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Operacionalização das variáveis e proposta de hipóteses

Embora a difusão do livro branco tenha ocorrido em ondas, no de correr de mais de 80 anos, serão apenas consideradas as publicações apresentadas de 1998 a 2015, levando- se em consideração a questão da temporalidade para observar os fatores que se associam a difusão do documento em primeira versão ou revisão, não se ponderando as três fases discutidas no segundo capítulo.

3.3.1 Relações civis-militares

Os países pioneiros na publicação do livro branco já tinham suas autoridades civis exercendo um controle razoável sobre as lideranças militares, assegurando boas relações civis-militares. Além disso, durante a leitura do segundo capítulo, apurou-se que alguns países realizaram reformas no setor de defesa e, por meio de mudanças estruturais e normativas, aumentaram o controle civil sobre os militares, para posteriormente apresentarem seus documentos de defesa.

Relações civis-militares desequilibradas a favor dos militares, resultantes de um baixo controle civil sobre os militares, dificultarão ou impedirão a publicação dos documentos de defesa, pela falta de interesse dos civis no assunto ou pela falta de cooperação dos

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militares, ou a interação das duas condições. Portanto, espera-se que um melhor controle civil sobre os militares, esteja associado positivamente à publicação do documento de defesa.

A literatura que trata sobre relações civis-militares, principalmente a da América Latina, afirma que a apresentação do livro branco concorre para a melhora do controle civil sobre os militares, ou seja, desse ponto de vista a variável dependente seriam as relações civis-militares.

Nesse estudo, se reconhece, como limitação, a possibilidade de causalidade reversa entre a variável dependente e as relações civis militares, já que todas dependem mutuamente de influências como o ambiente legal ou cenários institucionais e políticos. No entanto, da análise dos dados brutos, foi observado que cerca de 79% dos Estados que receberam pontuação máxima, de acordo com as medidas de Siaroff (2005), apresentaram um livro branco ou outro documento de defesa no período de 1998 a 2015. Somente cerca de 5% dos Estados, que tiveram suas medidas abaixo de seis pontos, publicaram o documento no período considerado, os demais, 16% de Estados medidos, receberam entre oito e seis pontos, apresentando indícios de que um baixo controle civil sobre os militares dificulta, podendo até mesmo impedir, a apresentação do documento de defesa.

Com relação à variabilidade do controle civil sobre os militares ao longo do tempo, nesta pesquisa, considerou-se que a resistência às mudanças, comum nas organizações burocráticas que compõe as estruturas de defesa, é obstáculo para as medidas que visam aumentar esse controle, porém não impede sua efetividade, mas produz um retardo no resultado final dessas medidas. Portanto, neste trabalho será considerada a medida apresentada por Siaroff (2005), como a mesma para cada ano em cada país desde 1998 até 2015, entendendo que somente no longo prazo, ou seja, mais de 20 anos que poderia ocorrer uma significativa variabilidade nas relações civis-militares de cada Estado. H1: Um melhor controle civil sobre os militares está positivamente associado à

possibilidade dos países apresentarem seus livros brancos e outros documentos de defesa.

3.3.2 Democracia

O regime de governo influencia as decisões do Estado, além disso, o conceito da transparência presentes nas publicações de defesa é um elemento fundamental da gestão

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democrática. Portanto, será esperado que a variável democracia esteja associada positivamente no modelo.

A democracia como variável independente foi considerada no período de 1998 a 2008, uma vez que apenas quinze Estados, do total da população, apresentaram variabilidade no regime de governo e, dentre este universo, 12 adotaram o regime democrático até o ano de 2008. Geórgia, México, Indonésia e Peru não eram países democráticos em 1998, mas se democratizaram e apresentaram um documento de defesa antes de 2008. Portanto, foi considerada a condição de regime de governo de cada Estado de 1998 a 2008 e observada a emissão do documento de defesa de 1998 a 2015, admitindo que, a partir de 2009, em diante, não ocorreu variabilidade significativa nesses regimes.

