movimento do desígnio inteligente, Schaeffer viu que tudo dependia de nossa visão das origens. Se começarmos com forças impessoais que operam por acaso — em outras palavras, evolução naturalista —, então, com o passar do tempo (mesmo que leve muitas gerações), terminaremos com o

naturalismo na ética e na filosofia social e política.

Hoje, muitos evolucionistas concordariam com isso. Uma das disciplinas que mais cresce atualmente é a aplicação do darwinismo a assuntos sociais e culturais. Conhecido pelo nome de psicologia evolutiva (versão melhorada de sociobiologia), sua premissa é que se a seleção natural produziu o corpo humano, então também tem de explicar todos os aspectos da crença e comportamento humanos. A psicologia evolutiva está se espalhando depressa em quase toda área de estudo, com publicações de livros em uma velocidade difícil de acompanhar.

Um dos tópicos mais abordados é a moralidade. Afinal de contas, se o comportamento humano é programado basicamente por "genes egoístas"

(como argumenta Dawkins, em O Gene Egoísta), então fica bastante difícil explicar o comportamento desinteressado ou altruísta. Muitos livros publicados procuram explicar que a moralidade é produto da seleção natural- O tema é que aprendemos a ser amáveis e prestativos, só porque serve para nossa sobrevivência e gera mais descendência.5

"A base da ética não está na vontade de Deus", escreve E. O.Wilson e Michael Ruse. A ética é "uma ilusão que os genes impingem a nós para fazer com que cooperemos". Por alguma razão inexplicada, os seres humanos "vivem melhor se são enganados por seus genes, fazendo com que pensem que há uma moralidade objetiva desinteressada que os une e à qual todos devem obedecer".6 Em outras palavras, a evolução pratica um tipo de enganação benigna para fazer com que sejamos gentis uns com os outros.

Se a seleção natural é a razão de sermos bons, então também é a razão de sermos ruins. E o que diz certo livro lançado recentemente O Macho Demoníaco: As Origens da

Agressividade Humana. Os autores atacam o ensino bíblico do "pecado original", insistindo

que até os atos terroristas do 11 de setembro não tiveram nada a ver com o "mal" moral. O fato mostra apenas que há uma predisposição à violência "escrita na química molecular do DNA". Os genes fizeram com que essas pessoas agissem assim.7

A religião é outro alvo favorito. Neste tópico, o tema básico é que a religião é uma disfunção a que o cérebro está suscetível quando o sistema nervoso evolui a certo nível de complexidade."

EVOLUÇÃO PARA TODOS

Para todo campo de interesse — política, economia, direito — há livros sobre psicologia evolutiva.9 Para pedagogos, Dean Keith Simonton nos oferece o livro A Origem

do Gênio: Perspectivas Danvinianas sobre a Criatividade. Nele, o autor define que a

inteligência é um processo darwinista de gerar uma variedade de idéias para depois escolher as que são "mais adequadas". Há inclusive livros escritos de modo específico para professo- res ingleses.1"

Numerosos livros foram lançados para os profissionais em medicina, como Por que

Adoecemos: A Nova Ciência Medicinal Darwinista, de Randolph M. Nesse e George O

Williams. Há lançamentos inclusive para os que trabalham profissionalmente na área da saúde mental.11

Há livros publicados para mulheres, pais e até homens de negócios, por exemplo.

Instinto Executivo: Por que alguns São Líderes e outros São Liderados, no qual o autor

Nigel Nicholson pergunta: "Como administrar pessoas cujos cérebros foram estruturados na Idade da Pedra?"12

Claro que para vender livros os tópicos têm de ser mais picantes, e os cientistas não mostraram pejo de tratar desse tema.13 Pelo visto, a ciência está descendo ao nível das telenovelas.

A série de televisão "Evolução" apresentou o psicólogo evolutivo Geoffrey Miller, autor de A Mente Seletiva: Como a Escolha Sexual Influenciou a Evolução da Natureza.' No programa, Miller disse aos telespectadores que a origem do cérebro humano "não era Deus, mas nossos antepassados [...] escolhendo seus parceiros sexuais". Enquanto ele falava, ouvíamos de música de fundo a melodia do "Messias", de Handel, quando uma voz se sobressaiu explicando que a expressão artística começou como forma de exibição sexual.

Depois do 11 de setembro, os psicólogos evolutivos tiveram a oportunidade real de aplicar suas teorias. Autoridades de todos os naipes apressaram-se a oferecer explicações para a tragédia terrível, e até o caderno de ciências do The New York Times entrou na dança. Este periódico declarou que o heroísmo dos voluntários e trabalhadores no resgate era produto da evolução, algo similar aos instintos cooperativos das formigas e abelhas.

