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5 A OMC E A PROTEÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS

5.2 Funções, estrutura e funcionamento da OMC

5.2.2 A OMC e sua estrutura organizacional

Estruturalmente, a OMC é composta pelos Estados membros, não havendo, em princípio, distinção entre eles, inobstante serem membros fundadores ou membros que acederam à organização mais recentemente. A estrutura organizacional da OMC é disposta no Acordo de Marraquexe, em seu Artigo IV.

Dessa forma, a Conferência Ministerial (herança do GATT 1947) é o mais alto órgão da OMC, sendo composto de representantes de todos os Estados membros. A Conferência Ministerial tem poderes de decisão em todas as matérias e sobre todos os acordos multilaterais da OMC. O Acordo da OMC estabelece que a Conferência deve se reunir pelo menos uma vez a cada dois anos. As Conferências ocorrem fora da sede da OMC, de forma a aproximar as discussões de outros centros políticos e econômicos. Até o momento, ocorreram nove Conferências Ministeriais, tendo sido a última em Bali, em dezembro de 2013, com importantes avanços para o alcance dos objetivos da Rodada de Doha511. Além do amplo frank conversations. So get ready it’s time to start putting our Work Programme together.” Disponível em:

<http://www.wto.org/english/news_e/news14_e/gc_rpt_12may14_e.htm>. Acesso em 14 mai. 2014. 511

As demais rodadas ministeriais foram: Cingapura (1996), Genebra (1998), Seattle (1999), Doha (2001), Cancún (2003), Hong Kong (2005), Genebra (2009), Genebra (2011). Os documentos de cada Conferência

objetivo de tomada de decisões, outras atribuições são assumidas pela Conferência Ministerial, dentre as quais se destacam: a autoridade exclusiva para a adoção de interpretações dos acordos multilaterais (art. IX, 2)512; decisões sobre a derrogação de obrigações (art. IX, 3); decisão sobre alterações em acordos multilaterais (art. X, 1); decisão sobre acessão de novos Estados à OMC (art. XII, 2); indicação do Diretor-Geral (art. V, 2). A Conferência Ministerial tem, portanto feições políticas, estando sob sua responsabilidade as tomadas de decisões mais desafiadoras.

Abaixo da Conferência Ministerial, a OMC se faz representar pelo Conselho Geral, composto de representantes de todos os Estados membros, responsável pela continuidade dos trabalhos entre as Conferências Ministeriais, o que ocorre uma vez a cada dois meses513, na sede da OMC, em Genebra. Entre as Conferências Ministeriais, é o Conselho Geral que se encarrega das funções dessa (art. IV, 2), além de aprovação de orçamento (art. VII), aproximação com outras organizações internacionais e ONGs (art. V, 1 e 2). Além disso, o Conselho Geral se investe de função de maior relevância que é a de se encarregar da solução de controvérsias.

Nesse sentido, o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) é, na verdade, uma faceta do Conselho Geral. Entretanto, o OSC tem seu próprio presidente e segue normas distintas das normas a que se submete o Conselho Geral (art. IV, 3). O OSC segue, primordialmente, as regras estabelecidas no Entendimento sobre Solução de Controvérsias (ESC), o qual é o anexo 2 do Acordo da OMC. O OSC desempenha função de extrema relevância no contexto do comércio internacional, alcançando inclusive outros campos do direito internacional, os quais estão transversalmente associados ao comércio internacional.

Além de atuar como OSC, o Conselho Geral também se investe da função de Órgão de Exame das Políticas Comerciais, o qual se incube de harmonizar os sistemas normativos nacionais com as normas assumidas pelos Estados membros na OMC. O Órgão de

<http://www.wto.org/english/thewto_e/minist_e/minist_e.htm>. Acesso em 14 mai. 2014. Observe-se que, entre 2005 e 2009 não houve reunião da Conferência Ministerial. Bossche destaca que as dificuldades em avançar nos debates em torno da agenda de Doha foram a principal razão. Cf. BOSSCHE, op. cit., p. 121.