H2: A opção pelo regime democrático de governo está associada positivamente na

possibilidade do Estado apresentar documento de defesa.

3.3.3 Capacidades nacionais

Segundo Posen (1984), as organizações de defesa irão optar por doutrinas ofensivas, por proporcionarem aumento no seu tamanho e assim reduzir as incertezas de imprevistos, de perdas e derrotas. Contudo, o aumento do poder militar gera insegurança no ambiente internacional, e o documento de defesa tem intenções de eliminar as desconfianças. Portanto, seria esperado que a variável Capacidades Nacionais viesse contribuir positivamente no modelo proposto, ou seja, presume-se uma associação positiva entre essa variável e a publicação do documento de defesa. Portanto, a média de capacidades nacionais obtida do ano de 1960 a 2007 foi o fator usado para a variável H3: As Capacidades Nacionais estão associadas positivamente à possibilidade dos

países apresentarem seus documentos de defesa.

3.3.4 Taxa de beligerância

O livro branco de defesa tem como princípio de reduzir incertezas e evitar o conflito armado. Portanto, espera-se que a variável beligerância esteja associada negativamente a publicação do documento. Países belicistas tendem a omitir ou dissimular informações, dessa forma, entende-se que quanto mais envolvimentos em conflitos, menores serão as chances de publicação do documento. Portanto, a média anual de conflitos internos e externos, com pelo menos 1000 baixas, que o país se envolveu de 1946 até o ano de 2014 foi o fator empregado para construção dessa variável.

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H4: Beligerância está associada negativamente à possibilidade dos países apresentarem

seus documentos de defesa.

3.3.5 Aliança militar de defesa (AMDef)

As alianças de defesa visam a manutenção da soberania territorial, deixando claro para as demais nações que não existe intenção de levar a guerra para outro território, mas, sim, declarar que contará com a aliança para defender seu território, caso a guerra nele se estabeleça. A aliança militar de defesa tem correlação com a paz e também pode ter alguma associação com os documentos de defesa. Portanto, o aumento das alianças estabelecidas pode estar associado positivamente às chances desse país apresentar uma publicação de defesa, e assim a média anual de acordos realizados pelos Estados, de 1816 até 2012, foi o fator selecionado para essa variável.

H5: As Alianças Militares de Defesa estão associadas positivamente à possibilidade dos

países apresentarem seus livros brancos e outros documentos de defesa.

3.3.6 Aliança militar de neutralidade (AMNeut)

As alianças de neutralidade possuem um conceito amplo de não beligerância, visando evitar que o conflito atinja seu território ou também evitar uma guerra total. Nesse caso, o país considerado espera que os conflitos não atinjam seu território, como parte do teatro de operações e nele não sejam empregados meios militares. Na guerra, essa economia de meios representa importante fator de decisão nos planos de batalha. A aliança de neutralidade é um acordo pacifista e pode estar associado à publicação de livros brancos. Portanto, as alianças de neutralidade estabelecidas estão correlacionadas positivamente às possibilidades da publicação documento de defesa. Portanto, a variável foi construída com a média anual desses acordos, para cada Estado, de 1816 até 2012. H6: Alianças Militares de Defesa estão positivamente associadas à possibilidade dos

países apresentarem seus documentos de defesa.

3.3.7 Aliança militar de não agressão (AMNAgr)

As alianças militares de não agressão não possuem o mesmo conceito das anteriores. Trata-se de uma ação político-estratégica, com o objetivo de evitar o fracionamento dos meios militares em outra frente de batalha, que não seja a principal ou não tenha objetivos pacíficos ou objetivos de evitar a guerra. A aliança de não agressão mais

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conhecida na história foi o Pacto Molotov-Ribbentrop, firmado pela Alemanha e pela Rússia, às portas da Segunda Guerra Mundial, ficando óbvio que a Alemanha tinha definido seus objetivos militares de não abertura de nova frente de batalha ao leste. Para o caso russo, sua notada incapacidade e despreparo militar na época, já justificaria o acordo. A aliança de não agressão não tem fins pacíficos, e a correlação esperada com os livros brancos é negativa. Portanto, as alianças de não agressão estabelecidas estarão negativamente associadas às chances desses países publicarem o livro branco ou outro documento de defesa, e, portanto, a variável foi construída com a média anual desses acordos, para cada Estado, de 1816 até 2012.