O artigo asseverou que o comportamento altruísta é produto de "seleção parental", a idéia de que os genes passam para os filhos e também para os parentes próximos. Diante disso, podemos aumentar nosso sucesso reprodutivo cuidando de um grupo maior de parentes genéticos.'3 Certo evolucionista de renome, J. B. S. Haldane, explicou o cálculo da seleção parental, dizendo que estava preparado para sacrificar a vida por dois irmãos ou, possivelmente, por oito primos.16

Outras teorias do comportamento altruísta estão baseadas na teoria de jogos, a qual mostra que estratégias de cooperação — olho por olho — funcionam melhor para conseguir o que queremos. Lógico que nenhuma destas opções explica o altruísmo no sentido comum; são meras formas ampliadas de egoísmo. Dizem-nos que o que parece comportamento sacrificatório — por exemplo, da parte da mãe pelo filho — é apenas uma estratégia para passar os genes.

Poderíamos ir mais longe e afirmar que o altruísmo genuíno fornece tremendo argumento apologético a favor do cristianismo. O altruísmo heróico do tipo testemunhado por causa dos ataques do 11 de setembro só pode ser explicado pelo entendimento cristão da natureza humana como seres genuinamente morais, feitos à imagem de Deus.17

FUNDAMENTALISMO DARWINISTA SOBRE O ESTUPRO

Os cristãos não estão sozinhos quando permanecem céticos diante das firmações da psicologia evolutiva. Muitos cientistas também são críticos, final de contas, é fácil traçar enredos imaginários de como certo com-ortamento pode ser adaptativo sob determinadas circunstâncias, e depois concluir de modo precipitado que foi adaptativo, mesmo quando não há provas factuais. A literatura da psicologia evolutiva está cheia de especulações "livres" destituídas de dados reais da genética ou da neurologia. Certos críticos repelem a teoria tachando-a de "fundamentalismo darwinista", frase provocante que insinua que o próprio darwinismo se tornou uma ortodoxia rígida.18

"O fato ignóbil é que não temos sequer um fragmento de prova de que a moralidade nos seres humanos tenha evoluído ou não por seleção natural", diz o geneticista H. Allen Orr. Os psicólogos evolutivos arquitetaram quantidade enorme de enredos hipotéticos sobre questões como: O que aconteceria se tivéssemos um gene que determinasse que fôssemos

gentis com pessoas estranhas?"Mns uma experiência no pensamento não é uma expe-

riência", declara Orr com amargura. A realidade é:"Nâo temos dados".19

Temos de nos conscientizar de que assim que alguém aceita a premissa evolutiva, a questão de provas se torna quase irrelevante. Aplicar as explicações darwinistas ao comportamento humano é questão de lógica simples. Afinal, se a evolução é verdadeira, então de que outra forma a mente emergiu, se não pela evolução? De que outra forma surgiu o comportamento humano, se não por adaptação ao ambiente?

Este ponto ficou claro há alguns anos com a publicação de um livro que oferece um relato evolutivo acerca do estupro. O título era The Natural History of Rape: Biological

Bases of Sexual Coercion (A História Natural do Estupro: Bases Biológicas de Coerção

Sexual), e os autores eram dois professores universitários que fizeram a declaração bastante inflamatória de que, falando biologicamente, o estupro não é patologia. É adaptação evolutiva para maximizar o sucesso reprodutivo. Em outras palavras, se flores e chocolate não resolverem, os homens podem recorrer à coerção para cumprir o imperativo reprodutivo. O livro diz que estupro é "um fenômeno natural e biológico que é produto da herança evolutiva humana", similar "às manchas dos leopardos e ao pescoço comprido das girafas".

Mostrando como muitos cientistas estão isolados, os autores disseram que estavam surpresos por toda a celeuma que o livro causara. Para um darwinista trata-se de lógica simples: todo comportamento que sobrevive hoje deve ter ganhado certa vantagem evolutiva, do contrário, teria sido extirpado pela seleção natural. Por conseguinte, os autores foram praticamente forçados a identificar certo benefício até no crime de estupro.21

Quando um dos autores, Randy Thornhill, compareceu a um programa de rádio de âmbito nacional nos Estados Unidos, recebeu toneladas de telefonemas irados, até que insistiu que a lógica é inevitável: se a evolução é verdadeira, então "cada característica de todos os seres vivos, inclusive os seres humanos, tem um fundo evolutivo subjacente. Esse

ponto não é questão discutível".12 Três vezes durante o programa, ele insistiu na mesma

tecla: "Não é 'questão discutível'".

