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A difusão é um processo que permanece como um ponto focal dos estudos das relações internacionais. Neste capítulo, serão feitas abordagens de prováveis fatores que possam ter contribuído para esse fenômeno ocorrer com os documentos de defesa. Sejam variáveis sistêmicas, realistas, ou domésticas, em especial, pelas tentativas de aperfeiçoamento das relações civis-militares que concorreram para as reformas no setor de defesa, ou pelo impacto de ambos na elaboração dos livros brancos e outros documentos de defesa.

Os estudos sobre difusão recentemente integraram os três níveis, ou seja, doméstico, o regional e o global sobre um único quadro teórico, a difusão internacional não pode ser a variável crucial da equação, pois as estruturas domésticas e os legados culturais podem ser pontos centrais para a facilitação da difusão, ou impedir a difusão, ou explicar porque pequenos gatilhos externos podem ter grandes efeitos (SOLINGEN, 2012).

Segundo Elkins e Simmons (2005); Dobbin e outros. (2007); Meseguer e Gilardi (2009), a literatura sobre difusão de políticas pode ser resumida em quatro mecanismos causais diferentes: aprendizagem, emulação, concorrência e coerção.

O primeiro mecanismo concentra-se nos processos de aprendizagens transnacionais. Na ocasião da escolha das estratégias políticas, os formuladores de políticas nacionais, quando confrontados com determinadas pressões ou situações problemáticas, serão persuadidos para a escolha das políticas aprovadas no exterior e que obtiveram êxito ("melhores práticas"), a fim de reduzir as incertezas das consequências de suas próprias decisões políticas (OBINGER et al, 2013).

Resende Santos (2007) ao estudar o processo de emulação militar concluiu também que os Estados irão escolher doutrinas que tiveram êxito em campo de batalha, afirmando que fatores domésticos não interferem nesse processo de mudança.

Portanto, o aprendizado implica em uma decisão racional adotada pelo governo com vistas a copiar as práticas bem sucedidas de outra instituição estrangeira, a fim de

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produzir uma política mais efetiva e eficiente e assim obter resultados positivos para o país (MARSH e SHARMAN, 2009).

Intimamente relacionado ao processo aprendizagem são os processos de emulação, enquanto que a aprendizagem geralmente implica em uma melhor compreensão dos mecanismos, com vistas a alcançar resultados positivos por meio das políticas, no processo de emulação a resolução de problemas é de menor relevância. A Emulação liga-se à ambição dos atores políticos de estarem em conformidade com as tendências internacionais e, portanto, inseridos em uma norma da comunidade internacional. (MEYER et al, 1997).

Os processos de aprendizagem e emulação, para o caso da apresentação da política de defesa, por meio desses documentos, são os mais comuns para a maioria dos países que optaram pela transparência nesses assuntos.

Outro mecanismo, que pode deflagrar o processo de difusão dos livros brancos e outros documentos de defesa, é a concorrência internacional. Essa concorrência provoca uma corrida em busca de uma política mais favorável e, assim, manter vantagem ou evitar ficar em desvantagem frente seus adversários. Raramente esse mecanismo atuará na difusão de políticas declaratórias de defesa, considerando que o mérito desses documentos está na redução de incertezas para o abrandamento de prováveis conflitos, ou seja, trata-se de uma justificativa do Estado pela existência de sua estrutura de defesa e não de uma política que trará vantagens econômicas ou comerciais.

No contexto do comércio internacional a difusão de políticas pelo mecanismo da concorrência é mais comum. Por exemplo, a diferença entre preços de um mesmo produto praticado no mercado externo por diferentes países concorrentes poderia gerar reformas de política social, com vistas a reduzir os custos com encargos trabalhistas pelo Estado, que estivesse sofrendo desvantagem comercial. Então, a política de redução de custos sociais, implementada por um país, poderia ser também aproveitada por outro, com a clara intenção de reduzir ou eliminar essa provável desvantagem. Outro exemplo de mecanismo é o da difusão de políticas por coerção, que também pode ser observado no setor econômico, na forma de cumprimento das condições e obrigações políticas impostas ao país que recebeu ou receberá ajuda financeira, definidas pelos países doadores e instituições internacionais, tais como o Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial (OBINGER et al, 2013). Embora essa forma de coerção seja rara dentro de democracias desenvolvidas, recentemente, pressões da União Europeia exigiam que os países endividados cortassem gastos e aumentassem

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impostos para liberar mais dinheiro e assim implementarem uma política de austeridade para permanecerem na zona do euro, evitando gerar uma crise de confiabilidade do mundo na região de moeda única.

Muitos agentes direcionam a difusão, exercendo forte influência política e econômica, por exemplo: a OTAN e o Pacto de Varsóvia foram poderosos elementos de homogeneização, que levavam influência e doutrina aos países aliados. Da mesma forma que também agiam como elementos de coerção (MARSH, e SHARMAN, 2009). A difusão de política, causada por pressões externas, produz o Isomorfismo Coercivo, o qual está relacionado a um Estado que tende a se tornar semelhante ao outro o qual é dependente, a dependência é base para a pressão em torná-lo similar. O isomorfismo mimético é preferido em situação de incerteza, então os políticos procuram exemplos além de suas fronteiras. No entanto, fatores internos, tais como, democracia, dívida pública, orientações ideológicas dos partidos da situação, além de outros fatores, podem ser relevantes no processo da difusão, podendo suscitar em um Isomorfismo normativo o qual se refere a processos dominados por perícia e raciocínio tecnocrático (FINK, 2011).

A difusão das políticas pode também ocorrer pela ação dos fatores de contato, tais como relações comerciais entre países ou de parceria entre Estados, com vistas à obtenção de vantagens a ambos, ou outros fatores diretos ou indiretos entre Estados, tais como proximidade geográfica, prestígio e desempenho do país que elaborou a política, e similaridade cultural Walker (1969) e Gray (1973). Talvez uma história comum entre países, como: Brasil e Portugal, e EUA e Inglaterra, pode fazer com que algumas nações tomem como referência Estados que já tenham implementado a política com sucesso (RIVERA, 2004; ESEONU e WYRICK, 2014).

3.2 Teoria da difusão aplicada para o caso dos livros brancos e outros documentos