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Pretendia-se com o presente projeto explorar a questão Como fomentar o conhecimento e respeito pela diversidade cultural, partindo dos estereótipos e preconceitos dos alunos?, de forma a encontrar-lhe respostas ou possibilidades de resposta que naturalmente poderiam dar origem a novas questões e a novos projetos de investigação.

Enquadrando o aparecimento deste projeto, intitulado “Cultura(s) – do preconceito ao respeito”, na questão-problema grupal Como integrar os conhecimentos prévios dos alunos no processo de ensino-aprendizagem nas áreas disciplinares das Ciências Humanas e Sociais?, é de salientar que se apresenta ao longo deste trabalho uma forma de explorar uma temática das Ciências Humanas e Sociais, que é a educação intercultural, partindo dos conhecimentos prévios dos alunos, neste caso concreto dos estereótipos e preconceitos que estes possuíam. Depois da implementação deste projeto pode afirmar-se que, para além de uma corroboração teórica de que a utilização das conceções dos alunos para a construção de novas aprendizagens pode ser muito mais significativa e benéfica, há também uma confirmação no âmbito da prática.

Para desenvolver um trabalho rigoroso e exequível tornou-se imprescindível o desdobramento da questão-problema em quatro objetivos, que depois de analisados e aqui explanados permitirão expor de forma mais consciente e fundamentada as conclusões deste projeto.

Relativamente ao objetivo 1, pretendia-se investigar de que forma os familiares exercem ou não influência nos estereótipos e preconceitos que os alunos possuem. Para conseguir aferir acerca deste objetivo implementou-se um questionário que permitiu perceber de que forma os familiares veem a diversidade cultural, que conhecimentos possuem acerca de diferentes culturas e como ponderam o contacto com elas. Apesar da participação muito

reduzida, a verdade é que se verifica alguma intolerância para com a diferença, o que pode justificar algumas conceções dos alunos. Apenas as culturas nórdica e escocesa são amplamente apreciadas pelos familiares, sendo a primeira a que também mais agrada aos alunos. Pela análise dos questionários também se percebe que o conhecimento que os familiares têm sobre outras culturas é muito reduzido, surgindo sempre exemplos similares ou associações como um país/ uma cultura. A falta de curiosidade e o receio demonstrados inicialmente pelos alunos em relação à diversidade cultural pode também advir do etnocentrismo evidenciado pelos familiares, uma vez que quase 25%

destes últimos afirmou não lhe agradar a ideia de conhecer e contactar com outras culturas.

O objetivo 2, por sua vez, consistia na identificação das conceções prévias dos alunos relativamente a diferentes culturas. Para tal contribuiu quer o questionário inicial realizado aos alunos quer a sessão 0 que foi construída para este fim. Os alunos possuíam, de facto, muitos estereótipos e preconceitos que foram identificados e trabalhados. Naturalmente, num estudo desta dimensão não foi possível estudar todas as conceções identificadas, mas procurou-se fazer um trabalho mais denso naquelas em que a intolerância e o desrespeito eram mais evidentes, como aconteceu com a cultura das mulheres girafa. Este objetivo permitiu atribuir sentido a todo o projeto que se desenhou de seguida, uma vez que foi a partir da identificação dos estereótipos e preconceitos que foram desenhadas as sessões e que se conseguiram traçar possibilidades de resposta à questão-problema.

Outra preocupação foi o desenvolvimento, em todas as sessões, de trabalhos em grupo, o que originou interações entre os alunos muito produtivas e ricas.

De facto, o trabalho em grupo potencia a educação intercultural. Na sessão 0, no momento de diálogo e debate sobre as imagens e outras informações culturais, os alunos partilharam opiniões e refletiram. Na sessão 1, a exploração do vídeo em grande grupo, a construção de uma definição para a palavra cultura, os trabalhos de grupo sobre a cultura portuguesa, foram momentos que deram origem a divergências que promoveram a reflexão sobre as temáticas da interculturalidade. Na sessão 2, o preenchimento da Banda Desenhada em pares provocou também discussões em torno de opiniões diferentes, assim como o momento seguinte de exploração do PowerPoint. Na sessão 3, a comunicação ocupou, mais uma vez, um lugar central,

principalmente no momento de preenchimento do Diagrama de Venn.