Isto explica por que os oponentes da psicologia evolutiva não conseguem deter seu crescimento constante. Muitos aceitam a mesma premissa evolutiva, o que significa, no fim das contas, que não têm defesa contra sua aplicação no comportamento humano. Por exemplo, os críticos da tese de estupro tendem a concentrar os argumentos no nível dos detalhes: muitas vítimas de estupro são muito jovens ou muito velhas para ter filhos, e em alguns casos são homens (por exemplo, estupro na prisão), fatos que claramente minam a idéia de que o estupro é dirigido por um imperativo biológico para a reprodução. A revista

Nature disse que a teoria apóia-se na "prestidigitação estatística".23

Contudo, os críticos ficaram paralisados pelo fato de que muitos deles aceitam as mesmas suposições evolutivas apresentadas pelo livro, deixando-os sem meios probos de se opor à conclusão do livro. Citando frase distinta de Tom Bethell:"Os críticos foram desarmados por suas cosmovisões compartilhadas".24

Houve um episódio divertido no programa de rádio quando Thornhill enfrentou com descaro uma importante feminista, Susan Brownmiller, que há muito tempo escreveu um livro influente sobre estupro chamado Against Our Wills (Contra nossa Vontade). Não surpreendentemente, ela contestou com veemência a tese de estupro, levando Thornhill a revidar com o pior insulto imaginável: ele disse que ela parecia "a extrema direita religiosa". Não há como duvidar que ela foi insultada, mas o que ele quis dizer foi muito mais sério. Thornhill estava dizendo que a evolução e a ética evolutiva fazem parte do mesmo acordo global. Se aceitarmos a premissa, então'temos de aceitar a conclusão. E se não gostarmos, podemos nos unir à "direita religiosa" e desafiar a própria evolução. É como disse SchaefFer: "Todos os pontos se ligam com a opinião que a pessoa tem das origens".

MÃES COMO ANIMAIS

Anos atrás, Steven Pinker escreveu um artigo no The New York Times aplicando a psicologia evolutiva à outra questão moral problemática: o jnfanticídio. O artigo saiu logo depois que a mídia noticiara que uma adolescente deu à luz num baile da escola e depois

jogou o recém-nascido no lixo. Mais ou menos na mesma época, um casal de adolescentes que não era casado matou o filho recém-nascido. As pessoas ficaram chocadas, e assim Pinker apareceu para acalmá-las com a sabedoria da ciência.

Pinker começou dizendo que temos de "entender" os adolescentes que matam os filhos recém-nascidos, porque o infanticídio "é praticado e aceito na maioria das culturas ao longo da história". A simples ubiqüidade desse ato indica que deve ter sido preservado pela seleção natural, o que por sua vez significa que tem de ter uma função adaptável. Falando de mães humanas em termos mais adequados a mães-animais, Pinker disse: "Se um recém- nascido está doentio, ou se sua sobrevivência não for promissora, elas podem cortar despesas e favorecer o mais saudável da ninha-da ou tentar novamente mais tarde". Assim,"a evasiva emocional das mães evoluiu", em certas situações, ao infanticídio. Por causa da seleção natural, "a capacidade do neonato depende do desígnio biológico de nossas emoções parentais".25

A interpretação de Pinker não deveria causar surpresa para quem se lembra de um artigo publicado no Newsweek em 1982 sob o título surpreendente de "Assassinos de Filhotes da Natureza". Era um relatório sobre o primeiro grande simpósio que estudou o infanticídio entre animais, que tinha a esperança de explicar o comportamento semelhante em seres humanos. Muitos dos cientistas participantes concordaram que "o infanticídio já não pode ser chamado 'anormal'. Deve ser chamado 'normal' como os instintos parentais, os impulsos sexuais e a autodefesa", e até pode ser adaptação benéfica evolutiva.26

Mas tudo isso é pouco mais que ilusão e engano. Para início de conversa, não há prova de que o infanticídio seja uma característica genética, muito menos que seja uma característica selecionada pela evolução."Onde estão os estudos paralelos, os locais dos cromossomos e as seqüências do DNA que apoiem tal afirmação?", exige Orr."A resposta é que não temos nada. O que temos é uma história — há uma lógica darwinista inegável que apoia o assassinato de recém-nascidos em certas circunstâncias." E é esta lógica, mais do que provas factuais, que orienta a teoria: a história evolutiva soa persua-siva; a evolução requer genes; portanto, o comportamento é genético. "O movimento é tão fácil e tão sedutor", diz Orr,"que os psicólogos evolutivos se esquecem de uma dura verdade: uma história darwinista não é prova mendeliana. Uma história darwinista é uma história".27

A "lógica darwinista" é tão convincente que até o próprio Darwin foi levado por ela. Em The Descent o/Man (O Descendente do Homem), ele argumentou que o "assassinato de crianças prevalece em grandíssima escala por todo o mundo, e é encontrado sem repreensão". Na verdade, "pensa-se que o infanticídio, sobretudo de meninas, seja bom para a tribo".28 Há mais de um século, Darwin já entendia aonde levaria a lógica da teoria.