H7: Alianças Militares de Não Agressão estão negativamente associadas à possibilidade

dos países apresentarem seus documentos de defesa.

3.3.8 Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)

A OTAN é uma aliança de defesa, fundamentada na não beligerância, somente a partir da doutrina Bush, com o conceito dos ataques preventivos, que a organização aumentou o peso da mão, mas sua influência direta na primeira e segunda ondas é flagrante, sem considerar as ações indiretas de seus membros. Nos testes estatísticos é esperada uma correlação positiva com a publicação dos documentos de defesa. Portanto, países que estão vinculados a uma organização podem ter maiores chances de publicarem esses documentos de defesa.

H8: ser membro da OTAN está associado positivamente à probabilidade de apresentação

de livros brancos ou demais documentos de defesa.

3.3.9 Correlação espacial

A proximidade geográfica com um país detentor de livro branco pode contribuir na difusão de políticas. Já na década de 1970, vinha sendo considerada a sua relevância nos estudos das relações internacionais, assim, se espera que os países publiquem seus documentos inspirados pela publicação do vizinho. Portanto, países que tem proximidade geográfica a Estados que já dispõe desse documento poderão ter maiores chances de publicarem suas versões próprias.

H9 A proximidade terrestre, com país detentor de livro branco ou outro documento de

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3.3.10 Trocas diplomáticas

A publicação do livro branco reduz as incertezas e concorrem para gerar um ambiente de paz. Os Estados, que salvaguardam a diplomacia para tratarem de suas disputas e conterem conflitos, tendem a ser menos belicosos. Portanto, países que possuem maior média anual de representações diplomáticas poderão ter maiores chances de publicar o livro branco ou outro documento de defesa.

H10 As representações diplomáticas estão positivamente associadas à possibilidade de

apresentação do documento.

3.3.11 Publicação do livro branco ou outro documento de defesa

No presente capitulo, a publicação do documento de defesa será uma variável dicotômica tratada pelo teste estatístico, com o propósito de apresentar uma equação que explique sua saída, ou seja, quais fatores externos ou domésticos podem estar correlacionados à apresentação da política declaratória de defesa.

3.3.12 Idade do regime

Trata-se de inserir uma variável com intenção de tentar controlar possível variabilidade de fatores domésticos decorridos do corte transversal, os quais foram apreendidos os dados, ou melhor, mesmo que se obtenha o congelamento das variáveis domésticas, o fator tempo poderia impactar na publicação de defesa? Essa variável de controle tem a finalidade de expor, nessa pesquisa, se um país que possui regime democrático com maior ou menor grau de maturidade irá se comportar de forma diferente quanto a publicação de defesa.

3.3.13 Magnitude total de conflitos

A magnitude total dos conflitos é uma variável que representa o total de destruição sofrida por um Estado, a proposta de inserção no modelo se dá pela necessidade de se verificar se a publicação de defesa estaria ou não associada a uma suposta condição em tentar evitar novas situações de destruição, podendo indicar que os documentos de defesa podem ter outras intenções que não seja só a transparência e redução incertezas, mas também possíveis traumas sociais transmitidos por gerações que sofreram os impactos desses conflitos. A inserção dessa variável é uma tentativa de controlar os

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resultados produzidos pelos acordos militares que podem ter associação com a publicação de defesa para evitar os conflitos e reduzir assimetria de informação.

3.3.14 Produto Interno Bruto per Capta

Outra variável de controle que se tenta inserir no modelo para verificar os impactos desse fator na publicação de defesa, ou melhor, países com diferenças socioeconômicas significantes poderiam se comportar de forma diferente, quanto à publicação de defesa.