Também nas sessões 4 e 5 se proporcionaram reflexões em torno da temática da educação intercultural, principalmente nos momentos de exploração da história. Assim, experimentaram-se diversificadas formas de trabalho em grupo, tendo todas elas em comum o mesmo objetivo: a promoção do diálogo, através da partilha de opiniões, da escuta e da reflexão. Neste contexto, um trabalho mais individualizado não conseguiria resultados tão significativos por não permitir a comunicação e o confronto com opiniões diferentes.

Por fim, o último objetivo, este de cariz mais didático, visava o desenvolvimento da capacidade de aceitação intercultural dos alunos. As evidências são conclusivas e a análise do percurso dos alunos é clara. De facto, em todas as sessões procurou-se, de uma forma mais específica ou de uma forma mais generalizada, promover o conhecimento de diferentes culturas, acreditando-se que a compreensão é essencial para o respeito. Os alunos, que inicialmente se mostraram muito reticentes ao contacto com diferentes culturas, foram, ao longo das sessões, abrindo horizontes e perspetivando outras formas de ver o outro. Aquilo que no início era desprezo foi-se transformando em pena ou curiosidade e, posteriormente, em compreensão e agrado. Também os questionários inicial e final permitem concluir que o respeito pela diversidade cultural e, consequentemente, a capacidade de aceitação do outro diferente do eu, foram competências desenvolvidas com sucesso, tendo em conta o número reduzido de intervenções que foram realizadas. No entanto, sendo este um trabalho complexo e permanente certamente tem potencial para continuar a ser explorado através do desenvolvimento de futuros projetos.

Todas estas conclusões vão também ao encontro da questão-problema, que bebe das considerações retiradas de cada um dos objetivos. Assim, acredita-se que é possível promover a educação intercultural, isto é, o conhecimento e o respeito pelo outro. Acredita-se que é possível mesmo tendo estereótipos e preconceitos em relação à diferença e mesmo que esses já estejam bem cimentados pelo contacto com os mais próximos que têm as mesmas conceções. Acredita-se, ainda, que esta desconstrução pode ser simplificada e ter mais impacto se forem tidos em conta os estereótipos e preconceitos dos alunos e se a partir deles se promoverem diálogos, interações e reflexões, tendo, para tal, o trabalho em grupo extrema importância.

Naturalmente, esta não é uma resposta fixa e fechada que dê por terminado este projeto de investigação, será antes o desbravar de um trilho que pode ser continuado por outros e complementado com outras perspetivas. De ressalvar que num trabalho intercultural tem de existir sempre um mediador entre o aprendente e a cultura a conhecer que, neste caso, foi a professora. Seria interessante dar continuidade a este projeto procurando que o mediador fosse um elemento da cultura a conhecer. Também como sugestão fica a possibilidade de contactar diretamente com costumes e tradições de culturas mais próximas, através de, por exemplo, uma visita a um acampamento cigano ou a um restaurante de comida chinesa.

Recorrendo ao programa da unidade curricular de Projeto, no âmbito da qual foi criado o presente trabalho, foram desenvolvidas as competências perspetivadas, tendo sido concebido um projeto relevante e adequado, numa perspetiva de crescimento não só profissional, mas também pessoal e social. A conceção, o desenvolvimento e a avaliação deste projeto permitiram a experimentação de uma nova forma de trabalhar em educação, um trabalho mais significativo, que procura a promoção de aprendizagens através da deteção e resolução de problemas reais.

Por tudo isto, tendo em conta o trabalho de investigação desenvolvido, e balançando as suas potencialidades e limitações, considera-se, a par de Américo Peres, que “vale a pena desenvolver projetos interculturais contextualizados que plasmem a unidade/ diversidade e respeitem a pessoa humana” (2000, p. 53).