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Bossche chama a atenção para a possível confusão que se pode fazer quanto ao fato de a Conferência Ministerial ter tal competência enquanto que o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) também tem competência para interpretação de acordos (conforme o art. 3.2 do Entendimento sobre Solução de Controvérsias). Ocorre que as interpretações da Conferência Ministerial estendem-se erga omnes, ao contrário das interpretações no contexto da solução de controvérsias, as quais são incidentais. Cf. BOSSCHE, op. cit., p. 142.

513Embora o Acordo da OMC determine, laconicamente, que o Conselho Geral “se reunirá quando cabível” (art. IV, 2), a prática tem sido de reuniões bimestrais.

Exame das Políticas Comerciais pauta sua atuação no Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais (TPRM), anexo 3 do Acordo da OMC514.

A OMC conta ainda com inúmeros outros conselhos e comitês especializados em determinadas matérias. Dentre estes se destacam o Conselho para o comércio de Bens, o Conselho para o Comércio de Serviços e o Conselho para os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionadas com o Comércio, os quais funcionam sob a orientação geral do Conselho Geral (art. IV, 5). Além desses conselhos, previstos expressamente pelo Acordo da OMC, comitês especializados somam-se na assistência à Conferência Ministerial e ao Conselho Geral. Alguns desses comitês estão diretamente ligados ao Conselho Geral (com destaque para o Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente, o Comitê sobre Comércio e Desenvolvimento, e o Comitê sobre Acordos Regionais de Comércio). Outros comitês estão dentro da estrutura dos três conselhos especializados acima referidos.

Em 2001, quando da Conferência Ministerial em Doha e início da rodada homônima, foi estabelecido um comitê para supervisionar e conduzir as negociações sob a autoridade do Conselho Geral. Trata-se do Comitê de Negociações de Comércio (TNC). O TNC se encarrega da Agenda da Roda de Doha, conduzindo negociações mais específicas, possibilitando melhor abordagem técnica de assuntos que passarão pelo crivo político antes de se tornarem normas vinculantes entre os membros.

Para manter essa vasta rede organizacional, a OMC conta com um Secretariado, em sua sede, em Genebra. Apesar do tamanho reduzido515, o secretariado desempenha a importante função de corpo executivo da OMC, sendo chefiado pelo Diretor-Geral, o qual é escolhido pela Conferência Ministerial (art. VI, 2). Apesar de nem o Secretariado, nem o Diretor-Geral disporem de poderes de decisão, eles exercem o papel de catalisadores dos consensos necessários nos processos de tomadas de decisão. Assim, destacam-se entre as funções do secretariado prover suporte técnico para os diversos órgãos da OMC, prover assistência técnica para membros dentre países em desenvolvimento, monitorar e analisar o comércio internacional, dar suporte a países que se interessam por tornarem-se membros da OMC.

514Anexo 3 do Acordo da OMC. “A) Objetivos, (i) O objetivo do Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais ("TPPM") é contribuir para a melhor adesão por todos os Membros às regras, disciplinas e compromissos assumidos nos Acordos Multilaterais de Comércio e, onde cabível, nos Acordos Plurilaterais de Comércio, e portanto para um melhor funcionamento do sistema multilateral de comércio, mediante a consecução de maior transparência e compreensão das políticas e práticas comerciais dos Membros.”

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Com pouco mais que seiscentos funcionários (639, conforme indicado no site da OMC), a organização possui um dos menores secretariados se comparado com demais organizações internacionais principais no atual cenário das relações internacionais. Disponível em: <http://www.wto.org/english/thewto_e/secre_e/intro_e.htm>. Acesso em 14 mai. 2014.

Malgrado o Acordo da OMC sugira a aproximação da organização com ONGs, não existe previsão de participação dessas entidades em processos decisórios (art. V, 2). Esse dispositivo é já um avanço, pois o GATT originalmente não previa nada a respeito516. É de se registrar que a Carta de Havana previra tal aproximação (art. 87, 2) dentre as disposições acerca da pretendida Organização Internacional do Comércio517.

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