A fraqueza fatal da psicologia evolutiva é que ela é tão elástica que pode explicar tudo. Dizem que a evolução explica por que mães matam seus recém-nascidos. Mas se perguntássemos por que a maioria das mães não os mata, a evolução também explicaria. Uma teoria que explica todos os fenômenos e também os seus opostos, na realidade não explica nada. É tão flexível que pode ser torcida para dizer qualquer coisa que os propo- nentes queiram.

O TEMA ANIMAIS DE PETER SINGER

No passado, foram os cristãos que advertiram que a evolução darwinista acabaria destruindo a moralidade, reduzindo-a a padrões de comportamento escolhidos apenas por seu valor de sobrevivência. Naquela época, os evolucionistas respondiam com firmeza e confiança que livrar-se de Deus não poria em risco a moralidade, que "podemos ser bons sem Deus". Mas nos últimos anos, os próprios evolucionistas estão declarando abertamente

que a teoria mina a base da moralidade.

Por exemplo, o biólogo William Provine, da Universidade Cornell, percorre o circuito de conferências dizendo aos universitários que a revolução darwinista ainda está incompleta, porque até agora não adotamos todas as suas implicações morais e religiosas. Quais são essas implicações? Provine faz uma lista: "Não há fundação suprema para a ética, não há significado supremo para a vida e não há livre-arbítrio".2'' Os psicólogos evolutivos estão completando a revolução darwinista, fazendo suas implicações totais. Eles estão ligando os pontos, mostrando o que o darwinismo consistente quer dizer para a moralidade.

Os resultados podem ser muito incompatíveis. Há alguns anos, os comentaristas conservadores levaram um susto coletivo, quando um professor universitário de Princeton publicou um artigo para apoiar — imaginem! — as relações sexuais entre seres humanos e animais. O professor chamava-se Peter Singer, já notório por seu apoio aos direitos dos ani- mais. (Ainda não percebemos que tipo de direitos ele quis dizer.)

O artigo intitulava-se "Animais Grávidos", no qual Singer deixa claro que o seu verdadeiro objetivo é atacar a moralidade bíblica. Conforme ele escreve, no Ocidente temos a "tradição judaico-cristã" que ensina que "só os seres humanos são feitos à imagem de Deus". "Em Gênesis, Deus dá aos seres humanos o domínio sobre os animais." Mas Singer sustenta que a evolução refutou a narrativa bíblica: a evolução nos ensina que "somos animais", e a conseqüência é que "o sexo cruzando as barreiras das espécies [isso não é um eufemismo científico?] deixa de ser uma violação do nosso status e dignidade como seres humanos".30

Estes sentimentos não permanecem retidos cuidadosamente na área educacional, mas vazam para a cultura popular, onde causam impacto muito maior no público. Em 2002, a peça teatral da Broadway A Cabra, ou: Quem É Sylvia? apresentou um arquiteto bem- sucedido que confessa à esposa que ele se apaixonou por outra pessoa. O objeto do seu afeto era uma cabra chamada Sylvia.31 Pelo visto, os dramaturgos já não sentem que há bastante tensão dramática em um caso amoroso comum; para criar mais dramaticidade, eles têm de vasculhar o tema da bestialidade.

A cultura é dirigida por um tipo de lógica: ela acaba expressando as conseqüências lógicas da cosmovisão dominante. Se a evolução é verdadeira, se há mesmo uma continuidade irrompível entre os seres humanos e os animais, então Singer tem razão absoluta sobre o que ele chama "sexo cruzando as barreiras das espécies".

Uma vez mais, todos os pontos se ligam à opinião que a pessoa tem das origens. Em outro exemplo, há poucos anos uma música do grupo Bolldhound Gang subiu para a posição 17, no quadro das top 200 da Billboard. O refrão fácil de memorizar era repetido inúmeras vezes: Você e eu, baby, somos meros mamíferos; / então, vamos fazer sexo como eles fazem no Canal da Discovery. O vídeo mostrava os membros da banda

No documento nancy-pearcey-verdade-absoluta.pdf (páginas 155-171)